CAPITULO 1

1004 Words
SAFIRA (LEMBRANÇAS) . A memória é viva, como uma foto antiga que nunca envelhece. . Fecho os olhos e posso me ver claramente, uma garotinha de nove anos, cabelos loiros ondulados presos em duas tranças, os joelhos ralados de tanto correr descalça pelo quintal. . As férias eram realmente chatas, mas com Jeniffer e Estela, meus dias eram melhores, elas eram minhas melhores amigas desde que eu entrei no primário e são até hoje. . Sempre rodeado pelos amigos, meu irmão Jasper, era meu herói, ele era o centro do meu pequeno universo e foi num dia aparentemente comum que tudo mudou. . Era verão, um dia abafado em que a brisa trazia consigo o cheiro da terra molhada e das flores do jardim. . Lembro de estar sentada no balanço improvisado que Jaspe e papai tinham construído para mim, junto com Jennifer e Estela tagarelando. Foi então que eles chegaram: Jaspe e seus amigos, rindo e carregando uma bola de futebol. . Eu conhecia a maioria deles, rostos familiares do bairro, mas havia um garoto novo entre eles, alto para sua idade, com cabelos castanhos que o sol parecia dourar e olhos de um verde tão intenso que me lembravam a floresta que eu via nos livros de contos de fadas. . — Safira, não enche o saco.— Jaspe gritou, me lançando aquele olhar típico de irmão mais velho que achava que minha única função era ser inconveniente. . — Eu não tô fazendo nada. — respondi, cruzando os braços e fingindo que não estava interessada no novo garoto. . Mas eu estava. Desde aquele instante, meu olhar gravitava para ele, como se ele fosse um ímã e eu, uma agulha solta no mundo. Ele parecia mais velho, talvez porque era mais sério que os outros meninos. Mas quando sorriu, algo dentro de mim mudou, não era um sorriso comum, era um sorriso que parecia ter sido feito para desarmar qualquer pessoa. . Jaspe percebeu minha atenção e como o irmão protetor que sempre foi, decidiu agir. . — Essa é a Safira, minha irmã mais nova, apenas ignore ela. — Ele riu, bagunçado meu cabelo levemente e saindo fora do caminho. . — Oi, Safira. Sou Leonardo. — O novo garoto disse, estendendo a mão para mim, algo que nenhum dos amigos de Jaspe havia feito antes. . Minha mão era pequena comparada à dele, mas quando nossos dedos se tocaram, senti um calor estranho, como se o verão tivesse se condensado naquele aperto de mão. Ele tinha algo que os outros meninos não tinham: uma presença que me deixava nervosa e ansiosa ao mesmo tempo. . Naquele dia, observei-os de longe enquanto jogavam futebol no quintal. Sempre fui curiosa, mas com Leonardo, minha curiosidade era diferente. Havia algo nele que me fazia querer saber tudo, desde o que ele gostava de comer até o que o fazia sorrir daquela forma tão encantadora, então, assim como se soubesse que eu precisava dela, minha irmã Jade, gêmea do Jaspe apareceu no quintal e acabei fazendo algumas perguntas sobre ele, ela mencontou algumas coisas e me falou que o menino loiro, Eduardo, era primo de Leonardo. . Jade e Jaspe eram tão grudados que acabavam tendo os mesmos melhores amigos, acho que conexão de irmãos gêmeos. . Os anos passaram, mas Leonardo continuava sendo uma figura constante na nossa casa. Ele e Jaspe eram inseparáveis, e isso significava que ele estava sempre por perto. Aos doze anos, eu já sabia que sentia algo diferente por ele. Não era mais apenas admiração infantil, era algo mais profundo, mais confuso. . Havia tardes em que ele aparecia na nossa sala com aquele sorriso que fazia meu coração acelerar. Jaspe o chamava para jogar videogame, mas Leonardo sempre tirava um momento para ficar comigo, quando ele cansava do videogame, eu o chamava para jogar dominó e acabamos criando uma rotina, toda sexta feira a tarde Leonardo jogava dominó comigo, é claro que ele me deixava ganhar as vezes, era algo pequeno, talvez insignificante para ele, mas para mim, cada momento era uma vitória, um fragmento de felicidade que eu guardava como um tesouro. . Na minha cabeça, Leonardo era perfeito. Ele era gentil, engraçado e tinha um jeito de fazer qualquer um se sentir especial. . Eu sabia que ele me via apenas como a irmã mais nova de Jaspe, uma garotinha intrometida que insistia em estar por perto. Mas, para mim, ele era o centro de tudo. . — Leo. Você quer ser meu príncipe, quando eu fizer quinze anos? Eu quero ser sua princesa.— Eu perguntei ao melhor amigo do meu irmão quando ele me deu um vestido da Cinderela no meu aniversário de 10 anos. . Ele riu da minha pergunta boba, quase quebrando meu coração, mas então, quando ele viu meu rosto desanimado, ele se agachou diante de mim, olhando nos meus olhos turquesa com seu cinza tempestuoso. . — Voce já é minha princesa. . — Mesmo? — Eu me animei como um shopping quando recebe iluminação de natal. . — Isso significa que você vai se casar comigo? — Ele mordeu o lábio, seus olhos brilharam com diversão. . — Sinto muito, mas eu não posso. . — Porque não? — Eu fiz beicinho e cruzei os braços. . — Porque não é o momento certo. Você ainda é muito nova, na verdade nós somos muito novos, você acabou de completar dez anos e eu quinze. . — Então, quando saberei que será o momento certo?— Eu olho para ele com esperança. . — Quando você se transforma em uma linda borboleta, minha joia. No momento você é apenas uma lagarta. — Eu não sabia o que isso significava naquele momento. . Mas, para lembrar e entender, eu escrevi essas palavras em meu diário secreto. . Eu sabia que tudo o que Leo havia dito naquele dia era porque ele não queria quebrar o coração ingênuo de uma menina de nove anos. Mas não me importei. ATÉ QUE....
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