ROBERTO NARRANDO Acordei com gosto de hotel caro na boca: lençol frio, blackout perfeito, ar-condicionado no 19. Letícia enrolada no meu peito, rindo com o olho, tentando me puxar pra outra rodada — esforço admirável, perfume bom, tudo no lugar — mas minha cabeça? Floripa, planilha, e a Sol atravessando tudo feito farol alto em neblina. Café chegou. Ela pediu o mais caro do cardápio, fez foto de taça, mordeu croissant, riu de qualquer coisa. Eu joguei um “bom dia” funcional e abri o notebook. Letícia percebe quando não é sobre ela, mas finge que não percebe: é um dos talentos. O telefone vibrou virando o jogo. Linha reservada. Só eu sei. Nem Letícia. — Fala. — atendi seco. A voz do detetive veio limpa, sem emoção de quem trabalha com desgraça alheia no automático: — “Cliente, confirm

