CAPÍTULO 02-NOVA GEOGRAFIA

1960 Words
ÁZLIN : Eu não queria ir embora, na verdade. Mesmo com as decepções, me restaram algumas pessoas que ainda valiam a pena estar presente. Mas, eu e minha família durante uma oração tivemos a confirmação de que ir embora de fato, seria o melhor naquele momento. As nossas dificuldades financeiras estavam sendo tantas, que em determinados dias, tínhamos o que comer no almoço, mas não tínhamos o que comer no jantar, pois com o dinheiro apurado, precisávamos investir na estufa ou em materiais de papelaria,para não desfalcar o andamento do nosso negócio. Então, não havia mais o que fazer! Iríamos de fato arriscar uma nova vida em um novo lugar, e tudo certo. Começamos a correr contra o tempo para embalarmos todos os nossos pertences, levamos apenas os móveis em boas condições, pois muitos quebraram - se só em tentarmos movê-los de um lugar para o outro. Mas sem dúvidas, os materiais mais delicados, que precisavam de um cuidado especial ao serem transportado, eram as nossas plantas, mudas, e tudo que fosse relacionado à floricultura. Precisaríamos levar um grande acervo, pois não sabíamos como seria o solo, se as flores iriam brotar rapidamente, era tudo muito incerto e novo, mesmo o meu pai tendo uma boa oportunidade de trabalho, no banco da cidade. No total, foram dois meses de preparação até estarmos 100% preparados para a mudança, até por motivos de que a nossa casa precisava ser vendida, para termos como nos manter até que a nossa nova floricultura tomasse forma novamente. Ficamos com o coração apertado ao nos despedirmos da nossa casa, onde vivemos momentos ímpares, rimos, choramos, alcançamos milagres de joelhos, ajudamos muitas pessoas quando estávamos nos tempos das "vacas gordas" , e sentimos muito também, pelos nossos clientes fiéis, e também das poucas pessoas que nos apoiaram em nossos momentos de crises, mas a vida é assim mesmo! Feita de ciclos. Uns encerram, para que os próximos possam ser iniciados, e tudo bem, todo mundo passa por algo assim na vida. Antes de seguirmos viagem, o amigo de infância do papai foi nos "buscar" em um caminhão baú para levar apenas a floricultura junto do meu pai, e eu, Aquiles e mamãe fomos logo atrás na caminhonete da nossa família, enquanto o restante dos objetos iam em um caminhão de mudança com os nossos móveis, e caixas de papelão com roupas e sapatos, e demais pertences. A viagem foi muito longa, desgastante, durou em torno de dez horas, a mamãe dirigia, depois o Aquiles, e assim os dois iam fazendo um revezamento. Tivemos que fazer algumas paradas durante o trajeto para descansar um pouco, e também comer, usar o banheiro, mas ao final do dia, já estávamos em nosso novo destino. Tomamos um verdadeiro choque, ao vermos a nossa casa nova! Ela era completamente diferente do que eu estava acostumada desde quando nasci. Sempre moramos em nossa casa imensa,com todo o conforto que se possa imaginar, casa pastoral não é mesmo? Com garagem imensa, jardim, muitos quartos, os melhores móveis, tudo do melhor possível. E nos deparamos então, com uma casa pequena, de piso "batido" como o amigo do papai chamou. Ou seja, uma casa sem cerâmica no chão. Ao menos, estava com as paredes apresentáveis, e bem pintas. Tratava - se de uma vila de casas,todas coloridas, uma breguice só, mas até que era um lugar simpático, pois em cada janela, ou porta da casa de alguém, havia uma planta, e as plantas são capazes de alegrar qualquer ambiente. Mas voltando à casa, era uma casa de paredes pintadas de amarelo, aquele amarelo beem chamativo (detesto essa cor) , assim como as cores das casas vizinhas que eram verde néon, laranja, rosa, e assim aquela vila toda colorida parecia um Carnaval, uma bagunça de cores diante dos olhos de quem era minimalista e preferia tudo, com cores mais neutras possível. A casa não