.•*¨*•.¸¸♪ Aquele onde a capitã escolhe entre a estrela e o sol ♪¸¸.•*¨*•.
Renriel respirou lentamente e sentiu todo o ar que havia sumido de seus pulmões voltar pouco a pouco. Seus dedos tocaram as cordas da harpa com uma delicadeza e um cuidado que a muito ela não possuía para algo além do príncipe com quem agora partilhava seu quarto – e sua mente foi inundava pela sensação de uma possível felicidade.
Estava ali.
O item que poderia trazer Lucien de volta estava ali e ela conseguia sentir seu estomago revirar e a energia que emanava diretamente da harpa cantarolar em sua volta. A melodia era viciosa, natural, era algo que Ren entendeu após alguns segundos – ser chamada por bardos de todo o mundo, como a canção da vida.
Não era à toa que a queriam selar – foi o pensamento da capitã, mas segurando a harpa em suas mãos com firmeza, ela conseguia pensar em apenas uma coisa:
Ele iria voltar, ele poderia viver outra vez e a ideia de que isso era possível, era real, fez lágrimas que a capitã pensava ter deixado para trás rolarem por suas bochechas.
Ao fundo, horrorizado pelo m******e que Ren e Andrea haviam feito, estava Beerin – praticamente não sendo notado por nenhum dos dois capitães –, perplexo, com uma das mãos sobre a boca sentindo o cheiro forte do sangue inundar suas narinas e ouvindo os últimos suspiros das criaturas maravilhosas das quais apenas tinha ouvido falar em contos antigos e cantigas de ninar, tudo que o príncipe conseguiu pensar foi no quanto aquilo era c***l e desumano.
“Por que?” Ele murmurou olhando para baixo e foi Andrea quem lhe respondeu, limpando o sangue de sua lâmina enquanto se aproximava.
“Porque precisamos sair daqui vivos”
Os olhos estrelados de Renriel voltaram-se para os dois e ela fez uma extensão estelar surgir sobre o ar e nela jogou a harpa que parecia ter sido engolida por uma nebulosa.
“Precisamos ir”
“Não!” Beerin protestou “vocês mataram inocentes!”
Ren ergueu uma sobrancelha em descrença.
“Eles nos matariam se tivessem a chance”
“Não temos como saber, não quando se corta a garganta de alguém antes de dizer oi” o príncipe argumentou, mas para o seu azar, Andrea e Ren responderam em uníssono.
“Quando se é um pirata, se atira primeiro e pergunta depois”
“Ninguém te leva para um chá antes de te mandar para a forca” Andrea completou.
“E certamente não te perguntam como foi seu dia antes de joga-lo em um foço qualquer” Ren acrescentou olhando com nojo e repulsa para os corpos no chão.
Parte do príncipe sabia que eles tinham razão, sabia que Agreste não era um reino dividido apenas por meritocracia e sabia que o sistema religioso que seguiam era tão falho que trazia miséria ao seu próprio povo, mas ainda assim, eram vidas. Eram vidas e todas as vidas eram importantes; ele não queria ser como seu pai, jamais queria ver uma vida como algo descartável.
Seus dedos apertaram contra a bainha da rapier que levou consigo mesmo sabendo que nem mesmo teria a chance de usar e no fim, ele estendeu os braços enquanto falava em voz alta.
“Conceda-me a luz”
Os olhos de Ren arregalaram-se instantaneamente e mesmo que sua boca não houvesse se movido a tempo, ela sentiu que sua mente e alma sabiam exatamente o que Beerin estava prestes a fazer. Algo e******o.
“Não!” Ela gritou, mas era tarde demais. A fênix – Kendra, havia respondido suavemente ao ouvido do príncipe. “Que a luz te guie”.
As asas brotaram por suas costas e o príncipe de cabelos negros se tornou a personificação de um celestial. Seus olhos brilhando como ouro líquido, suas tatuagens reluzindo como brilhantes a luz do sol e uma aureola sobre sua cabeça que parecia pegar fogo enquanto parte dos seus cabelos se tornavam pouco a pouco, platinadas.
“Tire-o dali!” Ren suplicou a Andrea que estava perto o suficiente para tentar encostar em Beerin, mas o capitão a fitou com o rosto impassivo e como resposta, soprou para o príncipe um floco de neve carregado com sua magia de anulação.
Inútil para não dizer coisa pior.
Nada funcionava enquanto Beerin voava a dois metros do chão.
“Levantem-se oh filhos de Aaron
Sussurrem seus votos finais
Almas arrancadas sem fios, trago para ti a chance do sim
Una-se ao corpo que outrora te foi dado
Carregue então todos os pecados
E viva outra vez em um mundo c***l e sagrado” o encantamento foi recitado em élfico antigo, e ao fim das palavras de Beerin, seus lábios se tornaram pálidos como os de um cadáver e uma grande luz dourada capaz de tornar todos ali completamente cegos, inundou o lugar.
