Capítulo três - Modos de fazer sorrir

3544 Words
Meu pai me encarou calmamente enquanto eu pensava e Roxlan, sabiamente ficou quieto também apesar de estar com um sorriso que era para ser confortante, mas apenas me irritava. Suspirei levemente, pensando no que me preocupava antes de dizer com a voz fraca e hesitante: — Archeon não vai ficar feliz... Meu pai me mandou um olhar gelado, um pouco de raiva aparecendo em suas feições antes de ele voltar ao seu estado calmo usual. — Archeon não tem nada a dizer sobre isso. É sua vida, não pode ficar sozinho aqui porque aquele cara quer isso. — Tellotes Vermelhos são conhecidos pelo seu péssimo humor e possessividade... — Roxlan apontou, se intrometendo na conversa. Meu pai mandou um olhar a ele tão irritado que eu sabia que se o cara não fosse o "chefe" dele já teria levado um soco. Não que o zoffirgar fosse agressivo, mas ainda assim... Além disso, Roxlan e meu pai tinham uma amizade estranha. Antes, minha mãe também fazia parte, mas então eu à matei e aquele trio estranho virou uma dupla. Às vezes, eu via aquele olhar no rosto de Roxlan e sabia que ele estava pensando nela, mas nunca perguntei nada. Não sabia se falar dela o faria m*l e eu não precisava ficar lembrando ninguém que eu havia assassinado duas pessoas apenas para vir ao mundo. Eu devia ser o assassino mais jovem do mundo, cortando a garganta daquele outro bebê daquela forma... E então abrindo a barriga da minha mãe como se fosse um saco plástico. Assassino. — No mínimo metade das espécies tem péssimo humor e são possessivos, Roxlan, por favor... — Meu pai disse completamente alheio ao rumo dos meus pensamentos e eu apenas segui sua deixa, esquecendo qualquer coisa que no mínimo envolvesse sangue. Notei, apenas para me distrair, que ele terminou a frase num pedido mudo para que o mestiço, Roxlan no caso, não falasse aquilo de novo. O dito cujo, conhecendo meu pai talvez até melhor que eu também percebi bem onde ele tinha se metido e ficou quieto, sabiamente apenas escutando enquanto meu pai continuava como se nada tivesse acontecido. — Eu não vou deixar você aqui sozinho! — Arregalei os olhos pela mudança abrupta de tom do segundo homem mais velho naquela sala. Acenei com a cabeça levemente ao mesmo tempo em que respondia "Eu sei" e vi a expressão do meu pai mudar. Credo, mudanças de humor repentinas eram tão assustadoras. — Que bom, querido... — Já que se resolveram e o jovenzinho ali vai com você, Nox, aconselho a ambos a guardar algumas poucas peças de roupas. — Roxlan voltou a falar, dessa vez num tom mais profissional e o sorriso que ele mantinha em sua face tinha desaparecido. — O senhor Hostane me pediu para deixá-lo saber que vai comprar algumas roupas para vocês lá, então não levem muita coisa. Talvez um ou dois conjuntos... — Eu também? — Perguntei, franzindo as sobrancelhas. Só foi decidido que iria junto, sei lá, dois minutos atrás e o cara não deveria ter me incluído nisso. — Você sabe o que a palavra "ambos" significa? — Roxlan me disse num tom que eu até poderia dizer que era grosso, mas eu conhecia aquele cara desde que nasci, praticamente, e sabia que aquele tom era o seu usual. Ainda assim, virei os olhos sem me forçar a responder a sua indagação irônica e perguntei: — Quando a gente vai? — Em dois dias, garoto. — Roxlan disse, seu olhar mudando levemente quando olhou para mim. — O senhor Hostane vai buscar vocês ao meio-dia então eu te aconselho à apenas deixar o Flirtz saber disso um pouquinho antes. Era um aviso doce, mas Roxlan saiu antes que eu pudesse agradecê-lo, embora eu pudesse escuta-lo murmurando um "ou nunca" sob a sua respiração. Meu pai, percebi, estava encarando a porta por onde Roxlan tinha saído e eu sabia que ele, assim como eu, havia estendido o que Roxlan queria dizer. O aviso claro de que Archeon podia tentar interferir na minha ida á "qualquer que fosse o lugar" com meu pai. Bem, fugir não tornaria tudo melhor - pensei com um arrepio subindo pelo