.•*¨*•.¸¸♪ Capítulo 50 ♪¸¸.•*¨*•.

2088 Words
.•*¨*•.¸¸♪ Aquele onde Allure é citada ♪¸¸.•*¨*•. Que Renriel amava o príncipe, Lucien já tinha total certeza. Mesmo que fosse aquele um futuro improvável e quase irreal, era o que havia acontecido; como em um conto antigo ou uma cantiga da qual todos ouviriam, mas ninguém acreditaria que realmente havia acontecido. Uma pirata impiedosa e c***l que raptava o noivo do inverno no dia de seu casamento e por ele se apaixonava; e um príncipe indeciso sobre o que realmente queria para sua vida. Ele sorriu, se recordando das palavras da capitã, eram as palavras de alguém que daria o mundo por aquele que amava. Mas e o príncipe herdeiro de Asaph? Como ELE se sentia? Era fácil de entender Renriel, era fácil de se aceitar seu amor e até mesmo de compreender seus momentos de impulsividade em torno dele, mas... como o príncipe cativo se sentia? Como Beerin via não somente Renriel como sua tripulação? Ele havia sido sequestrado no fim das contas. Havia sido arrancado não somente de sua casa - mesmo que Lucien não achasse que fosse o lugar favorito do príncipe -, contra a sua vontade e havia ali, no meio, uma confusão a respeito de como se sentia. Então... onde Beerin se encaixaria permanentemente? Lucien sabia que a resposta que ele desejava ouvir e a resposta que realmente ouviria poderia ser bem diferente uma da outra, mas era algo necessário. E se isso destruir o coração dela? – Ele ouviu uma voz familiar lhe questionar. “Então... talvez o coração dela estivesse destinado a ser destruído de tal forma” sussurrou “antes ter um coração destruído por um sentimento verdadeiro a viver um grande amor baseado em medo” Não era algo que Lucien desejava, de longe desejaria qualquer coisa que pudesse machucar a criança que cuidou com tanto amor, que viu crescer e finalmente se apaixonar perdidamente; que viu se provar acima de qualquer coisa. Mas tão pouco deixaria que Renriel ou qualquer outro vivesse um falso amor – afinal, Lucien sabia como era doloroso confundir amor com violência. “Está pensando demais outra vez” a voz de Markel o fez voltar-se novamente a realidade, ao céu claro que cobria a imensidão do mar intermediário. “Olá, querido...” suspirou “talvez eu esteja...” “Talvez? Anusha, eu conheço bem essa sua carinha” Markel disse deslizando uma das mãos pelo ombro do ruivo. “Você sempre enruga a testa desse jeitinho quando está pensando demais” “Você me conhece tão bem...” Lucien ronronou fechando brevemente os olhos enquanto beijava o rosto do loiro. Markel sentiu sua respiração suspensa e em seus olhos podia-se ver o brilho de uma felicidade genuína. “Como senti falta disso...” murmurou “senti sua falta. Todos os dias...” Mesmo que Lucien tentasse, jamais conseguiria explicar em palavra o quanto entendia Markel; mesmo que parecesse um grande vazio, mesmo que durante o tempo em que esteve morto tudo parecesse uma grande escuridão, seu peito apertava como se sentisse algo lhe chamando, lhe procurando em meio a escuridão. “Também senti sua falta...” sussurrou “e você... você continua igual, querido. Não sabe como isso é reconfortante” Mark sorriu. “Fico feliz, agora... por que não me conta o que anda pensando? Hum? O que tem tirado sua sanidade?” Os olhos de Lucien deslizaram pelo convés e pararam sobre Beerin que limpava o lugar com maestria após apenas alguns dais de treino. “O príncipe? Não confia nele?” Lucien suspirou. “Confiar? Querido... só confio em ti e em Riel” Mark conteve a risada enquanto limpava a garganta. Seus braços envolveram o corpo de Lucien o trazendo para perto. “Certo, Anusha..., você sempre foi um pouquinho paranoico” zombou. “Não sou paranoico, apenas... tomo cuidado” Lucien resmungou “mas não posso dizer que desconfio do príncipe