Respiração – foi o que Renriel ouviu.
Os corpos, cadáveres que deveriam servir de adubo para o chão, agora estavam respirando outra vez. Mas o príncipe que os havia ressuscitado agora caia ao chão sem as asas para sustenta-lo no ar. As tatuagens sumiam de sua pele e a capitã que correu para segura-lo antes que o corpo frágil de Beerin recebesse o baque da queda, sentiu o quão frio o corpo dele havia se tornado.
O peito da capitã se tornou pesado, sua respiração se tornou forçada, difícil demais para ser algo tão comum.
Ele estava frio, seu corpo estava frio e os lábios que sempre haviam sido rosados e vivos, agora eram azulados como os de um cadáver.
“Riel!” Andrea a chamava ao fundo, mas por alguma razão parecia mais e mais distante.
“Não... não...” ela murmurava apertando Beerin em seus braços “não pode fazer isso comigo...”
“RIEL!”
Beerin não podia deixa-la. Não podia abandona-la depois de fazer com que sentisse seu peito explodir de felicidade por coisas tão simples como acordar. Ele não podia deixa-la ali, sozinha naquele mundo sabendo que ele nem mesmo existia mais nele.
Não. Não. Não. Isso não ia acontecer. A harpa estava em Sírius agora, sim, a harpa estava ela. Ela podia traze-lo de volta mesmo que isso lhe custasse sua vida. Ela podia trazer Beerin de volta, podia faze-lo voltar.
E Lucien? Uma voz infantil murmurou e o peito de Ren pareceu afundar em um buraco sem fim.
Quem ela escolheria no fim? Quem traria de volta se a harpa fosse capaz de trazer apenas um único ser?
“RENRIEL!”
Lucien? Sim... ele havia sido seu pai. Ela havia vivido ao seu lado e havia tantos que o amavam e estariam felizes em vê-lo outra vez. Lucien havia sido sua felicidade, sua estrela, sua maior inspiração. Lucien era o sorriso que Ren carregava sempre em seu coração, mas...
Existia Beerin agora.
Existia um príncipe que nunca foi tratado como tal. Um príncipe doce e meigo capaz de carregar o fardo de outros em seus próprios ombros para que ninguém além dele fosse machucado. Um príncipe bobo que ela se viu encantada enquanto o acompanhava. Ele sorria e todo o mundo parecia se iluminar, ele dormia e nada conseguia se equiparar a beleza daquele semblante tranquilo e delicado.
Se Lucien era sua estrela, Beerin era seu sol – e Ren não sabia como viver sem seu sol.
“RENRIEL!” Andrea gritou e sacudindo o corpo da capitã a forçou a voltar para aquele momento, com o corpo de Beerin em seus braços e os diversos corpos jogados pelo lugar ainda descordados. “Ele está vivo! Veja! Ele ainda respira!”
Do que ele estava falando?
Andrea forçou a mão dela contra as narinas de Beerin e mesmo que fraco, como a respiração de um bebê, Ren sentiu a respiração de Beerin continuar. Era fraca demais para se dizer que ainda existia, mas estava ali.
“Ele... está vivo...” ela murmurou e Andrea suspirou aliviado.
“Sim... ele está vivo” o capitão sorriu.
As lágrimas rolaram pelas bochechas da ruiva sem controle algum e Andrea que a muito não via Ren chorar como uma criança desesperada, a abraçou beijando o topo de sua cabeça.
“Está tudo bem” ele murmurou “o seu príncipe está vivo”.
O seu príncipe estava vivo.
✶✶✶
.•*¨*•.¸¸♪ Sumário♪¸¸.•*¨*•.
A harpa de Apollo: Conhecida por muitos como a primeira harpa ou a harpa de Apollo - foi um presente dado a ele por Dionisyous. Uma harpa feita pelo próprio feérico e dada ao rei Apollo como pedidos de desculpas por suas travessuras. O rei que tanto amava a música quanto a arte acima de qualquer outra coisa, tomou para si aquele instrumento e a tocava com tanta suavidade e carinho que pouco de sua essência fundiu-se ao instrumento a tornando capaz de - assim como seu primeiro portador -, trazer almas de volta a vida, curar ferimentos mortais e encantar qualquer ser que seu portador desejar.
Kendra: Nome antigo vindo do Élfico Antigo. Significa nascida do fogo e era dado a elementais do fogo com a força de uma divindade. Em toda a história do mundo, esse nome foi usado por apenas 3 elementais em toda a existência e um deles é Kendra Angelov, a fênix que possuí a alma ligada a de Beerin Amarilis Angelov.
Fênix: uma criatura fabulosa, única de sua espécie. Suas chamas douradas eram capazes de curar toda e qualquer enfermidade. A lágrima da fênix era capaz de tornar imortal aquele que a bebe e suas penas são consideradas como itens maravilhosos, capazes de potencializar feitiços e poções.