1046, Londres.
Caminhava altas horas da noite num bosque sob a tempestade, que a mesma encharcava todas as minhas vestes e com o vento forte que batia no meu rosto.
Comecei a correr em direção a casa dos meus pais, na tentativa de chegar o mais rápido possível. Assim que cheguei, bati fortemente na porta, tentando conter a minha ansiedade para entrar. Assim que o meu irmão abriu a porta, rapidamente segui em direção a sala, onde os demais aguardavam-me.
— Você trouxe? — perguntou a minha mãe impaciente.
— Está aqui — respondi ofegante, estendendo o meu braço com uma pequena garrava de vidro nas minhas mãos.
— Ótimo! — afirmou Katherine.
Um dos meus irmãos estava em cima da mesa de madeira, com os seus olhos fechados e as suas veias pulsando, sentindo cheiro de cada gota de sangue que habitava naquele local.
— Você sabe que esse feitiço não é cem por cento eficaz, não sabe? — perguntou Katherine preocupada.
— Nós sabemos dos riscos, mas não podemos deixar o nosso filho, o futuro rei, virar essa aberração! — afirmou o meu pai, apertando o seu chapéu nas suas mãos.
Katherine o olhou receosa, preocupada com o feitiço que estaria prestes a fazer, intrigada das suas futuras ações serem um fracasso, mas no fundo, Katherine sabia que as suas magias não funcionariam, pois a mesma ainda não estava preparada para tantas energias sobre ela.
Katherine abriu a garrafa de vidro e pegou as folhagens que haviam nela, as jogando no corpo do meu irmão, que o mesmo suava e alucinava com os seus olhos ainda fechados.
Agora Katherine, com as suas mãos na cabeça de Karl e os seus olhos fechados, pronunciava palavras em outro idioma, tentando manter a concentração.
Algum tempo depois, as lamparinas que estávamos segurando, começaram a piscar, logo depois, as janelas abriram-se, fazendo com que o sopro do vento invadisse fortemente a sala, trazendo consigo folhagens
— O que é isso? — indagou a minha mãe. — O que está acontecendo?
— Não a interrompa mamãe — respondeu Abel, minha irmã mais velha.
Agora Katherine, relutava contra as bruxas do outro lado, tentando não deixar as suas forças acabarem. Tempo depois, o sangue do seu nariz começou a escorrer e Katherine começou a sentir dores no seu corpo, fazendo assim, com que a mesma caísse imediatamente no chão.
— O que aconteceu? — perguntou o meu pai.
— As bruxas não querem que eu salve o seu filho, elas não me deixam terminar o feitiço — respondeu Katherine.
— Não da para continuar? — indagou Abel.
— Se eu continuar, posso morrer.
Karl que estava deitado na mesa, abriu os seus olhos, que agora, o mesmo parecia estar fora de si, com seus olhos pretos, se levantou, andando em direção ao meu pai.
— O que é isso Katherine? O que está havendo? — exclamou meu pai.
— Eu lhe avisei, o feitiço ainda não estava pronto, tudo poderia dar errado — respondeu ela, que continuava ajoelhada ao chão, tentando juntar forças para se levantar.
— Karl, meu filho, acorda! Anda, acorda! — gritou.
Assim que Karl se aproximou do meu pai, o mesmo agarrou-lhe e trouxe-o para perto da sua boca, abrindo a mesma e rapidamente mordendo o seu pescoço.
— d***a, não! — gritou a minha mãe desesperada.
Vendo que o meu pai estava perdendo suas forças e o seu sangue, peguei uma estaca que tínhamos guardada e andei até o meu irmão, enfiando a madeira nas suas costas, em direção ao seu coração.
Karl rapidamente largou o meu pai e caiu no chão, se debatendo com a dor que sentia no seu peito. Aproximei-me do mesmo, ajoelhando-me ao seu lado e com os meus olhos cheios d'água peguei em sua mão.
— Perdoe-me irmão, perdoe-me, mas foi preciso, mesmo não querendo m***r-lhe — pedi chorando.
Agora os seus olhos haviam clareado, voltado com as suas cores naturais, lentamente os fechando e a sua respiração parando.
— Não, meu filho... ele está morto — disse a minha mãe em prantos.
— Por favor Katherine, ajudem-nos a recuperar o nosso menino, ele seria o próximo rei — pediu o meu pai, preocupado com que estaria prestes a acontecer.
— Então acho melhor você começar a repensar sobre isso! — afirmou friamente Katherine.
— Não, você não pode ir embora, você prometeu em nos ajudar! — exclamou a minha mãe, levantando-se do chão.
— Eu avisei-lhes do que poderia acontecer! Já fiz a minha parte, não lhes devo mais nada! Agora se me derem licença, preciso ir embora.
— Katherine, por favor... — pedi gentilmente.
— Desculpe-me Loise, mas não posso fazer mais nada pelo seu irmão, ele se foi.
— Tudo bem, obrigada por tentar — sorri tristonha com o que acabara de acontecer.
Katherine retribuiu com outro sorriso e em seguida retirou-se. Assim que a mesma foi embora, fechei a porta e andei em direção a minha mãe, que a mesma estava novamente ajoelhada no chão, ao lado de Karl.
Algum tempo mais tarde, enquanto tentávamos dormir, comecei a ouvir alguns passos vindo do andar de baixo. Levantei-me suavemente para não fazer barulhos e caminhei lentamente em direção a porta, a abrindo em seguida e me retirando do quarto.
Desci as escadas seguindo em direção a sala e assim que cheguei, avistei o meu pai com a sua boca no pescoço da minha mãe, a mordendo. O olhei incrédula e assustada, querendo não acreditar no que havia visto. Assim que o meu pai colocou os seus olhos em mim, rapidamente subi as escadas correndo, entrando no quarto da minha irmã. Ao entrar, avistei a minha irmã deitada na sua cama, com seu pescoço e roupas ensanguentadas.
Dei pequenos passos para trás, com uma das minhas mãos na minha boca, a tampando, tentando conter o choro, mas logo em seguida o meu pai arrombou a porta, entrando no quarto com os seus olhos pretos e as suas mãos e boca cobertas de sangue. O mesmo começou a andar até mim e assim que se aproximou, começou a morder o meu pescoço, fazendo com que eu desmaiasse em seguida.