Traída por todos, amada por quatro.

Capítulo Dois: Mais Explicações

Sinceramente, tudo isso é apenas bobagem. Em primeiro lugar, eu não fiz nada. Fui traída pela minha melhor amiga e pelo meu namorado, as duas pessoas que eu achava que me amavam mais do que qualquer outra, além da família, é claro. No entanto, essa era a minha vida. Vanessa e James começaram a namorar, eles exibiam o relacionamento deles em todos os lugares e para todos. Irritante, eu sei. Se eu fosse pega na cafeteria, era intimidada, jogavam comida em mim, sobre mim, ou roubavam minha comida. Eventualmente, comecei a comer do lado de fora, debaixo de uma árvore, para ficar sozinha. Infelizmente, isso não os impediu. Só quando Caleb começou a comer comigo é que eu fiquei sozinha.

Todos tinham medo de ser meu amigo. Acho que eles tinham medo de serem intimidados junto comigo. Como eu poderia culpá-los? Caleb começou a perceber a mudança na escola, mesmo que estivéssemos em séries diferentes. Depois de um dia especialmente r**m, ele me encurralou em casa e me fez contar tudo. Caleb brigou muito com os outros caras depois disso. Chegou a um ponto em que tive que conversar com ele antes que ele fosse expulso. Felizmente, meu irmãozinho concordou em almoçar comigo. Parei de contar a ele os detalhes do meu bullying e, no final do ano, as coisas estavam boas. Bem, boas o suficiente, eu acho. Caleb não estava mais brigando e na maioria dos dias eu conseguia evitar os populares.

Porém, esse ano vai ser diferente. Não ouvi nada de ninguém durante todo o verão. Mesmo trabalhando no único cinema da cidade, consegui evitar todos. Quando um dos meus agressores me via, eles se contentavam com um revirar de olhos e fazer um comentário sarcástico. Eu podia lidar com isso. Pelo menos eles não estavam me encurralando mais. Então, eles devem ter esquecido disso, certo?

O meu caminho para a escola não foi nada mau. Na verdade, eu estava me sentindo muito bem. Mesmo quando a escola monótona apareceu à vista, eu estava confiante. Este ano, vou me concentrar apenas nos estudos. Ninguém se importa com o que aconteceu no ano passado. Quero dizer, por que se importariam? Certamente já superaram isso agora.

Entro pela porta da escola com minha grade horária em mãos. Meu armário é o número 367 e fica perto de todas as minhas aulas, exceto uma. Mantive a cabeça baixa enquanto corria para o meu armário. Até agora, tudo bem. Ninguém nem mesmo me notou. É exatamente como eu quero que seja.

Estava guardando minhas coisas no armário quando duas garotas começaram a se aproximar de mim. Meu corpo congela. Então, uma delas abre um armário dois espaços abaixo do meu. Suspiro aliviada. Elas não fazem parte do grupo popular que me odeia com fervor, mas lembro das duas fazendo comentários sobre mim. Tenho quase certeza de que a loira me fez tropeçar uma vez.

"Você ouviu?" A loira diz para a amiga.

"Ouvi o quê?" Pergunta a outra.

"James e Vanessa terminaram." A loira grita. "Dessa vez é sério. Não é como todas as outras vezes idiotas." Ela diz.

A amiga revira os olhos e mexe nas unhas. "Claro que terminaram." Diz sarcasticamente.

A loira bufa. "Eles realmente terminaram. Logo no primeiro mês das férias de verão." Ela reclama.

"Você acha que tem algo a ver com aquela ex dele?" A amiga pergunta e eu congelo novamente. "Sabe, aquela que costumava ser amiga da Vanessa?"

"Ah, por favor." A loira diz, revirando os olhos. "Você ouviu como aquela garota era desesperada pelo James. E ele pode ter quem quiser, nunca voltaria para ela. Primeiro, ela é sem graça e totalmente gótica. Você não se lembra de como ela começou a se vestir no final do ano?" A loira pergunta e fez uma careta visível. Ok, que falta de educação. Eu não estava vestida tão m*l assim. "Não, ele está seguindo em frente para coisas melhores, ou seja, eu." Ela diz orgulhosa.

"Ah, tá bom." A amiga dela resmunga. "Como se o James Melrose fosse se interessar por uma ninguém como você." Ai. Que amiga.

A loira bate o armário com força e se vira para a amiga. "O ciúme fica muito feio em você, Harp." A loira afirma antes de sair pisando duro.

Infelizmente, porque a loira foi embora, fui pega olhando. A amiga 'Harp' e eu nos encaramos. Meu rosto cora enquanto a garota me observava com diversão. Seus olhos castanhos percorrem minha roupa e voltam para os meus olhos.

