Divindade do Eclipse

Cuidado

Talvez tivesse passado apenas 5hs, mas Chen Ren acordou estavam no cavalo ainda, mas a paisagem já estava mais escura. Seu instinto dizia que algo estava errado. Bocejando baixo ele espiou por cima do tecido colorido notando a cor azul escuro do céu e uma mulher em frente a uma casa.

Aquela mulher era muito familiar... Akame apareceu na imagem e pulou na mulher. Se abraçavam e choravam juntas.

-Akame é a filha dela – Explicou Jae sem interesse.

O cavalo relinchou entediado com a imagem e Chen Ren se acomodou para que suas pernas ficassem fora da coxa de Jae onde repousavam até aquele momento. Sua cabeça estava no ombro e seu corpo ficava contra o outro que o segurava pelas costas. Como havia dormindo tão confortavelmente naquela posição?

-Ela me disse que era uma adapta de Mahina, mas a mãe dela me pareceu muito contra essa possibilidade – Comentou Chen Ren sonolento – mais que sono... que horas são!?

-Faltam 18hs – Tranquilizou Jae segurando as rédeas e fazendo o cavalo continuar o caminho.

-Então eu dormi por 6hs? Nossa, bastante tempo, podemos ir ao lago? É melhor estarmos lá para não ser necessário ficar estressado... (bocejo)... para que tanto sono? – Murmurou Chen Ren se afundando no manto e sentindo o braço de Jae o segurando quando um pensamento o fez franzir o cenho – você ficou nessa posição por 6hs?

-Você não se move muito de qualquer maneira –Sussurrou Jae falando tão perto do seu rosto que pode sentir o raspar singelo dos lábios em sua testa – Akame queria conversar com você.

-Comigo? Por quê? – Questionou Chen Ren levantando a cabeça repentinamente.

Seus olhos se encontraram tão perto que Ren conseguia ver perfeitamente o castanho claro que ameaçava aparecer a partir da íris, mas se mantinha tímida de clarear o resto. Era tão bonito que ele queria se aproximar mais... Jae abaixou o olhar em direção a sua boca, mas desviou o olhar.

-Lianhua – Chamou Akame se aproximando do cavalo com algo nas mãos – isto é para você.

-O que é isso? – Perguntou Chen Ren se virando no colo de Jae sentindo o braço dele em sua cintura o segurando com força – isto é...? É?

-A alguns anos minha tia levava isto na família, ela me disse que um dia um rapaz voltaria e eu deveria dá-la então é seu Chen Ren – Explicou Akame vendo o desespero nos olhos alheios – eu o reconheci devido ao colar, ele me fez ter certeza no momento em que o encontrei de que era alguém próximo a Deusa, por isso confiei e confio.

Emocionado ele balançou a cabeça e tirou uma mecha de cabelo do rosto que voltou a cair, mas dessa vez foi retirada de sua tez por Jae que gentilmente a colocou atrás de sua orelha onde permaneceu. Akame observou cada ato e decidiu-se.

-Poderíamos conversar? Tenho algumas perguntas para fazer, se possível a sós – Falou Akame sem olhar para Jae que apertou a cintura do rapaz como uma pergunta silenciosa.

-Tudo bem-Disse Chen Ren mais para Jae do que para a mulher esperançosa.

Jae desceu do cavalo e levantou os braços segurando Ren para deixá-lo no chão com mais segurança. Seus pequenos pés tocaram a grama macia provocando seu sorriso. Chen Ren caminhou para longe com ela enquanto segurava o manto fechado, mas este caiu de seus ombros acumulando-se na altura do meio das costas cobertas pelos volumosos cabelos negros que refletiam o lento crepúsculo.

Assim que estava longe o suficiente para conversarem Akame sentou se em um tronco dando espaço para Chen Ren.

-Primeiro gostaria de agradecer novamente pela ajuda – Murmurou Akame satisfeita – mesmo que eu acredite em Mahina, lá no fundo assumo que duvidei de sua real existência, não esperava ser ajudada.

-Você saiu praticamente sozinha do problema – Falou Chen Ren sentindo a brisa fria tocar seus ombros e os cobrindo com o manto colorido.

-Não mesmo, eu fiquei chorando desesperada – Retrucou Akame rindo de nervoso – se não fosse por você não teria coragem de tentar.

-Mas conseguimos não precisamos nos ater a isso – Exclamou Chen Ren olhando seus pés na grama escura – estamos a salvo.

-Sobre isso... – Lembrou Akame apertando as mãos no tecido da roupa.

-Como sua tia pode ser uma adepta de Mahina e sua mãe não?  -Interrompeu Chen Ren confuso – desculpe te interrompi, pode continuar.

