CAPÍTULO 36 A mãe da Dandara abriu os olhos numa manhã nublada. A janela da clínica deixava passar um raio tímido de luz, e o cheiro de remédio impregnava o ar. — Dona Salete? Tá me ouvindo? — perguntou a enfermeira. Ela piscou devagar. Estava fraca, mas viva. A cabeça pesava, e a garganta arranhava como lixa. Por alguns segundos, não lembrava nem do próprio nome. Mas a imagem de Dandara, chorando, gritando, implorando ajuda… essa veio como soco no estômago. — Minha filha... onde tá minha filha? A enfermeira sorriu. — Tá bem. Tá segura. Quem te internou foi o esposo dela, Marratimah. Te tirou do hospital públicos te trouxe pra cá, dona Salete. Tu tá viva por causa dele. Ela virou o rosto e chorou baixinho, com vergonha de tudo que foi, com peso do abandono que carregava nas costas.