meu corpo - mas eu veria isso em dois dias. _______ Três batidas fortes soaram na porta. Lancei um olhar indagativo para o meu pai que apenas negou com a cabeça. Claramente, nenhum de nós dois estávamos esperando visitas às 9 horas da noite de uma quinta-feira, mas às vezes as pessoas simplesmente tendiam a aparecer sem avisar. Minha cabeça doeu um pouco só de pensar em aguentar visita e eu sai do meu sofá parar atender à porta no exato momento em que a quarta batida soou, fazendo a madeira velha estremecer. Minha feição de irritação provavelmente havia se transformada em surpresa e então em entendimento rapidamente durante aqueles segundos em que encarei os dois brutamontes parados na minha porta. Eu havia esquecido, é claro, durante a confusão que meu cérebro se tornara, do que Archeon fazia para me agradar depois que ele tinha sido particularmente violento comigo. Mas agora vendo aqueles caras roxos e com o dobro da minha altura parados na minha frente com uma cesta bastante grande enfeitada com laços cor de rosa eu me lembrava exatamente de todas às vezes que eu havia recebido algo parecido. Aquele era o jeito de Archeon de pedir desculpas e eu sabia que não receberia mais que aquilo, embora a coisa fosse bastante útil. Dentro, supondo a partir da minha vasta experiência ao longo de três anos com Archeon, teria remédios, comida e alguns doces, bem possivelmente chocolate. E por ser experiente, eu nem pestanejei quando o cara com a cesta empurrou a coisa nos meus braços e, como um, deram as costas a mim e saíram claramente irritados. Devia ferir muito o orgulho deles levar presentes a um zombie. Bem, f**a-se. Segurei a cesta nos meus braço e tentei entrar em casa apenas para descobrir que ou aquela coisa era muito grande, ou a nossa porta era muito pequena. Eu votava em uma mistura das duas coisas. Durante os minutos seguintes, eu e meu pai lutamos com a maldita coisa tentando e falhando em colocar a cesta dentro de casa. Meu pai acabou tendo a ideia de colocar a cesta de lado e ir virando porta adentro para que a alça não ficasse presa. Por sorte, a ideia deu certo já que a alternativa seria descarregar aquela coisa ali na porta mesmo. Carregar a cesta para a cozinha parecia até fácil depois de colocar aquilo para dentro, mas meus braços doíam de todo o peso. Arrastamos a coisa até a parede e eu apenas fui até a sala me jogando com força demais no sofá velho que tínhamos como se estivesse morrendo. Meu pai, entretanto, não parecia cansado e eu quase pude ver as engrenagens girando na sua cabeça quando eu não dei nenhum indício de levantar e fuçar a cesta nos trinta minutos seguintes. — Ok... — O mais velho sussurrou me olhando de onde estava sentado na cadeira da cozinha e se levantou, seguindo até onde eu me encontrava. — Não vai abrir? Antes você sempre parecia ansioso quando isso chegava... — hmmm... — Murmurei, minha voz abafada pelo sofá. Me mexi levemente virando minha cabeça para ele, antes de abrir os olhos e olhar para o homem. — Eu já sei o que tem aí: é sempre a mesma coisa. — E? Isso nunca te impediu de sorrir como uma criança ganhando presente de Natal quando isso chegava. Soltei um bufo me levantando do sofá e indo até a maldita coisa bem arrumada. Puxar o laço cor de rosa foi bastante satisfatório e eu quase podia me sentir relaxando. Logo, eu comecei a brincar com o tecido macio da "fita" cor de rosa me lembrando da vez que fiz algo parecido e Archeon disse que eu parecia um gatinho. Essa foi uma das poucas vezes que ele havia sido fofo comigo sem me f***r depois e eu gostava bastante dessa memória. Enrolei a fita no meu pescoço dando um laço na frente e me virei para o meu pai com a mão aberta embaixo do queixo e fazendo cara de modelo, como aquelas fotos das revistas antigas. Meu pai riu e eu só conseguia pensar em como fazia tempo que eu não o ouvia rir e tinha me esquecido o quanto gostava do som. Me virei para a cesta novamente e comecei a puxar os itens lá de dentro. Comida