Tamara cumpriu o pedido de Paula no dia seguinte, para ela fazer uma visita repentina até sua casa. Ela foi orientada a ir ao horário de almoço, pois era o único período em que o pai poderia estar em casa.
Ela tocou a campainha por algumas vezes, até que finalmente ele abriu a porta e só de ver como ele estava desleixado com sua aparência, a jovem pode ter certeza que aquele homem não estava se cuidando nada bem na ausência da filha.
— Senhor Antônio, vim para buscar algumas coisas que acabei esquecendo no quarto de Paula e eu conversei com ela e se o senhor permitir eu gostaria de entrar e pegar.
— Claro, garota, entre!
Sua fala atravessada, a barba por fazer, indícios claros de alcoolismo e assim que entrou também pode verificar que a casa não estava nada limpa. Ela foi até o quarto de Paula, ficou algum tempo fingindo estar pegando as tais coisas que havia esquecido e ao sair resolveu perguntar a ele como estava.
— Já que estou aqui, gostaria de saber se o senhor está precisando de alguma coisa?
— Paula não está nem ligando para mim, literalmente não se importa com o que acontece!
— Vai me desculpar senhor Antônio, mas pelo que entendi… ela apenas fez essa viagem, porque o senhor a incentivou!
— Acabou me deixando abandonado, assim como a mãe dela que deixou de se cuidar até morrer daquele jeito. Olhe para mim, veja se ainda resta alguma coisa do homem que fui nessa vida?
— Acho que o senhor está muito alterado e não deveria ter bebido.
— Quem é você para me dizer o que devo não fazer, sua franguinha metida! Diga a sua amiga que é melhor ela dar um jeito de voltar para casa, estou desempregado e agora ela vai ter que se virar.
Tamara resolveu vir embora imediatamente, Antônio estava muito fora de si e não era nem sombra daquele homem tão gentil e amistoso que ela conheceu.
Paula e Robson haviam dormindo juntos naquela noite, fizeram muito amor e conversaram sobre seus gostos pessoais e musicais.
— Nunca imaginei que você gostasse desse tipo de música, sempre te imaginei ouvindo MPB e até blues!
Robson sorriu, seu jeito recatado escondia muitas particularidades.
— Na verdade, eu sempre fui muito eclético e gosto de tudo o que é bom, seja rock, sertanejo ou até mesmo música eletrônica… depende da companhia que estiver comigo, a música que inspira e precisa ser escolhida minuciosamente para cada ocasião. Acho que já até tocamos nesse assunto antes e sem detalhes é claro!
— Hmmm então posso saber qual tipo de música gostaria de ouvir comigo?
— Obviamente, te vi dançar de maneira muito sensual naquela festa e acho que seria excitante te ver fazer isso aqui e só para mim! Me surpreenda ao escolher a melhor canção...
O celular dele começou a tocar insistentemente, Paula não conseguiria se concentrar e sabendo que ele tem um filho e esposa poderia ser algo importante.
— Atenda Robson!
Ela saiu da cama e foi até o banheiro para dar mais privacidade a ele.
— Alô!
— Robson, sou eu… o reitor Orestes.
— Como vai? Acredito que já tenha recebido o meu recado sobre o acidente que tivemos.
— Sim, e é por isso que estou telefonando. Acho que essa viagem se converteu em um completo desastre, primeiro tivemos que custear o retorno de uma das alunas que teve um problema pessoal e agora infelizmente vocês sofreram um acidente… obviamente fico feliz que não tenham se ferido e que existam apenas transtornos materiais, mas o corpo docente e eu, fizemos uma reunião e achamos que é melhor que retornem.
— O corpo docente ou Eduardo?
— Espero que seja mais clara em sua insinuação, não se esqueça de que Eduardo é meu genro.
— Eu sei bem o que estou falando o reitor, percebi que ele não ficou muito feliz ao ser substituído por mim nesta viagem. Acho que se voltarmos agora todo o investimento será em vão, estamos desenvolvendo um projeto muito importante aqui neste lugar e não acho justo que sejamos forçados a interromper devido a dinheiro, quando todos nós sabemos haver abundantes fundos para custear esse tipo de projeto!
Orestes não queria arriscar ser denunciada por algum docente, realmente ouviu algumas verbas destinadas àquele tipo de viagem e alguns desvios que ele gostaria de manter em sigilo.
— Certo Robson, continue sua viagem e por favor, lembre-se do real motivo de estarem aí.
— Lembre-se o senhor, acusações levianas e sem provas podem reverter uma situação, outras podem ser comprovadas facilmente com investigação e não se esqueça disso!
Por fim, ele se despediu dele friamente e se arrependeu de ter cumprido o capricho da filha ao fazer aquela ligação e tentar encerrar aquela viagem. A forma tão ríspida com que Robson se referiu a ele o fez pensar em duas alternativas distintas… em uma delas, realmente ele estaria tendo um caso com uma aluna muito mais jovem e no outro, estava apenas se sentindo ofendido por aquela acusação e quis revidar.
Robson
De onde pode estar vindo esse desejo de acabar com projeto? Se eu estiver mesmo certo, Eduardo ainda está com dor de cotovelo e se realmente tivesse ciúme de Paula é porque tem interesse real e s****l nela.
Agora tenho medo de voltar, não sei o que seria capaz se aquele i*****l tentasse se aproximar dela de alguma forma. Não posso ceder ao meu temperamento explosivo.
Havia outra ligação em espera, percebi ser o número de Tamara e atendi.
— Como vai Tamara?
— Professor Robson, me desculpe por telefone era assim para o seu celular é que Paula já não tem mais o dela e eu preciso conversar sobre um assunto muito urgente.
Senti muita vontade de perguntar o que era, mas não seria tão indelicado.
