Depois que Melinda saiu do meu quarto, permaneci ali terminando de assinar os contratos. Amanhã seria um dia importante: minha primeira reunião oficial como CEO da filial da empresa da minha mãe. Eu precisava causar uma boa impressão.
Quando finalizei os documentos, ainda com o leite morno ao lado, aproveitei para tomar. Em seguida, fui ao banheiro e logo me deitei. O sono veio rápido.
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Pela manhã, acordei cedo, fui direto ao banheiro e me preparei para o dia. Antes de sair do quarto, passei pela porta do quarto da Mel e bati — sem resposta. Desci para tomar café, já pronto para o trabalho.
Na cozinha, encontrei dona Maria, sempre atenciosa.
— Bom dia, dona Maria. A senhora sabe se minha esposa já saiu para trabalhar?
— Bom dia, meu filho. Sim, ela tomou café cedinho e pediu pra avisar que já tinha ido.
— Entendi… Ela comentou se vai voltar pro almoço?
— Disse que hoje não, que o dia seria corrido com a chegada do novo chefe. Ia comer por perto mesmo.
— Tudo bem. Eu também não venho almoçar hoje. Pode ficar tranquila, não precisa preparar nada agora. Depois da janta, pode descansar — falei, e ela assentiu com um sorriso gentil.
Terminei meu café, subi para pegar minha maleta, e saí. Apesar de ter um motorista, só costumo usá-lo em eventos ou quando sei que vou beber. Hoje, decidi que ele levaria a Melinda ao trabalho e buscaria ela no fim do dia. Nós dois merecíamos um pouco de conforto.
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Assim que estacionei, fui recebido por Taylor, meu braço direito naquela filial. Ele pegou minha maleta com naturalidade.
— Bom dia, Pietro! Como está?
— Bom dia, Taylor. Tudo certo. E por aqui?
— Tudo tranquilo. Como o diretor de operações ainda está em viagem, quem vai conduzir a reunião hoje é sua secretária executiva. Ela estava cobrindo interinamente o cargo dele, mas agora vai assumir como sua assistente pessoal.
— Espero que ela não seja como a última... — comentei, lembrando de um incidente antigo — Quase me meti em encrenca por causa de "gentilezas" m*l interpretadas.
Taylor riu.
— Essa é diferente. É muito bonita, sim, mas sempre se deu ao respeito. Ganhou espaço aqui pelo próprio esforço. Por isso, algumas mulheres não gostam muito dela… Mas todos os homens a respeitam, e ela tem a admiração de toda a diretoria, além de ser muito eficiente e competente.
— Ótimo. Ainda mais agora que sou um homem casado. Tenho que me comportar. E, pra falar a verdade, minha mãe deixou bem claro que se eu fizer besteira, ela mesma arranca meu “precioso” então não estou a fim de provocar dona Rosa, ela se afeiçoou com nora. — brinquei, fazendo Taylor rir alto.
Fomos caminhando pelo saguão. À medida que andávamos, os funcionários nos cumprimentavam. Tudo parecia sob controle — até que o destino decidiu brincar comigo.
Estávamos passando perto da sala de reuniões quando alguém saiu apressada, com a cabeça baixa e os olhos grudados nos papéis, e… trombou direto em mim.
— Ai! Me desculpe! Eu… — a mulher falou, ainda agachada recolhendo os papéis espalhados no chão, seus cabelos cobrindo sua face.
— Você deveria prestar mais atenção por onde anda — reclamei, um pouco irritado. — Se não sabe andar direito, talvez devesse sair do caminho.
— O senhor deveria ser mais educado — respondeu com firmeza, ainda sem me olhar —, eu pedi desculpas! Não tenho olhos no meio das folhas. Se o senhor me viu, poderia ter parado e deixado eu passar!
Arqueei a sobrancelha. A audácia.
— Pelo menos quando falo com alguém, encaro a pessoa nos olhos. Que tal se levantar e mostrar um pouco de educação? Já que sugeriu que não tenho educação.
Ela se levantou, claramente indignada. Quando finalmente nossos olhos se encontraram… o mundo parou. E eu não acreditava no que meus olhos viam.
— Você?! — dissemos ao mesmo tempo.
Taylor observava a cena, sem entender.
— Bom… Vocês já se conhecem — disse ele, confuso. — Pietro, essa é a senhorita Melinda. Sua nova assistente pessoal.
— Como assim? — ela perguntou, ainda surpresa. — Você é o novo CEO, isso só pode ser brincadeira!
— Além de marido, agora também sou seu chefe, meu amorzinho. — falei, tentando conter a risada.
— Peraí… — Taylor falou, juntando finalmente os pontos. — Você se casou com ela? Como assim?
— Venham comigo em minha sala. Vamos conversar — disse, e os dois me seguiram até meu escritório. Fechei a porta.
Sentei-me à mesa e comecei a explicar:
— Taylor, minha mãe queria que eu me casasse. Um casamento de aparências, entende? Então, conheci a Melinda num bar. Nos tornamos amigos, e propus um casamento por contrato. Ela precisava de dinheiro para ajudar no tratamento da mãe, e aceitou. O mais louco é que só depois descobrimos que nossas mães são melhores amigas. Mas nunca falamos o nome das empresas onde trabalhávamos, então não sabíamos que um dia isso poderia acontecer.
Taylor balançou a cabeça, pasmo.
— Essa história parece de novela. Mas, se foi uma escolha dos dois e não afeta o trabalho… Pode contar comigo. Não vou dizer nada a ninguém.
— Obrigado, de verdade — falei.
Me virei para Melinda.
— Se você quiser, podemos manter isso em sigilo por enquanto. Mas uma hora a verdade vai acabar aparecendo. Ainda mais com os eventos e festas que terei de ir acompanhado.
— Concordo — disse ela, aliviada. — Melhor assim, por enquanto.
Ela saiu da sala, nos deixando a sós.
Taylor riu, ainda processando tudo.
— Que situação, hein, chefe?
— Pois é… Agora resta ver como a gente vai equilibrar casa e trabalho sem misturar as coisas. Empresa é empresa. Em casa… é outra história. E, na verdade, essa mulher realmente me enlouquece, perto dela esqueço tudo ao meu redor.