para uma pilha, doces para outra e remédios em outra. Algumas vezes, eu lembrava, já veio roupas mas só quando Archeon acabava destruindo as minhas a ponto de se tornarem inutilizáveis. Ele tinha feito isso uma vez usando um chicote: a camisa havia se tornado retalhos e sangue, apenas. Mas então eu tinha ganhando um conjunto inteiro novo e quase tinha valido a pena ficar sem andar durante toda aquela semana. Nem os remédios que ele tinha mandado tinha dado jeito e eu nunca vi Archeon tão arrependido. As semanas depois disso foram ótimas, quase perfeitamente irreais, até ele voltar ao normal. Cataloguei tudo o que estava na cesta, notando que dentre tudo o que estava lá apenas os doces - quatro caixas de chocolate - eram perecíveis. Aquilo era ótimo já que podíamos deixar toda a comida guardada para quando meu pai ou eu voltássemos para casa. Provavelmente quem chegaria primeiro seria meu pai já que o contrato ele era de um ano e eu provavelmente estaria na escola. Abri uma das caixas e roubei uma trufa - morango com chocolate - colocando-a na boca. Zombies puros como meu pai, só sentiam o sabor de carne crua e qualquer outra coisa que fosse cozida ou industrializada era bastante semelhante à plástico para eles. As frutas, por outro lado, costumavam ter uma textura mais tragável apesar de não ter gosto de nada. Eu, por outro lado, era um mestiço e conseguia sentir o gosto de outras coisas além da carne crua. O sabor delas eram levemente estranhos para mim: coisas com carne, mesmo que cozida, eram as mais saborosas para mim. O resto tinha um sabor fraco e a textura geralmente meio seca. O chocolate era bom, entretanto, e eu amava a sensação doce que ele deixava na minha boca. Mas eu realmente amava as coisas feitas de carne. Eu só tinha comido carne crua duas vezes na minha vida inteira e era a melhor coisa que eu já tinha provado. A sensação, o cheiro e o sabor eram perfeitos e eu ficava com água na boca só de lembrar. Infelizmente, um pedaço de carne aos arredores da vila eram mais de trinta Æ, o que era muito caro. Isso daria um mês inteiro de alimentação numa casa zombie, simplesmente não valia a pena gastar dinheiro com isso. Mais uma coisa adicionada a lista "ser Zombie é uma merda", esse seria o tópico 134. — Venha aqui. — Meu pescoço estalou quando olhei muito repentinamente para meu pai, assustado pelo chamado repentino. Meu pai riu levemente, perguntando em tom inocente: — Quê foi? — 'Tava sonhando com chocolate. — Eu respondi sorrindo calmamente enquanto ia até ele. Na mesa em frente ao meu pai, estavam espalhados alguns dos remédios e eu hesitei apenas de pensar no que ele pretendia. O zombie fez um sinal com um dedo e eu hesitei por tempo suficiente para fazê-lo erguer uma sobrancelha. Soltei um suspiro e tirei minha camisa mais lentamente do que seria considerado normal. Meu pai esperou pacientemente e eu parei de fingir que era uma lesma e fiquei na sua frente esperando ele fazer o que quisesse. Evitei ao máximo olhar em seus olhos, odiava que meu corpo machucado estivesse em sua visão e não queria ver qualquer que fosse o sentimento que ele tinha com aquilo. A decepção, eu imaginava, seria o mais doloroso. Suas mãos eram leves e se eu não estivesse totalmente consciente de meu corpo provavelmente nem as sentiria. Minha pele marcada doía e ardia quando a pomada entrava em contato com os machucados e eu lutei para ficar calado. Meu pai manteve a mesma expressão praticada mesmo quando me mandou tirar as calças e viu as marcas ainda piores que eu tinha na parte inferior do corpo, mas eu conseguia sentir o seu olhar queimando com raiva aquelas manchas. Não olhei em seus olhos quando suas mãos ficaram fora por mais que alguns segundos da minha pele nem quando eu o vi fazer um sinal para que eu me vestisse. Eu apenas fiquei lá, tenso, esperando que ele me dissesse alguma coisa, qualquer coisa. Ficamos os dois em silêncio, meu pai tão quieto que se eu não tivesse habilidades à mais, acreditaria