"Está bem Alexis, olhe fixamente para a frente para mim." Doutora Ericka foi gentil enquanto ela iluminava com uma luz e estudava os olhos da sua jovem paciente. "Ótimo. Agora, sem mexer a cabeça, siga a luz enquanto eu a movo."
O olhar de Alexis vacilou enquanto ela observava a luz mover-se constantemente dentro e fora do seu campo de visão limitado. Doutora Ericka assentiu e virou-se para o computador, fazendo anotações. O ritmo constante da digitação era o sinal de que o exame tinha acabado. Alexis permaneceu sentada na maca enquanto sua mãe esperava ansiosamente pelos resultados.
"E então?" Lynn perguntou quando a doutora hesitou.
"Como você sabe, Srta. Carter, a visão da Alexis tem se deteriorado rapidamente.", disse a doutora. "Alexis, seja honesta, como está a sua visão mesmo?"
"Eu consigo distinguir claro do escuro.", Alexis encolheu os ombros. Foi assim que ela conseguiu seguir a luz apesar da névoa cinzenta que consumia sua visão. "Honestamente, porém, isso não me incomoda muito."
"Lexi!", Lynn soltou um grito de surpresa diante da atitude despojada da filha.
"Alexis, seria possível a sua mãe e eu conversarmos um pouco?", perguntou a doutora.
"Claro.", disse Alexis, saindo da maca.
Retirando uma bengala dobrável que estendia até a sua altura total, ela a usou para varrer a área à sua frente até a porta. Ao alcançá-la, saiu e se dirigiu à recepção das enfermeiras, onde encontrou um lugar para se sentar.
Assim que ela se foi, a doutora virou-se para a ansiosa Lynn. Como todos os outros, Ericka havia tirado suas próprias conclusões sobre o nascimento das crianças, mas depois de conhecer Lynn por vários anos, ela percebeu que os rumores sobre a outra mulher não poderiam ser verdadeiros.
Lynn era uma pessoa gentil e genuína. Seu amor pelos filhos não poderia ser negado. As crianças nunca perderam uma única consulta ou vacinação. Era claro que ela sacrificava tudo para garantir que as crianças permanecessem saudáveis. Na verdade, além da visão falhando cronicamente de Alexis, nenhuma das crianças jamais sofreu mais do que um resfriado. Essa atenção simplesmente não combinava com a imagem de uma mulher promíscua da noite.
Sem dúvida, havia mais na história do nascimento dos trigêmeos, mas não cabia a uma médica bisbilhotar na vida privada das suas pacientes. Assim que a porta foi fechada, ela suspirou e disse: "Srta. Carter, acho que precisamos ser realistas. Você ouviu a Lexi."
"Mas... não é sem esperança, certo?"
"Condições degenerativas são progressivas e muito difíceis de tratar.", explicou Ericka. "O prognóstico para elas é inevitável. Eu esperava poder retardar a cegueira da Alexis, mas o processo foi inesperadamente rápido para ela. Isso não diz nada sobre você. Lexi é muito feliz e saudável. É apenas a natureza da condição."
"Então... não há nada que possa ser feito?", Lynn perguntou com lágrimas embaçando sua visão.
"Tenho lido sobre diferentes avanços. Há um cirurgião que tem feito um trabalho impressionante e teve algum sucesso com pacientes semelhantes a Lexi. Mas o tratamento ainda é experimental... e muito caro."
"É claro que é.", Lynn finalmente desabou.
Por mais que ela tentasse, por mais que trabalhasse duro, tudo se resumia ao dinheiro e à quantidade que ela nunca teria. Seus filhos sempre sofreriam por causa de suas deficiências.
"Vai ficar tudo bem, Srta. Carter", Ericka entregou um lenço a Lynn. "Você criou uma filha forte e inteligente..."
