Capítulo 1

1438 Words
Passava das 11 horas da noite quando Camille entrou na cafeteria. Não havia ninguém ali e ela agradeceu por isso. O capuz cobria parcialmente o seu rosto, mas não era suficiente algumas vezes. Era comum que alguém a reconhecesse mesmo ela não estando arrumada. -Boa noite, senhorita! - Uma voz rouca a tirou das suas divagações. -Olá, eu... - Camille olhou nos olhos da desconhecida e se encantou, eles sorriam juntamente com os seus lábios. A beleza de seu rosto era algo para ser admirado. -Deseja algo para comer ou beber? - Lorena perguntou após notar que a garota não sabia muito o que falar, só lhe encarava com os seus olhos castanhos brilhantes. Ela tinha um rosto lindo, desenhado pelos deuses. Sua boca carnuda e o seu nariz empinado combinava perfeitamente com os seus olhos. Era a pessoa mais linda que já vira mesmo com os cabelos cobertos pelo capuz. Sua cabeça dizia que já havia a visto antes. Talvez das inúmeras capas de CDs e revistas que se acumulavam em sua estante. -Você não é... - Lorena tentou formular uma pergunta, mas Camille arregalou os seus olhos e tratou de negar antes de seu questionamento. -Sou Karla. Algumas pessoas me confundem com Camille Magalhães. Na verdade, eu adoraria ser ela, a minha conta bancária agradeceria. - Disse rápido com um sorriso sem graça. Lorena sorriu juntamente com ela, encantando a latina com o seu sorriso. -O que acha de um café com leite e um misto quente? Um brinde da casa. - Lorena ofereceu, achando que a citação de sua conta bancária fosse devido à necessidade financeira. Por mais que não tivesse passando por um momento tão bom, não negaria comida para ninguém. -Eu aceito, mas você terá que se sentar para desfrutarmos desse momento juntas. - Camille disse sem pensar. Havia se encantado pela desconhecida e adoraria a sua presença por alguns minutos. - Eu pago. - Sorriu amarelo, fazendo Lorena rir. -Ok, então, cada uma paga o seu. - A mais velha disse piscando o seu olho para a latina. - Volto daqui a pouco. -Não vejo a hora. - Camille disse mordendo o lábio inferior. Fazia tempo que não flertava com alguém, Dinah sempre dizia que a sua fama havia trago esse benefício para sua vida. Odiaria ver Camille distribuindo suas cantadas sem sentido para os quatro cantos do mundo. Lorena fez o pedido na cozinha e voltou para perto de Camille, a mordida que ela dera no seu lábio inferior foi um convite para ela se reaproximar. -Voltei. - Disse sorrindo sem graça. Estava apreensiva de estar sendo invasiva demais. Aprendeu durante a vida que melhor mesmo era deixar as garotas chegarem nela. E só tentava algo quando elas davam todos os indícios de estarem interessadas. Isso incluía pedirem que ela as beijasse. Ser intersexual não a deixava muito segura de si. -Que bom. Quer sentar-se? - Camille pediu insegura. Uma garota linda daquele jeito poderia estar solteira? -Eu não podia, mas não temos nenhum cliente além de você. E a garota que trabalha na cozinha é minha amiga. - Disse com um sorriso. - Ela nunca falaria para o meu chefe que estou sendo simpática com uma moça tão linda quanto você. - Falou a última parte e logo depois se condenou pelas palavras escolhidas. -Então, fica como o nosso segredo. - Camille disse piscando para Lorena e fazendo a mais velha aliviar as suas feições ao ver que o flerte vinha de ambos os lados. -Eu nunca te vi aqui. E olha que essa cafeteria é bastante visitada durante o dia e eu sou boa com fisionomia. - Disse se sentando em frente a Camille. -E...eu não costumo sair muito de casa. - A latina disse ocultando meia verdade. Ela não saia como uma anônima, e sim como uma famosa para cantos pré-selecionados por seus empresários. Se a vissem com a roupa que estava e no lugar que se encontrava, seriam 2 horas de interrogatório e discussão. -Entendi. - Lorena disse coçando a nuca sem saber muito o que falar. A garota nunca se interessaria por ela, não por alguém que m*l conseguia se expressar diante de uma garota bonita. -Você trabalha aqui há muito tempo? - Camille perguntou e se condenou segundos depois. Como uma garota tão linda se interessaria por alguém que m*l sabia formular uma pergunta