Quando eu era pequena, descobri o significado da palavra vizinhança. Vizinhança para mim sempre foi uma comunidade unida, ou para ser mais assertiva, uma verdadeira família, embora na época eu não soubesse o significado da palavra comunidade.
Talvez essa definição seja pelo facto de eu ter crescido em um quintal comum, ou seja, a entrada era a mesma, o quintal era o mesmo e por esse motivo eu cresci próxima demais aos vizinhos, por exemplo, a senhora Haruno me chama de filha mais nova até hoje mesmo ela e sua família tendo mudado de casa há anos.
Sim, todos os adultos cuidavam de mim como se fossem meus tios, e todas as crianças cuidavam de mim como se eu fosse a irmã caçula. Lembro que sempre que a tia Kushina fazia doces em casa os trazia para a grande mesa do quintal e com um pouco de chá nos deixava saboreá-los.
Mas os momentos que eu mais adorava, sem dúvida era aquele em que eu ouvia as batidas sincronizadas na minha janela, essas batidas significavam apenas uma coisa, meu melhor amigo estava me chamando. Para brincar, para conversar ou apenas para cumprimentar, mas era sempre ele lá, na verdade, ele era o único que fazia isso no meio de tanta gente, e eu amava isso.
Na verdade, eu amava tudo que tinha haver com ele, deve ser por isso que fomos melhores amigos durante tanto tempo...
Sim, eu tive uma infância muito feliz, mas aos poucos isso foi mudando, bastou crescer, bastou ver crescer.
Hoje em dia está tudo diferente do que costumava ser, hoje a Sakura mora em outra cidade, hoje a Ino tem novos amigos, hoje o Lee está estudando em outro país, e embora eu tenha mantido a tradição por mais alguns anos, hoje o Naruto não bate a minha janela...
Hinata Hyuuga
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Era uma tarde de Sábado, em plena primavera, Hinata havia acabado de chegar no seu pequeno bairro, e adentrou sem pressa para o quintal. Como em todos os Sábados a tarde ela estava com um caderno e dois livros na mão, em sua coxa repousava uma pequena bolsa onde ela guardava o celular, dinheiro, canetas e lápis, e como sempre estava ouvindo música com seus fones de ouvido azul turquesa, a música a distraia de tudo ao seu redor e apenas quando a mesma parou que a Hyuuga percebeu risadas vindas da casa de alguns de seus vizinhos antes da próxima música começar.
Olhou para o relógio de pulso e constou que eram apenas três da tarde, a garota pôs a música no pause e tirou um dos lados dos fones da orelha apenas para confirmar que sim, ela realmente estava ouvindo risadas vindo de um cômodo específico da casa de seus vizinhos num Sábado à tarde. O que não era nada normal.
Pensou em ignorar, não era da conta dela mesmo, mas a anormalidade do momento despertou a sua curiosidade, além disso, a v*****e de voltar a conversar com seu velho amigo falaram mais alto.
Então, com poucos passos, a garota se aproximou da janela feita de alumínio e vidro e bateu sincronizadamente como a tempos não fazia. Rapidamente a cortina que até então cobria sua visão foi aberta revelando um garoto loiro de olhos azuis que, apesar de não ter demonstrado, surpreendeu-se com a presença da morena na sua janela.
Sem mais tempo para pensar, o garoto abriu a janela apoiando-se nela logo em seguida, só assim cumprimentou a velha amiga com um sorriso simples.
— Oi! — A Hyuuga sorriu do mesmo jeito e retribuiu o cumprimento enquanto analisava o rosto do Namikaze.
— Oi... — Era estranho, ela o via quase todos os dias quando ele saía para estudar ou trabalhar, mas nunca reparou no quanto ele estava diferente, quer dizer, ele mantinha os cabelos rebeldes, não tão compridos como antes, porém davam um ar um pouco mais responsável, embora os pequenos pêlos faciais que ele mantinha dissessem o contrário.
— Precisa de alguma coisa vizinha? — perguntou educado como sempre, mas ele realmente queria saber do que a Hyuuga precisava, quer dizer, já não eram crianças, então porquê que não optou por bater à porta?
— Sim — respondeu automaticamente em meio a sua análise, mas depois voltou a concentrar-se. — Q-Quer dizer, não! — Corou envergonhada por estar distraída, o que fez o loiro sorrir pelo ato que o lembrava da época em que eram adolescentes, realmente Ino tinha razão quando uma vez disse que a Hyuuga continuaria a ser a mesma garota que corava por tudo e por nada. — Enfim... — Continuou rindo da própria vergonha. — ... Eu ouvi algumas risadas vindas do seu quarto e quis saber o que estava acontecendo. — explicou por fim.
