Atração

2820 Words
P.D.V: Lena Ando na direção contrária da estrada por muito tempo. Já está escuro e vejo em um relógio de rua que já passa das dez. Não podia voltar, os policiais deveriam estar em alerta, e a casa de Graham ficava naquela direção. Eu não sei pra onde ir e nem o que fazer, como me esconder. Chego então em um lugar movimentado, um boulevard. Várias lojas de roupa estão fechadas e alguns restaurantes abertos. Andando por ali, vejo um salão de beleza. Está apagado, mas com a porta principal entreaberta. Os funcionários devem estar indo embora. Então tenho uma ideia que não me salvaria, mas ajudaria. Me aproximo da porta e entro e, verificando que ninguém está olhando, pego uma peruca loira que estava posicionada em cima do balcão. Coloco-a sobre os meus cabelos e saio dali. Agora posso caminhar com mais tranquilidade, será mais difícil alguém me reconhecer. Preciso melhorar minha aparência para tentar planejar qualquer coisa. Ninguém me ajudaria com essa cara desesperada que estou. Vejo um bar aceso com luzes neon coloridas e decido ir lá. Quando entro, vejo várias pessoas bebendo e comendo. O bar é todo aceso com luzes douradas, as mesas limpas, redondas com cardápios combinando. Tem alguns bancos giratórios perto do balcão onde as bebidas são preparadas, mas apenas um homem está sentado lá. Do outro lado, pequenos sofás cor-de-rosa são acompanhados por uma mesa baixa com panos e copos de vidro vazios, mas também não tem ninguém ali. A maioria está nas mesas de jogos ou numa pista de dança nos fundos. Atravesso todo esse ambiente e vou até o banheiro feminino. Me olho no espelho e vejo uma mulher com o dia arruinado. Tenho olheiras, minha sombra está borrada e estou pálida por causa do frio. Trato de jogar água no rosto, mas não ajuda. Minha maquiagem estava no carro de Graham, até isso eu perdi. A única coisa que salva é "meu" cabelo loiro. A peruca. Tenho cinco dólares no bolso da calça e decido tomar uma água antes de voltar à rua. Assim ninguém desconfia pelo motivo que eu entrei aqui sem fazer nada. Quem sabe assim arrumo uma ideia. Me aproximo do balcão, sento em um dos bancos giratórios e faço o pedido. O cara sentado do meu lado está completamente bêbado. Tem vários copos ao seu redor e mais dois para serem virados. Ele entorna um e logo em seguida outro, e já está pedindo mais. Fico preocupada, e se esse doido tiver uma overdose aqui e a polícia chegar? Tento ignorar. Eu não ficaria ali por tanto tempo assim mesmo. O garçom me traz um copo de água e, enquanto eu bebo, o homem ao meu lado grita: – GARÇOM, MAIS UMA RODADA! Quando ele grita, cospe em tudo, até em mim. Fico enojada, com raiva, quero descontar em alguém: – Seu i****a! – me levanto com raiva. Ele me olha dos pés a cabeça, quase me avaliando. – Algum problema? – ele me afronta. – Você cuspiu em mim! – Aaah é mesmo? – ele fala com a língua enrolada. – Que peeeena! – Bêbado inútil... – falo baixo comigo mesma. – Olha como você fala comigo sua... Sua... Poxa, até que você é bonita, não sei como te ofender. Reviro os olhos e me sento novamente, tentando beber a água que comprei. Mas acho que ele cuspiu nela também. – Não, você não é bonita, não. – retoma o bêbedo, falando o inverso do que tinha falado há alguns segundos. – Nenhuma mulher é. Vocês são monstros. – Coitado! – sinto pena dele, de verdade. – GARÇOM, MINHA BEBIDA, RÁPIDO! – Você não deveria beber tanto. – tento dizer em um tom amigável, estou ficando preocupada. – Isso não é da sua conta, gracinha. Eu não tenho valor mesmo. – Você está sozinho? – pergunto. – Sozinho em todos os sentidos. – ele dá um gole na bebida. – Traído, abandonado. – Eu também. Uma ideia suja me passa pela cabeça. E se eu seduzisse esse homem? Ele está mais bêbado do que qualquer um nesse