Princesa Do Mar

.•*¨*•.¸¸♪ Capítulo 49 ♪¸¸.•*¨*•.

.•*¨*•.¸¸♪ Aquele onde Renriel é questionada ♪¸¸.•*¨*•.

Nada naquele lugar parecia ter mudado, desde a cor das paredes a forma como os moveis haviam sido distribuídos.

O lugar continuava escuro, aconchegante e com moveis de ótima qualidade. Para ser sincero se lhe fosse perguntado, Lucien diria que o quarto estava diferente. Aquela cama – de madeira escura e com ornamentos dourados em sua cabeceira –, não era a cama que ele havia escolhido para si a muitos anos atrás (agora bem mais do que ele se lembrava). Mas no fim, a cabine do capitão continuava a mesma.

A mesma cabine que ele havia tido, e nem mesmo era necessário que perguntasse a Renriel o porquê de nada ter mudado fora ao quarto que agora era quase sempre vazio.

“Estava pensando em mudar a rota” a capitã disse, trazendo Lucien de volta a si. Ele estava parado, olhando para dentro do quarto, onde a cama ainda estava desarrumada.

“Qual rota acha que deveria seguir?” Lucien questionou, seus olhos voltando-se para a capitã como quando ela era uma criança e o dizia um de seus planos mirabolantes que certamente seria vetado por Mark.

“Bom... seria arriscado se Sírius não fosse capaz de ficar invisível” ela disse com um sorriso “mas já que não é o caso... podemos acelerar o caminho até águas serenas dentro de quase uma semana se seguirmos em linha reta”.

Lucien assentiu.

“Levou em consideração as complicações possíveis na mudança entre os mares?”

“Sim... ainda assim seria mais rápido que a rota utilizada normalmente”

“Mas?”

“Mas a nova rota atravessa 3 das grandes rotas comerciais, isso quer dizer que poderíamos encontrar com corsários no caminho” Renriel admitiu.

“E isso quer dizer?”

Ela olhou para os mapas outra vez e então voltou a erguer o olhar para Lucien.

“Quer dizer que eu teria que utilizar as habilidades de Sírius durante todo o percurso”

“Não ficaria exausta?”

“Provavelmente cansada, mas não exausta” murmurou.

“E acha que é uma boa ideia?”

“Cortaria nosso tempo no mar...”

“E é isso que quer?” Lucien indagou e em seu tom, havia algo mais. Algo que havia desejado perguntar desde que Mark o contará sobre Renriel e sua “princesa”.

“Não entendi...” a capitã murmurou “não é o que sempre me dizia para fazer? Aumentar nosso tempo de qualidade e chegar a nossos destinos mais rápido?”

Lucien suspirou e com calma, sentou-se na beirada da mesa, afastando os mapas e a tinta para o lado.

“Querida... o que te espera em águas serenas?”

“Além do álcool, diversão e negociação dos itens que saqueamos?” ela riu e quando Lucien apenas continuou a espera de uma resposta, Renriel limpou a garganta e continuou “provavelmente também teremos novas informações sobre... Fiesty e a possível resposta de Asaph”

Os olhos de céu estrelado se tornaram nublados assim que as palavras saíram de sua boca e Lucien então assentiu.

“Certo. Terá uma resposta de Asaph. Lembra-se de suas exigências? Agora estarão dispostos a ouvi-las, principalmente após o fracasso ocorrido com a emboscada ao Valkyries. A rainha perdeu dois de seus barcos e o príncipe ainda não foi resgatado, agora só resta ao rei de Asaph que pague o que deseja e contar para que você entregue seu filho”

A capitã congelou.

“Então... novamente” Lucien murmurou “tem certeza que deveria correr assim? Quer tanto assim receber essas noticiais e quando receber... o que fará? O que vai escolher? O amor que obviamente sente por ele ou o poder que tanto deseja?”

Ela não sabia o que responder e o ruivo suspirou jogando o rosto para o lado.

“Precisa saber o que quer, querida. Precisa... entender onde realmente está metida”

“Eu sei” Renriel murmurou, sua voz estava falha e cheia de uma fraqueza que Lucien não reconhecia. Ele poderia jurar naquele momento que aquela garotinha, não era a sua filha.

“Eu sei que preciso escolher, mas também... já sei o que escolher” sussurrou “não sou eu quem irá decidir”

Os olhos de Lucien arregalaram-se.

“O que quer dizer?”

Renriel sorriu, um sorriso fraco que inundou seus olhos de céu estrelado.

