DANTE NARRANDO A noite caiu pesada na Rocinha. Não era só o céu que tava escuro, era meu espírito também. O barulho da favela seguia firme, funk estourando no fundo, moto subindo e descendo, mas dentro de mim só tinha silêncio. Aquele silêncio que vem depois do caos, depois que o sangue esfria e o mundo parece ter parado por um segundo. Saí da cena como quem sai de uma guerra. A mão ainda doía do soco, do chute, da porrada bruta que dei naquele desgraçado. Mas não era a dor física que incomodava. Era outra coisa… algo mais fundo. O olhar da Maia ainda tava grudado em mim. Aqueles olhos assustados, arregalados, me encarando como se eu fosse um monstro. E, p***a… talvez eu seja. Peguei o carro, fui pra baixo. Entrei num boteco qualquer, daqueles sujos, de porta de viela, onde o povo já me

