Capítulo Três: Um Presente de um Babaca

2198 Words
As próximas duas semanas passam tranquilamente. Exatamente como eu planejei. Houve apenas mais um incidente com meu armário. Desta vez, alguém escreveu: "Feliz Aniversário, v***a Gorda" no meu aniversário, que é hoje. É sexta-feira e meu armário foi a primeira coisa que vi esta manhã. Revirei os olhos quando vi e peguei uma caneta marcadora branca que havia comprado. Escrevi "Muito obrigada!" em resposta e não denunciei. Qual era o sentido? Sinceramente, eu estava me sentindo bem. Palavras são palavras. Foram as ações e palavras das duas pessoas que eu amava que mais doeram. Como eu não as amava mais, estava me sentindo menos afetada. E nem faço ideia de quem está deixando esses pequenos bilhetes de amor para mim. Depois de pegar minhas coisas, vou para minha primeira aula e sento no mesmo lugar que ocupo desde o primeiro dia. O Sr. Douglas está sentado atrás de sua mesa, olhando para alguns papéis a frente dele. Ele se tornou um dos meus professores favoritos. O Sr. Douglas até me deu alguns tópicos para escolher para a minha redação. Ele me disse para levar o tempo que precisasse, já que tenho alguns meses até a data de entrega. Algo sobre as crianças serem muito impacientes e as coisas nunca saírem boas quando se tem pressa. "Bom dia, Sr. Douglas", digo animadamente. "Bom dia, Millie, e feliz aniversário", ele me diz. Sorrio para ele. "Obrigada." "Queridinha do professor", murmura uma voz feminina. Por que ela está tão cedo na aula? O Sr. Douglas franze a testa, mas eu lhe dou um sorriso tranquilizador. Felizmente, ele deixou passar e ocupo meu lugar. O Sr. Douglas avisa que precisa pegar algo na sala dos professores e volta em breve. Foi quando Milinda decidiu trocar de lugar e sentar ao meu lado. "Ouvi dizer que é seu aniversário hoje, v***a", ela diz, e eu a ignoro. "Uau, será que deveria ter dito v***a gorda?" Ela pergunta com uma risadinha. Viro minha cabeça para ela. O cabelo loiro platinado de Milinda estava preso em um r**o de cavalo alto que caía reto em suas costas. Um delineador preto adornava seus olhos azuis. Ela está usando o uniforme de líder de torcida, já que tem um jogo hoje à noite. "Foi você que me deixou aquela mensagem adorável no meu armário?" Pergunto docemente. Milinda parece surpresa por um momento. Afinal, eu nunca respondi com insolência antes. Sempre chorava ou fugia. Este ano, não serei tão fraca. Se eles querem uma briga, uma briga eles terão. "Bonito, né? Ser chamada de gorda não é o que eu chamaria de bonito", ela diz. Eu apenas dou de ombros e volto minha atenção para meu caderno. "Então, não sei se você ouviu, mas eu e o James estamos namorando agora", ela me diz. "Parabéns", murmuro sem olhar para ela. "Obrigada. Só queria te avisar para não haver ressentimentos entre nós", ela diz, parecendo entediada. Eu ri enquanto continuo a escrever. "Acredite, Milinda, há ressentimentos entre nós." Então, olho para cima e encontro seus olhos azuis. "Mas não tem nada a ver com o James. Espero que vocês sejam felizes juntos, de verdade." Em seguida, recosto na cadeira. "Embora isso me faça questionar que tipo de amiga você é", digo, examinando-a com o olhar. O rosto de Milinda se contorce em um sorriso sarcástico. "O que diabos isso significa?", ela pergunta. Dou de ombros. "Duvido que a Vanessa esteja satisfeita com seu novo namorado", afirmo. Milinda revira os olhos. "Porque você não fez a mesma coisa", acusa. Eu não fiz, mas tudo bem. "E veja o que aconteceu comigo", digo, sorrindo quando seu rosto empalidece. Antes que Milinda pudesse dizer mais alguma coisa, o Sr. Douglas volta e começa dar a aula. Milinda foi obrigada a sentar na cadeira para a qual havia se mudado pelo resto da aula. Eu não tive problema algum em prestar atenção, mas estava claro que a líder de torcida estava lutando. Ela tentou me passar bilhetes várias vezes e todas as vezes eu os jogava na lixeira que estava bem na minha frente. Gostaria de dizer que não me satisfazia ver Milinda se contorcer, mas isso me satisfaz sim. Muito mesmo. Embora eu não fosse continuar com isso. Não sou uma valentona como eles. Nem teria dito nada se Milinda tivesse me deixado em paz. Então, quando o sinal tocou e a