Transformação

2775 Words
Os homens se afastaram rapidamente com a outra aos prantos e ninguém que observava a cena moveu um musculo, na verdade, apenas balançaram a cabeça e murmuraram orações para a mulher levada. -Está bem? – Perguntou Chen Ren oferecendo a mão para a mulher no chão que ao levantar a face mostrou a marca tanto de lagrimas quando de uma palma de cinco dedos - senhorita precisamos sair da rua, onde moras? -Eu... Minha filha.... – Chorou a mulher ainda mais triste se curvando. Ele então entendeu e a levantou com cuidado seguindo para um estabelecimento próximo que se mostrou ser um banco embaixo de um toldo. Lá sentaram a mulher que não tinha uma reação diferente da expressão angustiada e perdida. Ela murmurava coisas desconexas e Chen Ren temeu por sua sanidade. -Jae me dê a bolsa – Pediu ele para o colega que acompanhava tudo de certa distância apenas observando. Yanar Jae andou até lá sem muita pressa e deu a bolsa para o outro que se agachou mostrando a mulher o conteúdo que trazia. Ela pareceu entender e nada fez para impedir que o estranho destampasse o gel translucido e com um pano tirasse um pouco lhe passando na face ferida. Ela parecia tão entorpecida pelo que acabara de ocorrer que nem notara o toque e a leve ardência do curativo. Chen Ren não olhou para Jae que o encarava, ele sabia que olhar receberia então fingiu não notar até que a mulher começou a fungar ruidosamente. -Minha Senhora me diga o que aconteceu, por que eles arrastaram a dama? – Questionou Chen Ren se virando na direção do caos a pouco e nada viu além da poeira – essa cidade fica cada vez mais estranha a cada segundo. -Salve minha filha – Implorou a mulher agarrando as mãos do homem em prantos – por favor... eu imploro, faço qualquer coisa... -Não sei como ajudá-la, mas podemos pensar em um modo, não é Jae? – Falou Chen Ren se virando para o outro que não esboçou qualquer reação. -Ela foi acusada – Contou Jae com desinteresse. -Injustamente – Retrucou a mulher em fúria – falaram que ela era associada a Ordem da Lua, mas é mentira... ela é boa e não se envolve com esse tipo de coisa. -Ordem da Lua? – Perguntou Chen Ren confuso. -É o nome dado a casa de prostitutas mais famosas, lá as “Damas da Noite” fazem qualquer serviço se pagar bem – Explicou Jae olhando a mulher de cima – mas o nome é usado injustamente, pois sabemos que as verdadeiras ‘Damas da Noite’ eram virgens e não eram apegadas a prazeres carnais sem fundamento. Pelo jeito a Divindade tinha que resolver aquele problema já que a filha de uma mulher em prantos disse que sua amada menina havia sido sequestrada sendo acusada de ser m****o da Ordem da Lua de Mahina na qual era crime e agora estava no Quartel onde apenas homens estavam. -Então ela foi levada para um lugar onde apenas homens entraram? Sem a família? Alguém importante? – Questionou Chen Ren sem entender. -Apenas mulheres na casa dos 20 no máximo 26 anos foram realmente levadas – Comentou Jae cruzando os braços. -Como assim realmente? Alguém não foi? – Insistiu Chen Ren pensativo. -Bem... uma mulher de 40 anos foi também acusada, mas apenas uma visita e ela foi ‘recusada’, sim literalmente recusada já que um dos homens disse que ela não era uma Dama da Noite verdadeira devido sua aparência–Contou Jae fazendo o outro o encarar. -Se você sabia de tudo isso, por que não ajudou? – Retrucou Chen Ren chocado – e como você sabia disso? -Por que eu o faria? Essas pessoas não me ajudariam – Rebateu Jae – se espera isso de mim então espere sentado, mas se quer que eu ajude então eu ajudarei. A mulher resmungou com aquele diálogo e engole o que diria ao notar o olhar de Jae para ela como se ameaçasse sua vida então ela se encolheu. Chen Ren desiste de tentar entender e se senta ao lado da mulher. -Vamos ajudá-la, eu e ele – Prometeu Chen Ren para a esperança da