que estava só. Ainda assim, eu conseguia sentir seu cheiro e ele me dizia que meu pai estava triste e com raiva. Um suspiro escapou por entre meus lábios e eu me virei para olha-ló, declarando firmemente: — Agora é sua vez! A cabeça de meu pai se ergueu surpresa, seu olhar se voltando para mim ao invés de ficar encarando a mesa e ele ergueu a sobrancelha branca num gesto que só podia ter sido descrito como sarcástico. Seus olhos ainda transmitiam um pouco de dor e raiva, mas ele sorriu dizendo: — Acho que não. Certo. Eu conhecia aquela expressão: ele sempre a usava quando eu insistia em algo sobre o qual ele não queria falar. Era muito usual em seu rosto quando eu tinha quatro anos e queria saber tudo sobre minha mãe. Ele sorria, negava e eu o escutava chorar baixinho quando achava que eu já tinha dormido. E eu aos poucos fui deixando de perguntar. — Eu deixei você fazer o meu. — Comentei cruzando os braços sobre o meu peito e fazendo um biquinho quase infantil com meus lábios. Meu pai revirou os olhos e eu me senti vitorioso visto que a interpretação parecia dar certo. Zombies eram treinados para fazerem isso desde que aprendiam a andar: a interpretação de papéis eram sempre muito úteis quando o destino de pelo menos 3/4 daquelas crianças seriam trabalhar num bordel. Assim que entravam lá, eram ensinados a analisar seus clientes a ponto de, em uma noite, entende-los bem o suficiente para que pudessem "jogar" do jeito que eles quisessem. Aquilo é claro, havia se tornado tão comum que nenhum zombie sabia qual era a personalidade verdadeira dos outros. Para cada pessoa, eles tinham uma máscara diferente e aquilo era feito de maneira tão natural que quando eles percebiam, já estavam fingindo que não gostavam de certas coisas para que continuassem a agradar o outro. Meu pai então disse, completamente alheio ao fato de que eu o manipulava levemente numa tentativa falha de deixá-lo feliz. — Sou seu zoffirg! Tenho a obrigação de cuidar de você. — A voz era levemente indignada, mas eu o conhecia bem o suficiente para identificar a expressão de vitória escondida. — E eu sou seu zatlan! Sou eu quem cuida de você quando nem consegue se manter de pé, portanto, tire a camisa! — Meu tom se voz foi cuidadosamente medido e eu cantei vitoria mentalmente quando senti o cheiro da sua diversão escapando pelos poros do seu corpo. — Não! — Ele escondeu um sorriso gostando de me provocar. — Zoffirg! — Cedi à brincadeira que eu sabia que ele queria iniciar. — Zouely! — Sim! — Não! — Aaah você é um saco! — Cedi gritando irritado, estava cansado daquela coisa já e a diversão do meu pai estava alta novamente: ele nem mesmo conseguia esconder o sorriso. — Pelo menos faça só! Deixei o tom o mais exasperação possível e, agarrando a minha caixa de chocolate, sai murmurando sob a minha respiração sobre "pais irresponsáveis". Puxei a cortina sobre a a******a do meu quarto com certa força e o escutei rir baixinho de onde tinha ficado na cozinha. E o troféu vai paraaaa: Zouely! Com um sorriso no rosto, passei os próximos minutos me empurrando do doce enquanto escutava os sons leves que meu pai fazia ao passar a pomada em si mesmo. Eu entendia porquê ele não queria que eu visse: era horrível e vergonhoso deixar alguém que você ama não só saber mas também ver o que você deixa fazerem com seu corpo. Suprimi um suspiro deixando meus pensamentos se desviaram. Amanhã era sexta-feira e seria o meu último dia na cidade. Apenas esse pensamento me fez ficar bastante animado, embora um pouco receoso sobre como eu contaria à Archeon que no sábado as coisas já não seriam as mesmas. Me enrolei no meu cobertor decidido a ir dormir, enquanto tentava ao máximo não pensar em Archeon. _______ Decididamente eu não iria até à aula inútil que eu deveria ter em exata meia hora. Era o meu último dia na cidade durante os próximos meses e eu não o arruinaria com aquilo. Meu pai, é claro, concordava comigo, pois durante os últimos dez minutos desde