A TENTAÇÃO DO CEO VIÚVO

PRÓLOGO

Arthur narrando

4 anos antes

Dor

Solidão

Tristeza

Vejo a movimentação diante dos meus olhos, mas não consigo me mover, uma névoa se apossa dos meus olhos, então sinto as primeiras lágrimas serem derramadas, logo dando lugar para várias outras até que a situação se torne incontrolável. Sinto toda a minha força se esvair do corpo e a pressão interna no meu peito, faz com que eu me questione. Será se eu vou suportar? Sinto o oxigênio ficar cada vez mais distante da minha circulação e o meu corpo ser invadido por tremores, a medida que observo tudo ao meu redor e mais uma vez, nenhum sinal dela. Duas semanas, catorze dias e exatamente quatro dias que as buscas foram encerradas. Mesmo assim não consigo deixar de vir um dia sequer ver com os meus próprios olhos que não sobrou exatamente nada da minha esposa, do meu único amor, mãe da minha filha. Anny não somente foi embora, como levou o meu coração com ela, levou toda a luz que existia na minha vida e dia após dia eu me levanto da cama com uma única motivação, cuidar da nossa filha. Nossa menina tão amada, tão planejada, não merecia ter tido a mãe tirada de si tão cedo. Se eu estivesse em casa, se eu estivesse chegado mais cedo, se ela me ligasse no momento que tudo aconteceu, se ela não fosse tão teimosa e aceitasse morar na mansão, qualquer coisa, eu daria um jeito. Há dezoito dias a minha esposa morreu num incêndio na casa em que morávamos, a casa era dos seus pais, não era grande e aceitei morar lá pelo valor sentimental, já sabia que não havia tanta estrutura e iria convencer Anny a se mudar para mansão que havia comprado para nós em pouco tempo, acontece que antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, numa tarde de quarta-feira recebi um telefonema informando que a casa havia pegado fogo, os bombeiros chegaram a tempo de salvar a minha filha, porém não a minha esposa, não nos restou nem mesmo o corpo, não existiu chance de me despedir, de olhar pela última vez a única mulher que amei na vida.

- Eu sinto muito – Ouço a voz da minha mãe num tom de conforto, ela afaga o meu braço – Você precisa ser forte pela Maria Júlia – Ela diz e eu respiro fundo, sabendo que ela tem razão. Não respondo, não consigo formular uma frase enquanto tudo martela na minha cabeça deixando uma dor insuportável. Sei que a minha filha é a única capaz de me trazer paz, de me fazer querer viver, ela é um pedaço de nós, um fruto do nosso amor e é por ela que eu ainda estou vivo, ainda estou de pé e ainda estou suportando toda essa dor. A minha mente embarga relembrando o quanto lutamos para conseguir ter Maria Júlia, diversos tratamentos, uma gravidez inteira planejada, ficamos tão felizes e quando ela veio o mundo foi a melhor sensação que eu poderia sentir na minha vida, pela primeira vez me senti totalmente completo, tinha o amor da minha vida e a minha filha.

Encaro mais uma vez o cenário a minha frente, a casa na qual tivemos tantos momentos bons incendiada, tudo destruído, só restaram a única coisa que também permanece dentro de mim, cinzas. Minha mente traiçoeira me relembra o quanto sou impotente, o quanto sempre quis tudo sobre o meu controle e uma única vez que abri mão disso pagaria pelo resto da vida. “Era só ter convencido ela a se mudar” A voz sopra no meu subconsciente me fazendo afundar num arsenal de dor, dor pela perda, dor por cada ponta dentro de mim que se encontra dilacerada, dor por saber que a minha filha de dois anos crescera sem a mãe, dor por não ter a oportunidade de ver o meu grande amor uma última vez, dor essa que sufoca todo o meu ser. Me questiono como à vida pode ser tão c***l? Minha Anny sempre foi tão doce, tão bondosa, em pouco tempo ela se tornou o meu mundo, a mulher da minha vida, fiz um juramento que continuara a ser assim até que eu possa me juntar a ela. Cuidarei da nossa filha, darei tudo a ela, mas jamais permitirei que outra mulher entre no meu coração, não quando sei que a única mulher digna de estar lá partiu.