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3214 Words
Aquele dia foi um verdadeiro horror. Não havia graça em nada... Até mesmo respirar tornou-se doloroso. Por que ele fazia tanta falta? Por que era tão difícil esquecê-lo? Tais perguntas ecoavam pela cabeça de Aline a todo momento. Sem ter coragem de sair de sua cama, ela permaneceu enrolada em seu edredom durante o dia e a noite. Não tinha fome, nem sede... Apenas aquela dor incômoda e a culpa cada vez mais forte. Ela permanecia encolhida no canto da cama e em sua mão segurava uma aliança dourada que permanecia presa a uma correntinha ao redor de seu pescoço. Aquele era um dos restos de seu passado com Adam. O outro porém, era algo que ela não ousava tocar... Porém interrompendo seus pensamentos, pôde ouvir a porta de seu quarto abrir e após alguns segundos sentiu alguém sentar na beira da cama. — Aline, você precisa se alimentar. Não pode ficar assim, já é manhã... Você está desde ontem sem comer nada. — Yara... Por favor, me deixe sozinha... °°° E foi nesse ritmo que a primeira semana correu. Tudo mudou, a rotina principalmente; a toda hora a TV exibia reportagens sobre o acidente de Adam, matérias sobre a Midnight... Mas para Volmir Aline, a sua rotina resumiu-se a sua depressão e reclusão do mundo. Os telefonemas da imprensa para seu celular eram em vão já que ela nem mesmo os recusava, apenas deixava que tocasse. Ao mesmo tempo, as tentativas de suas amigas de tirá-la daquele quarto de alguma forma também eram inúteis. Mas na noite da quarta-feira, Jhonatan pediu para falar mais uma vez com todos no apartamento. E quando o momento chegou, foi quando Aline saiu de seu quarto. — Obrigado por estarem todos aqui. Está sendo difícil para todos nós. Para mim, para Charlie e Cassandra. E para cada um de vocês... Mas não sei como irão reagir a essa notícia... O hospital entrou em contato comigo. Adam se recupera bem de seus ferimentos, nessa manhã ele foi submetido a vários exames. A apreensão foi visível no rosto de todos. — É possível que Adam jamais recupere a memória. Os pais dele virão à capital semana que vem para buscá-lo. Desculpem por dar uma notícia dessas. Mas essa é a verdade. Quanto à Midnight, o show continua cancelado e o DVD suspenso... Eu deixo a decisão nas mãos de vocês. Se quiserem terminar a banda ou arrumar outro vocalista, a decisão é de vocês. Mas antes de qualquer outra palavra, eu quero falar a sós com a Aline. Atendendo ao pedido dele, ambos foram para o quarto da jovem. — Aline. Eu sei o que houve e é com base nisso que eu venho fazer um pedido. — E o que seria Jhonatan ? — Por favor, não desista dele. Ela se surpreendeu com o pedido. — Aline, Adam nunca deixou de te amar... Tenho certeza de que um amor como aquele pode sobreviver mesmo a isso... — Jhonatan , isso que o senhor está me pedindo... — É algo difícil, eu sei... Sei dos ressentimentos que vocês têm... Mas por favor. Tenho certeza de que se ele se lembrar dos sentimentos por você... E da música... Ele irá acordar desse pesadelo. — Por mais que eu o ame e sinta sua falta, eu não posso simplesmente ignorar o passado Jhonatan . E ele tem Cassandra  e Charlie  para cuidarem dele... Adam ficará bem com eles. Tenho certeza disso. °°° Após Jhonatan deixar o apartamento, Aline voltou a se trancar no quarto, voltando a preocupar todos a sua volta. E para complicar a situação, ela colocou uma cadeira atrás da porta, a mesma ficou apoiada no chão e com o encosto embaixo da maçaneta de forma que a porta ficasse travada. Ao certificar-se de que ninguém entraria por aquela porta, ela pegou seu celular e os fones de ouvido do mesmo, os colocou em seus ouvidos e após navegar por várias pastas de seu celular finalmente encontrou seu destino. Uma pasta com todas as músicas da banda de Adam arquivadas. Tanto as já gravadas quanto as inéditas que seriam tocadas no final do show de Tóquio. E deitada em sua cama ela voltou a se encolher enquanto a primeira música começava. O primeiro verso da música passou lento, mas para ela, cada letra e cada palavra Eram como fragmentos do seu passado com Adam, sendo transformados em música. Após o refrão, seu coração acelerou com a revoada de lembranças e sentimentos em sua mente e em seu peito, cada gesto, cada sorriso e cada toque. Tudo ainda muito vivo em sua mente. Ainda pode sentir o cheiro suave de seu perfume, a textura suave dos seus cabelos dourados e a gentileza de seu beijo. As primeiras lágrimas