Não se jogue no perigo

1773 Words
Finalmente sua dignidade o ajudou a sair daquela cama que o agarrara de tal maneira que ele não conseguia nem pensar em se levantar. Era confortável ficar ali, mas era a pessoa ao seu lado que a deixava assim e não o contrário. A vida era feita de momentos e naquele momento Chen Ren decidiu ignorar seu coração louco e aquecido ao constatar que havia passado boa parte do dia naquela posição... ele acabou de dizer que não iria dar atenção a isso, mas cá estava lá, pensando e dessecando o acontecido. -Senhor? – Chamou uma voz o tirando de seus pensamentos – está bem? -Sim, obrigado – Falou Chen Ren nervoso – eu estou aqui para pagar o quarto... -Senhor Yanar disse que vão ficar mais um dia – Interrompeu a mulher com tranquilidade antes de se abaixar e voltar com uma caixa e coloca-la no balcão para a surpresa do rapaz – como não recebemos muitas pessoas, principalmente noivos, aqui está, em nome da minha estalagem e de todos que aqui trabalham desejamos uma vida prospera e feliz ao jovem casal. Chen Ren paralisou e arregalou os olhos ao entender o significado. Por que Jae disse isso? Para não chamarem atenção? Mas serem noivos não chamava muita atenção? -Senhora não é bem assim – Murmurou Chen Ren recolhendo as palavras ao mesmo tempo que ignorava o sentimento alegre que pulava em seu peito – como eu te odeio. -Por quê? – Perguntou Jae arás dele o fazendo se virar – meu amor, não gostou daqui? Já vamos embora. Na hora que Chen Ren viu Jae ele esqueceu do que estava fazendo. Porém seus olhos recaíram nas roupas do outro. Antes escuro agora era mais vermelho do que preto. Um manto vermelho com uma faixa púrpura azulado na cintura. Calças pretas largas dentro da bota longa de cor semelhante das calças. As ombreiras eram altas que lhe davam um ar de importância. O cabelo estava preso de maneira importante e difícil. As mechas que cairiam em frente do rosto estava para trás em um coque alto enquanto o resto do cabelo caia solto e preto. Ao se olhar ele não teve tanta alegria, pois estava com aquela roupa que a Senhora Akira lhe deu e que havia dormido no chão durante três dias, dormiu com ela enquanto estava bêbado e agora estava ali parado ao lado de um homem bem vestido que nem parecia aquele que conhecia a poucos dias então como podia confiar tão cegamente? -Você falou para as pessoas que estamos noivos? – Perguntou Chen Ren se aproximando e em tom baixo perguntou quase em um sussurro. -É só para não chamar atenção para o rapaz estranho que cegou uma mulher “inocente” com apenas um toque – Explicou Jae pontuando o adjetivo irônico – mesmo que não entenda bem, o fato de você falar ‘Mahina’ seria o suficiente para ser decapitado. -O que? – Exclamou Chen Ren tendo seu braço segurado e arrastado para fora do lugar, na rua Jae respirou fundo – explique isso. -A 500 anos, houve a ‘Guerra das 1000 estrelas’, você sabe que Mahina era o maior símbolo de feminino e força que poderiam imaginar, as mulheres começaram a ter grandes ambições e eram apoiadas pela Deusa mais forte do panteão do céu – Continuou Jae sem alterar o tom de voz ao andar por entre as pessoas – porém após a Guerra e a destruição percorreu todos lugares, alguns líderes usaram isso para incriminar tudo o que era referente a ela devido a imagem dela, de alguém que presenteava as pessoas com moedas de prata, as Damas da Noite e a sabedoria... -Eles ficaram loucos – Grunhiu Chen Ren indignado – como ninguém mudou a opinião deles? -Quem faria isso? A fome e miséria estava em todos os lugares, a Onça Celestial matou muitas pessoas e ninguém chorou por elas, Mahina não matou a Onça, na verdade sacrificou inúmeras pessoas a fim de não machucar um animal faminto – Disse Jae fechando a cara – isso foi visto como traição, e isso seria usado como combustível para a revolta a tudo que se relacionava a ela, Mahina não se voltou a terra e ignorou a todos, as orações, os desejos e pedidos, as pessoas precisavam de um guia, de alguém para culpar e então culparam a Divindade, pois ela estava longe e era uma mulher. Chen Ren estava triste. Jae não parou de falar mesmo que notasse o silencio. As vezes olhava o outro para ver se estavam andando lado a lado. -Portanto, por 500 anos tudo que se relacionasse a ela era proibido, as Damas da noite? Antes mulheres de grande sabedoria e genialidade, agora se tornaram prostitutas baratas que só usam desse título para terem clientes, Flores Lunária? Ervas daninhas – Terminou Jae parando no caminho – então eu vou te dar um conselho, não saia por aí querendo ajudar as pessoas, ontem você não pensou sobre e acabou cometendo algo que para você foi um erro. -Eu só quis ajudá-la, não esperava que ela fosse me ameaçar – resmungou Chen Ren cruzando os braços. -E foi com esse pensamento que acabou daquele jeito, você esperava o bem das pessoas, mas as vezes elas não querem ser boas ou não podem – Retrucou Jae respirando