BRASA NARRANDO Acordei agarrado nela, corpo colado, perna minha travando perna dela, mão perdida na barriga macia como se tivesse nascido ali. Quarto no escuro da cortina, claridade vazando só um fio pela beirinha, ventilador fazendo barulho de rádio velho e o morro já se mexendo lá fora: moto subindo, cachorro latindo pra nada, alguém gritando “pão, pão, pão!” no eco do beco. Cabeça pesada de ontem, mas sem aquele buraco. Peso tem, abismo não. E a culpa… a culpa deu uma trégua. O cheiro do cabelo dela bateu primeiro, aquele doce limpo de quem tomou banho e deitou pra cuidar de mim, não de si. Encostei o nariz, respirei lento, deixei o peito alinhar no ritmo dela. Por um minuto esqueci nome, trampo, dívida, passado. Fiquei só sendo o cara que acorda com a mulher que ele quer do lado, sem

