.•*¨*•.¸¸♪ Capítulo 15 ♪¸¸.•*¨*•.

2002 Words
.•¨ •.¸¸♪ A L E R T A D E G A T I L H O ♪¸¸.•¨ •. Esse capítulo pode conter cenas que retratam abusos sexuais e psicológicos, assim como violência para com menores e pessoas indefesas, assim como maus tratos infantil. É um assunto sério e é retratado na obra como trauma pelos quais alguns personagens já passaram. .•¨ •.¸¸♪ Aquele onde Sírius conta uma história ♪¸¸.•¨ •. Era mais complicado do que parecia – foi o que Renriel desejou dizer, mas a voz em sua mente, apenas riu de forma debochada. “Na verdade, me parece bem simples” a voz respondeu. Em uma noite fria de inverno, navegando pelas águas no Leste em meio a uma tempestade, ela viu o único que considerou como parte de sua própria vida, ser tirado dela bem em frente a seus olhos. A garganta de Lucien foi friamente cortada e enquanto o sorriso morria em seus lábios, Renriel deixou de ser a criança adotada pelo capitão Callan e se tornou a capitã do navio estrelado. Capitã Renriel Callan; ela era o legado de Lucien e a pior noite de sua vida, foi também a noite na qual as palavras dele se concretizaram. “Um dia, vai ser você a capitã de Sírius. Seus olhos então, serão como os meus... um lindo céu estrelado”. Naquela noite, ela não gritou. Suas lágrimas foram contidas pela certeza de que tudo aquilo – seguir em frente –, dependia somente dela. Pela certeza de que Mark desabaria se uma única lágrima sua fosse derramada. A felicidade que ela acreditou ser forte para proteger, se provou frágil e escapou por entre seus dedos. Essa era uma das grandes verdades, sobre a vida da capitã Callan. Uma das verdades que agora atormentavam sua mente entorpecida. “Você deveria amenizar na bebida” o imediato reclamou, deslizando a mão pelos cabelos enquanto se aproximava da bancada. “Estou sóbria demais para acordar...” ela respondeu entornando a garrafa de rum mais uma vez, bebendo diretamente do gargalo. “Sabe que sempre pode conversar comigo... não sabe?” Um suspiro contido e os grandes olhos de céu estrelado, estavam sobre o loiro “conversar? Achei que me arrancaria o fígado por quase matar toda a tripulação...” “Tch... você ainda é a capitã” ele brincou “e a impulsividade é parte de você, me surpreenderia se não quase nos matasse algumas vezes durante o ano”. A capitã bufou uma risada sem graça, antes de novamente entornar a garrafa. “Existe uma forma, Mark... por que você não parece feliz?” “Porque eu quase te perdi. Porque Sírius quase se foi. Porque a tripulação sofreu e porquê...” ele parou desviando o olhar, mas o silêncio foi o suficiente para Renriel sorrir – um sorriso morto e vazio que pressentiram suas palavras. “Por que ele pode não voltar...” “Andrea não me daria uma pista tão vaga. Ele disse claramente que era algo capaz de trazer alguém de volta à vida." Ela não dizia aquilo movida por uma fé cega em Andrea, ou levada por algo que queira piamente acreditar. Era apenas a verdade. Andrea era confiável. Um dos poucos em que ela se daria ao luxo de confiar. Mas o silêncio de Mark, significava muito mais que descrença no capitão Andrea. Significava a dor da incerteza e a dor de criar expectativas em cima de algo que poderia nem mesmo ser real. A dor que ambos compartilharam por 3 anos, quando procuraram incessantemente por uma forma de trazer Lucien de volta. A verdade era que mesmo em um mundo onde a magia era real, ainda havia muitas coisas que eram consideradas impossíveis e muitos que eram incapazes de realizar grandes feitos. Alquimistas, sábios e membros da realeza. Eram considerados os únicos capazes de usar magia. Embora essa fosse uma meia mentira, ainda não era completamente uma enganação. Afinal, a