Capítulo 1

1981 Words
Arian Radici Cresci em um lar onde o amor nunca existiu. Como posso acreditar que ele existe? Nunca conheci esse sentimento e nem penso em conhecer. O que sei do amor? É que ele nos deixa fraco, vulnerável e pode nos m***r. Detesto me olhar no espelho, sou extremamente parecido com o meu pai e isso é repugnante. Aquele homem foi uma das piores pessoas que conheci e convivi. Minha mãe era uma mulher boa, morreu de tanto desgosto e sofrimento. Lembro-me que quando era criança ouvia ela gritar muito e não entendia bem o que estava acontecendo, as poucas vezes que a via, ela sempre estava com muitos hematomas, olhos bem inchados, lábios cortados e andava com muita dificuldade. Fui pegando uma certa idade e comecei a entender o que estava acontecendo. Meu irmão era mais velho e tentava me preservar de certas situações. Não conseguia entender porque não podíamos ter contato com a mamãe, se eu via ela uma vez na semana era muito. Aquele maldito a mantinha trancada no quarto, chegava em casa muito louco de d***a e descontava todas as frustações do dia nela. Minha mãe era brutalmente estuprada e espancada, com frequência. Isso acabou com a vida dela. Chegou uma época que ela já não gritava mais e nem andava, ficava só na cama, como se estivesse vegetando. Tínhamos um guarda que sempre ficava de olho em mim e no meu irmão, Agon, ele sempre foi um cara bacana, estava começando nesse mundo e não suportava as crueldades do meu pai. Sempre que meu pai saia, ele fazia um esforço para nos levar até a minha mãe. Quando segurava a sua mão, ela chorava em silêncio. Meu pai era r**m, muito r**m, aquele ali era o próprio d***o. Eu e meu irmão tínhamos direito a uma refeição por dia, era sempre o almoço e no jantar nos era servido um pão e água, mas não era um pão para cada um, era apenas um pão e um copo de água. Diversas vezes meu irmão deixou de comer para me alimentar. Sofri bastante quando ele teve o começo do seu treinamento, me sentia muito sozinho. Meu irmão era jogado dentro do quarto totalmente destruído, tão machucado que não aguentava falar, comer ou sequer andar. Meu pai entrava durante a noite e forçava meu irmão a levantar, o levava para o banheiro e lá eu ouvia tantos gritos, aquilo era assustador. Se meu pai saísse do banheiro e me visse chorando, tremendo ou demonstrando qualquer tipo de medo, eu apanhava tanto. Aos poucos fui aprendendo a esconder meus sentimentos. Agon me dizia para não demonstrar meus medos e minhas fraquezas para meu pai. Quando eu comecei o meu treinamento foi que eu entendi o que meu irmão passava. Meu pai era muito c***l. Fiquei dias sem comida, pendurado pelas mãos e sendo surrado sem parar durante horas. Minhas feridas eram expostas ao sol e meu pai mandava seus homens jogarem vinagre. Só de lembrar, sinto dor. Meu pai juntava dez soldados, homens treinados já e nos colocava dentro de um quarto, era uma luta livre e injusta, só acabaria quando o adversário estivesse inconsciente. Era eu contra dez. Só tinha doze anos. Entendi os gritos do meu irmão quando meu pai entrava no quarto de noite, éramos obrigados a entrar em uma banheira cheia de água e sal, as feridas queimavam tanto que era inevitável não gritar. Apanhei constantemente até os meus quinze anos, depois disso nunca mais levei uma surra de ficar inconsciente. Quando matei a primeira pessoa, fiquei sem dormir por uns três meses, a cena não saia da minha cabeça. Eu estava prestes a fazer treze anos, invadimos uma casa, meu pai dizia que eles eram traidores. O monstro assassinou o pai e a mãe e deixou a menina de oito anos para que eu matasse. Nunca vou me esquecer do olhar daquela criança. Nesse mesmo dia levei uma surra porque eu hesitei em m***r aquela criança. Depois disso, matei tantas pessoas que se tornou algo normal em minha rotina, já fazia no automático e sequer pensava naquela vida que estava tirando. Aos dezesseis anos, já não suportando mais, ver meu irmão se tornou algo quase impossível já que ele estava sempre em missões para nosso pai e ver minha mãe já era algo sufocante. Decidi que naquele dia eu daria um fim naquele maldito. Agon me perguntou se eu tinha certeza e se realmente teria disposição, caso contrário, estaria morto. Fui até o quarto onde meu pai estuprava minha mãe, peguei pelo seu pescoço, enforcando-o, o velho era forte, mas não mais que eu. Consegui apagá-lo e o sufoquei com o travesseiro. Queria tê-lo surrado, mas não queria que ninguém além de mim, da minha mãe que estava atenta a tudo e Agon soubesse que tinha sido eu. Por fim, Agon junto com o meu irmão, para quem eu contei a verdade, conseguiram convencer a todos que o velho tinha morrido do coração. Foi embora tarde. Desejei tanto que minha mãe se levantasse daquela cama e começasse a viver a vida dela. Queria poder conhecê-la, saber como seria o tratamento de uma mãe para com o filho, mas não foi possível, um mês depois ela descansou. Meu irmão por ser mais velho começou a tomar conta de tudo e eu fui seu braço direito. Alban era a única coisa que eu conhecia de mais próximo sobre família, mas o i****a foi se apaixonar por uma mulher e acabou morto. Quando Alban me disse que ia deixar tudo para trás para viver com uma mulher, brigamos f**o, caímos na p*****a e eu disse que ele não era mais o meu irmão. Como ele poderia abandonar tudo que demoramos tanto tempo para conquistar por causa de uma mulher? Uma mulher casada ainda? Já