— Eu entendo, querida.
Disse Joana, olhando para Síria com pesar.
— Você não imagina o prazer que senti quando fiz isso. Ele não esperava que eu fosse abrir o seu peito. Quando puxei o seu coração, fiquei em êxtase com a dor dele.
Joana a observava em silêncio. Nunca fora mãe, então não conhecia a dor de perder um filho. Por isso, não se permitia julgar as ações de Síria. Não sabia o que faria se estivesse no lugar dela.
— Você deve pensar que eu sou c***l, não é mesmo?
Joana olhou nos olhos de Síria, que agora demonstravam dor, e segurou as suas mãos com força.
— Não, Síria. Eu não penso assim. Você sofreu uma dor enorme. As duas pessoas mais importantes da sua vida foram mortas na sua frente. Pelo menos, você pôde vingar não apenas elas, mas também outros que sofreram nas mãos daquela gente. Você é mais forte do que pensa.
Síria suspirou e olhou para Joana com carinho. Joana a ajudara muito no seu luto. Enxugava as suas lágrimas e, quando Síria destruía o quarto em ataques de fúria, era Joana quem entrava depois que ela desmaiava de exaustão, limpava tudo, substituía o que fora quebrado e, com ajuda, colocava Síria na cama.
— Eu sempre vou te agradecer por ter ficado ao meu lado. E nunca vai ser o suficiente.
— Se quer realmente me agradecer, conheça um bom rapaz e vá viver uma nova vida.
— Sei que você tem razão. Este ano foi mais tranquilo que os outros.
— É porque você está começando a se perdoar. Eles sempre serão uma parte importante de você. Por eles, deveria dar uma chance a si mesma novamente.
— Prometo que vou tentar.
— É tudo o que desejo, querida.
No caminho para casa, Síria estava pensativa. Sentia no peito uma sensação que conhecia bem: a vontade de sangue. Estava agitada. A conversa com Joana, apesar de boa, reabriu feridas antigas. A vontade de gritar, socar e extravasar aquela energia r**m era enorme. A suas mãos seguravam o volante com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos.
A sua concentração não estava boa, então parou o carro na beira da estrada, ligou o alerta, pegou uma garrafa de água e saiu. Passava as mãos pelos cabelos de forma enlouquecida, como se quisesse arrancá-los. A dor em seu peito só aumentava, dificultando a sua respiração. Síria jogou-se contra o capô do carro e começou a desferir socos, ignorando a ardência dos machucados que se formavam nas mãos. Estava tão fora de si que não percebeu quando outro veículo estacionou à sua frente.
Klaus voltava de uma missão. Tudo o que queria era uma cerveja gelada e um banho. Ao longe, viu um carro parado no acostamento, mas o que chamou a sua atenção foi a mulher que tentava arrancar os cabelos. Ao passar pelo carro, reconheceu a sua visitante da outra noite. Intrigado e curioso para saber o que a havia deixado naquele estado, parou o carro mais à frente, desceu e foi em direção a ela.
Quando Síria ia desferir mais um soco no carro, uma mão segurou o seu pulso.
— Está tudo bem?
Ela reconheceu a voz, mas seu lado irracional não queria saber.
— Se não quiser morrer, sugiro que me solte.
Ela não falou, ela grunhiu. Foi quando Klaus percebeu que algo estava errado.
— Você está se machucando.
— Solta meu pulso, p***a!
Ela tremia. A suas emoções estavam fora de controle. Lembranças antigas dançavam em sua mente, trazendo dor e sofrimento.
— Você precisa de ajuda. Vai acabar se machucando feio desse jeito.
Ela se afastou de Klaus, puxando o pulso. Quando os seus olhos encontraram os dele, Klaus vacilou por um segundo. Os olhos que o encaravam eram de uma assassina. O suor escorria do rosto dela, e o seu peito arfava com dificuldade para respirar. Não era mais a mulher concentrada que conversara com ele dias antes. Era alguém que ele não reconhecia.
Quando Klaus tentou se aproximar novamente, um carro parou ao lado, cantando pneus. Três homens desceram e vieram em direção a eles.
— Não chegue perto dela — disse o primeiro.
Klaus observou enquanto eles se aproximavam dela com cautela.
— Maninha, sou eu, o Xavier. Vim te levar para casa.
Ele se abaixou e a abraçou com força, enquanto Síria desabava em seus braços. Klaus ficou perplexo com a cena.
— Xavier! Como você me encontrou? — perguntou ela, ainda agarrada a ele.
— A Joana me ligou assim que você saiu — respondeu ele, fazendo carinho nas costas dela.
— Ela vai ficar bem? — perguntou Klaus. Os homens perceberam que ele ainda estava lá, observando.
— Pode ir. Vamos cuidar dela — respondeu Charles.
— Não precisa se preocupar — completou Nico.
— Me desculpem, mas como posso ter certeza de que vão cuidar dela direito? Ela não parece estar muito bem.
— Não se preocupe, Klaus. Ela estará mais segura conosco do que com você — respondeu Charles, encarando-o com firmeza. Klaus ficou surpreso, mas logo recuperou a postura e os encarou intrigado.
— Quem são vocês? E por que parece que todo mundo sabe o meu nome?
— Respondendo à sua pergunta, o sistema de segurança de dados da sua agência é uma merda. Vocês precisam melhorá-lo. Segundo, somos da Fênix, então é melhor sair do nosso caminho — disse Nico, com um sorriso sinistro.
Klaus sabia quem era a Fênix. Era uma organização perigosa, envolvida em diversos crimes. Não eram pessoas que você gostaria de encontrar em uma noite escura. Ele já ouvira relatos macabros sobre as suas ações. Mas, ao olhar para a mulher nos braços de um deles, o seu coração apertou. Não queria que a levassem, mas sabia que não poderia impedi-los.
— Droga! Olha a mão dela — disse Charles, observando os machucados.
— Vou pedir para o chefe cancelar o retorno dela. Está claro que ela não está bem.
— Concordo — acrescentou Nico.
— Posso fazer uma pergunta? — disse Klaus, observando-os.
— Qual? — perguntou Nico, desconfiado.
— Qual é o nome dela?