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3065 Words
CAPÍTULO I Com um movimento rápido, Marielle acionou a partida do Porsche amarelo. Fez a manobra e respirou aliviada ao descer a rampa do estacionamento, ganhando o asfalto molhado de chuva. Não tivera um dia fácil. Aliás, nada havia dado certo naquele dia. Sucessivamente, colecionara uma série de desastres; a começar pelo sistema de filtragem da piscina aquecida que tinha arrebentado de repente. O técnico prometera o conserto para o meio-dia, porém por algum motivo não havia aparecido.  Se ele soubesse quantos transtornos e reclamações poderia ter evitado para ela, com certeza não teria faltado. Mas não havia sido só isso: o armário da Sra. Stuart fora roubado, provavelmente durante a noite... Era difícil acreditar que um estranho tivesse entrado na academia. Afinal, ela mesma havia checado as fechaduras e cadeados. Isso levava à conclusão de que o guarda não merecia confiança. Bem que andava desconfiada! Amanhã o dispensaria. Àquela altura, às onze horas de uma noite chuvosa de março, ela só pensava em tomar um banho de imersão com sais aromáticos e afundar na cama. Não era fácil dirigir o próprio negócio! Precisava solucionar todos os problemas: pagar os salários, substituir professores ausentes, ouvir reclamações, cuidar dos livros contábeis e, ainda por cima, manter sempre um sorriso amável para agradar os clientes.  Porém, todo aquele esforço compensava a liberdade, a independência e a chance de traçar o próprio caminho, sem se submeter à vontade de patrões. E esse carro... era a realização de um sonho, o que de mais gratificante seu trabalho havia lhe proporcionado. Durante anos desejara ter um Porsche. E agora finalmente o conseguira. Era seu, comprado com o suor do trabalho. Cada centavo havia saído de suas aulas de ginástica, da sua dança, da academia montada com tanto sacrifício e dedicação. Num impulso, Marielle decidiu ir para casa por um caminho diferente; longo, todavia mais bonito. Para que seguir a rotina, mantendo-se na mesma avenida? Era uma boa ideia pegar as ruelas que cortavam o bairro elegante de Coronado. Sem hesitar, virou à direita, deixando para trás a larga autopista.  Ligou o rádio e desceu o vidro do carro, deixando que o vento frio da noite brincasse com seus cabelos. Desde pequena, gostava de passear depois da chuva. Tudo parecia diferente. O ar se tornava perfumado. As folhas, o asfalto e os carros molhados brilhavam. A chuva parecia revigorar a natureza e ela se sentia muito mais disposta. Mas, decididamente, hoje não era o seu dia de sorte. Acabava de atravessar a ponte da baía Coronado, quando distinguiu luzes vermelhas e azuis piscando à frente. Não havia dúvida. Eram ambulâncias e carros de polícia, impedindo o trânsito, por causa de um grave acidente. Quatro automóveis e duas bicicletas estavam envolvidos no desastre; Marielle suspirou, desviando o olhar. Tinha horror a sangue e ferimentos e começava a se arrepender de ter trocado de caminho. Os policiais procuravam manter a ordem por meio de sinais coordenados. Conduziam o tráfego, ora deixando fluir os carros que vinham da direita, ora os da esquerda. Marielle aumentou o som do rádio, tentando se distrair, e finalmente chegou a sua vez de passar. Mais alguns segundos e estaria livre daquela confusão, contudo um guarda, de braços abertos e mãos espalmadas, a fez parar: — Está sozinha, senhorita? — Sim, estou. — Desculpe incomodá-la, mas trata-se de uma emergência. — Virou-se e gritou para outro policial. — Aqui, Mike! — Depois voltou-se para ela de novo. — Todas as ambulâncias estão cheias. Uma mulher grávida precisa ser levada ao hospital. — Claro, claro! — Um arrepio percorreu a espinha de Marielle. — Eu a levarei. — Siga para o hospital mais próximo. — Está bem. — Mike! — o guarda rodoviário gritou, acenando para um homem de avental branco. — Traga a moça!  Ela sentiu os músculos se retesarem ao avistar a grávida, amparada pelos braços de um paramédico. Não passava de uma menina; os cabelos loiros e compridos caíam-lhe ao longo do rosto magro.  — Sabe como chegar ao hospital? — o policial tornou a perguntar. — Sim, sei. — Dê-me seu nome e endereço, então, por favor. — Marielle concordou. Percebendo a sua apreensão, o guarda falou: — Ela está bem fisicamente. Os médicos já lhe fizeram um exame rápido. Porém está muito assustada. Por isso é melhor levá-la o mais rápido possível e não se preocupe em conversar, ela está em estado de choque. Tudo o que fala é que está grávida há oito meses e duas semanas. — Coitada. Deve estar morrendo de medo de ter o bebê aqui. — Aí vem ela! — O policial desviou o olhar por um instante. — Dirija com cuidado, srta. Bond, e não se preocupe com o limite de velocidade. Cuidarei para que não receba multas. É importante que esta moça receba o quanto antes um cuidado especializado. Pouco depois, a jovem estava sentada no banco de passageiros. De perto era ainda mais bonita. Tinha uma fisionomia angelical, pele muito branca, e os olhos azuis transmitiam pureza. Era difícil acreditar que estava esperando uma criança sendo tão jovem. Um pouco confusa, Marielle passou pelos guardas e afundou o pé no acelerador. O pronto-socorro mais próximo ficava a uns dez quilômetros dali. Àquela hora, não havia muito trânsito e, contando com os semáforos abertos, não levaria mais que dez minutos para chegar.  Mudou a estação de rádio e procurou música suave. Queria dar conforto àquela pobre menina. — Como você se chama?  Não esperava que respondesse. Queria apenas mostrar que, se quisesse conversar, ela estava ali, disposta a ouvir. — Deirdre Wheeler.  Marielle respirou fundo. A jovenzinha não evidenciava sinais de histeria. Provavelmente o susto já havia passado. — Estou grávida há oito meses, duas semanas e dois dias — Deirdre completou. — Sim... eu sei. — Marielle olhou para a barriga dilatada sob o vestido azul. — Estou esperando o bebê para qualquer dia desses. — A voz de Deirdre soava tranquila. — Deve estar muito feliz, não? — Sim, claro. Mas tenho um pouco de medo também. — Vai dar tudo certo. — Espero que sim. — Deirdre fechou os olhos e recostou a cabeça. — Quero que seja um menino. — Um menino? — Marielle sorriu, sem acreditar. — Sei que vai ser menino — a outra afirmou. — Dizem que, na maioria dos casos, a mãe tem o palpite certo — Marielle disse para animá-la, pois havia simpatizado com a garota. — Já escolheu o nome? — Ainda não. Essa é a parte mais difícil. Gosto de Toby, Nataniel e Andrew. — Eu também gosto! E se for menina? De repente Deirdre escondeu o rosto entre as mãos e lançou-se num pranto convulsivo. Marielle não sabia o que fazer. A transformação havia sido tão repentina e brusca! Há um minuto, Deirdre sorria, falando do bebê e agora... Minha nossa, seria o tal estado de choque?, pensou. — Está tudo bem, Deirdre. Procure se acalmar. Marielle acelerou mais. Tinha as mãos trêmulas. Dividia a atenção entre a estrada e a moça. Quanto tempo mais levaria para chegar ao hospital? Cinco ou quatro minutos por certo. E parecia uma eternidade! — Por favor, relaxe! — disse, embora a sua própria insegurança fosse incontrolável. O que faria se Deirdre entrasse em pânico? — Quer que eu dirija devagar? — Deirdre não respondia e o seu choro ia se tornando cada vez mais desesperado, nos soluços profundos e angustiados. — Já estamos chegando, querida. Vai dar tudo certo. Não precisa ter medo... Porém, não havia nada que a consolasse. As palavras de conforto eram inúteis e Deirdre começava a ter ataques de histerismo. De quando em quando, soltava um grito e os dedos já não cobriam o rosto, mas emaranhavam-se entre os cabelos, confirmando seu estado psicológico. — Cale-se! — Marielle ordenou, gritando. — Fique quieta! Se não se importa com você, tudo bem! Mas pense no bebê, ele precisa que seja forte! Era a última tentativa que Marielle fazia. Ser autoritária, persuasiva. Ir além do esperado, assustar. Talvez conseguisse trazê-la de volta à razão apelando também para o seu sentimento maternal. E, por incrível que fosse, havia conseguido. Deirdre limpou os olhos e balbuciou: — Sinto muito. Estou bem agora. Desculpe. — Os soluços ainda eram fortes. — Eu só queria que o pai do bebê... Oh! Queria tanto que ele estivesse comigo. Acho que nunca me senti tão só e desamparada. Marielle comoveu-se e teve vontade de chorar também. Era impressionante como uma desconhecida podia sensibilizá-la daquele modo. Estavam juntas há pouco mais de quinze minutos e já repartiam o sofrimento. — Não fique triste, Deirdre. Poderá telefonar para seu marido do hospital. — E, para alívio das duas, o imenso prédio branco surgiu no fim da avenida. O pesadelo estava terminando. — Olhe! Já chegamos! — Marielle lançou-lhe um sorriso encorajador e solidário. — Basta pedir para que a enfermeira chame seu marido e... — Não! Ele não é meu marido — Deirdre se explicou, os olhos baixos como que envergonhada. — Eu o odeio... Eu o amo. Oh, sim! Eu o amo e preciso dele. Preciso dele, entendeu? Será que não pode chamá-lo? Por favor... vá buscá-lo para mim! Marielle ficou emudecida com a súbita reação. Deirdre estava completamente desequilibrada. — Por favor... — a moça insistiu suplicando. — Venha, vou ajudá-la a descer do carro.  