mulher – mas vou precisar de sua ajuda, se apenas damas jovens são levadas para a “averiguação” então precisamos de alguém assim. -Não conheço nenhuma mulher que se proporia a fazer isso – Murmurou a mulher fungando e mais calma. -Não precisaremos de uma mulher inocente, tudo o que preciso é de roupas femininas e até alguma maquiagem, não sei, talvez? E um lago de flor de lótus – Falou Chen Ren para a mulher que pareceu confusa – só me ajude e eu trarei sua filha. -O lago de lótus existe, mas é muito fundo e a água vem da montanha então é perigoso nadar lá... por que precisa disso? – Disse ela balançando a cabeça. -Não faça perguntas desnecessárias – Pediu Jae em tom frio para a mulher que concordou – leve as roupas para o lago de lótus. Ela se levantou e concordou novamente antes de sair andando. Chen Ren ignorou isso e começou a pensar no que aquilo estava acontecendo. Mulheres na casa dos 20 anos, mas que uma mulher de 40 anos não foi ‘acusada’ por não parecer? Mas a acusação não é por aparência e sim por assimilação pelo jeito. Não era necessário ser lá muito inteligente para saber o que poderia acontecer só com o pretexto de “averiguar” a face da dama. Porém como entrar? Tinham que ser mulheres jovens para conseguir se infiltrar, mas não usariam uma dama isso seria perigoso demais então ele usaria do feitiço muito perigoso, mas que sabia ser capaz de ajudá-lo. -Como pretende fazer isso e como eu posso ajudá-lo? – Soltou Jae vendo a mulher ir embora e sabendo que ela voltaria. -Existe um modo de fazer isso, mas vou precisar da sua ajuda – Respondeu Chen Ren mordendo o lábio – preciso que você encontre as mulheres, eu vou entrar... -Perigoso demais – Interrompeu Jae balançando a cabeça em negativa. -Não importa, eu vou fazer isso – Retrucou Chen Ren se levantando de onde estava com a mulher a pouco – onde fica o lago? Jae entendeu que não poderia fazer nada e apontou na direção oposta à que a mulher havia seguido a segundos atrás. Ele seguiu o guia em direção ao tal lago. A paisagem era bem interessante, sem árvores prateadas, mas muito bonito se fosse visto de mente branca para essa lembrança, se nunca se tivesse tido uma referência senão poderia ser algo bem triste e enfadonho. Árvores finas e retorcidas. Gramíneas escuras e afiadas. Chão batido e com poeira além de pegadas e marcas de rodas. Jae andava sem olhar por onde ia como se esperasse que nenhuma pedra ficasse em seu caminho. -Preciso de um lago de lótus e uma flor ainda fechada – Lembrou Chen Ren olhando em volta à procura do lago. De repente a imagem do lago se sobressaiu sobre a paisagem triste. Era largo e cintilante com pontos rosa e brancos. Flores de lótus sobre a água... era tão bonito e deslumbrante que o deixou sem palavras. A mulher apareceu com uma muda de roupa de cor rosa e um olhar sem emoção. Ela encarou o lago e apenas fingiu entender tudo e encarou os dois homens que permaneciam na margem encarando a água. -Não acho que seja muito limpo – Falou a mulher com apreensão – deve servir, não? -Veremos – Disse Jae se adiantando no caminho até o lago. O céu que parecia o eterno dia já começava a mudar suas cores e a mulher engoliu em seco muito preocupada com alguma coisa. Como um espelho ele refletia o crepúsculo que seria muito rápido então tinha que ser ainda mais rápido. Ele se virou para a mulher e informou que ela deveria ficar longe, pois ele precisava de silencio e teria que retirar suas roupas. Assim que ela ouviu a última parte ela corou e saiu andando rapidamente dizendo que esperaria na própria casa. Ele se virou para o lago e notou que Jae encarava uma flor de lótus fechada. Ele se agachou e com as pontas dos dedos tocou a macies das pétalas ainda fechadas na cor branca. Então se levantou e respirou fundo. -Está pronto? Já vai anoitecer – Falou Jae com lentidão. Chen Ren concordou