ÁZLIN:
-Nossa, estamos sem frutas e legumes em casa! E eu definitivamente, estou sem tempo de ir até a feira. - Mamãe disse.
-E o Aquiles? Porque a Senhora não pede pra ele ir? Nós estamos cheias de trabalho aqui! - Perguntei.
- O seu irmão está de saída agorinha para fazer as nossas primeiras entregas! - Mamãe disse com muito orgulho.
-Que notícia maravilhosa! Nós vamos crescer muito aqui, a Senhora vai ver! - Eu disse a abraçando.
-Para honra e glória do Senhor Jesus, vamos sim! - Ela respondeu. - Então, você vai até a feira fazer as compras? Quando o seu irmão chegar, ele vai precisar das coisas para fazer o nosso almoço! - Sugeriu.
-Eu? Mas eu nem sei onde fica nada aqui! Eu nem conheço ninguém! - Relutei.
- Ázlin! Eu estou mandando agora! - Ela disse séria, com a minha resistência em não querer ir.
-Mas mãe, eu nunca fiz compras na feira, nem quando estávamos em São Paulo! - Questionei.
-Nunca mesmo. Mas agora as coisas mudaram, e nós não estamos em São Paulo, não temos mais secretária do lar para fazer tudo por nós, e agora é só eu, você, e o seu irmão para darmos conta de tudo! - Ela disse me entregando o dinheiro, e uma lista do que deveria ser comprado.
- E a loja? - Perguntei.
-Eu estou aqui, não estou? Eu posso muito bem cuidar disso tudo sozinha, enquanto você fica ausente uma hora, e faz as compras! Pelo que lembro, comecei esse trabalho sozinha, sem a ajuda de ninguém. - Mamãe estava ficando já, levemente irritada comigo.
-Tudo bem, já que não tenho outra opção, eu vou até a feira! - Revirei os olhos, tirei o meu avental, as luvas que eu usava para mexer com a terra na parte da plantação das flores, e saí com a cara emburrada.
Eu sabia mais ou menos onde ficava a feira, e a pé levava um tempinho, e com o cansaço e preguiça que eu estava, iria demorar uma eternidade.
Sendo assim, peguei uma dessas bicicletas que a prefeitura disponibiliza para a população usar pela cidade e depois devolver, e fui até a feira pedalando.
Chegando lá, eu fiquei mais perdida que tudo nessa vida. Muita gente gritando,oferecendo coisas, barracas por todos os lados, e confesso que com o calor de quase 40 ºgraus que estava fazendo, fiquei muito desorientada, e sem saber por onde começar, acabei esbarrando em uma banca onde derrubei um caixote cheio de laranjas.
-Meu Deus, moço! Me perdoa! Eu vou juntar tudo, eu juro! - Falei desconcertada, tentando colher de volta todas aquelas frutas.
Algumas pessoas me olhavam, riam, e o rapaz que estava naquela pequena quitanda, não esboçou reação alguma. Ficou ileso, me olhando com um olhar de julgamento, enquanto eu me sentia patética pagando um mico.
- Me perdoa moço. Mais uma vez. - Falei toda suada, e ainda mais tímida.
-Ok. - Ele disse sério.
Ok? Só ok? Que cara mais estranho! Não vai falar nada, nem me xingar, ou rir, nada? Nada, mesmo? Eu pensei.
Ficamos em silêncio, constrangedor. E de repente, ele estava tirando do caixote todas as laranjas que eu havia juntado,e as arrumando novamente, as empilhando todas seguindo um mesmo padrão.
-Ué, mas eu acabei de juntar isso aí! E arrumei tudo, inclusive! - Falei levantando a sobrancelha, um pouco intrigada.
-Correto! Você só juntou! Agora eu irei organizar. A sua desorganização me deixa confuso. Mas tudo bem, o cliente sempre tem razão! -
Ele disse apático.
Eu fiquei sem saber o que responder.
-Você tem isso aqui? - Entreguei a lista de compras.
- Maçãs, laranjas que você acabou de derrubar todas no chão, melancia, melão, uvas, pitaya... Sim, como pode ver, tenho todas! Quer escolher as melhores? - Ele perguntou.
- Eu não sei escolher. Poderia me escolher, e me poupar disso tudo? Um quilo de cada, e tudo certo! - Eu disse, tentando ir embora dali o mais rápido possível.
Ele escolheu as melhores frutas segundo ele, conforme estavam na lista que a mamãe me deu, eu paguei, agradeci, e na hora de voltar, ele me acompanhou, e levou as sacolas para mim, até o porta objetos da bicicleta.
-Obrigada! - Agradeci o olhando com um sorriso de canto de boca.
- Por nada. - Ele disse, sem olhar nos meus olhos.
- Na próxima semana, venho novamente. - Tentei tirar aquele clima de tensão, que eu estava sentindo.