fundo – me prometa que não vai se jogar no primeiro problema que ver. Jae semicerrou os olhos e se inclinou para a frente e arqueou a sobrancelha com o natural sorriso de canto desafiador. Chen Ren não disse nada e nem se moveu. Ele não poderia prometer que não ajudaria alguém, as vezes o pensar sobre se deve ajudar é o tempo que leva para a pessoa morrer. Ele aprendeu isso da maneira mais c***l que poderia esperar. -Ren – Insistiu Jae bem perto arrastando o nome dele com um sentimento estranho. Estranho ou familiar, seja como for seu coração deu um pulo. Mais que d***a, ele iria prometer aquilo? Ele não... não o faria. -Não posso prometer – Respondeu Chen Ren para o franzir das sobrancelhas alheias em desgosto – desculpe, mas eu não quero prometer que não vou ajudar. -Não precisa ajudar qualquer pessoa imprudentemente - Comentou Jae passando a mão no rosto. -Ajudar é humano - Retrucou Chen Ren um pouco irritado. -Mas você não é - Rebateu Jae impaciente - não estou pedindo que não ajude e sim que pense duas vezes antes, se você for ferido como acha que vou ficar? Se bem que não posso pedir que alguém como você faça algo assim. -Alguém como eu? Como o que? – Questionou Chen Ren confuso – se alguém pedir ajuda você não vai ajudar? Yanar Jae piscou e permaneceu com a expressão fria. Um som ao longe o fez desviar o olhar e o pássaro de penas vermelhas e azuis cantarolou. -Takuma – Cumprimentou Chen Ren mostrando a mão para o animal que animadamente voou até a cabeça dele e cantarolou na direção de Jae que fechou a cara – que passarinho fofo, onde você esteve? Estava construindo sua casa? comendo sementes? Takuma sendo um pássaro de raciocínio rápido cantarolou algo que deixou Jae irritado tanto que um som brutal saiu de sua garganta e o pássaro voou longe ainda cantando estridentemente. Ren fez um bico ao ver o animal sumir novamente e se voltou para Jae que voltou para a expressão mais calma. -Jae pode parar de assustar o Takuma? Não vê que ele é um passarinho fofo que não pode ser machucado? Eu amo e eu cuido – Repreendeu Chen Ren batendo o pé no chão. Jae soltou uma risada engasgada. Chen Ren ficou surpreso e o outro virou o rosto para controlar as risadas. Por um segundo a mente maldosa de Ren lhe deu uma ordem e ele obedeceu. Suas mãos apertaram a cintura de Jae e este se encolheu e se virou surpreso. Eles se entreolharam com uma conversa silenciosa. Ren começou a esticar os cantos dos lábios em um sorriso surpreso com a descoberta... -Não – Falou Jae em tom sério. Infelizmente para ele, Chen Ren não respondia bem a ordens de outros, principalmente quando se referia a Jae. Ele avançou e começou a fazer cosquinhas em Jae que riu alto. Sua face ficava ainda mais hipnotizante com um sorriso largo e alegre. Porém Ren se perdeu nesse momento de risadas e alegria que ele nem notou quando suas próprias mãos foram seguradas e então com rapidez pressionadas na parede atrás de si. Jae ainda tinha um sorriso nos lábios, mas este era sugestivo como se invocasse uma lembrança a muito esquecida. Si Woo com 18 anos o segurando no pequeno coreto que dava para um lago cristalino de carpas coloridos. Ele estava deitado no chão coberto por um tapete e com Si Woo em cima de si. Ele ameaçava beijá-lo, mas sempre que se abaixava, ele voltava a subir com um sorriso sacana que o irritava. A lembrança foi tão forte que o fez se inclinar para frente ficando rente à Jae que perdeu o sorriso e abaixou os olhos para os lábios que se projetavam em sua direção. O desafio era algo que Chen Ren era incapaz de resistir quando vinham de um olhar como aquele e vindo especificadamente dele. Jae voltou a se afastar e caminhar para longe do outro de costas para Chen Ren que estava decepcionado com aquilo. Era tão parecido com Si Woo, pensou Chen Ren com certa amargura. Suspirou e foi atrás, precisavam voltar, comer alguma coisa, dormir ou pensar na morte da bezerra, qualquer coisa que tirasse o amargor da sua boca quando Jae parou de repente. A Divindade imitou o movimento e ficou em silencio. -O que foi? – Murmurou Chen Ren preocupado com o que fizera Jae parar assim quando ele se virou com um olhar repreendedor – o que... Ao longe, muito abafado pela distância, ouvia-se gritos desesperados. De onde viriam? Ele virou a cabeça na direção do som e viu uma mulher chorosa tentando segurar a mão de outra que era arrastada por um homem. Aquela cena foi o bastante para que sua rota fosse mudada e ele começasse a se aproximar deixando Jae plantado no lugar em silencio. Ele não tentou impedi-lo, parecia apenas suspirar e esperar por alguma coisa. A cada passo ele conseguia ouvir melhor e palavras soltas eram ouvidas entre os soluços. ‘não a levem’ era algo recorrente nos gritos, mas parecia que os homens não se importavam com o caos que a mulher fazia quando por violência ele a empurrou e ela caiu no chão.
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