Precisava raciocinar rápido, ou acabaria se envolvendo mais do que pretendia. O que desejava era chegar em casa o quanto antes e dormir, contudo estava diante daquela menina, lhe implorando ajuda. E isso a deixava indecisa. O que fazer? — Você tem de me ajudar! — Deirdre pediu. — Não tenho ninguém no mundo a não ser este homem. Por favor... Estou com tanto medo! — Escute... — Marielle não pôde continuar, porque Deirdre chorava desconsolada e aflita. — Vá buscá-lo para mim! É a primeira vez que tenho um bebê. Estou assustada. Você precisa entender... É claro que Marielle se comovia com a situação da garota, porém não queria se envolver mais. Estava exausta e cheia de problemas para resolver no dia seguinte e já passava da meia-noite. A academia teria de ser aberta às sete horas, e os clientes não seriam complacentes, exigindo as aulas de ginástica no horário habitual. E o pior de tudo é que ainda usava a malha amarela pois, como pretendia ir direto para casa, não se preocupara em mudar de roupa. Vestida daquela forma, como podia sair atrás de alguém que não conhecia? — Uma enfermeira poderá telefonar para ele e... — Marielle sugeriu, mas foi interrompida. — O número não consta da lista. — Você não sabe de cor? — Não. Tudo o que tenho é o endereço. Eu ia para a casa dele quando sofri o acidente. Mora perto daqui. — Deirdre assoou o nariz num lenço amassado. — Será que não poderia ir até lá e pedir-lhe que venha me ver? Não levará mais que quinze minutos... — Eu... bem... — Se ele não chegar a tempo, sei que algo h******l vai me acontecer. Vou perder o bebê! Vou perder meu filho! — Está bem, está bem! — Não restava alternativa. Mesmo achando h******l e sem propósito, Marielle viu-se obrigada a ceder ao capricho da moça. Estava claro que Deirdre não aceitaria argumentos ou sugestões. — Qual o nome dele? — Cedric — a garota respondeu. — Cedric de quê? Porém não houve tempo para mais conversa. Uma enfermeira já estava ao lado do carro, com uma cadeira de rodas. Deirdre segurou a mão de Marielle por um instante, agradecida, e limpou os olhos das lágrimas; em seguida ajeitou os cabelos, e equilibrando a barriga desceu do Porsche. Marielle não se apressou em deixar o estacionamento do hospital. Que noite! Bem, agora era tarde demais para se lamentar. Depois, não custava deixar o egoísmo de lado e ajudar aquela infeliz... Com certeza, a ponte para Coronado ainda estaria congestionada, devido ao acidente. Fazer a volta pela baía de San Diego levaria muito tempo. Assim, o melhor era enfrentar o congestionamento e fazer o mesmo percurso. Logo avistou o policial com quem havia falado antes e dirigiu-se a ele para explicar o que fazia. Tinha sido uma boa ideia. Em poucos segundos, o Porsche estava desempedido e com permissão para ultrapassar o limite de velocidade. Quanto mais Marielle se aproximava do endereço, mais relutante ficava. Existia algo estranho naquela história.  A garota e Cedric não eram casados, não moravam juntos e Deirdre nem ao menos sabia o número do telefone dele. Tudo isso dava a Marielle o forte pressentimento de que não seria muito bem recebida.  Alameda Daffodil... aí estava a rua.  Uma simples ligação telefônica teria resolvido o problema. Porém, Deirdre havia optado pelo caminho mais difícil e constrangedor. E lá ia ela, às quinze para uma da madrugada, vestida apenas com uma malha de ginástica, avistar-se com quem não conhecia, o futuro pai de um bebê. A rua estava escura, devido às inúmeras árvores, cujas copas fartas se fechavam num imenso túnel natural. Foi difícil encontrar o número da casa, encrustado no topo de um gigantesco portão de ferro.  Não havia muro, mas uma altíssima cerca viva, formada por um emaranhado de cactos, buganvílias e trepadeiras. Ninguém poderia transpor aquela barreira natural de folhas, galhos e espinhos. Marielle desceu do carro, um tanto temerosa.  