tinha garagem, nem portão na frente, apenas a porta de entrada, o que já me incomodava também, não me causava uma sensação de segurança, pois se você abrir a porta para amenizar o calor, quem passasse na rua, veria toda a sua casa por dentro, e isso sinceramente me deixou muito irritada. Por dentro, uma sala minúscula onde caberia apenas o sofá e a TV, a cozinha também não era um dos melhores locais da casa, e os quartos pelo menos eram três, dois banheiros, e um quintal também minúsculo. O quarto maior, com banheiro obviamente ficou para os meus pais, e os outros dois menores, eu ocupei um e o meu irmão, o outro. Por sorte, me livrei de ter que repartir um quarto com o Aquiles! O quarto m*l caberia as minhas coisas, e para o meu desgosto quase tive que vender a minha penteadeira, mas fiz questão de colocá-la no quarto, mesmo que espremida entre a cama e o guarda roupas. Casa pequena, brega, chão de barro, muitos ruídos dos vizinhos, já que as paredes de todas as casas eram quase coladas umas com as outras, muito próximo, muita gente, uma vila qualquer, em uma cidadezinha interiorana, eu me arrependi de ter concordado com aquela loucura. De todo modo, não haviam só defeitos. O espaço onde montaríamos a nova floricultura do zero, era simplesmente perfeito! Não era em casa como o primeiro, mas ficava na rua de cima, e não era nada distante da nossa nova casa. Era um ponto comercial grande, já com uma estufa muito melhor do que a que nós tínhamos improvisada em casa, com solo fértil e havia bastante espaço para o plantio! Dentro também, era grande na mesma proporção, dava até para montarmos um pequeno escritório para colocarmos a impressora, e materiais de papelaria para confecção de caixas, cartas, e outros. A casinha na qual iríamos morar, era cedida pelo amigo do papai que surgiu como um anjo de Deus em nossas vidas, e nós o pagaríamos apenas o aluguel do ponto comercial,o que nos daria um grande alívio financeiro. Chegamos muito cansados da viagem, ficamos uns dois dias desembalando tudo, até deixarmos a casa totalmente organizada, e depois focamos na pintura do nosso ponto de trabalho, usamos tons de rosa mauva, bege, deixamos as paredes com cores muito delicadas,e que com certeza chamariam a atenção. Se dependesse de mim, faria logo a organização de todo o espaço, mas antes tivemos que ir pra parte mais cansativa : Plantar as flores, e todas as outras plantas, pôr a mão na massa! Infelizmente mesmo com todo o cuidado, algumas chegaram um pouco murchinhas, mas com os cuidados certos, elas não iriam morrer. Quando finalmente tudo estava sob controle, começamos a organização do espaço, e reaproveitamos alguns móveis que não couberam na casa, e a nossa nova floricultura ficou um charme, um lugar totalmente "instagramável",delicado, e que chamava bastante a atenção. Como novo nome, na fachada da loja, colocamos "FLORICULTURA ARRANJO PERFEITO". Não é lá, o nome mais criativo que você já viu na vida, mas foi o que pensamos e todos concordaram no momento. Quando tudo já estava pronto, eu mesma fiz no computador a arte, e imprimi alguns folhetos para fazermos uma pequena inauguração da única floricultura da cidade, mesmo sem conhecer ninguém ali. O marketing sempre foi a alma de qualquer negócio, e quanto melhor ele for, mais atrativo a empresa se torna. Como mimo, levei algumas poucas flores das mais perfumadas em uma cesta, e dei para algumas pessoas em específico, como um cartão de visitas. Até porque, venhamos e convenhamos, dar uma rosa a alguém, é um ato muito singelo, e que pode sim melhor o dia de uma pessoa. Saí distribuindo flores e folhetos nas ruas próximas dali, mas sem ir muito longe, pois eu não conhecia nada da cidade, e tinha medo de ficar perdida. Quanto ao meu pai, iniciou o seu trabalho no banco junto de seu amigo, antes mesmo que conseguíssemos