" Perdas e danos é assim que uma vida condenada pelas sombras subsiste."
Por: Violeta.
Estou desesperada, com o meu marido dentro de um hospital e eu não tenho ninguém para me apoiar nesse momento difícil.
Com meus filhos longe e sem ter nenhum parente por perto, mantenho a aparência taciturna, contendo dentro de mim toda a agonia.
Gerardo foi levado às pressas pelos médicos, dirigido a uma área restrita onde não posso acompanhá-lo. Estamos na emergência de um hospital público, nunca me imaginei em tal situação.
Olho para o senhor Fernando e para Roberto e ambos estão com o semblante transparecendo preocupação.
Me encontro sentada num corredor com dois seguranças por perto, passam por mim algumas pessoas tossindo, outras em cadeiras de rodas sendo empurradas pelos maqueiros. Passam jovens grávidas sendo levadas para a sala de parto e de soslaio observo os seus companheiros aflitos para saber se seus bebês nasceram saudáveis, sinto um aperto vendo isso. Sinto pelos meus filhos que não poderão curtir esse momento ao lado de suas esposas.
O mundo não estava sendo c***l o suficiente? Agora acontece algo com Gerardo, tudo indica que foi um enfarte.
Olho para minhas mãos trêmulas, seguro minha bolsa com tanta força que minhas falanges ficam esbranquiçadas.
"Preciso ligar para os meninos, dizer que o pai deles está... está como? Nem eu sei do estado de saúde dele! Deus, não permita que meu marido se vá, por favor!" - digo para mim mesma em pensamento.
O tempo voa e ninguém do corpo médico aparece para dar qualquer notícia, meu estômago gela ao pensar que a vida do amor da minha vida pode estar por um triz.
Dou um gole na garrafa de água que o senhor Fernando, gentilmente, comprou para mim.
_Senhora é melhor ir para casa descansar, qualquer novidade nos ligamos.- sugere um dos segurança, precisamente o braço direito do meu marido.
_ Não saio daqui sem notícias !- digo com a voz fria sem demonstrar qualquer resquício do medo que sinto.
Lutero se cala e assume a posição de guarda.
Minutos eternos passam. Sinto meus nervos cada vez mais à flor da pele, até que finalmente o médico aparece e, pelo seu olhar, vejo que as notícias não são das melhores.
Levanto e vou ao seu encontro sem demoras. Escuto passos atrás de mim e sei que se tratam dos meus funcionários.
_ Doutor, o que meu marido teve? - pergunto com a voz falhando.
Ele me olha com pesar.
_ Infelizmente, seu marido infartou. Fizemos um exame hematológico e bioquímico e houve alterações. Precisaremos movê-lo para uma unidade hospitalar com mais recursos e que tenha cardiologia. Talvez seu marido precise passar por uma cirurgia. No entanto, isso dependerá da avaliação do especialista - diz sem rodeios.
Um calafrio percorre minha coluna, meus joelhos tremem. Sinto minha respiração ficar errática. Não consigo conter as lágrimas que caem uma após a outra.
Enxugo meu rosto, sinto minhas forças se esvair.
_ Como o senhor Greco está agora, doutor.- Fernando pergunta passando as mãos no rosto.
_ Em observação, recebendo as medicações para controlar os níveis triglicérideos e lipídios no sangue.
_ Quando poderá ser realizada a transferência doutor, temos plano de saúde.- falo sentindo minhas mãos geladas e a apreensão me consumir.
_ Me acompanhe, ireimos agilizar esse processo. O quanto antes o paciente ser atendido por um especialista, vai ajudá-lo e muito. - Sigo o médico, andamos apressados.
Depois de tudo resolvido, espero a UTI móvel chegar. Aproveito e ligo para os meninos, preciso informá-los do que está acontecendo.
"Onde vocês estão que não atendem as minhas ligações? O pai deles sofrendo em cima de uma cama de hospital e eles não atendem os malditos celulares!" - Ralho sozinha.
Desisto , por enquanto, de tentar falar com qualquer um dos dois, então ligo para Luzia pedindo para arrumar uma pequena mala de mão com peças de roupas e objetos de higiene pessoal. Aviso que enviarei Maurílio, meu segurança particular, para buscar a pequena bagagem.
Retorno ao corredor e dispenso o veterinário e o gerente, a fazenda não pode ficar sozinha. O funcionamento não pode sofrer interrupção, o serviço não pode ser afetado.
Além disso, a notícia de que meu marido caiu estatelado no chão, certamente correu mais rápido do que a velocidade da luz. Muitos funcionários podem estar consternados, temendo pelo futuro se, porventura, meu marido não resistir.
"Que Deus nos livre dessa tragédia!" - penso.
Levo as mãos às minhas têmporas e uma dor de cabeça se inicia.
Precisarei de um analgésico forte e de cafeína para continuar de pé; não posso desmoronar agora.
Chamo Maurílio e dou ordens para ir buscar meus pertences, e o aviso que em breve meu esposo será transferido para a clínica particular Santa Cândida.
_Estarei lhe aguardo na clínica, Maurílio, seja discreto como sempre.- peço.
_ Sim,senhora!
Quando todos se retiram, eu me sento em um dos assentos disponíveis, me sinto impotente diante de tudo o que ocorreu, me sinto inútil.
O medo que me açoita agora, me leva ao passado, recordo do dia que perdi meus pais.
Lembro como se fosse hoje: eu, no auge dos meus quinze anos, recebendo a notícia da explosão do carro deles. Ambos saíam de um jantar com amigos.
Foi a dor mais lancinante que senti. Minha vida virou do avesso e fui obrigada a morar com um tio, que entregou minha mão em noivado para o pai dos meus filhos.
Com dezoito anos, casei e logo me tornei mãe. Tudo escapou das minhas mãos: os sonhos, os planos, e me tornei a esposa do herdeiro mais cobiçado da Calábria.
Literalmente, me anulei pela minha família, e não me arrependo. Dou meu sangue por eles.
Minha carne treme ao cogitar a remota possibilidade de perder um dos três, eles são a minha vida. Contudo, agora estou sendo assombrada por esse fantasma e temo que meu medo torne-se realidade.
Solto o ar que vinha prendendo nos pulmões e às lágrimas em meus olhos, caem violentas sem que eu tenha mais forças para segura-lás.