mais do que desconfio geralmente de qualquer outra pessoa, o ponto é...” “Que Renriel o ama?” Mark adivinhou. Lucien assentiu. “Riel o ama, o ama mais que a qualquer coisa que já amou, Markel... e...” Mark suspirou “e não sabe se ele sente o mesmo?” “Não, sei que ele sente algo, mas... me preocupa se esse sentimento é real” “Acha que ele... acha que ele pode ter projetado um amor falso para se sentir seguro?” Mark o fitou com incredulidade, o queixo apoiado no ombro do ruivo. Lucien assentiu. “Já vi acontecer antes e se a princesa... se ele realmente estiver fazendo isso com Riel, então... nossa filha pode acabar machucada” “Essa é realmente a sua preocupação?” Mark sussurrou “eu sei como se sente sobre isso...” Os olhos de Lucien fecharam-se por tempo demais, tempo demais para ser apenas aquilo. Markel estava certo sobre isso também, no fim, Markel sempre estava certo. Lucien não havia superado muitas coisas em sua vida e certamente não superaria um dos momentos mais traumáticos de sua vida como pirata. “Nós a amamos” murmurou o ruivo. “Eu sei, anusha...” Mark sussurrou beijando-lhe o rosto “mas não era reciproco” “Eu não consigo evitar de sentir que ela nos odiava, que no fundo... que...” “Lucien” Mark o chamou, fazendo o ruivo fita-lo com aqueles lindos olhos verdes “você não teve culpa alguma” “Eu a levei de lá” ele disse sentindo um nó formar-se em sua garganta “eu a tirei de sua família” “Eles eram horríveis com ela” Mark corrigiu “você a salvou” “Ela não viu dessa forma” Lucien disse forçando um riso que não alcançou e nunca alcançaria seus olhos. “Ainda assim” “Ainda assim eu a amei, nós... a amamos” o ruivo continuou “e nosso amor a destruiu” Markel afirmou com a cabeça enquanto olhava para Beerin. “Acha...” “Sim...” Lucien disse antes que o loiro terminasse “Beerin pode ser como ela, ele... é uma criança machucada, uma criança que jamais recebeu amor e atenção, uma criança acostumada a confundir violência com amor” Mark suspirou afundando o rosto no pescoço do ruivo “então... como vai fazer?” “Vou... conversar com ele” “Boa sorte... anusha” sussurrou “mas lembre-se..., Beerin não é Allure” Ele sabia, ao menos, parte sua sabia. Parte sua que continuava gritando para que ele fosse mais calmo, mais delicado, para que não agisse com Beerin como agia com a garota. Allure havia sido o único alguém especial entre Lucien e Markel, o único alguém que ambos haviam amado tanto quanto amavam um ao outro e descobrir o quanto a machucaram quase destruiu os dois. Allure... Ele não é Allure. Seus olhos fixaram-se no príncipe que ria de um dos marujos que havia caído no piso molhado. Ele ria de forma discreta, como se ainda tivesse medo, como se ainda não sentisse que estava seguro. Talvez... ele seja como Allure, ele pensou. Afinal, assim como Allure, Beerin havia sido sequestrado. Assim como Allure, havia sido cuidado pela tripulação, pelo capitão, pelo imediato. Assim como Allure, havia se envolvido romanticamente com o capitão de Sírius e assim como Allure, parecia ter sido violentado tantas vezes que nem mesmo sabia o significado de amar alguém. Como poderia Beerin saber se realmente amava Renriel? Talvez, ele realmente a ame, a voz familiar repetiu e Lucien respirou profundamente, porque talvez, talvez aquela voz estivesse certa, mas talvez Beerin estivesse se enganando por medo. Talvez estivesse se convencendo de que aquele amor era real por medo, porque Renriel passava a ele uma segurança que ele jamais havia tido. Porque... para ele, violência e amor estavam lado a lado. Isso não era amor. Não era isso que Lucien queria para Renriel e não era uma segunda Allure que ele desejava ver no jovem príncipe herdeiro de Asaph. “Eu o tornarei forte” murmurou para Mark. “Para que ele possa