A melhor parte de minha tia ter um gato é que, ele toma banho sozinho e come pouco, ou seja, ele se vira. Eu nunca pude ter um animal de estimação. Não sou responsável o suficiente para cuidar deles.
Era sábado e eu estava me arrumando para a social na casa de Lucy.
Vesti um vestido verde água e branco, que compramos ontem e ela um preto de manga longa. Era a primeira festa de verdade que eu ia com minha amiga, as outras foram apenas recepções da escola e um jantar de boas vindas.
Resolvemos chamar um táxi, já que planejamos encher a cara como boas adolescentes que somos e não seria bom dirigir assim. Conversamos sobre algumas besteiras e depois de uns minutos o carro apareceu.
Quando chegamos, o lugar estava incrivelmente cheio, era uma espécie de boate, mas a festa estava sendo oferecida por um colega da escola. Lucy e eu começamos a dançar e por mais sensata que eu fosse, quis tomar ficar bem bêbada essa noite. Pegamos umas cervejas bem geladas e amargas. Bebemos perto do bar, e reabastecemos algumas vezes, enquanto dançávamos apoiadas no balcão.
Quando voltamos para o espaço de dança alguns caras se aproximaram e começaram a dançar com nós na batida agitada da música eletrônica.
—Você é a garota nova certo? -um rapaz loiro perguntou-
—Sim, cheguei na cidade há pouco tempo. -falei um pouco mais alto por causa da música -
—Legal. -ele parou seu olhar na mancha da minha clavícula- Marca de nascença?
—Talvez. -sorri escondendo a mancha com o cabelo-
Eu odiava minha mancha de nascença. Ela ficava bem no osso da clavícula e parecia uma lua abstrata e despigmentada.
—É bonita, parece uma tatuagem. -ele sorriu de volta- Sou da turma A na Arion, foi bom te conhecer, a gente se esbarra. -disse se afastando enquanto eu dava um aceno discreto com a mão livre-
Começamos a dançar mais rápido e a bebida estava fazendo efeito.
Depois de uns momentos, comecei a ver tudo girar, meu sangue ficou quente e meu corpo meio dormente, molenga, como se qualquer pessoa que esbarasse em mim pudesse me derrubar.
Foi então que encontrei o mesmo par de olhos amêndoa que pensei ter visto no dia anterior, entre as árvores da mata. Eu vi de relance entre a multidão da festa, infelizmente, eles sumiram e eu estava tentando achá-los novamente.
Enquanto eu estava no meu momento álcool, um rapaz se aproximou e começou a dançar atrás de mim segurando fortemente minha cintura.
—Você é a garota mais linda que eu já vi nesse lugar. -ele disse em meu ouvido-
—Obrigada, mas você poderia se afastar por favor? -pedi com a fala meio arrastada-
—Tudo em você é bem atrativo menos esse vestido, acho que você ficaria muito melhor sem ele. -ele agora arfava na minha nuca e eu tentava afastá-lo sem sucesso-
Foi então que ele simplesmente me soltou e quando eu me virei, havia desaparecido.
Reparei que não via Lucy também fazia algum tempo. Eu não me dei conta por estar muito alcoolizada e envolvida na dança. Tentei encontrá-los vasculhando o local com meus olhos pesados, mas não havia sinal de nenhum dos dois.
Ao circundar o lugar voltei a ver os olhos amendoados me encarando e tentei segui-los, mas eram tão profundos que pareciam se afastar para sempre.
Resolvi jogar uma água no rosto e, enquanto eu procurava o banheiro, consegui ver o carro preto de Antony pela janela do corredor.
Então eu ouvi:
—Fala alguma coisa d***a! -era a voz de Lucy-
—Você não seria capaz de satisfazer nem uma parte de mim Lucy -era uma voz masculina-
—Tony eu lembro de você, você era um cara amável demais para ser esse b****a de agora. -Lucy estava chorando-
—Eu nem frequento a escola direito Lucy, pareço mais um fantasma que um estudante. Me esquece que m***a. -ele acendeu um cigarro com cheiro característico-
—Você não pode nem tentar ter algo comigo? -ela se aproximou dele- Eu realmente não sirvo nem para s**o fácil?
Naquele momento, não sei o que me incomodou mais, ver Antony sendo um b****a com ela ou ver Lucy se rebaixando a ele, mas eu definitivamente estava incomodada em vê-los juntos e não entendi porquê.
Quando ele levantou o olhar pude ver os olhos amendoados que tanto procurei, mas agora eles estavam tendendo para verde arroxeado, literalmente escureceram. Antony parecia um animal olhando cada movimento da presa que vai atacar com precisão. Ele tinha um olhar de quem esta com fome e eu não me refiro à alimentação. Era luxúria, mas também era raiva.
Ele jogou o cigarro fora e prensou Lucy na parede. Quando a beijou ele praticamente a devorou e ela soltou um gemido. Agarrou o cabelo dela por trás enquanto apertava sua cintura. Lucy apertava as laterais da camisa dele e tentava acompanhar o ritmo e a intensidade do beijo dele.
Eu me atrevi a respirar e neste momento Antony virou o olhar para mim, ele era muito bonito.
Um misto de ódio, culpa e desejo incendiaram seu olhar penetrante. Eu não pude deixar de notar seus traços. Cabelos bagunçados, pele bronzeada, barba e uma boca que escorria sangue, por ter feito pressão demais, ou talvez mordido o lábio de Lucy.