que eu havia acordado eu o escutava limpando a casa como se a própria Ordem fosse chegar ali. A Ordem é como são chamados o grupo de pessoas que decidem como as coisas funcionam. Nele, estavam os representantes de cada espécie inteligente - bem, faltavam dois: o representante fantasma e o representante zombie. Mas fantasmas nunca se importam com nada além da coisa que estão assombrando no momento e ninguém se importava o suficiente com que os zombies pensavam para ter um representante deles lá. Nada novo sob o sol. Eles deveriam ser os justos, as escolhas perfeitas para manter a todos seguros e dentro das leis. Mas isso não acontecia e eles apenas pagavam de fodões, donos da p***a toda e não faziam nada para melhorar nem que seja um pouquinho a vida da população menos privilegiada que eles tinha jurado proteger. Eram filhos da p**a que não mexiam um dedo para criar uma lei ou uma medida protetiva. Não faziam p***a nenhuma além de ficarem numa sala chique enfiando sangue ou vinhos caros e velhos no r**o. E agora eles aprovaram alguma lei ridícula para mudar algo que acontecia a mais de 3 décadas assim do nada. Bastardos inúteis. Quase tão inúteis quanto limpar uma casa inteira sendo que não vai ter ninguém aqui para ver. Mais um suspiro. Talvez eu devesse levantar, mas para fazer o quê? Não tenho amigos e ver Archeon agora não seria a melhor ideia visto que eu praticamente fugiria dele amanhã. Se bem que essa é justamente a ideia, não é? O meu "eu" usual iria até Archeon agradece-lo pelos mantimentos de ontem então, se eu não quero parecer suspeito, devo agir da mesma forma que eu faria se tudo estivesse normal. Com esses pensamentos, pulei da minha cama, pronto para agir da maneira mais normal possível. A escolha de roupas foi rápida - eu não tinha tantas opções assim e sempre usava as melhores que tinha com o Archeon - e eu apenas engolir rapidamente um sanduíche antes de sair de casa deixando meu pai ainda limpando loucamente qualquer superfície que ele encontrasse. Meu passo foi apenas um pouco rápido demais para ser considerado casual, mas eu estava ansioso e era normal que meu corpo demonstrasse isso apesar de meu rosto ainda estar na mesma expressão praticada que eu usava na rua. Minha atenção estava tão voltada ao meu nervosismo pouco aparente que eu quase perdi os sussurros sobre mim. Claro, eu ignorava na maior parte das vezes, mas dessa vez parecia algo novo. — O menino, Scion Willyan Zannes filho de Táfita Zannes, sabe? — escutei baixinho a voz de uma mulher. — A esposa de Buen? — Uma nova voz feminina surgiu, tão baixa quanto a anterior. — O quê é que tem? — Está dizendo a todo mundo que o assassino de Noxzyin matou a namorada dele. — A primeira mulher disse e eu me aproximei devagar, escutando com mais clareza. — Ah sim! Eu vi o garoto fugindo depois de enfiar a faca no pescoço da menina... — A outra se juntou às acusações dizendo suas mentiras. Eu não tinha fugido nem machucado a garota, mas é claro que ninguém veria isso como a verdade. — Não sei, não. O menino tem garras e toda vez que ele faz suas coisas é usando elas. — Uma defesa? Essa é nova. Eu concordava com isso, no entanto. — Ora, Shiane, é um assassino! Sempre foi um! Não é porquê ele está inovando seus métodos que muda alguma coisa. — Um bufo escapou dos meus lábios, mas eu sabia que não tinha sido ouvido, a audição zombie se tornara cada vez pior ao longo dos anos. — De qualquer modo, Scion está planejando matar ele. Eu digo: boa sorte. — Minha sobrancelha se ergueram levemente e eu lutei contra um revirar de olhos. As pessoas não cansavam nunca? — Bem, deveríamos ter feito isso depois do que aconteceu com Annyala... — Decidi continuar meu caminho e segui reto escutando suas reações assustadas quando me viram ali, eu, entretanto apenas fingi que não tinha visto nem ouvido nada. Archeon me esperava e eu tinha que fingir que estava tudo normal. Bem, boa sorte para mim.
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