Elize
A loja estava cheia naquela tarde. Mulheres experimentavam perfumes, outras testavam maquiagens, e eu estava no balcão, terminando de registrar uma venda. Era o tipo de movimento que fazia o dia passar rápido, mas eu não reclamava. Manter a cabeça ocupada era a única maneira de não pensar demais.
De repente, a campainha da porta soou. Olhei instintivamente e vi dois homens entrarem. Eles não pareciam clientes. O jeito como olharam ao redor, rápidos demais, com os rostos semicobertos pelos bonés, fez meu coração acelerar. Senti o ar mudar.
— Isso é um assalto! — gritou um deles, tirando uma arma da cintura.
Houve um silêncio cortante antes do pânico começar. Algumas clientes gritaram, outras congelaram no lugar. Meu corpo travou, mas, ao mesmo tempo, meus instintos me colocaram entre o caixa e a mercadoria mais cara. Na hora, não percebi o tamanho da idiotic.e que fazia.
— Abre o caixa, agora! — o homem armado ordenou, apontando o revólver na minha direção.
Com as mãos trêmulas, comecei a abrir o caixa. Era um movimento automático, mas minha mente estava em mil lugares ao mesmo tempo, desejei o meu marido ali para poder me proteger, eu poderia estar me casa, mas estava ganhando dinheiro.. Foi então que o outro homem, que parecia mais nervoso, se aproximou e tentou puxar uma cliente pelo braço. Ela resistiu, e ele gritou com mais raiva.
— Fica quieta, ou eu atiro!
Nesse momento, um dos frascos de perfume caiu no chão, se espatifando. O som pareceu disparar o caos. No susto, tentei empurrar o caixa de volta, mas o nervoso virou pra mim com um canivete na mão.
— Para com isso! — ele gritou, avançando.
Tentei me proteger, mas ele me acertou na mão esquerda antes de sair correndo com o comparsa. Senti a dor imediatamente. O corte não era fundo, mas sangrava muito, e eu já não conseguia mexer os dedos. Só ouvi o som dos passos apressados dos dois fugindo enquanto as pessoas ao redor começavam a voltar ao normal.
Alguém chamou uma ambulância. As clientes vieram me ajudar, tentando estancar o sangue com panos e toalhas improvisadas. Tudo parecia distante, como se eu estivesse fora do meu corpo. O gerente chegou logo depois e me levou ao hospital. Lá, os médicos disseram que o corte precisava de pontos. Sete, pra ser exata.
Quando voltei pra casa mais tarde, com a mão enfaixada, só queria silêncio. O trabalho já não era fácil, e agora isso. Mas pelo menos estava viva. Tentei relaxar no sofá, mas o barulho da campainha me trouxe de volta ao presente.
— Quem é? — perguntei, ainda com a cabeça cheia.
— Roberto. Trouxe os remédios pra você.
Era o dono da loja. Suspirei, me perguntando se deveria ignorá-lo, mas ele insistiu.
— Abre a porta, Elize. Sei que não quer conversa, mas você precisa disso.
Respirei fundo, sentindo a dor latejante na mão. Fui até a porta e a abri. Ele estava lá, segurando uma sacola com remédios e um olhar preocupado.
— Não precisava vir — disse, sem muita convicção. Eu queria somente um abraço, somente isso, mas não era o abraço dele.
— Precisava, sim. Você tá machucada, e a culpa foi da loja. A gente vai cuidar disso.
Ele entrou antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, colocando a sacola na mesa. Tinha analgésicos, antibióticos, e até uma faixa extra para o curativo.
— Obrigada... — murmurei, sentindo uma mistura de gratidão e constrangimento.
— Não precisa agradecer.
Eu queria que ele fosse embora, como queria. Mas Roberto parecia não ter pressa. Sentou-se no sofá, cruzou os braços, como se tivesse todo o tempo do mundo.
— O que já jantou? — perguntou, apontando com a cabeça para o bloco de notas e a caneta que eu tinha deixado na mesa.
— Nada ainda — respondi, direta. Não queria conversa, só queria o silêncio que ele tinha interrompido.
— Vou pedir um jantar pra você — disse ele, pegando o celular.
— Não precisa — rebati, quase seca. — Eu me viro.
Ele me olhou por um instante, avaliando minha expressão. Aquele olhar, meio preocupado, meio insistente, começou a me irritar. Eu não gostava dele, não gostava, mesmo ele sendo jovem, não gostava do jeito que ele me olhava.
— Faço questão — afirmou, ignorando minha negativa.
Suspirei, deixando o cansaço e a dor da mão falarem mais alto.
— Então pede qualquer coisa, só não demora.
Ele sorriu de leve, como se tivesse vencido alguma batalha. Eu só queria que ele pedisse logo o jantar e fosse embora. A presença dele me incomodava, o cheiro do perfume dele também.
Ele ficou ali até o jantar chegar. Quando o entregador bateu na porta, Roberto levantou sem cerimônia, pegou as sacolas e colocou o pedido na mesa como se fosse o dono do lugar. Observei em silêncio, tentando não demonstrar minha irritação.
— Obrigada. Pode ir agora — sugeri, direta, enquanto arrumava os pratos na mesa.
— Vou ficar. Vim para lhe fazer companhia — respondeu ele, com a maior naturalidade, como se minha opinião não importasse.
— Mas eu preciso dormir, Roberto. Já deu por hoje.
Ele me olhou, segurando o controle da TV que tinha acabado de pegar. Um sorriso discreto surgiu no canto da boca.
— Pode dormir, Elize. Eu só vou ficar por aqui, vendo você descansar.
Aquilo me deixou desconfortável. Ele parecia tão calmo, tão seguro de que não estava fazendo nada de errado, mas a ideia de alguém “velando meu sono” não me caía bem.
— Isso é estranho, Roberto. Não preciso de babá. __ Eu não ríspida, mas queria me livrar dele
— Não sou sua babá. Sou seu chefe, e você se machucou na minha loja. Só quero garantir que está bem.
Eu revirei os olhos, cansada da conversa, da dor na mão e, principalmente, da presença insistente dele.
— Faz o que quiser, então — murmurei, me jogando no sofá e tentando ignorá-lo.
Ele ligou a TV e começou a assistir a algo que eu nem prestei atenção, mas não fechei os olhos, lutei contra o sono, não dormiria com ele ali..