e desfez o nó em suas roupas. Jae se pós atrás dele assim que ele começou a se desfazer das roupas com naturalidade. O robe caiu de seus ombros e o outro o pegou o dobrando antes de colocar no braço. O dia começou a minguar para o começo da noite e com ela a temperatura começou a cair gradativamente. Quando então a peça fina que cobria sua pele caiu de seus ombros parando no cotovelo foi que a divindade sentiu a frieza da noite. A brisa sobrava suave, mas gélida. Balançava as flores delicadas e provocava pequenas ondas na água lisa, mas suas costas ficaram quentes por algum motivo. Com surpresa sentiu mãos tocarem a parte de trás dos braços que o arrepiaram completamente antes de segurar, propositalmente ou não, o tecido com a ponta do dedo indicador deixando a palma deslizar suavemente pela pele macia e desnuda. As costas de Chen Ren foram aquecidas pelo peito alheio. A divindade sentiu o traço de calor que acompanhou o ato que terminou com brusquidão quando Jae simplesmente se virou com as roupas em mãos. Voltando a si ele balançou a cabeça e a calça caiu. Ele a segurou nas mãos e deixou em uma pedra ao lado antes de tocar o pé na água sentindo a fria, mesmo assim ele entrou. Todo o seu corpo sentiu a mudança de temperatura e se arrepiou. Assim que a água estava em sua cintura ele se virou e viu que Jae continuava virado, mas lentamente ele espiou por cima do ombro. Assim que o viu na água se voltou completamente em sua direção ainda segurando as roupas. Sabendo que qualquer problema seria salvo Ren mergulhou nas águas escuras e gélidas do Lago de Lotus de Misora. v As cinco horas da manhã em ponto o sol começou a voltar como quem jamais havia ido embora. Os raios solares bateram na água e ela ondulou suavemente antes de uma cabeça de cabelos negros emergir jogando o para trás. Mãos percorreram a face que foi acariciada pelo sol e a pessoa sorriu se virando e indo em direção a margem onde o homem esperava na mesma posição em que foi deixado. Das águas gélidas saiu calmamente uma mulher segurando uma flor de lótus rosa. Ela tinha estatura média e seu cabelo longo lhe cobria ambos os s***s até o quadril. Um manto translucido da cor branca colava nas formas curvilíneas da mulher que piscou rápido para tirar as gotículas de água dos cílios e focou no homem que mantinha a expressão sem emoção. Chen Ren olhou para si mesmo e notou como estava diferente. O longo cabelo preto era brilhante além de volumoso. Suas mãos pararam no quadril largo e ele estava chocado. Suas mãos percorriam seu próprio corpo, tão distraído com essa nova situação que nem notou que era observado. -Parece que deu certo – Comentou Jae desviando o olhar do corpo feminino e oferecendo as vestias que deveriam ser usadas – cubra-se antes que alguém apareça ou pegue um resfriado. -Desculpe, você estar desconfortável com essa visão – Exclamou Chen Ren desesperado se cobrindo com o manto. -Não me importo – Retrucou Jae abaixando o olhar para a flor de lótus e se abaixando para pegá-la na margem do rio – não sou daqueles homens que não podem ver um corpo feminino que já se tornam idiotas pervertidos, então não se preocupe. Chen Ren não falou nada. O que falaria? Que gostou de ouvir que o corpo feminino não lhe deixava animado? Ou seria que ele ficou muito feliz que Jae nem sequer esboçou um olhar diferente para si sendo que estava praticamente nua? Pegou as roupas e as vestiu rapidamente. O sol já secara sua pele e ele precisa se apressar para conseguir entrar e dar tempo de terminar a missão. -Quanto tempo vai durar? – Perguntou Jae segurando o último manto rosa no braço para cobri-lo com este quando Chen Ren estava já com os mantos. Tirou o cabelo preto de dentro das roupas, virou de costas e amarrou o robe íntimo. Voltou se para o outro e foi vestir o último. Jae se colocou atrás dele e o ajudou a