.•¨ •.¸¸♪ A L E R T A D E G A T I L H O ♪¸¸.•¨ •.
Esse capítulo pode conter cenas que retratam abusos sexuais e psicológicos, assim como violência para com menores e pessoas indefesas, assim como maus tratos infantil. É um assunto sério sendo retratado na obra como trauma pelos quais alguns personagens já passaram.
.•*¨*•.¸¸♪ Aquele onde o príncipe entende que era apenas uma criança ♪¸¸.•*¨*•.
Em meio a tensão que tomava o navio, o marujo que se mantinha na casa do c*****o gritou euforicamente.
“Terra a vista! Capitã! Terra à vista!” E como um soar de sinos divinos, a tensão que tomava a todos no navio – menos a Beerin que ainda tentava tocar o véu que se desvanecia a sua volta –, finalmente se desfez.
Os olhos de Cameron e Renriel se encontraram como se conversassem silenciosamente, falando em uníssono: agora, somente ele importa.
O sorriso no rosto de Andrea dizia exatamente o que se esperava dizer, que agora tudo se resumia a eles, aos três que Lucien havia treinado desde criança, aos filhos que ele e Mark não haviam tido, mas que haviam cuidado. Os marujos que pareciam eufóricos se apressaram em preparar tudo para aportar e enquanto eles se preparavam as ordens e gritos de Mark, os capitães de Sírius e Valkyries caminharam em direção a porta de madeira que se encontravam em baixo das escadas que levavam para o leme.
Em minutos, todos rondavam a cabine e Andrea esticava-se preguiçosamente, com uma presunção que Beerin preferiu fingir que não via para manter sua própria sanidade.
“O que acha?” Ele voltou a si quando ouviu Andrea questionar a capitã e Renriel deu de ombros como se não fosse algo tão difícil de se aceitar. Então, com uma pontada repentina o príncipe recordou-se. O plano de Cameron e Andrea dizia que Ren e Andrea iriam juntos atrás da harpa.
“Irei junto” ele se viu dizendo para sua surpresa e para surpresa de todos os outros presentes no cômodo.
Cameron – o assassino que se encontrava recostado a parede –, riu arqueando uma das sobrancelhas como se questionasse a sanidade do príncipe de Asaph tanto quanto questionava a existência da humanidade.
“Por acaso se tornou finalmente um suicida, princesa?” O assassino provocou e Andrea que se recostava a porta da cabine, segurou o riso tentando não ser desrespeitoso com o homem que Riel parecia gostar.
A capitã – por mais que detestasse admitir –, também não podia discordar de Cameron. Ao menos dessa vez, não havia como negar, Beerin estava pedindo para morrer caso se enfiasse em uma missão ao seu lado e ao lado de Andrea. Principalmente com Andrea, que pensava apenas em si mesmo antes de qualquer coisa.
“Você não vai” ela se viu dizendo de forma incisiva, mas Beerin deu um passo a frente se levantando de sua poltrona.
“Por que?”
“Porque é perigoso” Ren respondeu massageando as têmporas e olhando para Andrea em busca de ajuda.
Andrea deu de ombros.
“Não ah como ajudar, não nesse quesito, príncipe Beerin; você iria nos atrapalhar e essa missão é importante demais. Não é apenas um saque qualquer”
Não preciso de suas explicações. Beerin pensou, mas seu olhar voltou-se para Ren como se procurasse nela a ajuda que obviamente não teria, então, quase como uma criança birrenta ele pigarreou.
“Eu não vou atrapalhar. Sou o herdeiro da Fênix.” Proclamou e vendo a descrença nos olhos de Andrea, o príncipe abriu os braços enquanto chamava por Kendra.
Ajude-me. Ele pediu e Kendra que rondava sua mente, tocou em seu ombro com delicadeza.
“Tem certeza sobre isso?” Ela o questionou e Beerin sem pensar duas vezes, concordou. Longas asas surgiram de suas costas e tatuagens dourados cobriram seu rosto, pescoço e braços – assim como sua coluna até a base do cóccix.
Todos aqueles que estavam presentes na cabine sentiram suas respirações serem suspendidas por míseros segundos enquanto suas mentes não pareciam processar o que seus olhos viam. Beerin, o príncipe de cabelos negros e corpo frágil, flutuava com asas plumadas que pareciam pegar fogo as suas costas; seus olhos brilhavam em um dourado puro e vivo e as tatuagens que ascendiam por sua pele – essa era a maior marca de sua descendência, do fato de ser um Angelov.