regra básica para alquimia e magia, era uma só: tudo tem um preço. O preço era sempre relativo ao que se desejava fazer. Energia, era o que algumas magias pediam. Mana, era o que outras consumiam e em casos graves e complexos, tempo de vida, era o preço a ser pago. Mas para uma magia tão forte, a ponto de trazer alguém de volta à vida..., não existia um preço condizente. Nem mesmo os maiores alquimistas e sábios, ousaram tentar. O poder de manipular uma alma, é restrito aos deuses. Mortais não deveriam brincar de Deus. Era o que eles diziam. Os mesmos sábios e reis que decretavam guerras e usavam seus poderes para maltratar e abusar dos mais fracos. Os mesmo que brincavam de Deus em seus reinos e torres. Mas a parte mais importante em suas vidas, era saber até onde se pode ir. Afinal... se aquele que conjura, não está disposto a pagar. As consequências, se tornam absurdamente devastadoras. Renriel sabia disso, mas era como se uma voz gritasse em sua mente, desde a noite que Lucien se foi. Não existe nada que eu não possa fazer. “Eu o farei voltar” ela murmurou apertando a garrafa com força. Mark a fitou com certa tristeza em seus olhos, a melancolia que ele carregava desde a noite em que perdeu o único homem que amou. “As vezes... me pergunto se ele realmente iria querer... voltar”. “Não fale bobagens” Ele riu, um riso que não alcançou seus olhos de um azul claro como o céu diurno. “Certo... então, se esforce, Ren-Ren... Agreste nos espera”. A capitã assentiu. Os olhos pesados, sua pele em chamas. Ninguém precisava saber o preço que ela estava disposta a pagar. A porta se fechou e o silêncio que repousou sobre a cabine, infelizmente não condizia com os pensamentos conturbados da capitã Callan. Suas mãos ainda estavam trêmulas e os murmúrios que não cessavam em sua mente a fazia querer vomitar. Aceite, aceite, aceite... a voz insistente murmurava. Mas o que ela devia aceitar? Seu corpo estremecia com a simples ideia de o fazer. Como se vermes envolvessem seu corpo, invadissem sua pele e uma dor assumisse seu estômago, o embrulhando e contorcendo. Aceite, aceite, apenas aceite... Mesmo com as mãos trêmulas, Renriel entornou a garrafa novamente. Aceite, aceite, aceite... aceite a verdade, aceite nossa existência... aceite... “Eu só preciso aceitar seu poder...” ela murmurou a contra gosto. “Não, criança tola e impulsiva” uma voz rouca e quase gutural, a respondeu. Renriel pode sentir cada célula de sua existência, estremecer e algo dentro dela, soube: era Sírius que falava. “Impulsiva eu compreendo, mas tola?” Ela resmungou e como resposta, uma risada abafada pode ser ouvida. “Tola sim, tão tola a ponto de se sentir poderosa e agir de forma descuidada. Tome cuidado, criança. Nem tudo pode ser consertado e a sua vida está ligada à minha. Não gosto da ideia de morrer”. A capitã pressionou os lábios com força, pensando cuidadosamente naquelas palavras. “Achei que apenas coisas vivas pudessem morrer” ela provocou, deixando que o rum queimasse sua garganta enquanto bebia novamente. “E eu achei que você era bem mais que uma bebum, mas todos nós cometemos erros...” Sírius devolveu em um tom repleto de sarcasmo. Por algum motivo, aquelas palavras a fizeram rir. “Uma bebum e uma coisa que pensa estar viva, acho que podemos nos considerar uma ótima dupla” respondeu apoiando o rosto em uma das mãos. “Sua gentileza comove meu coração... ah! Espera! Eu não tenho um” a voz ronronou com deboche. “Acho que posso dizer o mesmo” a capitã brincou, soltando a garrafa sobre a mesa. “Tem certeza, capitã?” Aquela simples pergunta, fez o coração de Renriel vacilar e por algum motivo, em sua mente, veio o rosto preocupado de Beerin. Os olhos bicolores que brilhavam com uma mistura de medo e gentileza. O rosto pálido, os lábios rosados – embora machucados pelo tempo –, assim como o nariz arrebitado e o queixo delicado; a imagem do jovem príncipe de Asaph, nublou seus pensamentos e como se aceitasse isso como uma resposta, Sírius bufou uma risada contida. “Como pensei...”