* * *
Alexis suspirou enquanto estava sentada. Supôs que esse dia era inevitável. Desde os seis anos, seu campo de visão havia diminuído rapidamente. Seu campo periférico estreitou, dando-lhe uma visão em túnel, mas isso também falhou eventualmente. Seu mundo se dissipou em uma névoa cinza. Distinguir claro do escuro era praticamente tudo que ela era capaz de fazer agora, embora fosse boa em fingir, pelo menos para o bem da sua mãe.
"Sigam-me, cavalheiros. Este é um de nossos salões de espera. Este andar é principalmente para consultas de rotina e diagnósticos iniciais.", explicou o diretor do hospital enquanto conduzia seus convidados. "Esta área em particular é para nossos pacientes com deficiências sensoriais."
"Ó diretor, você poderia olhar para isso, por favor?"
"Com licença.", o diretor se desculpou e foi atender a enfermeira que se aproximava apressadamente.
Com grunhidos, seus convidados ficaram na estação das enfermeiras. Embora Alexis não pudesse vê-los, ela sabia que havia dois. Ambos caminhavam com confiança, como alguém que sabia que o mundo era seu. Ainda mais distintivo era o aftershave deles. Um deles era muito caro. Ela podia dizer pelas nuances complexas do aroma. O perfume barato tinha um cheiro musgoso forte o suficiente para fazê-la engasgar com uma única baforada. Seus irmãos frequentemente zombavam dela por sua obsessão por cheiros, alegando que ela era parte bloodhound. Mas não é como se o seu sentido de olfato fosse melhor ou pior do que o deles, ela apenas prestava mais atenção porque não podia confiar na sua visão. Era a mesma coisa com a sua audição.
Os passos deles eram distintos. Provavelmente estavam usando mocassins em vez de tênis. Até mesmo suas roupas faziam um som característico ao roçarem uma na outra enquanto esperavam. Com certeza era seda ou cetim, o que significava que provavelmente estavam usando ternos caros.
Mesmo sem sua visão, ela conseguia captar muitas informações sobre os dois homens que esperavam perto. Eles estavam sozinhos, sem crianças, então era improvável que fossem pais de um paciente. Eles eram ricos ou tinham origem em famílias ricas, então mesmo que tivessem filhos, ela duvidava que usassem os serviços deste hospital. A forma como o diretor estava agindo indicava que eles provavelmente eram investidores aqui para fazer uma doação.
“Você sabe que é rude ficar olhando fixamente.”, interrompeu uma voz masculina áspera seu debate interno.
“Oh? Eu não saberia.”, Alexis respondeu facilmente.
“Com licença? Quem é você?”, perguntou o homem.
A mera exigência dele era o suficiente para dizer a ela que ele era alguém acostumado a conseguir o que queria. Isso apenas a deixava mais determinada a frustrá-lo. Ela não devia respostas a ele e odiava pessoas que se achavam tão superiores a ponto de ignorar os outros. Aquelas eram o tipo de pessoas que era divertido colocar em seu devido lugar.
“Quem sou eu? Bem, vamos esclarecer isso, certo? Um, eu tenho dez anos, o que me torna uma criança de acordo com a convenção moderna. Dois, este é um hospital infantil, então é razoável supor que eu seja uma paciente. Três, esta sala de espera é para consultas relacionadas a deficiências visuais e auditivas. O que significa que seu comentário anterior sobre eu ficar olhando foi incrivelmente rude, não acha?”
“...Você é...cega...”, disse ele lentamente, juntando as peças conforme ela as colocava.
“Viu só? Isso não foi tão difícil de entender.”, disse Alexis com um sorriso que fazia seus olhos verdes sem visão brilharem.
O companheiro do homem riu, dizendo: “Ela é firme. Você precisa admitir isso, Si”.
“Onde estão seus pais?”, perguntou o primeiro com mais gentileza desta vez, embora Alexis não precisasse de sua simpatia.
"Mãe.", ela corrigiu, embora não tenha explicado a ausência de seu pai. "Minha mãe está conversando com a doutora sobre a possibilidade de eu recuperar a visão".
"Você consegue?", perguntou ele.