-Minha tia é a “ovelha desgarrada”, ela sempre foi diferente de todos, sempre opinativa, de personalidade forte, não que as outras que não seguiam Mahina não tivessem essas qualidades, mas ela era assim devido a Mahina, ela me disse que a Deusa lhe mostrou a verdade quando a fez se questionar, a fez ter coragem, algumas não precisam, ela disse, pois cada uma encontra sua força de maneiras diferentes – Explicou Akame emocionada – infelizmente um dos pretendentes dela não aceitou isso e ela morreu.

-Ele a matou? – Exclamou Chen Ren chocado.

-Sim, disse que ela era impura por acreditar nisso, mas antes a tornou uma p**a como ele falou – Contou Akame secando uma lagrima – ele a violou para então matá-la, mas minha tia o machucou com uma faca antes, esse ferimento não foi tratado e ele morreu de infecção, gosto de pensar que Mahina o condenou em nome da minha tia.

-Divindades não podem m***r humanos de maneira direta, mas nada impedi de fazê-lo de maneias pouco convencionais como colocar na mente de um médico que ele não precisa de tratamento – Segredou Chen Ren vendo o sorriso da outra aumentar brilhando com a cumplicidade – mas agora estamos em segurança, finalmente.

-Por enquanto... – Sussurrou Akame atraindo a atenção de Ren que franziu o cenho – posso te chamar de Ren?

-Claro – Concordou ele sorrindo pequeno quando suas mãos foram seguradas com rapidez deixando o manto abrir um pouco, não o suficiente para mostrar alguma coisa, mas o suficiente para descobrir os ombros alvos.

-Você corre perigo – Contou Akame desesperada olhando para os lados – aquele que veio com você é perigoso! Você precisa sair de perto dele imediatamente... porque não me parece surpreso.

Chen Ren estava calmo e sorriu largo com a preocupação da moça com sua pessoa, mas era ridículo para si tal concepção. Jae perigoso? Para quem? Para um coelho? Ele lhe lembrava alguém que havia amado então jamais lhe faria temê-lo.

-Jae não é perigoso – Afirmou Chen Ren apertando as mãos dela com apenas uma, pois a outra segurava o manto fechado como podia – ele é... bom.

-Com você – Retrucou Akame indignada – pelo colar eu pude ver e ele não é...

-O que? – Interrompeu uma voz profunda fazendo a pobre mulher estremecer de medo e abaixar o olhar soltando as mãos do rapaz.

Chen Ren virou o rosto na direção da voz e na penumbra entre duas árvores ele pode ver uma pessoa. Senão fosse pelas botas poderia ter se assustado, mas Jae. Quem o temeria? Sendo assim voltou se para a moça que ainda mantinha seu olhar no chão.

-Akame? O que ia me dizer? – Questionou Chen Ren curioso.

-Que o caminho para o lago de lótus fica naquela direção, mas devem tomar cuidado com os homens da coroa que estavam naquele prédio, se eles estão conscientes de suas faculdades podem ser... Chatos de lidar – Respondeu Akame se levantando ainda olhando na direção oposta a Chen Ren e alongou os braços – melhor eu ir, minha mãe deve estar pensando demais, tchau.

-Akame... – Chamou Chen Ren, mas foi ignorado pela moça que praticamente saiu correndo em direção a casa – que coisa, Jae podemos ir então? Estou com frio.

Com essas palavras Chen Ren viu o outro retirar o próprio manto vermelho... ele tinha um manto? E colocar em seus ombros. Assim Ren começou a andar em direção ao cavalo que esperava a cerca de 10 metros dali pastando quando se desequilibrou repentinamente.

Sua visão turvou e seus músculos se contorceram provocando a falta de ar. Jae o segurou rapidamente quando seus joelhos atingiram a grama.

-O que? A transformação está começando – Murmurou Chen Ren ofegante – está mais rápida, que horas faltam?

Sem mais nem menos ele o pegou no colo novamente e voltaram assim até o cavalo, em direção a penumbra.

-Jae pode me colocar no chão eu consigo andar – Lembrou Chen Ren com dores pelo corpo começando a aumentar – não... Preciso que me... Carregue, posso ficar m*l-acostumado.

-Não ficarei triste em te mimar – Confessou Jae se aproximando do cavalo que logo se deitou deixando ser montado e logo se levantando – descanse, a transformação irá tirar toda a sua energia.

-É difícil tirar minha energia – Retrucou Chen Ren se acomodando no cavalo – poucas coisas conseguem.

-Posso pensar em maneiras de conseguir – Provocou Jae perto da sua orelha.

-Duvido – Rebateu Chen Ren olhando para frente quando cavalo começou a andar e sua cintura foi abraçada novamente.

Jae deu uma risada e trouxe seu corpo rente ao seu. Tão próximo que conseguia sentir cada pedaço dele. A respiração em seu pescoço até os músculos do peito pressionados contra suas costas.

-Gosto de desafios – Falou Jae com a mesma voz profunda de antes fazendo Chen Ren suspirar.

-Veremos – Provocou Chen Ren de volta se aconchegando no abraço seguro e afundou no manto que cobriu seu rosto do vento ocasionado do galope do equino.