Pdv. Paola
Respiro fundo e caminho de volta para casa a pé porque não posso e nem tenho dinheiro pra pegar ônibus. Depois de várias tentativas frustrantes de conseguir um emprego e receber um não logo de cara, a minha auto-confiança nem existe mais. Estou desde as 7 da manhã procurando um emprego mas parece difícil alguém me contratar, não que eu já tenha sido presa ou coisa do tipo mas eles tem um certo preconceito com quem mora em morro, ainda mais se esse morro se chamar complexo da Coréia. Deixo minhas lamentações de lado e aperto o Passo, tenho que buscar minha pequena na escola, olho no relógio e vejo que são 16:00 horas, obrigada universo por me dar essa forcinha. Ando o mais rápido que posso, a essa altura já tirei até o salto que não é muito alto, e vou descalça, não demora muito e chego a tempo de pegar meu bebê.
- Mãe - assim que me vem correndo e pula no meu colo. - eu posso ficar em casa amanhã - enquanto ela fala sinto a sua voz falhar em um ato de tentar segurar o choro.
Minha filha sempre foi durona e nunca deixava se abater ou chorar, por mais difícil que seja a situação.
- Analu olha pra mamãe - peço colocando a mesma no chão que me olha relutante - oque aconteceu meu amor? - pergunto com calma, e com leveza na voz.
- É que - ela respira fundo, umas três vezes antes de falar. - mãe, me acusaram de ter roubado o celular da Thalia.
-É O'QUE ANA LUIZA LOPES? - acho que escutei errado, meu grito atraiu alguns olhares mas no momento não me importei.
- A diretora me chamou porque as garotas da minha sala disseram que eu tinha roubado o celular da Thalia, mas eu não fiz isso, mãe. - diz desesperada e com medo.
- Eu sei que não, filha - falei secando suas lágrimas que insistiam em cair, como uma cachoeira. - eu sei a filha que tenho e a educação que dei - falei me levantando e segurando em sua mão e entrando na escola.
Segurei na mão da minha filha e entrei dentro da escola, com a calma de Pedro. Eu caminhei o longo corredor até chegar na sala da diretora.
Bato duas vezes e a ouço me mandar entrar, e assim o faço, vejo a cara de paisagem dela e a raiva me consome, mas me controlo.
- Em que posso ajudar mãe?
- Eu vim tentar entender, como a minha filha roubou o celular de uma aluna, como acusaram sem ao menos revistar as mochilas e conferir se era verdade ou não. - Neste momento eu já estava com a voz alterada, o sangue já estava quente.
-foi uma brincadeira entre amigas de sala, foi somente um não entendido mãezinha. Não precisa se preocupar.
- Brincadeira é o c*****o - falei e a velha me olhou assustada - ja pensou se fosse minha filha que fizesse essa 'brincadeirinha' - fiz aspa com os dedos - oque a senhora iria fazer se soubesse que tudo não passou de uma brincadeirinha, de um m*l entendido - ela so me olha mas não fala nada - RESPONDE p***a - grito fazendo ela pular da cadeira.
- Eu iria expulsar sua filha da minha escola - diz tremendo de medo.
- A minha filha não estuda mas aqui - falei segurando na mão da minha filha, sei que eu não deveria fazer isso mas não pensei direito - e pode ter certeza que isso não vai ficar assim - falei saindo daquela escola.
Peguei minha filha no colo e fui pra casa, o caminho todo eu pensava o'que vou fazer? Não tenho trabalho nem comida, o aluguel está atrasado e não vai demorar muito e serei despejada. Assim que chego, coloco analu no chão e a mesma corre para tomar seu banho, e eu vou para sala pensar no que irei fazer, e sem perceber estou chorando de soluçar sem saber o que fazer da minha vida.
- Mãe - assim que escuto a voz de Analu tento secar as lágrimas - vai ficar tudo bem a senhora sempre dá um jeito. -fala me abraçando.
Minha filha só tem 7 anos, mas é mais adulta do que eu que tenho 24 anos, às vezes sinto vergonha até de mim, mas sempre tento o meu melhor.
- paola - ana entra praticamente gritando meu nome - que foi gente que tá todo mundo com essa cara de choro - perguntou vindo até nós - alguém morreu ou ficaram rica - como sempre fazendo graça
- Nenhuma das duas - respiro fundo - acordei e fui procurar um emprego mas é a mesma coisa de sempre ' não estamos contratando ' e agora analu não estuda mas..
- Como assim a princesa não estuda mais? Você ficou maluca - como sempre não deixando eu terminar de falar.
