Gabriel Eu observava tudo de longe, escondido atrás de outra lápide. O disfarce era impecável — macacão de coveiro, peruca, óculos escuros, boné enfiado até as sobrancelhas. Mas nada disso me protegia do que realmente doía: ver o meu próprio funeral. Minha prima estava diante do caixão, segurando a Bíblia com as mãos trêmulas. Leu uma passagem que minha tia lia sempre para nós, e sua voz estava embargada. Depois de um silêncio que pareceu eterno, fechou o livro, beijou a capa e ergueu o olhar para o céu. — “O Senhor é Deus de justiça; bem-aventurados todos os que nele esperam.” — sua voz quebrou no fim. — Eu creio nisso, Gabriel. Fique em paz, meu querido. Ela jogou uma rosa branca sobre o caixão. Logo depois, Miguel se aproximou — o pequeno Miguel — e deixou uma rosa amarela ao lado