bar, jamais se lembraria do que aconteceria. Ele me levaria pra casa, eu lhe tiraria as roupas e, assim, pegaria sua carteira e poderia sumir daqui. Eu só precisava embebedá-lo um pouco mais, assim quando fugisse com o dinheiro dele, nem seria capaz de correr atrás de mim. Não seria crime, apenas aproveitaria o momento. Ele jamais teria provas. Nem se lembraria. O garçom coloca mais duas bebidas sobre o balcão, as duas para o homem. Decido me aproximar. – Posso? – pergunto-lhe, segurando um dos copos. Ele dá de ombros e pega o outro copo. Eu dou um pequeno gole para fingir. Odeio álcool. – Essa deve ser a melhor saída mesmo. – digo. – Quem trairia uma gracinha como você? – ele pergunta. – Acho o mesmo de você. – retruco. Ele ri alto, bem bêbado: – Eu sou um merda. – Te disseram isso, por acaso? – pergunto-lhe. – Algumas coisas nem precisam ser ditas. – Algumas sim...  Ele dá um longo gole e, em seguida, desabafa um tanto decepcionado: – Eu ia casar com aquela mulher! Como fui tonto! – Sério? O que você fez para ela te trair? – Não sei, não sei, não quero nem pensar. – Você deve ser um cara ausente e a deixou sem atenção. – sugiro tentando provocá-lo. – Sou um cara ocupado, não ausente. Ela que é uma vagabunda. Opa. – Então por que se apaixonou por ela? – Talvez o d***o saiba. – responde-me secamente. – Bom... – suspiro. – Não quero me meter na sua vida, mas beber desse jeito não vai te fazer bem. – Só quero esquecer o que vi. – Pense em outras coisas. – sugiro. – Não tem nada tão bom quanto ela. – Eu aposto que sou melhor que ela. Ele me olha. Dos pés à cabeça, novamente. Dessa vez faço o mesmo. Reparo em suas roupas bem quentes. Seu rosto com a barba crescendo, os olhos castanhos misturados de decepção e esperança. Os cabelos escuros bem cortados, o braço e o peitoral marcados, bem fortes. Ele deve ser atleta. Alguma coisa acontece nesse momento. Não imagino o que seja, mas sinto certa vontade de continuar olhando para ele. Porém, olho para o lado, mexo na peruca e tento controlar meu riso. Ele também desvia e dá mais uma gole na bebida. Meu plano pode funcionar. – Você é meio oferecida, não é? – diz ele. – Por quê? Oferecida? i*****l. Mas se ele acha isso, melhor não discutir. – Só estou decepcionada. Era pra estar com meu namorado, mas deu tudo errado. – Era pra estar com minha noiva. Que coincidência. – Vamos andar por aí? – pergunto. – Talvez sua solidão complete a minha. – Pode ser... Ele se levanta do banco e quase cai. O seguro pela mão e rimos, ele mais alto que eu. – Eu te ajudo... Decido não ir muito longe por enquanto. Continuo segurando sua mão até irmos para o canto dos sofás rosas, onde ainda não tinha ninguém. Ele se senta e decido que é hora de começar com o plano. Abro três botões do meu casaco preto e me sento bem perto dele. – Você é bem gata mesmo. – ele olha rapidamente para meu decote e depois mira em meus olhos. – Espero que eu me lembre de você amanhã. Só um bêbado para me achar bonita nesse estado que estou. Mas tudo bem. – Acho que você pode ter outras coisas para lembrar, se quiser. – apoio minha mão em seu tórax após dizer isso. – Meio não, você é completamente oferecida. – responde-me rindo. – Já disse que era para estar com meu namorado, e odeio me sentir sozinha, ainda mais nesse frio. Não pode me culpar por isso, né? – E por isso você sai a procura de qualquer homem bêbado e solitário. – Tive sorte. Achei um bêbado solitário que é um gato. – acaricio seu pescoço e levo meus lábios até sua orelha esquerda, onde deixo uma leve mordida. Me sinto m*l fazendo isso. Mas Graham entenderia. E, pensando bem, acho que ele faz coisas piores quando não está comigo. Ele talvez faria o mesmo. Só estou fazendo isso por nós. – Gata, isso não é certo... – ele reclama mas não me interrompe. – Você