líder de torcida tentou parar e falar comigo, eu a ignorei e corri para a minha próxima aula. "Feliz aniversário, Millie!" A Sra. Gibbson praticamente grita quando entro pela porta. Olho para cima e vejo dois balões de aniversário e um ursinho fofo sentados no meu lugar habitual. Um sorriso largo se espalha pelo meu rosto quando vejo aquilo. Caminho até os presentes e abraço o ursinho. "Muito obrigada, isso foi muito gentil da sua parte", agradeço à Sra. Gibbson e lhe dou um abraço rápido. "Você quer estourar os balões antes que alguém chegue?" ela pergunta, e eu a olho estranhamente. "Por que eu iria querer fazer isso?" Eu pergunto a ela. A Sra. Gibbson da de ombros. "Eu sei como os adolescentes podem ser cruéis. Eu não queria que ninguém te provocasse", ela diz. Eu olhei entediada para ela. "Você viu meu armário esta manhã, suponho?", pergunto enquanto me sento no banquinho. "Conversei com o zelador sobre removê-lo e depois com o diretor", ela me diz. Tiro meu livro da mochila e o coloco na minha mesa. "E como foi para você?", pergunto a ela. A Sra. Gibbson bufa de irritação. "Ele sequer se importa? Quando contei a ele, ele não pareceu nem um pouco interessado", ela me diz. Eu assento. O diretor Melrose é avô de James. Ele nunca se importou com o bullying. Não contei aos meus pais nem reclamei diretamente com ele, então ele ignorou tudo. Caleb o chama de inútil e eu concordo. Não havia realmente motivo para procurar a ajuda dele. "Provavelmente ele está acostumado com isso", eu digo. "Isso não torna certo, Millie", diz a Sra. Gibbson. Eu levanto os olhos do livro e vejo sua expressão de raiva. "Bem, uma coisa que aconteceu foi que me tornei mais forte", eu digo e então olho de volta para o meu caderno. "Não me importo nem um pouco se essas crianças zombarem de mim por causa dos presentes. Fico feliz que você tenha se lembrado e sou grata por isso", digo a ela com um sorriso radiante. Eu realmente queria dizer isso. O que eles poderiam dizer que já não tenham dito? Além disso, talvez eles devessem arrumar uma vida. São apenas dois balões e um urso de pelúcia, é realmente tão importante assim? Não, não é. "Não vou ficar chateada se você quiser escondê-los", ela diz mais baixo, enquanto os primeiros alunos entram e olham em nossa direção. "Não, obrigada", sussurro de volta. Felizmente, a Sra. Gibbson deixou o assunto de lado depois disso. Algumas crianças fizeram comentários sobre eu ser a queridinha da professora, mas eu os ignorei. A Sra. Gibbson conseguiu segurar a língua em relação aos outros alunos e eu fiquei grata. Alguns alunos até me desejaram educadamente um feliz aniversário. Veja, as coisas já estão melhores do que no ano passado. Eu não tinha esperança de ter amigos, mas pelo menos as pessoas estavam sendo decentes. Na hora do almoço, meu armário já estava completamente esquecido. Por mim, pelo menos. Caleb ainda estava furioso com isso. Estamos sentados do lado de fora, debaixo da árvore que eu amo, comendo nossa pizza de papelão horrível. "Você não vai parar de resmungar?", reclamo irritada. "Aconteceu comigo e nem estou tão chateada quanto você", digo a ele. "Isso não te irrita nem um pouco? As merdas que disseram sobre você nem são verdadeiras. Então, você deu sua virgindade para um i****a completo? E sua melhor amiga te traiu da pior maneira? Isso não foi o suficiente? Eles não podem te deixar em paz?", ele desabafa com raiva. "Eu pisco para ele. 'Você estava tentando trazer isso à tona de propósito?' pergunto a ele, balançando a cabeça. "Desculpe." Ele murmura. "Mas isso não te irrita?" Ele pergunta novamente. Dou de ombros enquanto mordo minha pizza gordurosa. "Acho que pulei a fase de ficar com raiva. Passei muito tempo chorando por tudo no ano passado. Quero que este ano seja diferente. Mesmo que eles continuem com suas bobagens, quero ignorar. Quero ter um bom último ano, bem, o melhor que eu puder." Eu digo. Caleb sorriu para mim. "Eu invejo sua capacidade de não se importar." Ele diz, balançando a cabeça. Abro um sorriso brilhante. "Então me diga, como está indo o futebol?" Pergunto a ele. "Grande jogo hoje à noite." "Sim, meu primeiro jogo no time titular." Ele disse com um tom levemente nervoso. Bato em sua perna. "Você