se via que de boa índole ela não era. Até tentei ficar com raiva dele, mas não obtive sucesso. Sempre me lembrava das muitas vezes que ele deixou de comer para me alimentar, precisava fazer algo por ele também. Tomei a frente da máfia e dei todo o suporte que ele precisava, segurança, dinheiro. Sempre que Hugo — o marido da mulher que ele estava e também mafioso. — chegava perto deles, eu o trocava de lugar. Fiz todo o possível para que ele fosse feliz da maneira dele e pudesse viver bem, mas não foi possível. Meu irmão foi morto pela mulher que ele amava. Sabia, só de olhar nos olhos daquela mulher que ela não valia nada. Seus olhos demonstravam o quão dissimulada ela era. Meu irmão estava completamente cego e qualquer coisa que eu falasse sobre aquela mulher, ele não ia acreditar e ficaria com raiva de mim, foi assim nas diversas vezes que tentei abrir os seus olhos. Carolina morreu em minhas mãos, a torturei por cinco dias e depois a matei, sem remorso algum, até acho que foram poucos dias. Não sou um homem bom e tenho consciência disso, não sinto vergonha em admitir. É o que eu sou. É tudo que eu conheço. Em trinta e dois anos de vida só conheci maldade, não tem como ser diferente. Acredito que existam pessoas boas no mundo, embora elas nunca tenham entrado em minha vida. Confesso que não quero ser um homem bom. Sou um homem de poucas palavras, nem gosto de conversar muito. Até porque não tenho nada para conversar com ninguém. Acho que a única pessoa que troco meia dúzia de palavras é com Agon. Ele demonstrou muita lealdade durante todos esses anos. Não queria me casar, muito menos ter filhos, mas nessa vida não temos muita opção quanto a isso. Os membros do conselho da máfia alegam que precisamos dar continuidade a nossa linhagem. Para que vou querer dar continuidade a um sangue r**m como o meu? Não tenho vontade, mas não posso fazer nada sobre essa questão. Tenho muitos negócios de fachada para todo o dinheiro que entra da máfia, acaba que surgem muitos eventos chatos, não costumo ir em todos, só vou naqueles que não consigo fugir, mas faço todo um esforço para não ter que ir. Não sou um cara sociável e ficar no meio de tanta gente acaba me irritando. Muita falação, música alta e tudo mais. Isso me tira do sério. Já saí com muitas mulheres, mas nenhuma que se encaixasse no perfil de minha esposa. Isso até ver aquela menina… Não sei dizer ao certo o que vi nela, mas me interessou bastante. Ela é bonita, mas não foi isso exatamente que me chamou atenção e sim o fato dela sempre estar de cabeça baixa, parece ser uma garota muito tímida, meiga e o primordial, parece ser uma mulher fácil de lidar. Isso foi o que mais me chamou atenção. Preciso de alguém assim, uma mulher que não vai me dar trabalho e que aceite sem questionar o que eu falar. Não sou um cara paciente e muitas vezes sou grosso, até mais do que pretendia ser, sendo assim, preciso de alguém que compreenda e aceite as coisas com facilidade. Ela me parece a pessoa certa. Tenho acompanhado ela um pouco de longe, é uma menina extremamente tranquila. Tem um passado não totalmente revelado, mas isso já não é do meu interesse. Hugo até relutou um pouco em ceder, mas com os argumentos certos, ele não teve como dizer não. Inclusive estou indo tomar uma bebida no bar com o Thom. Confesso que detesto essas coisas, mas o cara insistiu bastante. Por mim, só o veria no dia do casamento e estava tudo certo. Agon sempre diz que eu preciso ser mais sociável, que preciso aprender a tratar uma mulher ou então deixarei a pobre moça louca. — Arian, que bom que veio. — Thom levanta e estende a mão para mim. Aperto a mão dele e apenas dou um aceno com a cabeça. Me sento e peço um uísque para acompanhá-lo. — Como foi a viagem? — puxa assunto. Bebo um gole e respondo: — Vamos direto ao assunto. — Tudo bem, Hugo já havia me avisado que você é de poucas palavras. — sorri de lado. Continuo sério, o encarando. Não tenho paciência para essas coisas. — Arian, porque quer se casar com a Ravena? — Porque sim. — Por que ela? Ravena é uma menina doce, jovem, tem tanta vida pela frente. — Ela terá que se casar. — Eu sei — suspira. — Ela só tem dezoito anos. Eu ia procurar um cara bom para ela. Olha, não que eu esteja falando que você não é bom — dou de ombros, afinal, não sou bom mesmo. — Só não quero que ela sofra. — diz com toda sinceridade. — Imagino. — Você sabe, não é? — Sobre? Desconfio do que ele está falando, mas mesmo assim questiono para ter certeza. — Do passado, sobre Ravena. — Sei. — Vai contar para ela? — Não tenho nada a ver com isso. — Mas ela será sua esposa. — Continuo não tendo nada com isso. — Ok. Tem certeza que quer se casar com ela? — Sim. Minha vontade é de revirar os olhos, zero paciência para todo esse questionamento. — Vai tentar fazê-la feliz? — Ela vai viver bem. Ele abaixa a cabeça, frustrado com a minha resposta. — Fracassei com ela. — fala, desanimado. — Você gosta dela? Por isso quer casar? — Não. — Não gosta? — Não. — Então não se case com ela. — suplica. — Minha decisão está tomada. Deixo duas notas em cima da mesa, me levanto e vou embora. — Conversou direito com o pai da menina? — Agon pergunta quando entro no carro. Arqueio uma sobrancelha e ele ri. — Precisa ser mais paciente e sociável Arian, ele só quer o bem da menina. Dou de ombros. Pouco me importo com o que ele quer ou qualquer outra pessoa.
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