Ponto de vista de Sheila
Eu estava tremendo muito. Meu medo e confusão estavam estampados no meu rosto. Olhei ao redor para os guerreiros que me cercavam, meus olhos cheios de medo encontrando os do meu companheiro. Sua expressão fria me enfraqueceu ainda mais.
Sob o comando de Killian, fui agarrada com força pelos guerreiros, cada braço sendo segurado com violência. Meu olhar partido se recusava a desviar do olhar dele.
"Qual é o significado disso?", minha voz saiu como um sussurro, traindo completamente minhas emoções, "Eu sou sua companheira", as palavras saíram dos meus lábios e as vi se despedaçarem diante do olhar gélido de Killian. Mas ele parecia não se importar. Isso não importava para ele.
"Isso vai te ensinar exatamente como se comportar na minha matilha", ele me encarou com olhares gélidos, "Levem-na!", suas palavras frias me atingiram profundamente onde mais doía, enquanto ele tinha seus braços ao redor da outra mulher, sua amante.
Fui arrastada para dentro do castelo, pelos corredores, e jogada em uma masmorra escura, e a porta de madeira foi fechada com força atrás de mim.
Eu caí no chão duro e frio, com a escuridão circulando ao meu redor. Paralisada, ainda não conseguia superar aquele momento, o olhar gelado do meu companheiro. Seu ódio e raiva por mim eram evidentes. Não sabia dizer quando meus olhos se encheram de lágrimas, que rolavam descuidadamente dos meus olhos.
Ele me odiava! Meu próprio companheiro me odiava!
Levei minhas mãos ao rosto, soluçando profundamente. A última vez que me senti tão machucada e quebrada, com lágrimas nos olhos, foi quando eu tinha apenas doze anos e fui torturada pelo meu pai por falar com os servos.
Fui torturada de maneira muito pior do que isso, mas nem mesmo isso doeu tanto.
Encolhi-me contra as paredes frias, chorando no escuro. Não tinha ideia de quando adormeci na escuridão. Acordei com o silêncio ensurdecedor que ecoava pelas paredes. Não tinha como saber há quanto tempo eu estava aqui embaixo. Estava frio e a superfície em que eu estava sentada estava machucando meu corpo.
O chão era duro e úmido. O ar frio ao meu redor me fazia tremer. Tudo o que eu podia fazer era esperar no escuro por um longo tempo.
Ao mesmo tempo, a grande porta de madeira fez um rangido alto e um brilho muito intenso iluminou o lugar. Tive que levantar a mão para proteger meus olhos da luz, e quando me acostumei com o ambiente, olhei para cima e vi Killian.
Prendi a respiração, engasgando com a garganta. Sua figura alta e dominante se aproximava de mim enquanto eu forçava minhas pernas a ficarem de pé. Ele tinha uma altura imponente que eu tinha que erguer o olhar para ver. Me dominava com lampejos de emoções cruas que reconheci como ódio e desprezo. Segurei fabricadamente o tecido sedoso do meu vestido, lutando contra a vontade de chorar.
"Vamos esclarecer uma coisa. Eu só tenho uma mulher na minha vida, e ela é a Thea, e mais ninguém", sua voz era mais brutal do que o vento mais pesado do inverno e mais afiada do que qualquer espada no meu peito, "Você não significa nada para mim, Sheila Callaso. Absolutamente nada!", ele fez questão de dizer cada palavra, que ecoava dentro da minha cabeça, me matando, "Eu tenho algumas regras sobre como comandar minha matilha. Todos devem segui-las, incluindo você. Se você obedecer a essas regras, a sua estadia na minha matilha será suportável, confortável e suficientemente vivível", sua voz era tão profunda e suave, com um leve sotaque. Eu poderia facilmente ouvi-la o dia todo, mesmo que ele parecesse tão impiedosamente frio.
Não falei. Não podia confiar na minha própria voz para não me trair. Ao invés disso, ouvi-o, como uma loba obediente.
"Em primeiro lugar", ele começou, "Você só fala quando falam com você. Em segundo lugar, você não tem permissão para sair dos seus aposentos sem a minha autorização. Em terceiro lugar, você só é permitida no meu escritório quando chamada e nunca é permitida nos meus aposentos, em hipótese alguma. Em quarto lugar, você não tem permissão para sair do castelo sem a minha autorização também. E por último, fique longe do caminho da Thea. Isso é um aviso, Sheila", ele rosnou com tanto ódio, que estremeci com a intensidade, "Desrespeitar essas regras só lhe renderá punições dolorosas", ele concluiu sem qualquer emoção.
Só pude olhar incrédula ao ouvir suas palavras. Sem hesitação, ele virou as costas para mim, indo em direção à porta.
"P-Por quê?", perguntei sem fôlego, com dor e lágrimas, "Por que, Killian? Eu sou sua companheira."