chegaram no limite e ela fechou os olhos na vaga esperança de contê-las, mas seu corpo já não a obedecia mais e as teimosas lágrimas arrumavam seu jeito de escapar assim como sua boca arrumava um jeito de acompanhar a música. De joelhos ele a pediu uma chance para dançar uma música no baile de inverno da escola, foi a última chance para a última dança que encerraria o baile, ela recordava das vestes impecáveis, do cabelo devidamente bagunçado lhe dando um ar de rebeldia em meio ao smoking formal. Ainda se lembrava daquele sorriso... Ainda lembrava de que ele foi contra tudo e contra todos que se opuseram ao relacionamento deles, sempre de pé frente a ela, protegendo-a. Por que esses sentimentos doíam tanto? Sim como ela queria ter ficado. Como queria ter continuado ao lado dele independente de qualquer coisa que tenha acontecido, foi fraca... Não confiou nele e nem em si mesma. E naquela noite, na noite em que ele veio até ela, foi a noite em que deveria tê-la perdoado. Perdoado por estar longe, o perdoado por estar a tanto tempo afastado. Era a noite que deveria ter pedido perdão a ele por não acreditar em suas palavras... Era a última chance para segurar-se nele e não deixá-lo ir embora nunca mais. Mas nenhum desses pensamentos tinham sequer uma gota de esperança de serem realizados. Ele a esqueceu... Esqueceu o amor que já tiveram pelo outro, esqueceu-se dos dias difíceis e dos dias de alegria. Ele apagou as lágrimas que já derramaram. As juras de amor que fez. Esqueceu-se das vezes que disse amá-la e das vezes que a beijou. Esqueceu-se das loucuras que fizeram juntos e que juraram nunca revelá-las. Ele deletou a dor que sentiram no momento mais difícil do relacionamento que tiveram. Esqueceu-se de como a amizade foi destruída e o amor corroído e ferido... — Seu idiota... Por quê? Por que você não insistiu em ficar, em discutir comigo sobre aquilo? Por que você aceitou minha decisão de maneira tão fácil? Será que no fim, você já não me amava mais? Será que o nosso passado realmente destruiu tudo de bom que havia em nós dois? —__ Durante os dias que se seguiram, o desespero por notícias continuou, mas por notícias que animassem. Aline não saía de casa nem mesmo para ir à faculdade, e isso apenas preocupava ainda mais aqueles ao seu redor. — Patrick, por favor, não entre lá, você só vai piorar as coisas! Ele não respondeu apenas seguiu adiante ignorando os apelos de Vanessa, e na frente da porta do quarto de Aline ele gritou para a Volmir: — Aline, espero que esteja vestida, não vou perder meu tempo batendo na porta, eu estou entrando! Sem hesitar ele pressionou seu corpo contra a porta. Uma, duas, três vezes. A cada uma com mais força, até ouvir o barulho da maçaneta quebrando e logo após a porta abriu, foi só nessa hora que a penumbra do quarto foi quebrada e na cama ela continuava deitada, ele seguiu em passos largos e apressados. — Vamos, Aline! Levanta! Ela não respondeu, mas ele não se satisfez com o silêncio da moça e foi até ela, descobrindo-a. Puxou Aline a fazendo sentar na cama, ela parecia mais uma boneca sem vida. — Ei, Aline, olhe para mim! Ele continuou sem resposta. — Já está na hora de você sair desse mundo depressivo, não acha? Por que você está desse jeito? Ele não está morto! Ela mexeu levemente o rosto. Como se prestasse atenção no que Patrick dizia. — Adam vem morrendo por dentro desde aquele dia, assim como você. — Cale-se... — Não, eu não vou me calar. Todos nós nos calamos todo esse tempo, e por isso vocês ficaram dessa maneira. Vocês são a única família que eu tenho. Não quero assistir a destruição de vocês. Por que você não aceitou o pedido de Jhonatan? Se você realmente não pode perdoá-lo por que continua dessa maneira? Se você o odeia tanto levante seu rosto e volte a viver sua vida. - Ele disse em tom sério e frio, como se tentasse trazê-la de volta. Mas Aline teve uma reação inesperada, sua franja tampava seus olhos, mas foi possível ver suas lágrimas. — Você não sabe de nada! - Ela gritou, irritada, furiosa! As mãos pequenas e delicadas seguraram Patrick com força pelo colarinho enquanto o corpo pequeno e frágil o empurrou até a parede. - Você não tem ideia do quão doloroso é lembrar aquele dia! Não sabe como me dói amá-lo da maneira que eu amo! Mas... Se ele esquecer tudo isso, se ele apagar toda a dor que causamos um ao outro... Se apenas ele conseguir apagar tudo isso... Será injusto demais. — Então por que você não o faz lembrar? — Por