A moçoila amedrontada corria contra o tempo, sem saber quando o dono de seu novo cárcere voltaria. Ela rasgou os panos velhos jogados à sua volta e os amarrou como pode em seu corpo cobrindo-lhe as partes principais. Sentia-se desnuda, vestida de um modo indecente e vulgar, já sentindo falta de seus babados e musseline. No entanto, era sua única opção, já que perdeu o resto de seu pobre vestido para uma noite de amor com o demônio das montanhas.
Quando se deu conta, Lisbeth corava intensamente, recordando-se de sua noite passada, sem saber se focava na idiotice de achar mesmo que estava indo para o inferno, ou nas sensações que aquilo lhe proporcionou. Ela tocou em seu pescoço, sentiu suas marcas e murchou os ombros… Se voltasse, diriam que ela é a esposa do demônio. Tinha as marcas demoníacas em sua garganta e, com certeza, seu pai não estaria a seu favor. Pensara Lisbeth o que estaria acontecendo, e seu irmão… Viria atrás de si?
Os pensamentos de Lisbeth foram todos para o ralo quando o homem simplesmente voltou com um cervo de porte médio, sangrando e um pouco dilacerado. Ela tapou a boca com o susto, sentiu o estômago embrulhar e a criatura se sentou ao lado do animal o empurrando para sua direção. Sem nada dizer, ele afundou as garras na carne do bicho, puxou uma costela farta e o enfiou entre os dentes, mastigando com facilidade.
Lisbeth ficou boquiaberta e viu ele empurrar o animal para ela mais um pouco, notando sua intenção. Ele estava dividindo seu alimento. Era gentil, mas como explicar a ele que ela não se alimentava exatamente dessa forma.
— Obrigada. — ele levantou os olhos com a boca cheia, mastigando devagar — Eu não como carne crua, acho que não consigo. — ele continuou a olhando como se ela fosse um bicho estranho.
Abaddon rosnou, enquanto ela olhava um tanto desgostosa para a carne. Seu estômago estava roncando, mas estava longe de desejar comer aquilo. Já ele, comia com tanto gosto, quanto fosse possível.
— Carne boa. — sua voz tinha um grave, junto a um ruído animal — Cervo jovem.
Ele enfiou as mãos numa costela do bicho morto, puxou o tolete de carne e o aproximou de seu rosto. Lisbeth mordeu os lábios insegura, respirou fundo e engoliu em seco, apontando a mão trêmula e pegando o pedaço de suas mãos. Ela cheirou o amontoado carnudo, notou o estômago roncar e abriu a boca, m*l encostou a língua e sentiu o amargo do sangue animal embrulhar seu estômago.
— Desculpe, não consigo. — retrucou com a pouca coragem que tinha e devolveu a peça para perto do animal morto — Eu não consigo comer carnes assim. Em minha casa costumávamos assar ou cozinhar no fogo. Nem você deveria comer carnes assim, pode fazer m*l e lhe causar dores na barriga. — ele a olhava como se ela fosse apenas uma criatura reclamona, enchendo a boca de carne e roendo a costela do cervo.
Ela tapou o nariz discretamente, se encolheu um pouco mais e tentou pensar em seu próximo passo. Pensou em tentar entender a criatura, conquistar sua confiança e se livrar das correntes, mas nenhum de seus pensamentos teve direção, quando ele se levantou segurando o cervo entre as pernas e um rosnado saiu de sua garganta.
— Humana trabalhosa! — resmungou o demônio, tirando um olhar surpreso de Lisbeth. Ele estava reclamando dela? Mas que grosseiro!
Nem mesmo deu tempo dela se defender e o demônio saiu em busca de afastar as vontades dela. Tão rápido saiu, rápido voltou. Ele tinha nos braços toras grossas de madeiras e os soltou olhando para ela de um modo confuso, pois para abaddon carne de cervo crua era a melhor.
Ela o observou cuidadosamente do lado de fora, levou um tempo e os primeiros chamuscados de fumaça começou a surgir. Como quem não precisava de esforço, ele afundou um graveto grosso dentro da boca do animal e fez a peça atravessar seu corpo, raspando com suas garras a pela e a barrigada. Em questão de minutos o animal estava preso numa ponta dupla, acima do calor da fogueira, salivando a boca de Lisbeth.