“Ainda me diz que irei atrapalhar?” Ele questionou, mas a voz que antes era suave e calma, agora era tomada por um poder sem igual – um poder que fez até mesmo Ren suspirar admirada.
“Vou com vocês” ele decretou, esquecendo-se que no fim era um prisioneiro naquele navio – fato do qual não parecia ser o único a esquecer. Ao fim, mesmo que a capitã considerasse perigoso e Andrea o visse como algo útil, foi Cameron que desempatou e, portanto, – como já se era de esperar –, o príncipe os seguiria.
Um dia era tudo que restava a eles. Tendo gasto 9 dos 10 dias para chegar até agreste, tudo que lhes restava era aquela noite antes que a harpa fosse perdida de vez e a única possível chance de trazer Lucien de volta, se fosse por entre seus dedos.
Quando todos se foram, Ren observou Beerin com cuidado, seus olhos bicolores haviam voltado ao normal – mas o príncipe ainda mantinha o costume de esconder o olho violeta sempre que se sentia ameaçado. Era auto preservação – ela sabia, mas ainda assim, se sentiu incomodado enquanto sentava-se ali ao lado dele em sua mesa.
Beerin segurava um dos mapas de Renriel com cuidado em suas mãos, lendo as linhas que ela havia desenhado e vendo cada uma das rotas que a capitã costumava utilizar.
“Princesa” ela o chamou fazendo o rosto delicado do príncipe – que ainda continha o pequeno arranhão da flecha em sua bochecha –, erguer-se em sua direção. “Preferia que ficasse aqui durante a nossa ida até a harpa”
Ele abriu a boca para falar, mas logo a fechou olhando novamente para o mapa como se pensasse nas palavras dela com cuidado – planejando uma resposta.
“Agreste é um lugar perigoso” ela murmurou e Beerin sentiu sua espinha gelar.
“Acha r**m? Acha que isso é r**m?” Abellio gritava rindo enquanto Beerin sentia sua boca ser invadida e o gosto de sangue se juntava a algo cada vez pior. Ele não conseguia gritar, nem falar, nem mesmo implorar. Não conseguia se mover. Seu corpo doía, cada mísero centímetro e ele sentia que se faria em pedaços a cada vez que investiam contra ele. “Acha isso r**m? Criança ingrata! Deveria pensar no quanto tem sorte de estar em Asaph” Abellio continuava e com aqueles olhos de carmim que brilhavam com uma crueldade jamais vista ele cuspiu “se houvesse te jogado em Agreste... ah... você saberia o que é sofrer. Afinal...” ele sorriu, um sorriso genuíno de felicidade “foi o sacerdote quem pediu para purifica-lo, não se recorda?”
O estômago do príncipe embrulhou e Beerin sentiu que toda a comida que ainda restava em seu organismo desejava pôr-se para fora. Seu rosto que já era comumente pálido se tornou ainda mais pálido – assim como o ar que permanecia em seu pulmão pareceu lhe faltar.
Merda..., Ren pensou ao vê-lo daquela forma, mas antes que conseguisse falar ou tentar acalma-lo outra vez, o príncipe correu em direção ao banheiro e começou a vomitar. Era como ver Lucien correr para vomitar sempre que alguém tentava toca-lo. Por um momento entre os dias que haviam se seguido, Ren esqueceu-se de como os traumas haviam afetado o príncipe que havia sequestrado e agora, enquanto erguia-se da cadeira e levava para ele uma toalha quente, ela se viu ajoelhando-se no chão ao lado dele e limpando seu rosto com cuidado.
Ele não recuava de seu toque, mas os olhos que tinham ganhado brilho recentemente, agora já pareciam vazios outra vez.
“Quer... falar sobre?” Ela murmurou baixinho, tirando o cabelo do rosto dele, mas tudo que o príncipe fez foi abrir um sorriso amarelado enquanto negava com a cabeça. “Me desculpa...”
Beerin virou o rosto em sua direção e suspirou segurando a mão do pirata antes que ela conseguisse levantar. A mão dele estava fria, suada e trémula, como a de uma criança que havia acordado de seu pior pesadelo.
“E-eu...” ele engoliu em seco sentindo sua garganta queimar “não precisa se desculpar. Apenas...” seus olhos vaguearam pelo banheiro e então pousaram sobre o espelho que refletia ambos ali, no chão.