que eu e Adam não podemos ficar juntos... Sempre magoamos um ao outro... Você não entenderia! Ela gritava com todas as forças que tinha e o segurava com força, mas ele podia ver que naqueles olhos albinos não havia mais nada além de dor e solidão. Ele ouviu Vanessa entrar no quarto enquanto tentava acalmar Aline, e Yara entrou no quarto também dizendo que Jhonatan estava subindo com Jhonny e Caius e que precisava falar urgente com todos. Enquanto Vanessa e Yara dialogavam, Patrick olhou para Aline e falou de um modo que apenas ela ouvisse. — Eu sei de tudo que aconteceu. Ela apenas paralisou enquanto seu corpo perdia as forças para continuar pressionando Patrick contra a parede, e logo após suas mãos foram até sua boca a tapando enquanto ela olhava assustada para o amigo. — Patrick, Aline, vamos para a sala, Jhonatan quer falar algo urgente conosco! Já na sala, Jhonatan permaneceu frente ao grupo de jovens a sua frente, os rostos ansiosos por notícias boas já previam que pelo nervosismo dele, nada de bom viria. — É com uma dor enorme no peito que eu venho dizer isso a vocês... Cassandra e Charlie não estão mais entre nós... O silêncio foi geral assim como espanto. — Como isso aconteceu? Jhonny era o mais “lúcido” dos amigos, o único que conseguiu falar algo. — Hoje de manhã, eles estavam vindo da casa na praia que eles têm em Okinawa. E de acordo com a polícia e as testemunhas eles bateram em um carro que ia à frente já que estavam aparentemente sem freio. E sem conseguir parar ambos acabaram por bater em um caminhão que vinha na contramão... Foi instantâneo... Segundo a polícia, os freios do carro foram cortados. Na garagem da casa foi encontrado um rastro de óleo de freio que se estendeu por alguns metros. — Sabotagem? Está dizendo que alguém matou Cassandra e Charlie? — Sim. Como vocês sabem, os dois detinham um grupo de negócios de poder. Creio que você saiba muito bem o perigo que tal fama traz, não é Aline? Afinal a Volmir Tech é a maior parceira da Jhonson’s e sua mãe foi vítima de tal fama. Todos olharam para a amiga. Sabiam que a morte da mãe de Aline não fora acidental, sabiam que foi uma tentativa de matar toda a família Volmir, mas que acabou sendo falha. — E da mesma maneira que nunca encontraram um culpado para o assassinato da sua mãe Aline, a polícia provavelmente não encontrarão nada em relação a essa nova tragédia... Bom, como a situação está estranha demais, quero pedir que tomem cuidado, muito cuidado. Afinal todos aqui são filhos de empresários importantes. E, além disso, os rapazes que pertencem a Midnight são muito visados. Algumas horas depois de tal notícia o clima não podia ficar cada vez mais baixo, Patrick decidiu ir para casa e acabou por levar Vanessa, não por vontade própria, queria ficar sozinho, queria pensar nas coisas. Charlie e Cassandra eram como seus pais, já que foi com eles que morou após seus pais verdadeiros morrerem. E com Charlie e Cassandra ele sempre se sentiu em casa, mas agora de uma hora para outra a pessoa que tem como irmão sofre um acidente grave e fica em coma e seus pais adotivos morrem logo após em um acidente. Tudo estava confuso demais. Ao chegar em casa, um aconchegante apartamento em Tóquio ele entregou as chaves para Vanessa e pede que trancasse a porta. Acendeu as luzes da sala de estar, luzes fracas apenas para quebrar a escuridão do lugar e dar uma sensação de tranquilidade ao cômodo. O chão inteiriço em madeira de carvalho vermelho, no canto esquerdo a um sofá a sua frente uma parede feita de duas portas de correr de vidro que dão acesso a varanda, do lado direito, uma grande televisão de LED acoplada à parede e mais para a direita a um pequeno bar feito da mesma madeira do piso dando um aspecto clássico ao lugar. Patrick tirou os sapatos e seguiu descalço pelo cômodo indo até o bar, pegou um dos copos ali pendurados e uma garrafa de uísque. Sem hesitar, encheu o copo e após o primeiro gole seguiu para o sofá. Após sentar-se, Vanessa apareceu na porta. — Vou fazer algo para você comer, tá? — Obrigado... Ele não olhou para a namorada que entendeu que ele precisava ficar sozinho. Só não percebeu o olhar aflito de Patrick. Flash Back on Era noite e a chuva caía forte. Correndo pela trilha enlameada ele perseguia o amigo o mais rápido que podia, mas a lama agarrada em sua perna o deixava mais lento, e aquela escuridão toda não ajudava em nada. Enquanto se aproximava, ouviu um baque forte d’água, o que o preocupou