Ela mordeu os lábios, viu ele se abaixar no chão e simplesmente parar a sua frente. Esperou por algo, uma fala, um ataque, um rugido, mas ele só estava ali, olhando para ela de olhos vermelho e rosnando internamente.
— Porque está me olhando?
— Abaddon tem bons olhos.
Ela ficou extremamente sem graça. Se Abaddon tivesse educação, não responderia dessa forma grotesca e óbvia. No entanto, duvidava que ele tivesse tido o mínimo de educação… De repente se viu tentada a saber mais.
— Não é bonito ser grosseiro dessa forma. — respondeu com seu melhor empenho.
— Abaddon feio, Lisbeth bonita por dois.
Ele continuou parado, sentado como um felino ardiloso, olhando a mocinha corar com seu elogio enquanto a carne começava a soltar um cheiro que fazia a barriga dela roncar. Viu ele arquear as sobrancelhas e se sentiu sem graça, pois teve a impressão de que ele podia ouvir seus barulhos.
[...]
A carne não tinha temperos, mas estava muito melhor que o gosto amargo de sangue do animal cru. Lisbeth comia sobre o animal morto, assado e fumegante, enquanto Abaddon lhe fazia companhia. Em tão pouco tempo ela já sentia falta de uma escova, limpeza e vestidos bem arrumados, no entanto, não sentia falta de sua velha vida, já que sua mãe não estava mais lá.
O demônio rosnava, vigiava e comia. Lisbeth sentia-se extremamente confusa. Ora com medo, ora admirando o espécime. Ele a tomou para si e ela corava ao pensar nas coisas que fez, no entanto, sabia que era apenas uma questão de tempo para o demônio pensar em possuí-la novamente, uma vez que esclareceu o seu sentimento de posse e vontade. Estaria Lisbeth louca se explicasse para o demônio os termos matrimoniais? Bom, não exatamente conseguiria um padre, mas se pudesse proferir algumas palavras santas, sem ofender o demônio, estaria ela diminuindo seu pecado? Oh céus… A que ponto a loucura de Lisbeth estava chegando, ela estava pensando em matrimônio com o d***o!
Bom, Lisbeth já foi cortejada, mas repudiava a ideia de se casar à força. Teve Edgar ao seu encalço, salvando-a dos casamentos enquanto seu pai a negociava como um objeto. Uma vez que ele a olhou como uma bastarda, a cada dia corria o risco de ser o seu último, até que Lisbeth prometeu pacientemente ser cortejada pelo amigo de seu irmão, Austin. Ela não se imaginava com o homem, mas já passara da idade do casório e não havia mais escapatória.
Lisbeth recordou-se dolorosamente de um grito agudo ecoar durante a noite. Levantou-se sorrateira com medo de que fosse com sua mãe. Seu pai não ousava atacá-la na presença de seu irmão, mas naquela noite Edgar não estava lá. Lisbeth sabia que a esposa não podia se negar ao marido, ou sofria, como sua mãe sofreu.
Sua mãe chorava por dias, recolhia-se em casa e m*l sorria, até conseguir voltar à velha rotina da fazenda. De repente, Lisbeth admirava Abaddon. Quisera ela poder ser cortejada por um homem que a faria gritar de amor durante suas noites, não de repúdio.
Abaddon precisava saber que não era seguro mantê-la ali. Era vergonhoso, mas o demônio lhe alimentava, lhe guardava, mesmo sob o ódio mortal que guardava dos humanos. Tinha a leve impressão de que estava apaixonada, mas não tinha certeza. Podia apenas estar louca…Apenas não desejava que ele sofresse com os pensamentos repugnantes de um presbítero cego, pois era isso que aconteceria se seu irmão a viesse buscar e igreja usasse isto para uma nova caçada.
— Abaddon, sabe porque estou aqui? — ele fez uma negativa, comendo o cervo assado, não com tanta vontade quando comeu ele cru — Minha mãe morreu. — ele pareceu não se importar — Meu pai a matou, ela me mandou fugir e eu atravessei o rio porque sei que eles tem medo das montanhas frias. — Imediatamente ele pareceu pensar se continuava comendo e Lisbeth aproveitou para dizer, antes que perdesse a coragem — Meu pai não me caçaria aqui, mas meu irmão, talvez. A igreja pode incentivá-lo.
— Minha humana. — resmungou Abaddon, sem pensar duas vezes.
— Antes de ser a sua humana, Edgar já era meu irmão. Você precisa saber que se ele subir aqui, não vai ser porque ele te odeia e sim porque ele quer me achar.