"Fico feliz em ver que você não é mais gótica." Ela diz com um sorriso.

"Obrigada." Murmuro enquanto ela se afasta.

Por mais estranho que tenha sido, considero isso uma vitória. Apenas uma pessoa me notou até agora e ela nem foi má. Este ano será totalmente normal. Só eu e a biblioteca na maior parte do tempo. Tenho uma redação para a faculdade para escrever e aulas de nível avançado para acompanhar.

Reuni alguns materiais e segui para a minha primeira aula, Inglês Avançado (AP). O professor está sentado atrás de sua mesa. Caminho até o assento mais distante da porta, na primeira fileira, e  me sento. A aula começa em dez minutos, mas não me importo de chegar cedo. Isso me dá tempo para trabalhar no tema do meu ensaio.

Logo depois de começar a escrever os tópicos para escolher, a sala de aula começa a encher. Eu estava esperando que, como todas as minhas aulas são AP, nenhum dos alunos populares estivesse aqui. Então, não deixo de franzir a testa quando Milinda, a melhor amiga de Vanessa, entra. Nossos olhares se cruzam e ela me lança um olhar furioso antes de ocupar seu lugar no canto de trás, longe de mim.

Oh não, espero que isso seja tudo o que recebo dela. Posso lidar com olhares maldosos e comentários sarcásticos. O que eu não quero é ser intimidada a ponto de me esconder novamente. Não quero mais me esconder. Não quero ser espancada ou ter lixo jogado em mim. Só quero ser deixada em paz. É impressionante como as garotas adolescentes podem ser cruéis.

A aula correu bem. Não fizemos muito, já que era o primeiro dia. O professor nos deu uma lista de leitura e fiquei orgulhosa ao ver que já tinha lido a maioria dos livros. Havia apenas cinco na lista de 25 que eu ainda não havia lido. Durante meu tempo livre, irei à biblioteca para pegá-los.

Quando a aula acaba, ficoi para conversar com o professor. O Sr. Douglas é uma pessoa legal e perguntei se ele se importaria de ler meu ensaio quando eu terminar, antes de entregá-lo. Ele sorriu ao concordar. Tenho a sensação de que a maioria dos alunos aqui não se preocupa tanto com a escola quanto eu. De qualquer forma, estou feliz que ele tenha concordado.

Depois de conversar com o Sr. Douglas, corri para minha próxima aula, que é Biologia Avançada (AP). Minha matéria favorita, aquela que estou mais ansiosa para fazer. A professora, Sra. Gibbson, é uma senhora muito simpática na casa dos 40 anos. Ela sorri para mim quando entro na sala.

"Bom dia, Millie. Estava ansiosa para te ver hoje", cumprimentou-me.

"Bom dia, Sra. Gibbson", respondo com meu próprio sorriso radiante.

A Sra. Gibbson descobriu que eu queria ser bióloga marinha no ano passado e me acolheu. Eu ia depois da aula e ela me ensinava várias coisas. Ela me disse quais faculdades tinham os melhores programas para a profissão que eu queria. A Sra. Gibbson até se ofereceu para escrever uma carta de recomendação para mim e disse que falaria bem de mim na faculdade em que ela e o marido estudaram. O marido dela também é zoólogo.

Caminho até o assento mais distante da porta da frente e abro meu caderno. Pelos próximos minutos, fiz mais anotações para o meu ensaio e então o sinal tocou. Quando olho para cima do meu caderno, vejo que a sala está cheia. Dois assentos para cada carteira, exceto o meu. Eu estava sozinha. Os olhos da Sra. Gibbson se voltam para minha carteira. Algo parecido com pena passa em seus olhos antes de ela sacudi-lo.

Embora eu nunca tenha contado à Sra. Gibbson sobre o que aconteceu, acho que ela sabe. Quer dizer, qualquer professor com ouvidos provavelmente sabe. Ela nunca me perguntou sobre isso, então eu nunca contei a ela. Estávamos sempre ocupados com conversas melhores, e isso estava tudo bem para mim. Embora houvesse momentos em que ela me dizia que as coisas sempre melhoram e para manter a cabeça erguida.

A aula passou rápido e fiquei desapontada quando o sinal tocou. A Sra. Gibbson acenou para mim enquanto saía pela porta. Minha próxima aula é cálculo avançado, a aula que mais me deixa nervosa. Eu nunca fui r**m em matemática, mas não era minha matéria favorita. Nessa aula, fiz o mesmo que nas duas primeiras. Sento no canto da frente, caderno aberto, ignorando todos, e mantive a cabeça baixa. É mais difícil prestar atenção nessa aula e eu já estou pensando em mudar de turma, ou talvez ter um tutor.

