Capítulo Três

1350 Words
Silas suspirou ao se sentar em sua cabine reservada. Pelo menos aqui ele não precisava mais se preocupar com pessoas o incomodando. Não importava para onde ele ia, as pessoas o abordavam esperando conquistar um aliado ou patrono poderoso. Era ainda pior entre essa multidão. Hoje à noite era a Competição Musical de Todos os Bairros. Começou como uma competição amigável e de caridade para escolas públicas e privadas mostrarem seus músicos mais talentosos. Havia troféus, bem como um prêmio em dinheiro para a escola vencedora na forma de uma bolsa de estudos para o programa de música da escola. Ao longo dos anos, ela se tornou mais elitista. Menos escolas participavam agora e as que participavam eram principalmente escolas particulares e charter's. A bolsa de estudos ainda era oferecida, mas agora o prêmio principal era o direito de se gabar, bem como o avanço automático para o Festival de Música da Cidade no ano seguinte. Como qualquer empresário, Silas sempre foi cuidadoso para equilibrar suas doações de caridade e atividades com seus interesses comerciais. Essa era uma das razões pelas quais ele concordou com o pedido do Diretor Weston de patrocinar uma ala nova para o hospital. Era também a razão pela qual ele estava aqui. Ele nunca perdia nenhuma competição musical notável ou recital que ocorria ao longo do ano. Sua presença constante em tais eventos naturalmente lhe trazia muita atenção. Sem surpresa, muitas pessoas incentivavam seus filhos a participarem, esperando impressioná-lo e obter favorecimento antes de abordá-lo com propostas de negócios. Silas certamente não podia criticar sua astúcia, mas essa não era a razão pela qual ele estava aqui. Ele vinha a esses eventos para relaxar, para lembrar e talvez, apenas talvez, encontrar alguém. "Algum problema?" Thomas perguntou, ficando à disposição caso ele precisasse de algo. Apesar do fato de serem amigos, eles também eram empregador e empregado. "Aquela garota do outro dia deve realmente ter te deixado confuso." Silas grunhiu, sua mente voltando para a estranha e corajosa garota do hospital infantil. Não havia como negar que ela frequentemente vinha à mente nos momentos mais estranhos. Ela era audaciosa e sem medo, cheia de orgulho e sem medo de falar sua mente, mesmo para um completo estranho. Mas eram seus olhos verdes que simplesmente não o deixavam descansar. Eles o atraíam, praticamente exigindo que ele se lembrasse de algo importante. Se ao menos o Diretor não tivesse voltado quando voltou. Silas sentiu que se tivesse tido um pouco mais de tempo, sua mente finalmente teria decifrado a sensação extraordinária que fazia seus cabelos se arrepiarem. Mesmo agora, seus pensamentos pairavam sobre um precipício que não se atreviam a cruzar. "Não é nada.", disse Silas finalmente. "Vamos apenas aproveitar a noite." "Para mim está ótimo", concordou Thomas, mas não pôde deixar de lançar um olhar preocupado ao amigo. Com quase trinta anos, Silas Prescott desfrutava de mais sucesso e privilégios do que a maioria das pessoas com o dobro da idade poderia esperar. Mas isso não lhe trazia alegria. Dinheiro e poder não eram as coisas que Silas valorizava ou cobiçava. O que Silas queria, o que ele precisava, o que ele nunca expressava em voz alta era uma família: esposa e filhos. Desde o ensino médio, Silas foi cortejado por várias garotas e mulheres. Algumas ele rejeitou completamente, outras ele entretia, mas nunca levou a sério. Nenhuma teve sucesso em tocar seu coração, um coração que estava reservado para uma única mulher. Seu nome estava permanentemente gravado na alma de Silas, é um nome que ele nunca disse em voz alta. Thomas tinha medo até de mencioná-lo. Apesar de sua obsessão, o objeto de seu desejo permanecia escondido e fora de seu alcance. Felizmente, as luzes diminuíram, libertando-os de uma conversa mais longa, enquanto o apresentador aparecia no palco para dar as boas-vindas à plateia: "Olá, senhoras e senhores. Bem-vindos à 48ª Competição Musical de Todos os Bairros. Temos mais de cem participantes de trinta escolas competindo este ano, a maior de todas. Então vamos nos sentar e aproveitar! Para começar, temos o Quarteto de Cordas de Birch Wathen." A multidão