— Ah... Estamos fazendo muito barulho? — perguntou preocupado.
— Não, nada disso, eu só fiquei curiosa, quer dizer... Não é normal ver você a essas horas... — Justificou sua curiosidade.
— Sim, você tem razão, mas tirei uma semana de férias do trabalho, então estou aproveitando para pôr a conversa e o jogo em dia com alguns amigos. — Abriu espaço para que a morena pudesse ver os três garotos sentados em bancos no quarto do Namikaze.
— Olá!
— Oi...
— Eai? — Os três cumprimentaram ao mesmo tempo.
— Oi... — Cumprimentou tímida enquanto acenava.
— Eai, vai uma partida? — O moreno perguntou mostrando o comando da consola.
— Não Sasuke, garotas não gostam desse tipo de jogo... — O ruivo sussurrou na intenção da Hyuuga não ouvir, o que deu certo, mas Naruto não pareceu ter gostado da exclusão.
— Gaara, sua irmã não gosta desse tipo de jogo, mas a Hinata é campeã no que diz respeito à NFS. — A Hyuuga olhou para ele incrédula, fazia quanto tempo que não jogavam juntos? Três ou quatro anos? Como ele ainda tinha certeza das habilidades dela?
— Sério? Uma jogadora? — O outro moreno perguntou sorrindo.
— Não é só uma gamer, é a melhor! — O loiro realçou.
— N-Naruto... — Hinata chamou a atenção dele enquanto apertava os livros e o caderno aflita. — Eu tenho que ir... — disse encarando o chão.
— Hum?... Está bem Hinata, até a próxima... — disse sem entender o porquê da mudança repentina.
Naruto acompanhou com o olhar a garota que caminhou em silêncio até a porta de sua casa de cabeça baixa, ele queria entender o que de facto aconteceu ali, mas não conseguia.
— Ei, lambe botas, não chega de paquerar? — Sai perguntou dando um t**a na nuca do amigo.
— Ai! — reclamou segurando o local que foi atingido. — Paquerar? Quem está paquerando? — perguntou confuso o que fez o Uchiha rir.
— Você e a...
— Hinata. — Sasuke ajudou Gaara com o nome enquanto retornava à corrida.
— Isso! — Voltou a olhar para a tela.
— Não sabia que você tinha namorada. — Continuou.
— Eu não sabia que aqui havia mais uma garota quase tão linda quanto a Ino. — Sai voltou a sentar-se no seu lugar. — Oh, espera, sabia sim! — Voltou a falar sério.
— Eu não sabia que você paquerava aqui no bairro. — Gaara falou por último.
— Vocês sabiam que eu só tenho amigos bestas? — perguntou voltando ao lugar onde estava antes da Hyuuga chegar.
— O quê? Qual é o m*l de você pegar uma gostosa como a Hinata? — Sasuke perguntou sorrindo. — Sim! Ganhei! — Celebrou após o término da partida.
— Não fales assim dela... Se ela te ouvisse ficaria desconfortável... — sussurrou o que para ele era óbvio.
— Sasuke, você conhece a Hinata? — O ruivo perguntou dando o comando ao Sai após perder.
— Todo mundo nesse bairro conhece todo mundo — Sai respondeu antes mesmo que o Uchiha o fizesse. — Mas nem todos falam com todos. — Resumiu.
— Pois é, eu por exemplo já tinha visto a Hinata várias vezes, mas como ela passa sempre com os seus fones nos ouvidos nunca conversamos, até porque ela nunca despertou meu interesse. — Justificou-se.
Poderia não parecer, mas entre Naruto, Sai e Sasuke, o Uchiha era sem dúvidas o mais novo no bairro, tendo chegado a apenas três anos. Já o ruivo, esse morava em outro bairro, mas o garoto conheceu o loiro no trabalho e passaram a ser amigos.
— Não foi você que disse que ela era gostosa? — Naruto olhou torto para os dois que insistiam naquele tema. — Fica calmo Naruto, não está mais aqui quem falou... — Levantou as mãos em sinal de rendição e tanto Sasuke, quanto Sai tentaram evitar rir da situação. Ao que parecia o amigo ainda era sensível quando se tratava da morena de olhos claros.
Poderia até ser estranho para Gaara, mas a verdade era que nenhum deles sabia do passado dos dois. Naruto sempre sentiu a necessidade de proteger Hinata até a adolescência onde os dois passaram a seguir caminhos diferentes aos poucos, mas, apesar da r*****o já não ser a mesma de antes, às vezes o loiro ainda sentia a necessidade de conversar com ela, ou o mais normal entre eles. Naruto ainda tinha a necessidade de bater a sua janela.