O resto do dia na escola foi igual. Quando o sinal do almoço tocou, encontrei meu irmãozinho esperando perto do meu armário. Corro até ele com um sorriso no rosto.

"Espera, como você sabia que este era o meu armário?" pergunto quando chego até ele.

Caleb me lança um olhar que diz que eu não vou gostar do que ele vai dizer.

"Eu chamei o zelador para limpar. O diretor disse que ele vai remover tudo até o fim do almoço." Caleb diz.

Eu gemo. "Sai da frente." ordeno.

"Por que você não leva suas coisas para o almoço? Eu posso carregar se quiser." Ele sugere em vez disso.

Eu bato o pé como uma criança e olho furiosamente para o meu irmão superprotetor. Ele é muito mais alto que o meu pequeno 1,60m, o que é completamente injusto, ele é meu irmão mais novo. Caleb cruza os braços como se estivesse preparado para discutir comigo. Azar o dele, porque eu também estou. Depois de ver que eu não estava recuando, Caleb suspira pesadamente e se afasta.

Um pequeno suspiro escapa dos meus lábios quando vejo a escrita branca no armário azul-marinho. Estava escrito 'Gorda'. Lágrimas enchem meus olhos. É apenas o primeiro dia. Ninguém sequer disse nada para mim. Balançando a cabeça, pisquei para segurar as lágrimas antes que caíssem. Então abro meu armário, empurro minhas coisas para dentro e me viro para o meu irmão com um sorriso.

"Pronto para o almoço?" pergunto e começo a andar antes que ele possa responder.

"Tudo bem se você quiser pular e ir para a biblioteca ou algo assim." Caleb oferece.

Nós costumávamos fazer isso quando as coisas ficavam difíceis. Eu fugia e meu irmãozinho vinha comigo. Mas este ano é diferente. Eu parei de fugir e parei de deixar essas pessoas me intimidarem em silêncio.

"Não, isso definitivamente não vai acontecer." Eu digo.

Vejo Caleb sorrindo pelo canto do olho.

"Realmente é um ano novo, nova você, né?" Ele provoca enquanto encosta o ombro em mim.

É isso mesmo. Ano novo. Nova eu. m*l posso esperar.

O resto do dia corre tranquilamente. Estou honestamente surpresa. Pensei que com certeza fariam comentários depois de verem meu armário. No entanto, parecia que ninguém nem sabia disso. Eu me pergunto se isso tem algo a ver com o Caleb. Será que ele descobriu antes que alguém pudesse ver? E já tinha sumido quando voltamos do almoço. De qualquer forma, eu estava grata por isso, não importa como aconteceu.

Minhas aulas de AP também foram tranquilas, mas é apenas o primeiro dia. Até agora, a única com a qual eu me preocupei foi cálculo. Vou dar um tempo antes de desistir dela. Eu consigo fazer isso. Ter todas as aulas de AP fica bem no currículo para a faculdade. Não vou desistir facilmente.

Minha penúltima hora é uma aula escolhida. A maioria das pessoas escolhe coral ou banda, mas essa escola oferece um curso extra que permite ajudar os alunos mais novos. Só é possível fazer isso se você for do terceiro ou quarto ano. Eu fiz isso no ano passado, mas ninguém queria que eu os ajudasse. Acabou sendo uma hora silenciosa para eu colocar meus estudos em dia. Fiquei um pouco triste com isso, mas tudo bem. Este ano eu estava determinada a ser diferente e já estava dando certo para mim. Passei toda a aula preparando algumas meninas do primeiro ano sobre o que esperar na aula de ciências. Elas me agradeceram quando o sinal tocou e eu disse a elas que estaria aqui para ajudá-las sempre que precisassem.

A última hora de aula é uma hora silenciosa. Pelo menos para mim. Isso significa que tenho uma hora inteira para fazer o que quiser. A maioria dos alunos do último ano tem uma hora assim, mas apenas alguns a têm como última hora. Provavelmente porque eles simplesmente saem e não a usam como deveriam. Bem, não eu. Vou direto para a biblioteca e abro meu caderno.

Quando o último sinal toca, fico um tempo na biblioteca trabalhando em meu ensaio. Por volta das 16h30, decido que já era o suficiente para um dia. Quando chego ao meu armário, não há mais palavras. Os corredores estão silenciosos enquanto guardo meus livros no armário e pego minha mochila. Coloco meus AirPods nos ouvidos e sorrio. Hoje definitivamente foi um bom começo para um novo ano. Nada será jogado em mim que eu não possa lidar.