mais. No final da trilha, na beira daquela cachoeira imensa, lá estava ele, olhando para baixo. — Adam! O que você está fazendo aí? — Você não entenderia... — Está fazendo por causa da Aline? Mas que diabos aconteceu entre vocês afinal? — Nós erramos, só isso. — E esses erros valem a sua vida? Você prefere se matar a tentar concertar seus erros? Ele olhou irritado para Patrick. — O que nós fizemos não tem conserto Patrick! A decisão que ela tomou não pode ser revertida não importa o quanto tentemos! — Não seja i****a! Isso não vale a sua vida! — Cale-se! Você não sabe como eu me sinto! Não sabe como eu a odeio e a amo ao mesmo tempo. Não sabe como eu odeio a mim mesmo por não estar no lugar certo na hora certa... Você não sabe como eu odeio a mulher que eu mais amo na vida pela decisão que ela tomou. — Mesmo assim! Não vá agir por impulso! Ambos se encaravam, Patrick podia ver a aflição nos olhos do amigo, do irmão... Podia ver as lágrimas misturadas com a chuva. Em um movimento em falso Adam perdeu o equilíbrio e começou a cair em direção à cachoeira, Patrick por sua vez correu e ainda conseguiu segurar a mão de Adam, mas o chão escorregadio não deu apoio para que ele segurasse o amigo e ambos acabaram por cair. Fim Flash Back Ele despertou de seus pensamentos quando sentiu Vanessa abraçá-lo pelas costas. — Patrick... Você quer falar sobre isso? — Sobre o quê? — O que está te levando para longe de mim... — Do que você está falando Vanessa? Ela deu a volta e sentou ao lado dele. — De uns tempos pra cá você anda estranho, parece que está se afastando de mim... — Não estou me afastando de você. — Sim você está, por que é tão difícil de admitir? — Por que é algo totalmente diferente... É como se minha vida estivesse perdendo o rumo Vanessa. Perdi meus pais e meu irmão quando era moleque, consegui uma segunda família, Charlie e Cassandra sempre me fizeram me sentir em casa e Adam sempre foi mais que um amigo. Mas agora, olhe como tudo está. Adam em uma cama de hospital em coma, meus pais adotivos mortos. É como tudo estivesse se quebrando... Flash Back on A queda foi rápida embora longa, a água fria formava correntezas fortes. Foi difícil sair do rio que ali se formava, mais ambos conseguiram. Patrick conseguiu tirar Adam de lá. — Seu maluco filho da mãe, quase nos afogamos! — Não mandei você me seguir! — Não mandei você ser tão i****a a ponto de se matar! — Por que você está sempre perto do Patrick? Por que está sempre agindo como se fosse meu irmão? — Por que é assim que você age comigo. E para mim, você é meu irmão. Ambos permaneceram deitados no chão, as roupas encharcadas e o corpo gelado. — Patrick... — Hum... — Será que você pode gastar um pouco do seu tempo com um irmão aflito? — Cara, nós quase morremos ainda a pouco caso você não tenha percebido. E caso você também não tenha percebido estamos cansados demais para levantarmos, você pode falar a vontade... Fim Flash Back Ele levantou apressado. — Por favor, me espere aqui, logo estarei de volta. — Espera! Aonde você vai Patrick? Aquela altura ele já estava perto da porta com a chave de seu carro nas mãos. — Vou até o hospital. °°° Ao chegar ao hospital, soube que Adam fora transferido para um quarto comum, já que seu quadro tornou-se estável, mas ele ainda continuava desacordado. Após conseguir uma permissão para ver Adam, Patrick seguiu para o quarto. Entrou e permaneceu calado, pegou um caderno que estava em seu casaco e colocou no criado mudo ao lado da cama. — Você poderia acordar logo. Não será bom ver o tempo passar sem você estar conosco... Os momentos estão cada vez mais difíceis... Ah, não se preocupe, seu tesouro continua muito bem guardado comigo. °°° No dia seguinte. Veio o velório de Charlie e Cassandra. Só que esse dia mostrou que seria cheio de surpresas. Na saída do cemitério, uma viatura esperava e quando todos saíram, dois policiais foram na direção de Jhonatan. — Sr. Jhonatan. O senhor está preso pelo assassinato de Jhonson Charlie e Jhonson Cassandra. O senhor tem o direito de permanecer calado, tudo que dizer poderá ser usado contra o senhor no tribunal. Antes que alguém pudesse fazer qualquer manifesto, a pequena viatura simplesmente partiu, deixando os jovens ali presentes perplexos e espantados. Só que as notícias não pararam por aí. Caius roubou a cena após ler uma mensagem em seu celular. — Gente... É do medico do Adam... Ele acordou.
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