aplaudiu educadamente enquanto três meninos e uma menina subiam ao palco para ocupar seus lugares. Levou alguns minutos para eles prepararem seus instrumentos e partituras. Então finalmente começaram a tocar. Quando terminaram, a multidão aplaudiu educadamente novamente e eles saíram para se juntar à família e aos amigos na plateia. Assistentes de palco moviam cadeiras e cavaletes de música, preparando-se para o próximo ato antes de anunciar. E assim a noite progredia. Algumas escolas eram representadas por um único músico, outras por uma banda inteira. Essa competição específica não limitava a participação, como resultado, escolas com mais recursos enviavam grupos maiores para uma apresentação mais impressionante. Silas assistia impassível. Apesar de seu registro de comparecimento, ele não era um amante das artes ou da música em particular. Os músicos no palco estavam longe de serem profissionais, então ele não esperava muito de suas apresentações também. Ele vinha porque uma única visão também o impulsionava, uma visão e uma crença de que eventualmente encontraria o que estava procurando.Não é surpreendente que Riverdale tenha enviado uma orquestra inteira para entregar o momento culminante da noite. Apesar de ser sua alma mater, Silas não ficou impressionado. Ele não sentiu nada de especial nessas crianças que, sem dúvida, eram filhos e filhas de seus próprios colegas de classe. "Bem, acho que é isso.", suspirou Thomas. Depois do último competidor, haveria um breve intervalo antes que os vencedores fossem anunciados, mas Silas nunca ficava tanto tempo. Ele sempre saía cedo para evitar pais muito ansiosos esperando que as performances de seus filhos o impressionassem. "E agora, o último competidor da noite,Escola Pública Anna Silver, Srta. Alexis Carter." "Sério?" Thomas zombou. "Por que fariam alguém seguir aquilo?" A multidão parecia concordar, alguns já se dirigindo às portas em antecipação ao intervalo quando o anúncio foi feito. Sua surpresa só aumentou quando uma jovem de vestido preto simples com mangas listradas emergiu do lado do palco. Em sua mão, ela carregava uma longa bengala flexível, que balançava para frente e para trás enquanto caminhava pelo palco. "Tudo bem, Lexi!" "Vai, Lexi! Vai!" Aplausos irromperam em algum lugar da multidão, enquanto a jovem orgulhosa e cega chegava ao centro do palco, onde o piano esperava. Sua bengala bateu no banco e ela se curvou ligeiramente, tocando o banco antes de sentar. Com habilidade, fechou sua bengala e a colocou no piano, onde normalmente estaria a partitura, mas é claro que não havia. Sob o escrutínio da plateia, ela passou os dedos pelas teclas, tocando uma enquanto ajustava seu assento e se acomodava. Respirou fundo e começou a tocar. Assim que a garota apareceu no palco, Silas e Thomas a reconheceram imediatamente. Thomas olhou para o amigo, mas Silas estava totalmente focado na garota. Por que ela estava ali? Era um sinal? O que isso significava? Então ela começou a tocar. A peça era instantaneamente reconhecível, "Für Elise", de Beethoven, mesmo que alguém não a conhecesse pelo nome. Na verdade, outros cinco competidores também tocaram a mesma peça, mas isso era diferente. Ela não tinha partitura, então tocava apenas de memória, e além disso, não apenas tocava a peça como originalmente composta. A melodia estava lá, mas ela adicionava seus próprios floreios, novas e diferentes oitavas, tornando a peça mais complexa, pessoal e viva. Ela balançava com o ritmo de sua música, os olhos meio fechados, com uma expressão serena de amor e alegria pura pela música. A melodia se construía até um incrível clímax, cativando seus ouvintes. Silas ele mesmo estava à beira da cadeira, cativado. Uma vez, apenas uma vez, ele havia ouvido uma execução tão magistral. Também foi tocada por uma jovem quase mulher. Seus cabelos eram uma farta juba de castanho-escuro e seus olhos, um verde claro brilhante. Visões dela tocando passaram por sua mente, sobrepondo-se àquela à sua frente. As visões se encaixavam como espelhos. Exceto pelo fato de que a garota à sua frente tinha cabelos lisos, era uma combinação perfeita... mas isso era impossível, a não ser...
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