Gleice continuou pintando minhas unhas, mas deu uma pausa para me olhar, séria.
— Olha, Elize, a vida no morro não é fácil. Não é mesmo. Algumas meninas sofrem muito, passam por coisas que você nem imagina. Mas, mesmo assim, tudo tem limite. — Ela suspirou, voltando a passar o pincel do esmalte com cuidado. — A minha vida também não foi fácil. Já aprontei muito, fiz besteira, besteira mesmo. Mas inventar uma coisa dessas, acusar um homem de ser jack... No morro, isso é o fim.
Engoli em seco, sentindo um frio na espinha.
— Já pensou se o Capitão acreditasse nessa história absurda? — ela continuou, me encarando com um olhar firme. — O Alemão estava morto, Elize. Morto. Porque nem o Capitão, nem o Navalha, nem o Tenente passam pano pra esse tipo de coisa. Eles têm os defeitos deles, todos