“Ele me falou uma vez” Beerin murmurou como se não desejasse falar de verdade, como se guardar aquilo o tornasse menos real “ele...” as palavras pareciam engasgar em sua garganta e serem puxadas para baixo, mas quando Ren apertou os dedos contra os seus, ele continuou “uma vez... eu estava sendo abusado... no... salão” ele respirou fundo, em uma pausa que parecia necessária para conter as lágrimas e a dor “ele... sempre fazia isso e... ficava olhando. Tinha... muitas mãos, no meu corpo... no meu rosto, nos... meus cabelos...”
Riel sentiu seu corpo tremer com o ódio que percorria sua corrente sanguínea enquanto ouvia cada uma daquelas palavras.
“Ele não... não me deixava desmaiar... eu... eu era... uma criança” Beerin sussurrou e uma lágrima caiu de seu olho violeta de forma solitária “usava poções... e... e falava comigo quando minha mente parecia se desligar” uma pausa e ele continuou fungando enquanto puxava o ar profundamente para seus pulmões “quando chorei... estava ao ponto de desejar a morte, de... implorar por ela... ele me falou sobre Agreste”
Riel enrijeceu na posição que estava.
“Ele disse que... o sacerdote havia dito que aquilo purificaria uma aberração como eu” suas palavras foram fracas, tomadas pelos soluços que as seguiram enquanto a capitã o confortava.
“Eles estão errados” ela disse baixinho contra a testa de Beerin “você é perfeito, é incrível e maravilhoso do jeito que é. Eles são as únicas aberrações existentes... e não você. Você não está errado, nunca foi sua culpa...” ela dizia e por mais que palavras não fossem o suficiente para apagar sua dor, Beerin sentiu que ouvir aquelas coisas tirava o peso que ele manteve em seu peito por tanto tempo. “Eu estou aqui” ela continuou deslizando os dedos por dentro dos fios negros de seu cabelo, o acariciando como uma criança que precisava de conforto.
E em sua mente, Beerin apenas conseguia pensar: ela não me odeia... ela não me acha nojento...
“A culpa nunca foi sua” Ren repetiu e o príncipe assentiu, agarrando-se as roupas dela como se agarrasse a uma fresta de luz na escuridão; naquela noite, Beerin desabou – ali, sentado ao chão do banheiro –, e chorou. Chorou e gritou, gritou tudo que havia desejado gritar, gritou por toda a dor que foi forçado a sentir e a ruiva que o abraçou e confortou enquanto o impedia de se machucar, repetiu para ele por quantas vezes fosse necessário: a culpa nunca foi sua. A culpa não é sua, você foi a vítima... a criança que deveria ter sido protegida. Você está seguro agora, nada mais vai poder te tocar. Eu estou aqui com você, Beerin.
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.•*¨*•.¸¸♪ Sumário♪¸¸.•*¨*•.
Asaph: reino localizado no continente n***o do sul. Governado por Abellio – Rei regente.
Kendra: Nome antigo vindo do Élfico Antigo. Significa nascida do fogo e era dado a elementais do fogo com a força de uma divindade. Em toda a história do mundo, esse nome foi usado por apenas 3 elementais em toda a existência e um deles é Kendra Angelov, a fênix que possuí a alma ligada a de Beerin Amarilis Angelov.
Fênix: uma criatura fabulosa, única de sua espécie. Suas chamas douradas eram capazes de curar toda e qualquer enfermidade. A lágrima da fênix era capaz de tornar imortal aquele que a bebe e suas penas são consideradas como itens maravilhosos, capazes de potencializar feitiços e poções.
Sírius: Um navio pirata lendário – criado pela bruxa, que possuí o céu estrelado em suas velas. Atualmente seu capitão é: Renriel Callan e seus desejos e sentimentos alteram a forma como Sírius age. Ele reage como uma extensão de seu coração, sendo capaz de proteger e atacar aqueles que ela considera como aliados e inimigos.
Valkyries: O navio lendário construído pelas antigas Valkirias que diziam só poder ser navegado por alguém de espírito livre. Atualmente seu capitão é: Andrea Frésia.
Agreste: Anteriormente uma extensão de Imeril Carmesim, Agreste se tornou um reino independente quando a primeira guerra santa teve início e o rei carmesim trouxe um fim a bobagem que parecia desolar seu povo, banindo os adoradores de falsos deuses para longe de seu reinado e de seu povo.