A noite passou rápido, Oscar levantou ansioso, tinha uma hóspede linda e misteriosa em casa.
-- Ela entra como se fosse dona, e vai pro quarto como se fosse dela, uma mulher mandona talvez. – Relembrava a chegada dela e sorriu para si.
As instalações da pensão eram ótimas, não para um hotel cinco estrelas, mas bastante confortável ante a expectativa de Samantha, que tinha levantado e revistava o quarto com olhos críticos.
Era quase uma inspeção de qualidade, os cantos a pintura, nada ali lembrava a sua infância, tudo transformado em algo novo, apenas o banheiro permanecera, como se soubessem que ela gostava dele assim.
A ideia de retornar não fora dela, ela tinha uma missão, cumprir uma promessa feita no leito de morte.
– Por que as pessoas fazem promessas?
E lá estava ela, de volta a lugar nenhum, com um charmoso gerente de pensão.
Ter um gerente em sua casa era estranho, mais estranho era ele não saber disso ou fingir não saber.
Bem, ela teria que descobrir o que ele sabia como estava gerenciando a residência dos Fantini 's, tinha muito que descobrir uma cidade inteira para desvendar o mistério da sua família, do seu passado. Por que as coisas aconteceram de forma tão trágica que as pessoas preferiram dizer que era uma lenda da cidade.
Até bem pouco tempo era uma lenda para ela também. E agora que o avô morreu e contou a verdade, ou como ela gosta de pensar, a versão dele, ela precisava conhecer as outras versões, não é vingança que ela busca, mas justiça e para que esta seja cumprida ela precisa estudar a história da cidade, e ao menos de história ela entendia.
Sempre gostou do tema, e tornou- se uma historiadora profissional e reconhecida no seu ramo.
Com uma pontinha de orgulho de si e uma lágrima saudosa no canto dos olhos, levantou da cama como se estivesse em fuga, essa agilidade era sua marca peculiar.
-- Fez um r**o de cavalo em seus cabelos de fogo e saiu andando pela casa, como quando criança passando as mãos na parede.
Passou pela sala de café e lembrou que estava faminta, tinha chegado tarde e cansada e apesar de agora estar com o físico refeito precisava de mais energia.
O cheiro de café recém-torrado, a mesa posta ela não resistiu.
-- Bom dia - Disse com o sorriso e ficou de frente a uma senhora pálida de olhos claros esbugalhados.
-- Ai desculpa, eu te assustei.
A mulher continuava parada, então.
-- Você não envelheceu nenhum dia. Disse e desmaiou. Samantha só teve tempo de acolchoar a cabeça da velha senhora em seu colo.
Nesse momento Oscar adentrava pela porta e meio confuso com a cena tentou entender o que acontecia.
-- Eu não sei o que houve, ela estava pálida e eu a assustei, mas ainda não sei por quê.
-- Ah vamos levá-la para o sofá, e reanimá-la depois veremos o que houve.
O exercício de carregar a velha senhora foi delicado e demorado, Samantha estava com medo de quebrá-la, e pensava que céus esta mulher é tão velha quanto a história, ela não podia deixar de pensar no que tinha ouvido. “Não envelheceu nem um dia”, como assim?
Já no sofá ela olha para Oscar fazendo os primeiros socorros, obedecia às suas ordens no automático e nem percebeu que sabia onde estava a caixa com os medicamentos. Ele percebeu, mas tinha urgência em reanimar dona Lúcia.
E os odores surtiram efeito, aos poucos ela retomava a consciência. Ainda meio atarantada olhou para Samantha e repetiu. -- Você não envelheceu. E deixou lágrimas saírem dos olhos.
-- Lúcia, você está bem? – Perguntava Oscar, claramente preocupado – Você conhece a Samantha, de onde?
-- Não, o nome é Fernanda. Eu me lembro quando ainda jovem ela teve que ir embora, foi antes do grande incêndio, você era muito jovem. – Disse isso com uma clareza assustadora, mas era óbvio os traços senis no seu olhar.
Ainda assim Samantha sentiu arrepios. E o olhar indagador do dono da hospedaria a estava deixando desconfortável. Então ela sorriu meio em dúvida.
-- Desculpa, mas eu me chamo mesmo Samantha, e não sei mas se você estiver se referindo ao incêndio desta casa, isso tem mais de 20 anos não?
Ele aquiesceu.
-- Me fale da Fernanda dona Lúcia. Ambos perguntaram.
Ela então levou a mão ao rosto de Samantha, deixou-a deslizar suavemente como se estivesse tocando uma boneca rara de porcelana com um r**o de cavalo.
-- Me desculpe, menina estou ficando velha, e nossa como você se parece com ela. Eu não me lembro dela ter tido filhos, mas com certeza vocês seriam da mesma casa.