CAPÍTULO 85 Narrativa de Marratimah O dia ainda nem tinha clareado por completo quando o rádio chiou com força no QG. Eu tava na varanda da laje, tragando um cigarro amassado, enquanto o cheiro do café fresco invadia a cozinha. A guerra tinha dado uma trégua, mas o clima seguia tenso – cada sombra, cada ruído, podia ser o prenúncio de mais balas e corpo caindo. Qualquer passo em falso era caixão. A voz que estourou no rádio era do Neco, aliado do Complexo do Fogueteiro, parceiro antigo do Falcão: — É oficial. Confirmado. Falcão bateu as bota. Levaram ele ontem à noite. Rajada de AR no peito. Sem chance de reação. Por um segundo, o tempo parou. Cada segundo parecia se dilatar, e o silêncio depois da notícia reverberou na madrugada. Soltei a fumaça devagar, sem pressa, como se quis