vai arrasar lá. Você é bom demais para não jogar." Eu digo tranquilizadoramente. Caleb assente e me da um sorriso arrogante. "Você está certa. Eu sou bom. Muito bom." Ele diz. Eu rio. "Isso mesmo." Eu digo divertida. "Tem esse cara novo no time agora. É um pouco irritante. Não tenho certeza se vou conseguir jogar por causa dele." Caleb me conta. Franzo a testa. "O que te faz dizer isso? Nem sabia que tinha alguém novo aqui." Pergunto. Caleb da de ombros. "Ele ainda não começou. Eles chegaram há alguns dias. Ele vai começar na segunda-feira, mas... Ele é um veterano e aparentemente muito bom. Quero dizer... Nos treinos ele é incrível." Caleb me diz. Bato em seu ombro. "Acho que você ainda terá a chance de jogar." Eu digo a ele. "Espero que sim." Ele diz. "Então, você vai vir hoje à noite?" Ele me pergunta. "Você quer que eu vá?" Pergunto. Caleb me dá um sorriso tímido e esfrega a nuca. "Mamãe e papai vão estar lá. Eu gostaria que você viesse ver meu primeiro jogo, mas você não precisa. Entendo se você não quiser estar lá." Ele fala rapidamente. James é o quarterback. E as líderes de torcida me odeiam. Minha ex-melhor amiga é a capitã do time de líderes de torcida. Não vou a um jogo de futebol desde que tudo aconteceu. Mas, ano novo, vida nova. "Oh, eu vou." Eu digo confiantemente. Não vou mais me esconder. O resto do dia não foi tão tranquilo como o começo. Aparentemente, o James está na minha aula de história avançada. Acho que ele não estava lá antes, mas não tenho certeza. Não é como se eu o procurasse ou olhasse ao redor das salas de aula mesmo. Ninguém aqui é novo e ninguém é meu amigo. Então, quando o James sentou ao meu lado, fiquei um pouco chocada. No começo, o ignorei, mas podia sentir seus olhos em mim. "Feliz aniversário, Millie Bear", ele diz e meu corpo ficou rígido. "Vai se f***r, James", eu digo sem olhar para cima do meu caderno. "Ohh, é assim que se fala com alguém que comprou um presente para você?" ele pergunta. Um presente? Olhei confusa para ele. Ele sorri para mim e segura uma caixa retangular de veludo. Fico olhando enquanto ele a estende para mim e então levanto uma sobrancelha para ele. "É uma pulseira. Comprei como pedido de desculpas", diz James com um sorriso esperançoso. Seus cabelos castanhos escuros caíam sobre seus olhos castanhos claros. "Oh, James", eu digo docemente e seu sorriso aumenta. "Você pode pegar seu presente de desculpas e enfiar no seu traseiro", eu digo mantendo a doçura no tom. James faz uma careta. "Vamos lá, Mil, o que eu tenho que fazer para você me perdoar?" ele pergunta. Olho para ele com incredulidade. Perdoá-lo? O que ele tem que fazer? A audácia. Ele nem sequer pediu desculpas e eu deveria aceitar um pedido de desculpas? Ele está falando sério? "Sabe de uma coisa, James? Eu te perdoo", eu digo e então volto para o meu caderno. Não tenho tempo nem paciência para isso. É melhor simplesmente ignorá-lo. Além disso, eu mereço perdoá-lo. Então, ele está perdoado. Agora ambos podemos seguir em frente, suponho. "Ótimo! Então, passo para te pegar depois do jogo hoje à noite?", ele pergunta. "Mhmm", murmurei. Espera, o quê? "Espera, não", digo olhando para ele. "Só porque eu te perdoei não significa que vou sair com você", digo quase rindo. "Por quê? Nós éramos bons juntos, e você sabe que sempre foi meu amuleto da sorte", ele diz com um sorriso doce. Eu engasgo. Literalmente. James parecia descontente. "Nojento. Acabei de almoçar, então se você pudesse pegar leve para eu não ter que sentir o gosto voltando, seria ótimo", eu digo. "Não seja uma v***a, Millie. Estou tentando ser legal", James resmunga. Olho para ele com as sobrancelhas levantadas. "Sabe quem adoraria que você fosse legal com eles?" pergunto e ele apenas me encara. "Literalmente qualquer pessoa, exceto eu. Especialmente a Milinda. Ouvi dizer que você está namorando com ela agora", digo enquanto volto para o meu caderno. Se James ia dizer mais alguma coisa, eu não saberia, porque o sinal tocou e o professor entrou na sala de aula. A aula parecia arrastar-se interminavelmente. Quando o sinal finalmente tocou, praticamente corri dali. Eu podia ouvir James me chamando, mas o ignorei.
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