CAPITULO 17

1003 Words
— Então, Catarina — ele começou, com um tom neutro demais para ser genuíno — você sabia que Adam Scott está desaparecido? Mantive o rosto imóvel. Nada de reações. Nada de entrega. Isso era jogo de poder, e eu jogava melhor do que muitos. Ainda assim, a menção ao nome dele fez algo dentro de mim estremecer. — Desaparecido desde quando? — perguntei, entortando levemente a cabeça. Ele ignorou a pergunta. Tirou um caderninho do bolso, mas não o abriu. — Como foi a noite passada, Catarina? Minha testa franziu levemente. — A que se refere exatamente? — Ouvi dizer que foi... intensa. Cheia de memórias. — Isso não responde minha pergunta — retruquei, firme. Ele se inclinou para frente. — Você e Adam estiveram juntos no supermercado na noite passada, certo? Testemunhas viram vocês conversando, saindo juntos. — Então sua investigação se resume a uma conversa em um supermercado? Parece fraca. — Estivemos na casa de Adam Scott. Sabemos que você dormiu lá e saiu essa manhã. Me inclinei levemente. — E? — Ele desapareceu horas depois. — Sinto muito — menti. — Não sou babá de homem adulto. Eu o visitei. Jantamos com amigos dele e a noiva. Dormi na casa dele. Saí hoje cedo. Fim de história. Ele sorriu, mas era um sorriso sem calor. — Você está grávida, Catarina. Bonito gesto de família, vir visitar o passado... Mas me pergunto, por que justo agora? Ele me observou por longos segundos, como se esperasse alguma fraqueza surgir em meu rosto. Quando não veio, ele se levantou. Começou a andar lentamente pela sala, como um leão estudando a presa. — O que você realmente quer aqui nos Estados Unidos, Catarina? Não me parece uma simples viagem de negócios. — Se você quiser discutir a motivação de viagens, talvez devesse se inscrever em um curso de psicologia. Agora, se está me interrogando sobre o desaparecimento de alguém, recomendo que vá direto ao ponto. Quer me acusar de alguma coisa? Acuse. Ou vou chamar meu advogado. Ele sorriu de lado, como se tivesse escutado exatamente o que queria. — Você está presa, Catarina Piromalli. Por obstrução de justiça e possível envolvimento no desaparecimento de Adam Scott. Demorou um segundo para o significado real dessas palavras afundar. Presa? Aquilo não fazia sentido. Era um jogo. Um teatro. E o ato seguinte veio quando ele tirou as algemas do coldre. — Fique de pé. Não obedeci. Ele se aproximou. — Levanta. Foi um erro. Eu me levantei, sim — mas com o joelho. Rápido, certeiro, direto na virilha dele. Ele curvou o corpo com um gemido sufocado. E antes que recuperasse o ar, empurrei-o com força contra a parede. — Grávida, não morta, seu i****a. — sibilei, arrancando as algemas da mão dele. Ele tentou reagir, mas eu já tinha a arma em mãos. Travei. Mirei na cabeça. — Agora vamos conversar de verdade. Quem te enviou? Ele soltou uma risada dolorida. — Você sabe quem. — Diga. — A mão apertava o cabo da pistola com força. — Ou o sangue que vai escorrer aqui vai ser o seu. — Pega o celular. No meu bolso. Hesitei. Ainda o encarando, enfiei a mão no bolso do casaco dele. Era um aparelho comum. Desbloqueado. Quando a tela acendeu, o vídeo já estava em execução. Meus pulmões travaram. Adam. Preso. Em algum lugar escuro, de concreto. Estava amarrado. Machucado. O rosto inchado. — Que merda é essa… — murmurei, o dedo tocando a tela como se isso pudesse libertá-lo.— Quem está com ele? — Você sabe quem fez isso — disse o policial. — Sabe muito bem. Se quiser ele vivo… vai ter que vir comigo. Claro que eu sabia. Só havia uma pessoa com recursos, rancor e crueldade suficientes para armar algo tão meticuloso, tão pessoal, tão... teatral. Don Miguel. Ou alguém que estava com ele. Talvez mais fundo. Talvez... Massimo? Matteo? Meu coração acelerava. Olhei para ele de novo. Havia um leve sorriso de vitória na boca partida. — Quem está por trás disso? Massimo? Matteo? Ou é ele? Ele apenas repetiu, agora com mais firmeza: — Se quiser ele vivo, tem que vir comigo. Agora. O ar parecia rarefeito. Pensei em Lorenzo, esperando do lado de fora. No avião. Na guerra que fervia do outro lado do oceano. Pensei no que significava Adam estar naquele vídeo — não apenas como uma ameaça, mas como uma mensagem. Uma assinatura. Quem me conhecia o bastante para usar ele contra mim? — Se você quiser vê-lo vivo — o policial continuou — vai ter que me acompanhar. Agora. — Pra onde? Ele sorriu, satisfeito com o controle momentâneo que achava ter recuperado. — Tem um carro esperando. Se a gente demorar muito, eles vão saber que deu errado. E então... Adam morre. Só havia uma resposta. Eu destravei a arma, guardei no casaco e olhei diretamente nos olhos do falso policial. — Então vamos. Ele assentiu, cambaleando levemente enquanto se afastava da parede. Eu me mantive a um passo de distância, arma firme. Antes de destrancar a porta, girei o punho e bati a coronha da pistola contra o ombro dele. — Se fizer qualquer movimento errado, eu atiro. Ele apenas sorriu, como se admirasse minha determinação. Ao sair da sala, fingi que estávamos apenas conversando. Lorenzo não estava mais visível no lounge. Algo estava errado. Muito errado. Mas agora, tudo o que importava era o próximo passo. O jogo havia mudado de novo. E eu odiava jogar nas regras dos outros. Mas faria o que fosse preciso para virar o tabuleiro outra vez. Porque se tocaram em Adam… se ousaram tocá-lo… Eles ainda não sabiam com quem estavam lidando. Dei mais dois passos à frente, com o celular em uma mão e a arma na outra. Então, tudo aconteceu rápido demais. Senti o impacto na parte de trás da cabeça. Forte. Seco. Doloroso. A dor explodiu como uma estrela antes do completo apagão. O chão veio ao meu encontro. E então, tudo ficou escuro.
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