não quer esquecer o que viu? Eu posso te ajudar. – Mas isso não é certo... Nem nos conhecemos... Só faltava ele querer bancar o santinho agora. Ha! – Isso é melhor ainda. – respondo com uma voz rouca em seu ouvido. – Você é interessante. – diz ele, rindo. – Estou gostando de você. – E disso? – levo minhas mãos aos botões de sua calça e os abro. – Gosta? – Gata... – Se dizer que gosta eu só vou mais longe. – provoco. Ele ri. Só ri e conversa, parece que não vai levar a nada se eu não agir. Tento olhar para seus bolsos, mas não vejo nenhuma carteira. De repente, sua risada cessa. Ele fica sério, um rosto tão lindo que quase me faz derreter. Também se aproxima e segura meu rosto. Sinto sua respiração e de repente meu coração começa a pular. Acho que estou ficando atraída por ele, e essa nunca foi minha intenção. Ninguém além de Graham chegava tão perto assim de mim.  Puta merda, ele está cada vez mais perto. Vai me beijar. Está abrindo os lábios. Eu devo me afastar. Penso em Graham, penso no meu plano. Antes de pensar mais, seus lábios encontram o meu e nos beijamos. Abro minha boca e agarro a dele, seguro seu rosto e sinto suas mãos em minhas coxas. Ele me puxa para mais perto, nossas línguas se encontram e nos beijamos intensamente. Foi muito melhor do que pensei. Mas preciso de dinheiro, preciso de Graham. Volto ao plano, me afasto dele rindo. – Vou buscar mais uma bebida pra gente. – Fica aqui! – ele me envolve em seus braços. – Mas estou com sede. – disfarço. – Tá... Mas não demora. – pede. Percebo que ele me solta e saio dali, voando para o balcão. Como sou burra! Quero seduzir um homem e quando ele me beija fico nervosa como uma adolescente?! Preciso me focar mais, levá-lo logo pra casa e acabar com essa história, sair dessa cidade o mais rápido possível. Peço ao garçom a bebida mais forte do cardápio e uma água para mim. Ele vai buscar. Olho na direção do sofá que estamos e vejo aquele rapaz tão lindo brincando com os copos. Tenho uma sensação esquisita, como se eu quisesse conhecê-lo melhor, ou ter feito isso antes da minha vida ter virado uma bagunça. O garçom me entrega os dois copos. Agradeço e volto para o sofá. – Gata, me diz seu nome. – Me chamo Ashley. – decido mentir porque minha intenção é não vê-lo mais e não quero que essa situação fique muito próxima. – E você? – pergunto. – Gabriel. –  responde-me. – Você tem algum lugar para passar a noite? – pergunto direto o que me interessa. – Tenho, mas não vou. Não quero dormir onde vi minha noiva me traindo. – Ainda está lembrando disso? Quero que pense só em nós. – Juro que estou pensando, mas... Eu amo aquela mulher. – ele admite. – Aquela cretina. – Traia ela de volta. – digo. – No mesmo lugar. Sei que nunca mais se sentirá m*l quando se livrar desse sentimento. – Eu não sou desse tipo. Droga, vai dar tudo errado. Estou perdida. – Peguei pra você. – lhe entrego o copo com a bebida mais forte. É a minha última tentativa. Ele vira o copo e toma o líquido bem devagar. – Se passasse dez minutos comigo esqueceria essa cretina. – falo com firmeza. – Você é o quê? – ele pergunta. – Garota de programa? Vou acabar me irritando de verdade. – Pra você sou o que quiser. – penso comigo mesma que foi uma boa resposta. Ele entorna o copo de vez e termina a bebida. – Só quero me divertir. – me aproximo dele e deposito um beijo em seu rosto. – Não tenho medo de uma noite.  