Babaca Bipolar

1557 Words
Acordo com o celular despertando, são seis e quinze da manhã. Não é porque casei que vou parar a minha vida, preciso ir para a faculdade. Sou estudante de Engenharia Civil, mesmo contra a vontade do meu pai, que insiste para eu fazer Administração. Me levanto, tomo um banho e opto por uma roupa básica, calça jeans, t-shirt e uma sapatilha, prendo os cabelos num r**o de cavalo e estou suficientemente pronta para meu nível de humor. Mas como se já não bastassem os últimos acontecimentos, quando tento dar partida com o carro, ele simplesmente não dá sinal de vida. Insisto até a bateria descarregar por completo e sou obrigada a pedir um carro pelo aplicativo. Dou uma olhada no celular antes de pedir a corrida e tem duas ligações perdidas e uma mensagem do Rafael, como ele descobriu o meu número eu não sei, mas não abro as mensagens. Me encontro com a Bruna quando chego e com a péssima cara que estou, tenho que explicar para ela tudo o que aconteceu desde a última vez que nos falamos, pois, até então estava feliz. Na hora do intervalo vejo que o Rafael me ligou mais duas vezes. Ok, tá na hora de conversar com ele, mas não agora, talvez quando chegar em casa eu ligo. Assim eu pensei que seria, até acabar as aulas e tomar um susto ao ver o Rafael encostado no carro, vestido formalmente e me dando o sorriso que me faz suspirar, mas logo me lembro do babaca que ele foi e volto ao mau-humor de antes. _ Gabriella, dá para você falar comigo? — Rafael fala sem esconder a sua insatisfação. _ Não vai conversar com ele, Gabi? — Bruna me questiona. _ Não, Bruna. Eu não quero, não agora. — Disfarço e finjo não ouví-lo, passando direto de onde ele está. _ Senhora Lazzari! — Ele aumenta o tom de voz e eu volto quase correndo até ele. _ O que pensa que está fazendo me chamando assim? — Falo quase cochichando. _ Por que? É o seu sobrenome pelos próximos três anos. Não vai falar comigo? — Eu n**o com a cabeça. — Seus amigos sabem do seu casamento? — Pergunta aumentando a sua voz. _ Não! Diminua o seu tom de voz! — Digo ao perceber mais colegas de curso me olhando. — O que você quer, Rafael? _ Conversar contigo, Gabriella. Entra no carro!! - Rafael abre a porta do carona para que eu entre. _ Não vou entrar, Rafael! Conversamos depois, se quiser! — Falo e me viro. _ Senhora Lazzari! — debocha no mesmo tom alto de antes, enquanto ouço os cochichos de duas meninas. _ É, amiga. Não vai ter jeito. — Me despeço da Bruna, que acha engraçado e ri. — Te ligo quando chegar. Entramos no carro e devo admitir, ele consegue ficar ainda mais lindo com a mandíbula travada quando está com raiva. Rafael dirige sem falar uma palavra sequer, e eu estou chateada demais para tentar puxar algum tipo de assunto com ele. Estranho o caminho, pois ele não está indo para a minha casa, mas não o questiono. Logo estacionamos na garagem de um prédio residencial, e ele sai do carro, mas eu não me mexo. _ Dá para você entrar ou vamos conversar aqui mesmo? — ele pára do lado da janela, se encostando no carro _ Eu quero ir para a minha casa, não estou com paciência para a sua bipolaridade. — Olho para o para brisa, não quero encará-lo. _ Apartamento 202. Quando não suportar mais o calor é só subir. — Rafael fala e pega o celular da minha mão. Definitivamente, ele é bipolar. _Rafael! — Eu chamo enquanto saio do carro. — Você não pode me obrigar a ficar aqui! — Ele finge que não é com ele e continua a ir em direção ao elevador. — Rafael! Eu quero ir embora! — Digo quando paro em frente a porta do elevador _ Eu não disse que você não pode ir, só quero conversar como dois adultos que somos. — Dá um sorriso debochado e as portas de fecham _Não acredito! i****a! — Reclamo sozinha, olhando a porta do elevador. Fico esperando para ver se ele aparece, mas ele simplesmente sumiu e me deixou ali parada. Resolvo dar o braço a torcer e subo até o apartamento que ele falou, ao sair do elevador, vejo que ele está parado na porta, sorrindo com satisfação ao me ver ali. _ Até que enfim, pensei que fosse ter que ir te buscar pelo braço feito criança. — Rafael fala ainda sorrindo, e sai da frente para que eu