— Claro, eu irei até o quarto dela e passarei o celular.
Paula
Percebi que tudo ficou mais silencioso e voltei para o quarto, Robson fez sinal para eu atender uma ligação em seu celular e eu fiquei assustada.
— Alô?
— Sou eu Tamara, não se preocupe, acho que o professor Robson deve ter pensado que o telefonei para ele apenas na inocência porque precisava muito falar com você. Isso não significa que o deixei entender que estou sabendo sobre o caso de vocês.
— Nada disso importa, se você me ligou assim com tanta urgência… então por favor me diga de uma vez, estou muito preocupada!
— Eu fiz o que me pediu, visitei o seu pai. Eu não queria que você ficasse triste ou pensando em voltar, mas depois o que aconteceu com meu próprio pai eu não posso te deixar sem saber. O senhor Antônio parecia bêbado quando fui até sua casa e isso não é tudo, ele foi muito grosseiro comigo e disse que está sem trabalho.
— Meu pai foi demitido?
Só depois eu percebi que não deveria ter dito isso em voz alta, não quero que Robson fique influenciado ou chateado ao saber dos meus problemas.
— Foi o que ele disse, pelo jeito tão cabisbaixo e desleixado que ele está, eu acho que é verdade!
— Está bem amiga, agradeço por você fazer o que pedi.
Me despedi dela, naquela ligação e agora o meu coração ficou dividido, entre permanecer por mais esses dezesseis dias que faltam para encerrarmos ou ir embora.
Robson veio para perto de mim e eu entreguei o celular dele, ele me abraçou e levantou meus cabelos desnudando minha nunca e colando seus lábios ao meu ouvido.
— Sinto muito pelos seus problemas Paula e eu não quis invadir sua i********e, mas acabei ouvindo e agora me sinto no dever de te aconselhar. Voltar para casa, antes de concluir este projeto, não irá te fazer crescer como profissional e pelo que entendi, você deseja de todo o seu coração crescer justamente para dar uma vida melhor ao seu pai. Não estou te persuadindo a ficar apenas como um homem que deseja permanecer nos seus braços, mas também como alguém que reconhece que seu pai é adulto o suficiente para cuidar de si mesmo e não deve manipular sua vida.
— Por alguns meses achei que o meu pai fosse tomar jeito na vida, havia conhecido uma mulher e parecia querer se tornar uma pessoa de bem novamente. Sempre que as coisas começam a dar certo para mim, ele volta para os vícios antigos, sinto que projeta todo um remorso que sente pela morte da minha mãe… em mim.
Não consegui segurar as lágrimas e o abracei muito forte, meu pai não irá mudar mesmo que eu retorne para casa. Tenho pouca idade, mas já vivi o bastante para ver isso acontecer várias e várias vezes!
Robson ficou abraçado comigo e fazendo carinhos, disse que não iria intervir mais na minha decisão, estava disposto a catar qualquer uma delas.
— Reitero o que eu disse antes, Paula, faremos o que você quiser fazer. O motivo de tudo isso acontecer é justamente você!
Achei que ele contrataria a frase dizendo que nós alunos éramos a parte fundamental de tudo isso, eu continuo nos olhos esperando que ele complementasse.
— Não iremos voltar, não faltam tantos dias e sei que quando eu estiver em casa poderei tentar colocar as coisas novamente em seus lugares. Talvez ele também precise desse tempo sozinho para perceber que eu faço falta a vida dele.
— Sim, minha princesa, prometo que continuarei ao seu lado e se precisar da minha ajuda, seja para o que for… você sempre a terá!
Nos beijamos.
[...]
Laura resolveu telefonar para o pai descobrir se ele havia conseguido fazer com que aquela viagem devassa tivesse um fim.
— Conseguiu fazer com que os dois retornem papai?
— Laura, o que me pediu foi absolutamente loucura, Robson é um homem maduro e inteligentemente sagaz ao perceber que eu estava blefando. Claro que se recusou a voltar sem um motivo plausível, você queria o quê? Que eu dissesse que suspeito que ele esteja transando com uma aluna, sem termos provas disso?
Enquanto os dois faziam aquela ligação, Eduardo passava pelo quarto e ouviu quando sua esposa falou claramente...
— Mas é isso que está acontecendo e eu não tenho dúvidas, Paula é uma v***a e já conseguiu deixar Robson completamente envolvido. Temos que impedi-la antes que uma família seja destruída!
— Considerando que você esteja certa filha, como eu posso interromper essa viagem sem ter provas?
— d***a, maldição!
— Para o seu bem Laura, fique longe desse assunto e não se esqueça de que você está grávida, todo estresse que puder evitar será bem-vindo.
Os dois desligaram a ligação, Laura não ficou satisfeita. Enviou uma mensagem de w******p perguntando como Sheila estava e a esposa de Robson passou um bom tempo se queixando de tudo que estava acontecendo e de suas desconfianças.
— Eu não tenho nenhuma dúvida sobre o que está acontecendo Laura, a questão é que não possa abandonar o meu pai, que está aqui ao meu lado e doente, para ir buscá-lo e muito menos o meu filho.
— Não julgo suas prioridades, Sheila, mas sinceramente eu, em seu lugar, já teria ido até lá e trazido o meu marido de volta para casa!
— Quando você tiver o seu filho nos braços, poderá entender que mesmo que o coração de alguém sangue… primeiro venho o amor de mãe.
Laura discordava completamente dela, estava tendo aquele filho apenas satisfazer a vontade de Eduardo ao se tornar pai.
Em contrapartida, Eduardo lamentava não ser ele desfrutando da companhia daquela jovem e saber que ela curtia aquele tipo de aventura sem se preocupar… o deixou ainda mais interessado. Tanto que espera vê-la muito em breve em suas aulas.