“Eu passei toda a minha vida ouvindo que mulheres são fracas e tomadas por sentimentos com facilidade, ouvi de muitos homens que jamais deveria haver uma mulher ao controle de um navio e você sabe que eu provei o contrário” ela murmurou “você e Mark me criaram bem, me criaram para ser a capitã que me tornei e a estrategista capaz de conseguir tudo que nenhum homem havia conseguido anteriormente. Eu roubei a harpa de Apollo junto a Andrea e Cameron. Eu invadi Asaph e sequestrei o herdeiro no dia em que se casaria. Eu fui a responsável pela queda de 3 lordes do mar e isso antes mesmo de aprender a base sobre politica geral, mas... ainda assim eu sempre precisei continuar me provando para notarem que eu estava certa, para todos – exceto você e Mark –, me respeitarem. Por anos, pensei que não poderia amar, não que isso algum dia houvesse me incomodado, mas... eu pensei que jamais poderia ser a garota apaixonada que corre em direção ao seu amado e o abraça como se tivesse ali o maior de seus tesouros, afinal isso seria provar a todos eles que sou exatamente como qualquer senhorita presa em vestidos bonitos na capital de qualquer reino que encontrem”

Lucien sentiu seu coração apertar.

“Eu pensei em todas essas coisas antes mesmo de ter 14 anos. Eu sabia que por ter nascido mulher, seria sempre jogada para baixo e sempre teria que me provar mais e mais. Que teria que sacrificar, mas... eu o conheci” murmurou e sua voz se tornou mais dócil “eu o conheci e confesso, antes que me desse conta, eu me importava. Eu queria ver ele sorrir, queria vê-lo se tornar uma pimenta enquanto o provocava, eu queria protege-lo do mundo que parecia desejar machucar sua doce alma e Lucien... por um momento, quando estava em Agreste e pensei que iria perde-lo, quando pensei que Beerin poderia estar morto e que não seria capaz de salva-lo, eu o escolhi. Se a harpa de Apollo pudesse ressuscitar apenas um de vocês, eu teria escolhido ele. Teria trago ele de volta” sussurrou como uma confissão sepulcral “eu teria trago Beerin, mesmo que isso me tornasse uma tola, mesmo que destruísse tudo que demorei anos para construir. E agora... se tiver que escolher, eu deixarei que ele escolha. Eu darei na mão do príncipe que sequestrei a decisão da minha vida. Ele irá escolher, ele decidirá seu próprio futuro, sei que posso ter começado tudo isso de uma forma um tanto quanto errada, mas quero dar isso a ele como ele me deu a chance de descobrir o que era amar alguém, amar a ponto de não se conseguir ser egoísta com essa pessoa. Quero dar a ele algo que nunca o deram: a chance de escolher quem ele realmente quer ser”

Os olhos esverdeados de Lucien foram tomados por lágrimas, mas não eram de tristeza ou angustia, eram lágrimas de uma felicidade genuína. Uma felicidade que transbordou em seu coração ao ouvir Renriel. Uma felicidade que gritava que ao menos algo, ele havia feito certo.

Sua menina estava apaixonada, ela verdadeiramente amava alguém além de si mesma.

“E talvez... talvez isso prove a todos que falaram que uma mulher condenaria tudo que conquistava a nada por amor, porque somos tolas, mas... que se dane. Talvez o que todos considerem como tolice, seja apenas amar verdadeiramente alguém. Então... que seja. Que seja fora... eu sou uma tola, mas uma tola que irá matar qualquer um que tente tocar no que eu amo” ela disse, mas quando seus olhos alcançaram o rosto do antigo capitão, Renriel não soube o que dizer, não havia decepção, nem mesmo confusão, havia lágrimas. Lucien chorava.

“Não te acho idiota... nem tola” Lucien sussurrou “estou apenas feliz em saber que a minha criança cresceu tanto”

Renriel sorriu. Ela realmente devia ter se esquecido após tantos anos, como Lucien realmente era. Ele jamais se decepcionava, ele jamais a olhava como se ela não fosse o suficiente. Lucien foi aquele que havia lhe dito para conquistar os 9 mares, ele foi aquele que a incentivou desde o primeiro momento e junto a Mark foi o único homem que nunca duvidou do que ela era capaz independente do qual diferente ela era de Andrea e Cameron.

Lucien havia sido seu pai. O pai que ela sempre desejou ter, o pai que ela queria e que aceitou. E esse mesmo Lucien agora estava feliz por ela.

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