- Fazemos entregas aos sábados . - Ele me entregou um cartãozinho.
VILA POMAR, e um número de telefone para contato. Seria o número dele? Não! Eu estava ficando louca, talvez estivesse carente, querendo achar que aquilo poderia realmente ser uma cena de filme adolescente, onde o mocinho e a mocinha se conhecem assim, aleatoriamente após um desastre.
Apesar de muito estranho, diferente de todos os garotos que já vi na vida, me refiro em questões de comportamento, pelo pouco que pude observar, ele era um rapaz muito bonito.
Rosto de ator daqueles filmes americanos de romances adolescentes, onde o garoto mais f**o, é na verdade o mais lindo.
Ele tinha cabelos claros, lisos, em um corte social, óculos, usava suspensório, com uma blusa perfeitamente branca (não sei como conseguia em meio à uma feira, cheia de gente), ele parecia o nerd do filme, mas tinha um rosto muito bonito, afilado, e os óculos eram o seu charme.
-Intrigante! Muito intrigante! Mas eu gostei! - Falei baixinho, enquanto o observava voltando para a sua quitanda, sem olhar para trás.
Voltei para casa me fazendo várias perguntas sobre aquele moço em questão , confesso que fiquei pensando nele durante todo o restante do dia.
Olha a carência, Ázlin! Está louca, garota? Tentava policiar os meus pensamentos. Até que não seria má idéia um romance em meio ao completo caos da minha família. E uma decepção amorosa então? Seria lindo, no meio de tanta coisa que já estava acontecendo ao mesmo tempo. Eu me julguei, diante de meus próprios pensamentos.
Ainda não falei sobre a minha vida amorosa que na verdade nunca existiu de fato, não é mesmo? Quando ainda estava em São Paulo, conheci alguns garotos da minha antiga igreja, oramos juntos, e até arrisquei namorar, mas durou pouquíssimo tempo, tipo uns dois meses no máximo! O mesmo ocorreu com Aquiles que nesse quesito, somos muito parecidos, era como se a gente sonhasse em ter um relacionamento de Deus, mas não fizéssemos muita questão de ter de fato uma r*****o com alguém. Eu adoraria ter uma cunhada que fosse como uma irmã, uma melhor amiga, mas ainda não tive esta sorte, pelo meu irmão ser tão estranho quanto eu, se tratando de amor.
A igreja do meu pai sempre foi muito rígida, e namorar para todos, já era um princípio a um casamento em breve.
Na verdade, para nós cristãos o namoro é exatamente para isto! Namoro é assunto sério, e eu não me via (e ainda não me vejo) namorando para noivar meses depois, muito menos casar! Este era o grande bloqueio de tudo, escolher alguém para passar a vida toda ao seu lado, é algo que me causa arrepios na espinha.
Além de muito jovem, eu tenho muitos planos, muitos sonhos a cumprir, quero estudar primeiro! Quero ser reconhecida na minha profissão, me especializar ainda mais como florista, trabalhar com eventos, e outras coisas. A pressão vinha automaticamente, quando o meu pai sabia que eu estava orando, ou conhecendo algum garoto. Ele já falava sobre os pecados da carne, sobre o casamento, se eu estava mesmo disposta, e isso é muito cansativo. Nunca me dei ao "luxo" de ficar com alguém, e apenas conhecer para depois ver no que ia dar. Sempre ouvi que cristão não "fica" com ninguém sem compromisso. Cristão noiva e casa. Então, eu sempre corri dos meninos da minha igreja, por mais lindos e perfeito que eu os achasse.
Namoro para mim, tornou - se uma espécie de tabu, como se eu fosse obrigada a casar, e tecnicamente é isso mesmo. Os únicos dois garotos com quem cheguei a ter algum tipo de envolvimento sempre falavam, que gostavam de mim, que poderíamos sim, ter um namoro santo, que eles não iriam jamais forçar situações que estivessem fora dos princípios de ambos, mas eu não confiei e preferi continuar sozinha, mesmo que gostasse de alguém,como dito anteriormente. São os fardos de ser filha de pastor,já bastava a queda do meu pai, e do Aquiles, eu tinha que vigiar muito para não cair em erro e prejudicar a minha vida também.
-Você super acertou na escolha das frutas, parabéns! E os legumes estão lindos! Fresquinhos! - Mamãe disse.
Legumes? Eu nem percebi que tinha legumes na lista! O "moço" além de eficiente, teve mais atenção à lista do que eu, que era a "dona" dela. Nunca precisei me preocupar com nada dentro de casa, sempre tivemos quem fizesse tudo, e mesmo não sendo eu a pessoa que fazia os serviços domésticos naquele momento, ir à feira era sim sair da minha zona de conforto.
