Capítulo 3

690 Words
O som das fichas ecoava em sua cabeça como um Lembrete de memórias passadas. Lara tentava se concentrar na mesa, mas a mente a traía, arrastando-a de volta para o passado — para o dia em que tudo desabou. --- Dois anos antes. O escritório da Monteiro Investimentos cheirava a madeira, Luxo e sucesso. Seu pai, Eduardo Monteiro, sorria atrás da mesa de mármore, orgulhoso da filha que havia acabado de ser promovida a analista-chefe da empresa. Ela se lembrava do brilho nos olhos dele, e de como aquele orgulho durou pouco. Naquela mesma semana, Rafael Vieri — o homem em quem ela confiava, o advogado brilhante com quem sonhava casar — entregou à imprensa documentos sem o consentimento de ninguém, e esses documentos que ligavam a empresa a um esquema de fraude que nunca existiu. As manchetes destruíram tudo. Os investidores sumiram. Os sócios fugiram. E Lara viu o pai desmoronar diante dela, silenciosamente, como um rei que perde o trono. O som da voz dele ainda doía na memória: “A culpa não foi sua, filha… mas é você quem vai ter que limpar meu nome e da nossa família.” A culpa a corrói até hoje, por confiar em alguém se nem conhecer direito. --- Agora O barulho das cartas voltando ao presente fez Lara piscar. Ela estava de volta ao salão, os holofotes refletindo o brilho de suas fichas. Na frente dela, Dante a observava, calado, como se pudesse ouvir os pensamentos dela. Ela não gostava disso. Não gostava de como ele parecia ler o que ninguém mais via nela mesma. — Está desconcentrada — ele disse, após o dealer revelar as cartas. — Não. Só… lembrando o motivo de estar aqui. — E qual seria? — ele perguntou, apoiando o queixo nas mãos, os olhos fixos nos dela. Lara respirou fundo. — Justiça. Um pequeno sorriso apareceu nos lábios dele. — Bonita palavra. Pena que, para este mundo, é apenas mais uma aposta perdida. Ela o ignorou e empurrou suas fichas para o centro da mesa. O dealer anunciou: — All in. A plateia prendeu o fôlego. Dante arqueou uma sobrancelha, impressionado. — Apostando tudo, Rainha de Copas? — Às vezes, é a única forma de vencer o jogo. Ele deu um leve sorriso. — Ou de se destruir mais rápido. --- Horas depois, o torneio do dia terminou. Lara subiu até o quarto, o corpo está cansado, mas a mente fervendo . Tomou banho, amarrou o roupão e foi até o cofre portátil que mantinha na mala. Lá dentro, guardava uma pasta — o que restava da investigação sobre a ruína da família. Nomes, documentos, transferências... e um nome recente que Sofia encontrara há pouco. Ela abriu o arquivo no tablet. Os olhos percorreram as linhas. Uma empresa de fachada, usada para mover dinheiro ilegal. O proprietário? Dante Moretti. O coração de Lara parou por um instante. Não podia ser coincidência. O homem que a provocava, que a ajudara a entrar no torneio, que a fazia perder o ar com um simples olhar... Era o mesmo nome que aparecia nas entrelinhas da tragédia da sua família. — Não… — ela sussurrou, sentindo o peso do choque apertar o peito. O celular vibrou. Uma mensagem anônima. “Nem tudo é o que parece. Cuide bem da sua aposta, Rainha.” Ela gelou. Olhou pela janela — e lá embaixo, no estacionamento iluminado, viu um carro preto. E um homem parado ao lado, encostado, acendendo um cigarro. Mesmo à distância, ela reconheceria aquela postura em qualquer lugar. Dante. O cigarro brilhou quando ele tragou e ergueu o rosto para cima, olhando direto para a sacada do hotel. Eles se encararam. Por um instante, nada existia além daquele olhar. Até que Dante soltou a fumaça devagar, jogou o cigarro fora e entrou no carro, desaparecendo entre as luzes da Strip. Lara sentiu o frio percorrer a espinha. O passado estava de volta — e dessa vez, tinha um nome e um rosto. E ela jurou, silenciosamente: se Dante Moretti fosse parte da ruína da sua família, ela o destruiria. Mesmo que isso significasse destruir o próprio coração.
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