concluir tudo que a floricultura precisava, mas eu, mamãe e Aquiles demos conta de tudo com grande excelência. Mudar de vida estava sendo uma verdadeira loucura, e 24 horas parecia muito pouco, diante de tudo que tínhamos que fazer. Papai sempre preocupado, tratou de nos conseguir uma igreja para congregarmos, e fomos recebidos com muito carinho e hospitalidade por todos os membros. Quanto à escola, não tive outra opção, a não ser abandonar, já que eu não poderia continuar com o ensino remoto estando em uma outra cidade. Meus pais se preocupavam com o meu futuro, os meus estudos, mas como em todas as nossas decisões tomadas sempre em consenso e em família, decidimos que eu perderia aquele ano escolar, mas no ano seguinte eu voltaria para a escola, que seria o tempo de nos estabilizarmos, e quem sabe, contratar uma funcionária para fazer o meu trabalho enquanto eu estivesse na escola. Os serviços continuariam da mesma forma. Eu e mamãe cuidaríamos do negócio da nossa família, era tudo muito incerto se conseguiríamos realmente ter uma renda extra em um local completamente novo, cidade pequena, o medo de falir com certeza existia, estava ali tentando nos afligir, mas a nossa fé era maior que tudo. E o Aquiles, continuaria cuidando de casa, da comida, e ajudando na estufa com as plantas, ou o que fosse necessário em seu tempo livre. O meu irmão mudou muito, ele estava mesmo buscando corrigir os seus erros, e ocupar a sua mente. Víamos que a abstinência das drogas o deixava trêmulo, um pouco inquieto, e quando não suportou mais, ele abriu o jogo conosco, e disse que precisava de um substituto para as drogas, ou poderia surtar novamente. Foi então, quando ele voltou a fazer o uso de cigarros. Saudável? Nem um pouco! Aceitável religiosamente falando? Também não, um absurdo diante dos olhos do nosso pai, mas era o único meio de fazê-lo ficar calmo, quando a d***a ainda fazia falta em seu organismo. Papai aceitou mesmo discordando, pois sabia que tivemos que tirá - lo da clínica muito antes do tempo, e ele sabia, foi avisado pelos médicos que a interrupção de uma desintoxicação logo no meio do tratamento,poderia sim gerar recaídas, ou uma v*****e exacerbada de retornar ao vício, mas não tivemos outra opção. Sendo assim, o nosso único meio no momento, era deixar que o Aquiles fumasse. Me doía na alma, sentir o cheiro do cigarro dentro de casa, mas eu sabia que Deus ainda tinha grandes planos para a vida do meu irmão, e orava todos os dias por uma transformação dele, por completo, já crendo na vitória em nome de Jesus. Já estava tudo pronto para a inauguração da nossa empresa linda e cheia de amor, e soubemos que as cidades vizinhas, também já estavam sabendo também que teria uma floricultura pertinho deles, e poderiam quem sabe, ser futuros clientes em potencial. Era tudo o que precisávamos! Muita divulgação, se a nossa empresa falisse, seria a prova de que fizemos a escolha totalmente errada em nos mudarmos. -Querida, filha, e meu filho! Vocês são as melhores pessoas que eu poderia ter como família! Eu tenho tanto orgulho de vocês três! Fizeram um excelente trabalho, estou encantado! Sei que de início não apoiei o sonho de vocês, mas entendi que esta empresa era também uma benção, quando precisei dela para me manter, quando sobrevivi às custas do que tanto critiquei, e tanto disse que era uma perca de tempo! - Papai disse emocionado, ao ver tudo pronto pela primeira vez, para a inauguração no dia seguinte. Nós nos abraçamos, oramos pela floricultura, para que tudo saísse conforme a v*****e de Deus,entregamos as nossas preocupações, medos para Ele, e descansamos na certeza de que o que tivesse de ser, dando certo ou errado, iria acontecer de qualquer maneira, pois Deus já havia escrito aquele capítulo da nossa história.
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