De uma noite que não vai acontecer. – Mas e seu namorado? – Gabriel pergunta olhando para minha boca. Por que ele foi falar de Graham, por quê? Eu nem sei mais o que pensar. – Ele não está aqui agora. – Que casal liberal! Chega. Estou exausta de tentar, vou para o ataque e sem volta. Envolvo o corpo dele em meus braços, de modo que ele não escaparia e ainda ficaria louco por mim. – Você não vai se arrepender. – sussurro. – Ashley, você é muito linda, mas eu era fiel a uma mulher há algumas horas. Eu não mudo assim tão rápido, mesmo estando bêbado. – E eu não desisto assim tão fácil. – mentira, estou quase indo embora. Ele ri. Então eu o beijo, esperando que ele finalmente ceda. O segundo beijo é tão bom quanto o primeiro, me deixa tão encantada quanto antes. Gabriel encaixa minhas pernas em seu colo, acaricia minhas costas enquanto me beija com força. Está bom de verdade, meu Deus, eu estou gostando. Foco. Foco. Me separo do beijo e fico de pé. Ele também se levanta, se aproxima e sussurra no canto de minha orelha: – Vou pagar essa conta e vamos dar o fora daqui. Eu sorrio aliviada. Gabriel se encaminha para o caixa com a carteira na mão (!!!!!!) enquanto eu vou para a porta, fingindo não notar os cem dólares que ele retira dali. Tudo certo, ele se aproxima de mim e caminhamos pelo boulevard, agora ainda mais vazio. – Pra onde vamos? – pergunto-lhe com um sorriso. – O hotel não fica longe. Hotel. Então ele não mora aqui. Melhor ainda. Andamos devagar pelas ruas até chegarmos a um enorme hotel espelhado. Deve custar uma fortuna e eu tranquilizo-me pois tinha escolhido a pessoa com a carteira certa. Entramos, atravessamos o saguão trocando olhares e subimos pelo elevador. Saímos no terceiro andar e damos passos lentos por um corredor. – Esse é o meu quarto. –Gabriel revela apontando para a porta número trinta e cinco. Nesse momento, um casal sai de um quarto próximo. Uma mulher alta, loira, olhos verdes, bem vestida de casaco de pele e calças grossas acompanhada por um homem também bonito, barbado, um pouco mais baixo que ela. Eles olham estranho para nós. – Vejam só! – grita Gabriel, me assustando. – Parece que não foi uma armação, não é, Erika? – Meu Deus, você está bêbado! – ela reage. – Isso não te interessa mais, cretina. Cretina? Ah não... Será essa a noiva que o traiu? – Não fale assim com ela! – retruca o homem. – Não liga, Paul. – diz a mulher. – Ele parece bem, está até saindo com outra. Outra? Eu só consigo dar uma risada debochada. – Vamos embora, não temos o que discutir com eles. – despreza o homem, entrando com a loira no elevador. Ficamos só eu e Gabriel. – Cretina! – reclama ele. – Tentou me enganar mesmo depois de eu descobrir tudo. O pior é que ela me usava, gastava meu dinheiro todo... – Como assim? – pergunto em um tom mais alto. – Gastei tudo com a hospedagem dela! Eu fui um i****a. – Você não tem nada? – Não. – ele me olha desconfiado. – Você disse que não era uma daquelas... – Claro que não, tudo bem. – eu tento disfarçar, mas estava tão desapontada! Minha única chance de arrumar dinheiro era impossível. Eu nem sabia o que dizer, afinal, não queria nada com ele. Gabriel abre a porta do quarto e vejo apenas umas sombras da cama e dos móveis. Ele aponta para dentro, esperando que eu entrasse. – Sa-sabe... – gaguejo; minha mente está embaralhada, minha voz  trêmula, eu nem sei quais palavras dizer. – Você deve estar muito triste com o que viu aqui, é... É melhor nos falarmos outro dia. – De jeito nenhum! – ele me segura. – Você disse que me faria esquecê-la. Prove. Olho em seus olhos, os acho tão lindos. Gabriel me beija repentinamente, me abraça e me levanta do chão. Eu só consigo retribuir e acariciá-lo. Nem o roubo, nem Graham ou nada do meu dia desastroso passam pela minha cabeça naquele instante. Me deixo levar por um desejo desconhecido, e apenas sinto o gosto dele. É muito bom. É quase o que eu preciso. Talvez eu não queira admitir que os beijos dele acabaram me confortando mais que dinheiro. Minha mente se esvazia. Eu não consigo mais resistir a nada. E, mesmo se quisesse, era tarde demais. Eu já estava em sua cama.
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