. Por que diabos, estou pensando nele? Pensou enquanto se movia na cadeira de forma desconfortável. “Porque não se pode mentir para si mesma, jovem capitã” Foi Sírius quem respondeu. “Você me parece bem tagarela, para quem se manteve em silêncio por 3 anos” ela resmungou a contragosto e a risada abafada pode ser ouvida novamente, antes que Sírius a respondesse “não me culpe por sua falta de capacidade, capitã Callan. Sempre estive aqui e sempre estarei. A única que se trancou e recusou a ouvir... foi você.” “Puff... o que está tentando insinuar?” “Que você não estava pronta para aceitar... criança tola”. “Aceitar?” Ela questionou novamente e como uma resposta, a sensação retornou. Fogo em suas veias, dor por cada minúsculo músculo existente em seu corpo. Insetos e vermes pareciam tocá-la e profanar sua pele, eram como toques indesejados, que causavam ânsia e desconforto. “Pare!” Ela ordenou, mas a dor continuou. “Você quis saber o que precisava aceitar... então aí está, aceite!” Sírius ordenou. E a dor que consumia seu corpo, parecia nublar sua visão, tato e olfato. O que havia restado pra ela? Nada, era a resposta mais nítida possível. Não restava nada. Apenas o nada, o vazio, o completo abismo no fim do túnel e então em um momento, já não era a cabine a sua frente, nem mesmo a cadeira confortável de sua escrivaninha preferida. O cheiro de tinta e pergaminho, se foram. Nada do odor familiar de whisky e rum. Agora, o fedor asqueroso de uma masmorra, impregnava suas narinas. Vozes grossas e roucas, borbulhavam e gritavam. Por que todos a ofendiam? Por que continuavam a bater nela? Seu corpo se encolhia e seu estômago embrulhava apenas ao simples toque. Era medo que estava impregnado em seu ser? Era nojento. Era tão nojento. O simples fato daquela respiração continuar em sua nuca, as mãos fortes das quais não podia escapar, continuavam a forçar seu corpo contra o chão... medo. Estou com medo. Estou com medo... por favor... eu estou com medo... por favor, pare... faça parar... uma voz infantil que parecia pertence-lá, continuava a murmurar. Eram seus pensamentos? Um baque, e seu corpo foi jogado contra uma parede. Uma voz ameaçadora e estridente a xingava. A quem pertencia? Por que ela sentia tanto medo? Por que seus olhos queimavam e seu coração se mantinha apertado e dolorido? Gritos e mais gritos. Eles a agrediram de novo. Renriel queria fugir dali. Nos aceite, nos aceite... apenas nos aceite... murmurou a voz novamente. O que diabos ela precisava aceitar? As atrocidades? Os gritos? A dor? “Fraquezas” Sírius sibilou. Ela sentiu que já não havia um corpo. Apenas a escuridão que fazia parte de Sírius e ela, estava perdida dentro daquela escuridão. E o que eu faço depois de aceitar? Questionou-se, sentindo o frio que parecia prestes a consumi-la. “Encontre a fonte de calor que emite luz e faz de si... uma estrela”. ✶✶✶ .•*¨*•.¸¸♪ Sumário♪¸¸.•*¨*•. Sírius: Um navio pirata lendário – criado pela bruxa. Sírius é um navio que divide com seu capitão sua alma e essência vital. Sem um capitão, ele afunda e permanece no fundo do mar pela eternidade. Assim como suas velas, os olhos de seu capitão, são como o céu estrelado que a bruxa tanto amou. Os poderes envoltos de Sírius e seu portador são desconhecidos.
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