entre. _ Você é um i****a, Sr. Lazzari! — Respondo irritada. — Eu realmente não quero saber da sua bipolaridade. _ Queria entender por que sou bipolar, Ella. — Diz enquanto tira sua gravata e desabotoa a camisa. Ella? Desde quando esse é meu apelido? _ Ainda pergunta? Em dois dias já conheci as suas múltiplas personalidades. — Viro de costas quando ele termina de tirar a camisa. — Você vai ficar sem camisa? _ Eu queria conversar com você sobre isso e pedir desculpas, mas não quero conversar com a sua b***a — ele me vira de frente — Não tem nada aqui que você não tenha visto, e eu preciso tomar um banho. Rafael entra para o quarto e eu fico parada na sala esperando por ele. Ando pelo apartamento inteiro, observando cada detalhe e após ver a cozinha perfeitamente arrumada, a roupa estendida no varal e nenhum sinal de poeira nos móveis, suponho que ele não more sozinho. Entro no quarto ao lado de onde ele entrou e me surpreendo ao vê-lo vazio. Onde a outra pessoa dorme? — Eu penso. Quando estou prestes a sair do quarto, sou surpreendida por ele, com uma toalha enrolada na cintura e o seu tanquinho evidente. _ É falta de educação fofocar a casa dos outros. — Ele diz e se coloca na minha frente, me impedindo de passar. _ Não quando a casa é do meu marido. Me dá licença, por favor. _ E achou o que estava procurando? _ Onde a outra pessoa dorme? _ Que outra pessoa? Eu moro aqui sozinho. _ A casa está tão arrumada que pensei que tivesse uma empregada morando contigo. — Tento passar por baixo do braço dele, mas ele continua impedindo _ Um homem não pode ser organizado? Anda, vem. Enfim ele me deixa passar, mas me segura pela mão e me leva até a sala. Nos sentamos no sofá e eu me agarro em uma das almofadas. _ Quero te pedir desculpas por ontem, Gabriella. Eu sei que fui um i****a e te tratei indiferente. _ Pelo menos nisso concordamos. — Evito olhar para ele para não acabar caindo em tentação. _ Acordei pela manhã naquele hotel e pensei que nunca mais fosse te ver. Fiquei num péssimo mau-humor por ser obrigado a casar com alguém que nunca vi, e quando vi que era você que ia casar fiquei feliz, porque me amarrei na sua. Mas aí me veio na cabeça a quantidade de coincidência. _ Coincidências? Quais? Vai dizer que foi tudo planejado por mim, Rafael? — Olho sem acreditar que ele pensou nessa hipótese _ Ella, pensa comigo. — Ele segura as minhas mãos — A primeira coincidência foi no barzinho. Fui me encontrar com o Léo para beber e esquecer por um momento a loucura do contrato, você estava lá. A segunda foi você ter aceitado tão fácil em sair comigo, e a terceira foi você ter me escolhido para ter a sua primeira vez. _ Você está se ouvindo? Acha mesmo que eu ia planejar me casar com alguém assim? Eu queria curtir a minha última noite solteira, pois nenhum de nós dois poderemos ficar com outras pessoas enquanto essa loucura durar. Eu gostei realmente de você, nunca senti nada parecido antes, por isso a loucura de ter a minha primeira vez contigo, afinal, posso escolher pelo menos com quem ter a minha primeira vez. Mas porque a mudança de humor e o interesse em me pedir desculpas? _ Porque o Léo me disse que realmente foi coincidência, e que se esbarrou na Bruna propositalmente. Eu não queria casar, eu tenho planos, a minha faculdade de direito para concluir, meu estágio, meu tão sonhado concurso... Isso foi loucura, e eu pensei que tivesse sido armação dos nossos pais para me convencer. Me desculpe por pensar que você tinha algo a ver com isso. _ Eu também tenho os meus planos, Rafael. — Digo me levantando — Eu nunca aceitaria essa loucura toda se não tivesse a obrigação. Viva a sua vida normalmente e vamos fingir que nada disso aconteceu. Só espero que esses três anos passem rápido para nunca mais ter que te ver de novo. Tenha uma boa tarde! — Pego meu celular em cima do aparador e vou embora. Rafael ainda me chamou duas vezes antes que eu descesse, mas me decepcionei tanto que prefiro não ouvir mais nada. Pego o primeiro táxi que aparece e me tranco no quarto o restante do dia, pedindo para Deus que esse tempo passe rápido.
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