CAPÍTULO 63 Narrativa de Marratimah O cheiro de pólvora ainda morava no ar. Mesmo depois de três dias, o vento que passava pelos becos do Turano carregava o rastro da guerra. Era como se o morro todo tivesse respirando luto, como se cada telhado, cada parede marcada de bala, gritasse que aqui houve combate. E que Marratimah venceu. Eu observava tudo do alto da laje da minha nova base, onde a vista cortava o complexo de ponta a ponta. A bandeira preta e dourada tremulava no mastro improvisado ao lado da caixa d’água. A favela inteira sabia de quem era o comando. Meu. Falcão não voltou. Dizem que perdeu uma perna. Fugiu. Desapareceu do mapa como os covardes costumam fazer quando sentem o gosto da morte arranhando a jugular. — Já foram enterrados? — perguntei sem tirar os olhos da rua