interessante? -Sim, eu trabalho aqui há mais de 4 anos. - Lorena disse com um sorriso de agradecimento. Pelo visto, a latina também estava constrangida diante dela. - Eu trabalhei um tempo no caixa, já que tinha que fazer faculdade o dia inteiro e só assumia o serviço depois das 17 e ficava toda a madrugada. -Como assim? E que horas você dormia? - Camille perguntou espantada. -A cozinheira é minha amiga, como te disse. Revezávamos para que as duas pudessem descansar um pouco. -E quais são seus horários agora? -Trabalho segunda, terça e sexta de 14 horas até 6 da manhã. Agora que estou finalizando a minha faculdade, não preciso mais ter o dia inteiro livre. -Isso ultrapassa o limite de horas extras diárias. -Sim, mas eu não estou disponível todos os dias da semana, precisava somar as minhas horas semanais para ganhar o salário integral. Camille ficou espantada por alguns segundos, analisando as palavras de Lorena. -Não fique assim, foi uma escolha minha e por uma boa causa. - A mais velha disse sorrindo para a latina. - Só me restam 2 meses na faculdade e, se Deus quiser, conseguirei um emprego em minha área depois da formatura. -O que você faz? - Camille perguntou curiosa. -Veterinária. -Nossa, que legal! Eu tenho uma amiga que possui um petshop, ela é formada em veterinária. - A latina disse lembrando-se de Dinah. -Isso é um sonho futuro. - Lorena disse sorrindo. Tinha planos de abrir um petshop juntamente com a sua amiga Normani, mas isso necessitaria de uma maior experiência de campo e mais dinheiro do que possuíam nas suas poupanças dos sonhos. - E o que você faz? -Eu teria que te matar se eu falasse a verdade. - Camille disse divertida, fazendo Lorena rir. -Com licença, senhoritas. - Normani disse se aproximando das duas. Lorena havia lhe dito que estaria conversando com uma garota misteriosa que havia lhe chamado a atenção. Normani torcia demais pela felicidade da amiga e tudo que mais queria era que ela achasse alguém para lhe dar o valor que merecia. -Ah, obrigada, Mani. Você podia ter me chamado que eu teria trago. -Não se preocupe. Bom que espanta um pouco o sono. - Disse sorrindo para as duas e entregando-lhes os seus respectivos pedidos. - Sem falar que eu preciso estudar. Diferente de você, ainda preciso tirar boa nota nesta última prova. Lorena era sem dúvida a aluna mais dedicada da sua turma. E as suas notas condiziam com a sua dedicação. -Boa refeição, meninas. Qualquer coisa é só me chamar. - Normani disse já se virando para deixá-las a sós. Permaneceram conversando até a madrugada chegar e Camille lembrar-se de que teria uma entrevista no dia seguinte. A vida real lhe batia a porta e era inevitável ter que abrí-la. -Será que eu terei o prazer de voltar a vê-la novamente? - Lorena perguntou com um sorriso triste após Camille anunciar que teria que ir embora. -Eu adoraria, mas não sei quando poderei vir aqui novamente. - A latina disse incerta. Quando ela fazia a suas fugas tarde da noite, sempre era descoberta e passava um tempo tendo que reprimir a si e o seu espírito aventureiro. -Se você me passar o seu número, poderíamos trocar mensagens e marcar em outro lugar. - Disse, fazendo Camille reagir com uma careta. Possuía dois números de celular. Um era unicamente para contatos profissionais e gerenciamento das suas redes sociais. O outro era pessoal, o que incluía os seus melhores amigos e família. E todos da lista de contatos desses dois números sabiam que Karla na verdade era Camille Magalhães, a famosa cantora. -Desculpe-me, eu não queria ser invasiva. - Lorena disse constrangida. - Foi muito bom conversar com você e... -Deixe-me anotar o seu número. - Camille disse não querendo dispensar aquela garota tão interessante que estava em sua frente, queria se esquecer o quão complicada era sua vida. -Aaah, não precisa. Eu devo ter confundido ou... -Não, você não se enganou, eu estou realmente interessada em você. - Camille disse fazendo Lorena sorrir com a sua sinceridade. -Ok, mas não se sinta pressionada em me mandar mensagem. - A mais velha disse aceitando o celular oferecido por Camille para que digitasse o seu número.
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