Sogro querido

1102 Words
- Imaginei que essa conversa não seria só entre nós dois. - Walker falou, servindo o próprio Whisky. - Não achei que você quisesse falar sobre Amanda Brown, na presença do meu pai. - Ele segurou a garrafa no ar, congelando por um momento, antes de voltar a virar o líquido no copo. Ele caminhou até a minha mesa e se sentou, e no rosto dele, pela primeira vez, vi uma expressão de resignação. - Como soube? - Ele bebeu e eu resolvi ser honesto. - Além da semelhança, que eu não notei no início, quando a vi ontem, eu a encontrei por acaso hoje, em um café. Ela parecia perdida, e depois que a cumprimentei e ela se foi, ela tinha deixado um dos papeis na mesa. Acho que caiu. - Ele assentiu. - Era um exame, pedido por você, confirmando a paternidade. - Pelo visto o universo está a seu favor, garoto. - Uma das coisas que eu mais gostava no Walker era que ele sempre ia direto ao ponto, não importava o motivo. - Isso te preocupa? Ter o seu nome associado ao meu, pouco antes de assumir uma filha bastarda? - Estalei a língua. - Não é bem isso. - Admiti. - O rompimento com a Patrícia foi uma decisão pessoal minha. - Compatibilidade? - Ele sugeriu e eu assenti. - Não existe nenhuma. - Ele não pareceu ofendido. - Desculpe, é a sua filha, mas eu não a suportaria por mais que 5 minutos, imagine em um casamento. - Ele riu abertamente, o que me deixou um pouco mais relaxado. Eu pude notar que existia uma distância entre ele e a filha, a legitima, nos poucos eventos que compartilhamos, mas só agora me dei conta que ela não era só insuportável para mim. - Já sua outra filha … - Ele levantou as sobrancelhas. - Eu nem assumi a menina, e você quer propor que eu a obrigue a casar com você? - Como eu disse, ele é extremamente direto. - Saiba que o meu interesse nasceu antes que eu ou ela soubesse da ligação de vocês. Eu a conheci ontem, no seu jardim. - O homem não parecia surpreso. - Ela sempre corre para lá quando algo acontece. Faz isso desde criança. A Rose ralhava muito com ela, mas eu pedi que permitisse. Inclusive, contratei um jardineiro dedicado para aquela parte do jardim. - Você cuidou dela de longe? - Ele apertou os lábios. - Eu fiz o que pude, sem que ela ou a Ruth soubessem. A intenção era que ela tivesse um futuro garantido, sem precisar carregar o peso de ser uma Walker, como eu. - Em resumo, você mexeu os seus pauzinhos para garantir que ela tivesse uma vida confortavel. - Ele encarou a mesa de carvalho na minha frente. - Como eu disse, eu não podia fazer muito, pela filha da empregada sem chamar atenção. Então movi parte dos meus investimentos para uma conta que ela poderá acessar quando eu morrer. Garanti a vaga dela na faculdade, maquiada de bolsa, é claro e dei um bom dinheiro ao tio dela, para que pudesse presenteá-la com um carro. Assenti, absorvendo as informações. - O que mudou? - Ele sorriu, mas a tristeza era nítida. - Ela nunca sentiu falta do pai. A Rose sempre foi uma mãe dedicada e supriu todas as necessidades dela, as emocionais eu digo. - Só que ela está morrendo. - Terminei para ele. - Exatamente. E tirando o irmão da Rose, que vive viajando pelo país na moto dele, ela não tem mais ninguém. - Meu Deus, você quer mesmo que ela aceite a sua família como dela! - A minha afirmação deveria ter abalado ele, mas a reação foi contrária à que eu esperava. - De fato. Ter uma irmã tornaria a Patrícia mais humana e a Mandy tem um dom natural para lidar com desafios, a dinâmica entre as duas será difícil no começo, mas eu acredito que com o tempo a Mandy irá conquistar a irmã. - Não é possível que ele seja tão cego quanto a própria filha? - Não te preocupa como o seu plano pode dar errado? Pensou nisso, antes de implodir a vida da menina? - Não me importei de usar p************s com ele. Ele estava usando a Amanda para uma redenção, ou para curar a falha que a filha mais nova era. - Ela terá tempo, poucas pessoas sabem sobre a situação, e deixarei nas mãos dela os proximos passos. Ela tem em mãos tudo o que precisa para entender e pensar sobre o que fazer, e se ela não quiser que eu a assuma, então não vou assumir. - Apertei os olhos, encarando o homem, que parecia estar sendo sincero. - O que eu não quero é que ela ache que está sozinha no mundo, não quando tem pai e irmã. - Puxei o ar, com mais força do que o normal, ao ouvir aquilo. - Agora me diga garoto, qual a sua proposta? - Quero ser amigo da Amanda. O nosso mundo é sombrio e duvido que ela se apoie em você ou na irmã que, principalmente no início, vai odiá-la. Imagine Walker, a mulher que serviu ela no último ano, se tornando a sua primogênita? Me diga que pensou nisso direito. - Não questione sobre o que eu pensei garoto. Sei o que é melhor para as minhas filhas! - Ele estava rubro de raiva, mas eu ignorei. O meu plano já estava traçado. - Me coloque como conselheiro dela, se ela aceitar que você abra para o mundo a informação. - Ele apertou os olhos. - Depois que ela estiver adaptada e assumir as responsabilidades que você planeja, podemos pensar em unir as famílias. - Você é muito ousado, garoto! - Ele falou, sorrindo, se acalmando aos poucos. - Preciso pensar nos interesses da minha familia. - Ele assentiu. - Por enquanto, mantemos a nossa parceria só entre nós. O que vai tornar a reunião que temos em 10 minutos um verdadeiro inferno. - Algo me diz que o seu interesse na Mandy vai além da união das famílias, ou mesmo uma medida de reparar o que houve ontem. - Eu pisquei, mas não desviei o olhar do homem. - Você gosta dela. - Ela me intriga. - Admiti, ao pai dela. - Ela tem um ar confiante que é difícil de ignorar. - Ele sorriu me mostrando todos os dentes. - Ela é filha da mãe dela, e foi justamente essa característica que fez com que eu me apaixonasse, a 20 anos atrás.
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