Bom, já chega de pensar no vendedor de frutas gatinho, e vamos focar agora no trabalho! Há muito o que fazer ainda, até o fim do dia. Eu disse mentalmente, me fazendo voltar pro planeta terra,pulei dos meus devaneios loucos, para a realidade que me aguardava para fazer uma loja andar, ou nem dinheiro para frutas e esses tais de legumes teríamos.
No final do dia, nós fechamos a loja, e graças a Deus foi um dia produtivo, tudo estava indo bem, para uma empresa iniciante, cada dia era uma nova grata surpresa. O nosso capricho e delicadeza, com toda certeza eram os diferenciais para que tudo tivesse correndo muito bem, rumo à prosperidade.
A única coisa que estava me fazendo muita falta, era o contato com o papai. Ele trabalhava o dia todo no banco no centro da cidade que ficava um pouco distante de casa,inclusive quando não ia de carona, ia de ônibus para o trabalho, e almoçava por lá mesmo,e a mamãe também sentia falta dele, dava pra notar em suas frases nas entrelinhas, seus suspiros, e nas trocas de mensagens dos dois em seus tempos livres.
Apesar de toda a crise, de terem motivos para o temido divórcio, principalmente ela, mamãe o amava mesmo depois de tantos anos, e quis lutar pela nossa família. Porém, eu sempre lhe dizia, que se ela não estivesse feliz, poderia tomar uma decisão.
Eu estava sentindo muita falta das nossas conversas, nossos almoços em família, nossas orações que aconteciam apenas antes de irmos todos dormir desde a mudança de rotina, sentia saudade dos carinhos do meu pai , dos conselhos, das nossas brincadeiras, de tudo. De ser a sua princesinha mimada, dos nossos momentos de puro afeto.
Ele saía de manhã cedinho, e só retornava no início da noite, às vezes tão cansado, que logo dormia, acordava apenas para jantar e voltava a dormir novamente. Já não tinha energias nem para conversar o básico, e acredito que para a mamãe era ainda pior, a sensação de carência.
Quanto a nova igreja em que começamos a nos congregar, ainda era muito cedo para sermos mais ativos, termos cargos, oportunidades de louvar, quem sabe o Aquiles voltasse a tocar algum instrumento, mas estávamos esperando em Deus com muita paciência, e nos reestruturando. No geral, era um local muito acolhedor, com pessoas simples, e a mamãe muito comunicativa como sempre, já até conversava um pouco com as mulheres de lá, que de pouco a pouco, iam na nossa loja comprar plantas. Já que não vendíamos apenas flores, mas todos os tipos de plantas para quem gosta de tê-las em casa, das mais simples, até as mais caras e algumas consideradas venenosas, tínhamos também as "carnívoras" que aguçavam muito a curiosidade das pessoas, por elas comerem insetos. As pessoas achavam inacreditável uma planta tão viva digamos assim, era uma atração.
Mas, o assunto aqui não são as plantas, e sim a nova igreja. De jovens, havia um grande g***o deles, e eu queria muito me enturmar, fazer novas amizades, já que eu ainda não iria para a escola por enquanto, seria muito interessante ter amigos para conversar, e quem sabe até mesmo sair para um passeio pela cidade que era muito simpática, parecia aquelas cidades cenográficas de série mexicana (nem sei se essa é uma boa comparação) mas enfim, é isto.
Quando o culto terminou, que saí da igreja junto da minha família, notei que o mesmo rapaz que me atendeu na feira, estava do outro lado da rua. Ele parecia estar esperando alguém.
No mínimo, alguma dessas garotas é a namorada dele! Pensei. Um garoto tão bonito, tão singular, com certeza já havia conquistado o coração de alguma dessas meninas, que se comparando beleza, eram bem mais bonitas que eu, que estava cheia de olheiras, com o cabelo bagunçado, nada hidratado, a pele com algumas espinhas, inchaço da Tpm, e tudo mais que acompanhavam a adolescência.
Uma Senhorinha atravessou a rua com dificuldade, e ele veio ao seu encontro, a ajudou, e depois os dois andaram um pouco, e entraram em um carro que estava parado mais à frente.
Seria a avó dele? Mãe? Mãe, acho que não. Era muito idosa, para ter um filho tão velhinha.
Mas, que bobagem! Sara teve Isaque na velhice, sua doida! Nada é impossível para Deus!
Eu, e os meus pensamentos loucos que não se calam um só minuto sequer! Que doideira, mas fiquei ainda mais curiosa para descobrir o que se passava na vida do vendedor de frutas gatinho.
AVISO:
Meus amores, a história completa vai estar em uma plataforma chamada f***o, e o melhor de tudo, totalmente GRATUITA para vocês! A plataforma tem app, e também o site caso seja mais confortável para você, meu amado leitor (a)
Boa leitura!
Conto com o apoio de todos que gostam do meu trabalho, e principalmente para os que adoram se deleitar em boas leituras. Ler é vida! Deus lhes abençoe imensamente,
De sua escritora Mari Rodrigues