" A vida pode ser sem sabor, sem cor e sem graça, quando um grande amor não nos acompanha nessa jornada. "
Por: Pietro.
Não consegui dormir, parecia que eu sentia a presença dela aqui, me olhando.
Passei a noite revirando meu corpo na cama. Lá pelas tantas da madrugada, desci em busca de uma bebida forte. Precisando de alguma coisa para intorpecer essa dor.
Eu sabia que seria assim. Retornar para a fazenda faria meus fantasmas se levantarem para me assombrar.
No primeiro gole, senti meu corpo aquecer.
"Destino maldito me trouxe de volta ao lugar que são recheados das lembranças dela!"- penso, tomando mais um gole da bebida.
Vi o alvorecer, vi o sol apontar no céu. Subo para o meu quarto. Antes de chegar ao meu aposento, paro na frente da porta do cômodo que divido com minha amada esposa. Fico tentado a entrar, minha mão toca a maçaneta de metal frio, no entanto escorrega pesada, sem forças para girá-la.
Solto uma respiração pesada de pura frustação e ódio. Tenho tanto sentimentos negativos dentro de mim, tanta amargura e dor.
Quando cheguei à sala de jantar, minha paciência foi para o inferno quando vi que uma das empregadas estava vestida como uma palhaça de circo. As cores gritantes destoavam de tudo ao redor e, consequentemente, azedaram ainda mais o meu humor.
Era como ter diante de mim uma pessoa que exteriorizava a alegria presente em seu interior, exibindo cores vibrantes e chamativas, o oposto de mim, que me visto conforme a escuridão que me domina, totalmente de vestes pretas. Completamente opostos, seguindo por caminhos distintos numa mesma existência.
Meus olhos focaram a jovem de cabelos pretos ondulados, cujo comprimento chega até a sua fina cintura. Sua baixa estatura, seu rosto delicado e os olhos verdes esmeralda escondidos por sua franja lhe conferem pouca idade, talvez dezoito anos recém-completados.
" Então é isso, uma adolescente que vive no mundo das ilusões, não conhece as dores que o mundo pode lhe causar."- concluí.
Depois do café, me tranquei no escritório para estudar o andamento da fazenda e dos outros negócios. É quase hora do almoço e estou aqui diante da tela do computador, verificando balanços e relatórios dos mais diversos.
Estou compenetrado nas minhas verificações quando alguém bate na porta, e pelo toque suave na madeira sei que se trata de dona Violeta.
_ Entre!- ordeno sem desviar meus olhos do gráfico do mês passado.
_ Atrapalho, figlio?minha mãe fala, adentrando no cômodo.
_ Não, no entanto, seja breve. Tenho muito o que revisar para me pôr a par de como tudo anda funcionando.
_ Serei, meu querido.- minha mãe diz, sentando-se numa das duas poltronas que ficam dispostas bem a frente da mesa onde estou.
Os olhos analíticos de Violeta pesam sobre mim.
_ Estou indo até a clínica, seu pai passará por uma cirurgia hoje à tarde. A doutora Manoela acabou de me informar. - diz com a voz baixa.
Apenas lhe dou um rápido olhar.
_ Tudo vai ocorrer bem, não se preocupe.- respondo.
E p***a, tem que ser assim. Não suportarei ficar tempo demais nesse lugar. Eu não posso voltar no tempo para mudar nada do que aconteceu. Esse maldito passou, mas aqui dentro de mim tudo está sangrando desde o dia em que Pâmela partiu. É uma mentira brutal quando dizem que o nefasto tempo cura tudo. O infeliz debocha da dor alheia, sapateia em cima das lágrimas derramadas e se veste com a saudade que te rasga o peito.
_ Pietro, filho, você foi rude demais com a Larissa. Entenda que ela é uma garota que tem apenas dezenove anos, não queira que ela se vista como uma senhora de quarenta anos. E outra...
Soltei a caneta com a qual eu fazia uma série de anotações e fitei minha progenitora
_ Ela é cafona, uma matuta, isso é perceptível de longe. No entanto peça para que pelo menos tenha a decência de prender o cabelo ...melhor, não quero que ela nos sirva.- falo, não suportaria todos os dias me deparar com tantas cores gritantes.
Dona Violeta apenas me olha, levanta-se do seu assento e sai do escritório, fechando a porta atrás de si. Jogo a cabeça para trás, fechando os meus olhos em seguida.
_ Por que diabos eu me irritei tanto com a porcaria de uma garota colorida? Não me passou despercebido o seu olhar curioso me medindo de todas as formas e...
Meu celular toca no bolso do meu paletó, busco pelo aparelho e vejo ser Vittorio quem me liga.
Tomo uma lufada de ar antes de atender a chamada.
_ Fala.
_ Como estão as coisas? - Meu irmão pergunta.
_ Gerardo fará uma cirurgia na parte da tarde. - aviso.
_ Tem somente isso para me relatar?
_ Sim, de resto, tudo em completa ordem. - respondo, querendo encerrar o assunto.
Sua risada ecoa do outro lado da linha.
_ Quando pretendia me contar que anda fodendo com a sua noiva? Seu e******o! Pedi para não ter relações com ela antes do casamento, c****e!!!- grita irado.
Que conversa era essa agora!
_ Ligou para falarmos da minha vida s****l? Quer saber quantos orgasmos sou capaz de dar a uma mulher? - coço a ponta do meu nariz.
_ Me responda, c*****o!!!
_ Não que isso fosse um problema, ela não é mais virgem, no entanto nunca toquei um dedo na Andrea. Se essa fofoca está rolando, é pura invenção dessa mulher.
_ O pai dela está infernizando a minha vida, querendo que eu apresse esse casamento.
_ Não aceito que a data seja adiantada. Vittorio, você me deu sua palavra! - falo calmo.
_ E você a tem. Até mais.
A ligação é encerrada, olho para um sofá onde por muitas vezes fiz amor com minha esposa e sinto meu peito doer.
Nunca mais o gosto do sexo foi o mesmo, nunca mais senti prazer igual ao que o corpo dela fornecia ao meu.
Minha vida tornou-se sem sabor, sem cor e sem graça.