voltar?” O imediato o questionou. “Sim, para que ele se sinta seguro, aqui... em Asaph” seus olhos voltaram-se para o céu “ou em qualquer outra vida que deseje. Quero dar esse presente a ele.” “Como o que desejava dar a Allure?” Lucien sentiu o nó formar-se em sua garganta outra vez. “Não é por Allure...” Mark sorriu. Ele conhecia Lucien, conhecia cada mínima mudança, cada mísera coisa que alterava em seu rosto e conhecia o suficiente para saber que era por Allure. Sempre havia sido por Allure. “Ela ficaria feliz” sussurrou. “Como poderíamos saber?” Lucien disse e em sua voz era nítida a tristeza “nem a conhecemos de verdade” “Nós a conhecemos, anusha...” Mark disse apertando o abraço. “Não... nós conhecemos uma coisa que ela criou para lidar conosco, para sobreviver aos monstros que pensou que nos fossemos” a dor na voz de Lucien parecia quase palpável “nunca conhecemos Allure...” Mark girou Lucien em seus braços e quando o colocou de frente para si, o fitou fixamente. “Lucien, sei que nunca desejou ter essa conversa antes, mas...” “Está certo e continua não desejando ter essa conversa agora” “Não” Mark disse o prendendo entre seus braços “você não tem mais essa opção. Não quando me deixou por anos sozinho, remoendo todas as coisas que não te disse, então, me deve isso. Me deve cada uma das coisas não ditas” O ruivo estremeceu, a voz de Markel estava seria, seria como quase nunca estava e ele sabia que devia aquilo a Mark. Devia por ter sido impulsivo, por ter quebrado sua promessa, por ter tantas vezes falhado com ele, então, se calou. “Allure não sabia quem era” Mark disse com firmeza “quando a conhecemos, ela era uma garotinha assustada, uma menina perdida que estava quebrada demais para saber do que gostava, de como deveria agir. Ela era como Beerin. Uma criança cheia de medos que parecia viver a risca apenas sobre o que lhe permitiam. Nós dois demos a Allure uma vida, demos a ela milhares de escolhas e ela viveu. Nos dias em que esteve ao nosso lado, ela viveu” sua voz falhou por um segundo, mas após pigarrear, Mark continuou “A verdadeira Allure foi a que conhecemos, a que se jogava de um mastro pro outro, que saqueava junto aos marujos e que bebia tanto álcool quanto se era possível sem que ao menos titubeasse. Essa foi Allure e essa Allure, essa que amamos, por quem nos apaixonamos, ela ficaria feliz. Estaria orgulhosa de você... e essa Allure, ela estaria aqui, me deixando completamente maluco e te apoiando em cada uma de suas idiotices e ideias mirabolantes” Uma lágrima correu pela bochecha de Lucien “mas essa Allure... preferiu morrer a continuar ao nosso lado” ✶✶✶ .•*¨*•.¸¸♪ Sumário♪¸¸.•*¨*•. Anusha: Significa linda estrela da manhã em Élfico antigo. É a forma como Mark sempre se referiu a Lucien intimamente. Sírius: Um navio pirata lendário – criado pela bruxa, que possuí o céu estrelado em suas velas. Atualmente seu capitão é: Renriel Callan e seus desejos e sentimentos alteram a forma como Sírius age. Ele reage como uma extensão de seu coração, sendo capaz de proteger e atacar aqueles que ela considera como aliados e inimigos. .•¨ •.¸¸♪ A T E N Ç Ã O I M P O R T A N T E ♪¸¸.•¨ •. O nome do que Lucien acha que Beerin está sofrendo e do que Allure acabou tendo, o nome é Síndrome de Estocolmo. A Síndrome de Estocolmo. é caracterizada por um estado psicológico de intimidação, violência ou abuso em que a vítima é submetida por seu agressor, porém, ao invés de repulsa, ela cria simpatia ou até mesmo um laço emocional forte de amizade ou amor por ele. É uma coisa séria e não se deve romantizar um transtorno assim, essa é justamente a preocupação de Lucien e é uma preocupação importante e que deve ser levada em consideração.
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