— Minha! — repetiu Abaddon, enchendo a boca e rosnando mais alto, tentando se conter.
Lisbeth sabia que precisava de um jeito de domar a fera, sem medo e sem problemas. Não era hora de confissões de amor, mas pensava que Edgar pode trazer uma patrulha exorcista e machucar Abaddon, e talvez até Edgar saia morto. Não, ela já tinha as terríveis imagens da mãe sendo surrada pelo pai e de seus gritos na casa queimando. Era culpa o suficiente.
— Desde quando está na caverna?
— Coisinha barulhenta. — rosnou com a boca cheia — Abaddon adorar silêncio! Coisinha aprender silêncio!
Certamente Lisbeth estaria se borrando nas calças, encolhendo-se novamente e tremendo feito um rato, mas Abaddon foi extremanete grotesco, m*l educado, rude e e******o! Sim, ele foi exageradamente e******o!
— Se eu pudesse lhe ensinar modos, estaria surrando seu traseiro! — respondeu com fervor, desafiando a fera — Já me enfiou nas correntes, não se atreva a me calar!
Abaddon cerrou os dentes, estava desgostoso, engoliu a carne com raiva e rosnou para sua humana. Ela é dele, não vai entregá-la a ninguém, muito menos a igreja. Ela tagarela seus temores como se fosse simples e ele odiava sentir medo.
— Abaddon odeia humanos — confessou com tristeza em sua voz —, mas não odeia Lisbeth. Minha! — Ele rugiu. Fez isto de costas para não apavorar sua coisinha irritante com suas presas muito expostas. Tentou se conter, respirou mais calmo e se virou para ela.
Sua humana estava encolhida, abraçando seus joelhos e de olhos atentos. Ela estava com medo… Isso estava errado! Ela não podia sentir medo, não era isto o que ele desejava. Ela era dele, precisava dizer isso para ela sem que ela sentisse medo. Iria amá-la, assim ela não lhe negaria. Sendo assim, se aproximou.
Lisbeth queria lhe dar um tapa, pensou nisso cruelmente quando ele se aproximou como um bichano predador. Num momento preocupada com ele, no outro pensando em esbofeteá-lo e, de certo modo, ela via isso como algo bom. Seu medo estava indo embora, mas não o suficiente para ela aprontar uma dessas.
Ela engoliu em seco, quando devagar ele levantou uma das mãos, encaixou os dedos em volta de seu pescoço e quando ela ousou pensar que ele a mataria ali, ele simplesmente a puxou, enfiou a outra mão atrás de sua cabeça e a deitou ao seu lado. Ela chegou a segurar em seu pulso, mas ele abandonou seu pescoço assim que ela estava segura no chão.
— O que pensa em fazer? — perguntou num fio de voz, extremamente confusa.
Ele mostrou a ela seu indicador, esperou que ela se concentrasse na ponta de seu dedo e despontou uma garra afiada. Ela abriu bem os olhos, acompanhou sua decida e engoliu em seco no momento que ele a tocou com a ponta da garra entre seus s***s. Ela também pensou algo sobre ele perfurar seu coração, mas ele raspou a garra cuidadosamente para baixo e rasgou os panos que enrolou em seus s***s.
As m***s estavam libertas e Lisbeth sentia o vento frio tocando-a na ponta de seus b***s. Olhou disfarçadamente para o demônio, o viu passar a língua no lábio superior e tentou não se mover. Ele ronronava, parecendo satisfeito com sua vista enquanto Lisbeth alternava entre o nervoso e a vergonha.
— Pare com isso… está me constrangendo…
— Abaddon não liga. — rosnou em resposta subiu o rosto e colocou cada uma de suas mãos de apoio no chão, ao lado de sua cabeça, tapando-a com a visão de seu corpo grande — Lisbeth rosa.
— Estou com vergonha… — murmurou engolindo em seco — Nunca cheguei nessa parte do matrimônio. Você é meio rude, não acha?
— Abaddon promete comer Lisbeth devagar. Abaddon tentar…
Ela arregalou os olhos, se recusou a continuar olhando em seu rosto e olhou para o lado, admirando a bela parede mofada ao seu lado. Seu amante era demasiadamente direto… Oh, céus! Lisbeth estava mesmo beirando a loucura, pois sentiu cada canto do corpo estremecer com a promessa do amante demoníaco.