Síria observava tudo com um sorriso no rosto. Conhecia Nico muito bem. Ele podia ser brincalhão, mas era extremamente eficiente. Para a tristeza de Júnior, fazia dias que Nico não tinha um pouco de ação, então ia sobrar para ele. Os seguranças assistiam à cena abismados e um tanto receosos. Afinal, se o chefe apanhava assim, o que seria deles?
— Agora que já nos entendemos, vamos falar de negócios? — perguntou Nico, com um sorriso.
— Sim, senhor. No que posso ajudar hoje?
— Veja bem, Júnior, temos recebido informações de que você está traindo a organização. O chefe não está feliz, não é mesmo, Síria?
— Com certeza. Ele estava pensando em te levar para fazer uma visitinha ao porão — disse Síria, dando uma piscadela para ele.
Todos sabiam o que era o porão da Fênix: um lugar onde levavam aqueles que aprontavam. Quem entrava ali, não saía respirando. O rosto de Júnior ficou pálido.
— Não! Por favor! — disse Júnior, ajoelhando-se e agarrando a perna de Nico. — Eu não fiz nada! Isso é alguém tentando me incriminar, eu juro!
— Larga a minha perna. Você está me sujando com essas suas mãos asquerosas — disse Nico, sério.
— Me desculpe! Me desculpe! — disse Júnior, afastando-se rapidamente.
— Sua situação não é fácil, Júnior. Mas hoje estou me sentindo misericordioso, então vou deixar passar. Você está na lista. Se pisar na bola mais uma vez, já era.
— Acho que ele se esqueceu de que não precisamos dele, Nico — disse Síria, aproximando-se. — Não sei se você lembra, Júnior, mas o chefe fez um grande esforço para livrar essa sua b***a inútil.
— Eu me lembro, senhorita. Tenho muita gratidão ao chefe — disse Júnior, de cabeça baixa.
— Ótimo. É bom que você não esqueça mesmo — disse Síria. Nesse momento, o seu telefone tocou. Era hora de jogar a isca.
— Oi — atendeu Síria. — Do que precisa? — Ela fingia falar ao telefone, em uma ligação falsa para montar a armadilha. — Sim, o chefe tem um encontro hoje. É com um cara importante. Isso. Se fecharem negócio, vamos ser a maior organização dentro e fora do estado. Vai ser no prédio da antiga prefeitura, às dezenove horas. Beleza então. Até mais.
Quando desligou, Júnior a encarava com interesse.
— Bora, temos outra coisa para fazer — disse Síria, virando-se e indo para o carro.
— Você se livrou dessa, Júnior. Fica esperto — disse Nico, já saindo.
Depois de deixarem o galpão, passaram por outros lugares espalhando a mesma isca. Naquela noite, teriam a prova de quem era o traidor.
Na hora marcada, Síria e Nico esperavam dentro do carro, em um ponto estratégico próximo à antiga prefeitura. O local era cercado por pequenas chácaras, tranquilo o suficiente para a armadilha deles. Alguns minutos depois, um carro se aproximou. Não foi surpresa para ninguém ver Júnior saindo com mais dois homens.
— Olha o nosso cara — disse Síria, enquanto colocava uma batata frita na boca.
— Não dá para dizer que eu não tentei deixá-lo vivo — disse Nico, tomando um gole de refrigerante. — Estava precisando mesmo de um pouco de ação.
Nico desceu do carro, seguido por Síria. Ambos se separaram e foram em direção aos homens que estavam com Júnior. Estavam armados com pistolas de tranquilizantes, afinal, precisavam deles vivos. Rapidamente, abateram os dois comparsas, deixando apenas Júnior, que ainda não havia percebido que estava sozinho.
— Olá, Júnior — disse Nico, saindo das sombras.
O rosto de Júnior ficou branco, e ele começou a tremer levemente.
— Nos encontramos novamente.
— Acho que alguém não tem amor à vida — disse Síria, aproximando-se com um sorriso.
— Não é o que vocês estão pensando! Eu só vim conferir se o chefe estava bem! — disse ele, atropelando as palavras e levantando as mãos.
— Não se preocupe. Você vai poder falar com ele, para onde vamos levá-lo — disse Nico, aproximando-se.
— Não! Eu não fiz nada!
Nesse momento, ele tentou correr, mas Nico disparou um dardo tranquilizante, e ele desabou.
Júnior foi levado para o carro e, em seguida, para a mansão. Depois de colocarem todos os capturados em uma cela no porão, subiram para ver o chefe.
— Tudo certo, chefe.
— Muito bem. Preciso que você, Síria, vá para outro lugar ainda.
— Tranquilo. Qual é o serviço? — Síria adorava noites agitadas; isso a fazia dormir bem.
— Está tendo uma festa hoje em um hotel. Preciso que você se arrume, atraia o Rils e dê fim nele.
— Beleza.
— Sua roupa já está no seu quarto.
— Te ligo quando terminar — disse ela, já subindo a escada.
— É bom que o Júnior hoje é todo meu — disse Nico, com um sorriso no rosto.
Síria subiu correndo. Ao entrar no quarto, viu um lindo vestido vermelho sobre a cama, acompanhado de um par de sandálias pretas de tiras e várias caixas de joias. Ela sabia o que Ricardo queria: ela precisaria atrair a sua presa.
Arrumou-se rapidamente e, ao se olhar no espelho, assustou-se com a sua própria aparência. Via uma mulher elegante e bonita. O vestido abraçava cada curva do seu corpo. Havia uma f***a na perna que ia até as coxas, e as costas estavam nuas. Ela estava linda.
Descendo as escadas, topou com quatro pares de olhos a olhando com admiração e orgulho.
— Maninha, você está um arraso — disse Nico, ajudando-a a descer os últimos degraus.
— Você está incrível — disse Charles.
— Pelo que vejo, escolhi bem — emendou Ricardo.
— Você sempre teve bom gosto, Ricardo.
— Leve um sobretudo, termine o serviço e volte para casa — disse Xavier, preocupado com os olhares que ela atrairia naquela noite.
— Também te amo, Xavier — disse Síria, piscando para ele. As bochechas dele coraram levemente.
— Tenha cuidado. Se precisar de nós, é só ligar.
— Até parece que comecei nessa vida hoje. Às vezes, vocês agem como se eu fosse uma criança.
— Criança, não. Mas você é nossa irmãzinha, e somos irmãos ciumentos — disse Nico, sério. — Acho melhor eu ir com você. O que acha?
— Não, e não me siga — respondeu ela, já saindo. Se demorasse mais um pouco, acabaria com uma escolta dos seus cavaleiros.