Era um bairro fino, de gente rica, e de onde estava, no portão, não conseguia avistar a residência, mas somente uma estradinha de pedras que saía dali e se perdia por entre o jardim no escuro da noite. Enchendo-se de coragem, ao notar que o portão estava destrancado, forçou o trinco. Contudo, não entrou. Ao contrário, voltou até o Porsche para apanhar um casaco de lã marrom que deixava lá para prevenir-se do frio. Era discreto e ia até os joelhos. Passaria um pouco de calor, mas, pelo menos, não pareceria ridícula. O caminho até a mansão era interminável. De ambos os lados, plantas maltratadas em um jardim f**o e escuro. Havia muitas árvores embaraçadas entre si, lembrando um pequeno bosque inabitado. Não havia luz, exceção feita a uma luminária fraca um pouco mais adiante. — Que lugar lúgubre... — Marielle sussurrou, para não se sentir tão só. — Que tipo de gente será que mora neste lugar? Finalmente chegou à frente da casa. Era imensa, de três andares, com trepadeiras subindo pelas paredes, cedendo lugar apenas às portas e janelas. Um toldo branco abrigava a entrada principal. As venezianas estavam quase todas fechadas menos uma, no sótão. A única luz que se via era ao lado da campainha. Vencendo o medo inicial, Marielle apertou o botão. Esperou e olhou em volta.  Estariam dormindo? Com quem Cedric morava? Certamente não vivia sozinho naquela casa imensa. Insistiu com a campainha mais uma vez. Seria casado? Santo Deus o que faria se o pai do bebê fosse um daqueles tradicionais pais de família? Em que enrascada havia se metido. Por que não vinham atender à porta? Desta vez, Marielle afundou o dedo na campainha. Queria acabar de vez com aquilo, para ir logo embora. Alguns segundos depois, a pesada porta de madeira se abriu. Do outro lado, surgiu um rosto esquálido: — Boa noite, senhorita. — A voz do homem era pausada. Devia ter mais de sessenta anos. Vestia-se de preto e não sorria. Parecia ser o mordomo. — Boa noite. Preciso ver Cedric imediatamente — ela disse, um pouco embaraçada. — A quem devo anunciar? — Marielle Bond. O homem se afastou e abriu um pouco mais a porta, deixando-a entrar no hall. Tudo por ali era gigantesco, velho e escuro. O chão era de mármore polido, escorregadio, e portanto precisava tomar cuidado, porque calçava sapatilhas de balé. A iluminação tênue vinha de um abajur antigo colocado entre diversas estátuas de bronze. Várias portas davam para aquela sala, embora quase todas estivessem fechadas. — Seu casaco, senhorita... Sem pensar, Marielle aceitou a ajuda para se desfazer da peça quente. Foi só então que se lembrou do que usava por baixo. Mas, a esta altura, não se importou. Não faria m*l dar um pouco de colorido àquele lugar tão melancólico e cheio de sombras. — Siga-me — o mordomo convidou com o mesmo tom impassível. Marielle obedeceu, olhando para todos os lados. Cruzaram várias salas, todas às escuras. Havia algo de agourento naquela casa. Uma atmosfera de tristeza, de solidão... tudo ali recendia a decadência. Sabia que estava perto da praia, porém era impossível ouvir o som das ondas quebrando na areia. Para falar a verdade, não se escutava um único som naquele lugar. O silêncio era assustadoramente tétrico. Enfim, o velho parou diante de uma porta dupla, entalhada em mogno escuro. Abriu-a devagar, permitindo que Marielle passasse. Ela deu dois passos, todavia perdeu a coragem para seguir adiante. Era como se tivesse viajado no tempo e retrocedido uns dois séculos. O salão era amplo, circundado por janelas enormes, envidraçadas. De cada uma delas, pendiam cortinas de veludo escarlate, caindo até o chão. O tapete com certeza era um persa legítimo. Ao fundo ficava uma estante, uma mesa retangular e, em frente dela, existia um piano de cauda, n***o como ébano. Perto do instrumento havia um senhor de meia-idade, grisalho, que logo atraiu a atenção de Marielle, e também uma mulher, no lado oposto, que estava sentada numa poltrona de couro marrom, diante de um aparelho de televisão. Pareceu ter se contrariado com a presença estranha, pois manteve a cabeça virada sobre o ombro, exibindo um ar de distanciamento. Ao seu lado havia uma caixa de bombons e papéis espalhados. A mulher era muito gorda e não parecia nada simpática. Marielle sentiu vontade de virar as costas e sair dali correndo. Nunca se sentira tão constrangida. O olhar daquela gente a incomodava, assim como o luxo vitoriano da casa. Foi só então que notou uma terceira pessoa. Tratava-se de um homem, alto e magro. Estava em pé, ao lado da lareira, e a pouca luz iluminava-lhe parcialmente o rosto de traços regulares. Ele não se moveu ao vê-la, nem tampouco esboçou um sorriso. Permaneceu impassível em seu canto, frio como uma rocha. A vontade dela era sumir dali; jamais havia estado num lugar tão esquisito. Porém algo a deteve. E, sem saber como, nem por quê, ela ficou esperando por alguma reação dos "anfitriões" sem imaginar que tinha acabado de cair numa armadilha do destino.
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