vestir, depois o virou para ficar a sua frente e amarrou o nó na cintura. -Vai durar por 48hs que serão marcados pela flor de lótus que fica aberta durante 02 dias, para depois a flor perder todas as pétalas, isso simbolizará o momento em que meu corpo voltará a ser masculino – Respondeu Chen Ren arrumando o cabelo preto, mas Jae decidiu ajuda-lo ao juntar as mexas e começar a amarrar – mas será perigoso por ser muito difícil e qualquer erro e me tornará este corpo feminino para sempre como o meu. -Então teremos que ser rápido - Murmurou Jae fazendo um barulho com a boca e o cavalo se aproximou - vamos salvar as humanas. -Não fale assim, parece que não quer fazer isso - Murmurou Ren tentando arrumar melhor suas roupas que pareciam largas demais. Jae parou diante do animal que relinchou. Olhos castanhos que se prestasse atenção tornavam se avermelhados. Um sorriso de deboche se mostrou em sua face com aquela frase. Ele não estaria ali se Ren não quisesse. Ele poderia ignorar sem problema algum, mas o outro jamais deixaria passar. O problema de se ter um bom coração. -Não quero que faça isso de novo - Falou Jae se virando repentinamente e o pegando desprevenido - não importa se houver sangue, não se aproxime sem mim. -Jae - Disse Ren tranquilamente apertando a roupa. Jae então abaixou o olhar e segurou o tecido que Ren tentava ajustar. Com um rápido movimento das mãos ele fez daquele pedaço um laço perfeito. As roupas "masculinas" foram transformadas facilmente em femininas. Com lentidão subiu sua mão até a bochecha macia já avermelhada acariciando o local. Ren piscou surpreso, mas não se afastou. A sensação era incrível. Aquecia seu corpo. Acalmava tudo a sua volta. Levantou seus olhos para encontrar os de Jae enquanto este colocava o longo cabelo agora da mulher atrás da orelha. -Acho melhor fazer uma trança - Aconselhou Jae colocando ambas as mãos na cabeça de Ren e ficando atrás dele. -Onde aprendeu a fazer tranças? - Perguntou Ren sentindo os fios serem delicadamente puxados. -Tenho uma irmã - Contou Jae. Sem mais perguntas o cabelo solto em volumosas mechas tornou se um coque rebuscado e decorado com flores pequenas dali perto. Ren estava em choque com a habilidade do outro com o cabelo. Parecia que ele conseguia fazer qualquer coisa. -Você já pode ser pai - Brincou Ren tocando o cabelo arrumado com cuidado - se tiver uma filha, ela vai sempre ser linda. -Minha filha... - Sussurrou Jae carinhosamente segurando a mão de Ren para puxá-lo em direção ao cavalo - qual nome seria? -Por que me pergunta? - Retrucou Ren rindo baixo. Yanar Jae o colocou no cavalo e depois montou. arrumou as rédeas e colocou uma das mãos na cintura de Ren para mantê-lo no lugar. O corpo feminino era muito menor do que Ren normalmente. Estando em sua forma masculina já era pequeno com seus 1,80 então agora com um corpo que parecia chegar a quase 1,70 tudo ficava diferente. -Quero sua opinião - Confessou Jae incitando o cavalo. -Eu acho Sora (céu) muito bonito, mas Minseok (estrela) é meu favorito - Respondeu Ren. -Minseok - Repetiu Jae sorrindo pequeno - parece o nome de uma menina de cabelo preto e bochechas coradas. -É o comum - Riu Ren se acomodando no braço que o circulava - ela seria muito inteligente, você faria tranças nela e eu contaria histórias! -Então ela seria nossa filha? - Perguntou Jae em tom baixo. Chen Ren que sorria paralisou. Ele sequer havia notado o que estava fazendo. Havia realmente cogitado a possibilidade? Jae deveria estar desconfortável com isso... -Ela seria perfeita - Sussurrou Jae perto do seu ouvido - se fosse parecida com você. Ele não devia, mas sorriu satisfeito. Ele sorriu bobamente durante todo o trajeto até a mãe desolada e não conseguiu tirar da cabeça a imagem dessa menininha linda que sorria com desafio.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD