Capítulo 2 - Gabriel e Helena

1295 Words
Gabriel Quando os olhos dela encontraram os meus, eu soube. Ela não estava ali pra me matar… Ela tremia muito, estava com o medo estampado naquele rosto de menina, lindo… Eu vi que existia nela, algo mais do que tremor e medo… Existia coragem! Ela não disse nada. Apenas passou a mão no meu rosto, me puxou pelo braço e puxou-me para cima com uma força que não vinha do corpo pequeno dela, mas da alma. Helena Fui arrastando aquele homem bem maior que eu, com uma força que eu não sabia que existia. Levei-o até a velha cabana que ficava ali bem perto, indo por um atalho, que eu conhecia. Um lugar que a mamãe usava para pintar quando o mundo ainda fazia sentido. Deitei ele no colchão velho e vi que sua respiração estava curta… O medo de que ele morresse tomou conta… — Por favor, Deus, não leve ele. Eu tentei sair de perto dele para ver se na cabana tinha algo para ajudá-lo e ele me puxa pra cima dele… Como ele ainda tem forças? pensei. — Não vá embora, não me deixe sozinho… não me deixe morrer… — Ele suplicou sussurrando, gemendo de dor. — Eu, eu… — Tentei falar e a voz cortou. — Eu vou cuidar de você, calma… Confie em mim… Tá certo? — Ele tentou falar, mas não conseguiu… mas vi que ele confiava em mim. A verdade, é que ele não tinha muita saída… Achei uma caixa antiga onde tinha tesoura e rasguei sua camisa e vi que ele usava colete igual ao da moça morta e vi que estava estraçalhado… o corpo dele tinha machucados profundos, mas parecia que não tinha balas. — É bonitão, você parece que não tem bala nenhuma, menos m*l! — As costas… — ele sussurra. — O que? — Coloquei o meu ouvido na boca dele… — Tem bala nas minhas costas… — Sério? Ai meu Deus… e agora? o que eu faço? — Fiquei nervosa. — Tenha calma e me vire… — Tá certo, tá certo… Eu, eu… — Virei ele com sua ajuda. Ele gemia muito de dor, e realmente ele tinha levado um tiro nas costas, mas ele era tão sortudo que a bala estava presa num pedaço do colete. — Porr@! Você tem quantas vidas? Parece um gato… — Ele esboçou um riso fraco… — Gabriel, você está bem ferido e isso aqui é uma cabana abandonada, não tem nada… Preciso te tirar daqui, senão você morre. — Ele me puxa e me leva pra junto dele. Meu rosto ficou colado no dele e eu senti sua respiração… — Eles vão me matar… como mataram minha… minha parceira… — A moça que estava no chão? — Sim… Fizeram uma emboscada e ela foi morta. — Tá certo, mas num dá pra ficar aqui. Vou te levar para o meu chalé, é aqui perto e lá tem mais condições que aqui. — Não, não… — ele gemeu contrariado. — Olhe aqui, confie em mim… não temos outra saída… — Se a gente sair, eles… eles vão me matar. — Pelo que eu estou vendo, você vai morrer de todo jeito… Eu que estou louca de ficar aqui com você… — Ele abre mais os olhos pra me encarar… — Tá certa… — Vamos fazer assim, eu vou dar uma olhada se tem algum barulho lá fora e se tiver mais calmo volto pra te pegar… Espere aqui. — Espera… — Eu não vou te abandonar… — Falei nervosa e ele mostra a arma dele pra mim… — Leve isso com você e atire em qualquer um que se aproximar… — Eu não sei atirar… — Quando sair daqui, me prometa que vai aprender a atirar, nunca se sabe quando vai precisar, entendeu? Mas preste atenção que eu vou te mostrar como faz… — Ele tenta me explicar com a respiração ofegante, fazendo gestos… me ensinando. — Tá certo, tá certo… Assim eu engatilho e puxo? — Segure com força e firmeza… — Aí meu Deus, por favor, não apareça ninguém, eu sou muito nova pra morrer… Não vivi nada da minha vida… Eu falava sem parar, tentando manusear a arma… — Calma, você consegue e… — Você diz isso, porque tá quase morto e eu tô começando a viver agora e ainda sou virgem, sabia? e só beijei duas vezes na vida e nem foi bom… Meu nervoso era tão grande, que eu falava sem parar e ele me olhava com cara de dor e acho que estava espantado também. Abri a porta e… — Menina… — Ele me chama antes que eu saísse… — Você ainda não prometeu? — Tá, eu prometo. — Fechei a porta e me deparei com o ‘quase’ total silêncio da floresta. Só se ouvia o canto dos pássaros e do vento… Andei devagar até perto do local onde o corpo da moça e dos dois homens estavam. E não tinha mais nada lá, como se nada tivesse acontecido… Andei mais um pouco e realmente a floresta tinha voltado a ser um lugar calmo e seguro que eu sempre conheci até aquele dia… Se eu contar o que aconteceu aqui, vão me chamar de louca. Voltei e o encontrei parecendo que estava desacordado… — Será que ele morreu? — Pensei… Fui colocar minha mão na testa dele devagar, para sentir sua temperatura… e… ele pega no meu pulso com força e grita… — Sophia…Sophia… — O sussurro era desesperador… Os olhos dele se arregalaram e o verde estava ainda mais intenso… — Calma, sou eu… solte meu pulso, tá doendo e assim você vai quebrar. — Supliquei gemendo de dor. Ele conseguiu recobrar o seu estado normal e soltou meu pulso… e vi que ele estava muito quente e com certeza com febre. — Escute, Gabriel… Você está piorando, temos que sair daqui, para que eu possa cuidar desses ferimentos. — Como está lá fora? — Não tem ninguém, levaram até os corpos… Nem parece que aconteceu uma guerra aqui. — Queima de arquivo. — Ele sussurrou. — Como assim? — Perguntei sem entender. — Agora não tem importância. — Tá certo, então vamos, eu vou te ajudar, mas você precisa colocar força nas pernas, porque sozinha eu não consigo, você é grande e apesar de ser magro é forte. Consegui levá-lo com muito esforço até o chalé por um atalho… Agradeci a Deus por gostar tanto de me esconder quando criança, me ajudou a aprender todos os atalhos da região. Coloquei ele na minha cama, e corri para pegar a caixa de primeiros socorros e agradeci a minha amiga Isa que há duas semanas me obrigou a fazer um curso de primeiros socorros, dizendo que teve um sonho que ela ia sofrer um acidente e que eu ia cuidar dela… — Caramba, não era ela que ia precisar que eu cuidasse… Olhei para a caixa cheia de coisas e perguntei: — o que eu faço primeiro? Respirei fundo, olhei pro céu e disse: — Senhor, se você me ajudar aqui e agora, eu prometo que quando eu sair daqui vou aprender a atirar e fazer um curso mais completo de enfermagem. Comecei olhando todos os ferimentos, e tinham muitos, mas parecia não ter atingido órgãos. Ainda assim, sangrava bastante. — Gabriel, deixa eu te levar para o hospital… tenho uma amiga que pode te ajudar. — Não faça isso… — ele segura no meu braço e fica nervoso… Se eu chegar num hospital, eles vão me matar. Pode ter certeza que eles estão me procurando. — Mas eu não sei fazer isso… — Por favor, cuide de mim… você é a única que pode me salvar. Ele sussurrou, suplicando, me encarando… e os seus olhos suplicavam por mim.. ***
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