- As meninas da sala me acusaram de roubo - Analu solta um suspiro alto e continua - a diretora a princípio acreditou nelas, lógico. Só porque os pais são envolvidos. Ela nos levou até a sala dela, eu já não estava aguentando todo mundo me chamar de ladra, então peguei a minha mochila e joguei tudo o'que estava dentro no chão - lágrimas já escorriam de seus olhinhos - e de lá só caiu o meu material escolar, e quando a diretora olhou o da Thalia - outro suspiro e um soluço alto escapou de sua garganta - lá estava o celular dela.
Minha bebê chorou em meu colo, soluçando e eu a abracei a acalmando com o coração partido.
- isso vai ficar assim não. - foi tudo oq ela disse antes de se levantar e sair porta a fora.
- mãe , o que a minha dinda vai fazer? -
- Vai mostrar que ninguém mexe com a princesa dela.
Dito isso, Paola se levantou com Analu em seus braços já adormecida,com os olhinhos inchados pela choro recente. Ver sua filha tão frágil partia seu coração, por sua filha ela venderia sua alma ao d***o só para vê-la bem.
Narrativa Paola.
Conheci Ana quando cheguei aqui no morro, eu não conhecia ninguém, tinha sido expulsa de casa após descobrir que estava grávida aos 16. Nós nos conhecemos quando ela vinha do baile e sem querer me chutou.
Lembranças on.
Peguei um ônibus sem rumo algum, depois que descobri estar grávida tudo mudou. O meu namorado que dizia morrer de amores por mim me menosprezou me humilhou e ainda teve a cara de p*u de dizer que o filho não era dele mas a pior parte foi meus pais que não me deram a mão mas me jogaram na rua a própria sorte, e bom aqui estou eu subindo um morro sem saber oque vai ser da minha vida. Aonde eu ando tem homens armados e mulheres quase nuas falando alto, Seguro firme minha mochila e continuo andando até que paro e me sento no chão. Consigo escutar o barulho da música alta. Não sei por quanto tempo fiquei sentada ali mas as pessoas começaram a aparecer e me olharam como se eu fosse um extraterrestre até que alguém me deu um belo chute na minha perna.
- Ai meu deus me desculpa eu não te vi - falou desesperada como se fosse o fim do mundo - eu te machuquei? p***a tenho que prestar atenção e parar de beber tanto - ela continua falando e não sei como ela ainda tinha fôlego.
- Tá tudo bem você não me viu aqui e bem eu que tô praticamente estirada no chão - falo e ela começa a rir igual uma maluca e eu também. - me chamo Paola - falei estendo minha mão.
- Prazer, Ana - Segurou minha mão e me puxou para um abraço, era tudo oque eu precisava.
Lembranças off.
Desde então viramos melhores amigas, ela me ajudou durante a minha gravidez e a tia Sarah que foi como uma mãe pra mim também. Depois que ela morreu, uma parte de nós duas se foi. Se ela estivesse viva ela iria saber oque fazer, que falta a senhora faz.
Pdv. Ana.
Quem aquela p**a velha pensa que é para fazer isso com a minha afilhada? Ela comeu cocô ou bateu a cabeça em algum lugar? Num é possível. Saí possessa da casa de Paola e fui direto na boca falar com coringa. Demorou nem 3 minutos e já estava entrando sem bater, os vapor até tentaram impedir mas quem em sã consciência pararia uma mulher com raiva? Ainda bem que eles tem amor à vida. Entrei na sala e lá estava o safado que me deixa de pernas bamba e calcinha molhada, mas não vim aqui pra isso se controla, ana.
- A que devo essa ilustre honra de sua visita - se deboche fosse dinheiro esse filho da p**a tava rico.
- Tenho um assunto sério para resolver contigo coringa.
- Da qual foi? Solta a fita ai que eu resolvo pra tu - oque eu não peço rindo que ele não faz chorando?
- Minha afilhada foi acusada de roubo na escola e a filha da p**a da diretora não fez nada - enquanto eu falava ele só escutava e me olhava nos olhos, não sei como mas ele sabe quando minto e quando falo a verdade - eu sei a educação que paola deu a analu e a minha afilhada não é capaz de roubar uma agulha.
- E a diretora resolveu oque? - ela fez p***a nenhuma
- Ela resolveu c*****o nenhum e ainda disse que foi uma brincadeirinha de colegas - já tava p**a - e se fosse ao contrário a minha sobrinha teria sido expulsa - ele respirou fundo e levantou da cadeira.
- Vou falar com o chefe - me deu um beijo na cabeça e contínuo - mas pode ter certeza que vou resolver esse bagulho pra tu.
Balancei a cabeça e me levantei da cadeira e quando ia saindo ele me chama.
- Ou - paro na porta - o chefe tá procurando uma mina pra fazer umas visitas pra ele - e o'que eu tenho haver com isso? - se souber de alguém me avisa - fiz que sim com a cabeça e fui embora.