Por mais que eu pensasse sobre isso, não conseguia encontrar uma razão plausível para ele me desprezar tanto.
Ele parou de se mover por um minuto e virou-se para me encarar. Num piscar de olhos, Killian estava diante de mim, sua mão grande em mim, mas não do jeito que eu queria. Sua mão firme apertou meu pescoço, esmagando minhas costas contra a parede, impiedosa.
"K-Killian?", engasguei, sem conseguir respirar, enquanto minhas mãos caíam sobre as dele.
"Eu te avisei, é Alfa para você", ele apertou mais, e eu lutava para pegar ar.
"Por favor... você está me machucando", m*l conseguia ouvir minha voz, encarando seus olhos, que brilhavam em um tom de amarelo brilhante, ou dourado. Mas ele não soltava.
Minhas mãos se agarraram às dele com força, suplicando. Eu podia sentir as faíscas formigantes que explodiam com o mero contato.
"Por favor, Alfa", sussurrei. Uma lágrima escorrendo pelos meus olhos.
Relutantemente, ele me soltou, me deixando cair no chão. Eu agarrei meu pescoço, engolindo o máximo de ar que pude em lágrimas.
"Você passará o resto da noite aqui, cumprindo sua punição", ele me encarava como se eu não significasse absolutamente nada.
Lançando um último olhar para mim, Killian saiu furioso da masmorra, me deixando novamente sozinha num espaço escuro e frio.
Me encolhi no chão, derramando lágrimas. Depois de um tempo, a porta de madeira rangeu e um prato de comida foi jogado dentro. Terminei minha comida, esperando em silêncio. Essas foram as piores horas da minha vida, sendo aprisionada pelo meu próprio companheiro.
Adormeci por algum tempo, embora meu corpo parecesse muito vivo o tempo todo. Foi um sono cheio dos meus pesadelos habituais, que me faziam acordar assustada o tempo todo.
A porta de madeira abriu novamente, permitindo que um raio de sol entrasse no quarto, acompanhado por um rosto familiar. A jovem mulher que conheci fora do castelo.
"Olá, você se lembra de mim? Eu sou..."
"Brielle", disse, recordando o nome dela. Ela deu um pequeno sorriso.
"O Alfa me pediu para te levar ao seu aposento."
Levantei-me silenciosamente, sem dizer uma palavra. Brielle me conduziu para fora da masmorra.
Finalmente, fui escoltada para o que parecia ser meu próprio aposento. Brielle trancou a porta, olhando para mim, pensativa.
"Oh, minha senhora, por que você arrumou confusão com Thea? O Alfa não te contou?"
"Sobre a amante dele? Não", sacudi a cabeça, sinceramente.
Ela me lançou um olhar de pena.
"Bem, é isso. Thea é como a pessoa favorita do Alfa no Castelo."
Senti uma dor no peito.
"Sinto muito. Não deveria ter dito isso. Só queria que você soubesse que ele se importa muito com ela."
Mal conseguia pronunciar uma palavra.
"Vou preparar um banho quente para você, minha senhora, e depois chamar alguém para trazer comida. Enquanto isso, se precisar de algo, é só me avisar, minha senhora", ela passou apressada por mim, mas a segurei pelo braço.
"Obrigada. E por favor, me chame de Sheila."
Ela sorriu.
"Certo, Sheila."
Ela foi para o banheiro, e em poucos minutos, já estava de volta. Brielle estava prestes a dizer algo, quando ouvimos uma batida na porta.
Uma jovem entrou com confiança. Ela parecia mais jovem do que eu, com cabelos pretos que enquadravam perfeitamente o seu rosto em formato de coração.
"Ah, essa é Riannon, e ela estará te servindo", Brielle me informou.
A jovem sorriu, curvando a cabeça em sinal de respeito.
"Ao seu dispor, minha senhora."
"Por favor, me chame apenas de Sheila", disse, me sentindo desconfortável com essas formalidades.
Ela sorriu, olhando para Brielle.
"Se estiver tudo bem, minha se…", ela parou, "Sheila."
"E vou te chamar de Ria."
"A propósito, os Anciãos estão aqui", Ria disse apressadamente, virando-se para Brielle.
Os Anciãos? Como no Conselho dos Anciãos?
Todo Alfa do Norte fazia parte do Conselho, incluindo o Alfa da Alcateia Crescente do Norte, Killian, meu companheiro. O Conselho era um círculo composto por várias espécies sobrenaturais, cada uma tendo um representante dentro do Conselho. Os Anciãos do Conselho eram os lobos mais velhos e representavam a nossa espécie no Conselho.
Olhei para Brielle, cujos olhos assustados encontraram os meus, e depois para Ria.
Por que os Anciãos do Conselho estão aqui?