Retorno

1747 Words
O telefone toca sem parar... Nathan é o nome que aparece na minha tela, ele está preocupado, eu não voltei mais para o trabalho e ele não tem me visto mais, o que é raridade, já que somos como irmãos grudados. Atendo sem muito ânimo: - Oi, Nate. - LEVANTA CARA. - Por que? - Você precisa voltar a trabalhar, amigo, eu não sei ser advogado sem o meu parceiro. Volta, por favor. - São 3h da manhã. - Eu tô aqui na frente da sua casa. Abro a cortina e olho para fora... Realmente, ele está aqui, fazendo coraçãozinho com as mãos... Nathan é um grande amigo, não sei como ele conseguiu passar tanto tempo sem mim, ele é como uma criança que não sabe dizer sozinho o que sente no médico. Abro a porta para ele e com toda felicidade ele entra, com uma garrafa de vinho debaixo do braço e com a mochila do trabalho, ele já é de casa, então chega abrindo tudo como se morasse aqui, é até engraçado de ver. - Vem pra cá. Diz Nathan. Ele senta no chão da sala com sua taça de vinho, tira o laptop da bolsa e coloca sobre a mesa. - Nós temos um caso. Diz Nathan - Nós? Digo. - Contrataram nosso escritório, eu acho que você conhece a cliente. - Eu? Nathan vira a tela do laptop e vejo fotos de ninguém mais, ninguém menos do que... Laura. - É um bom caso, complicado, mas a gente consegue, ela foi pêga em um flagrante, muito estranho, têm tantas lacunas neste caso, principalmente por ela ser famosinha, entende? Mas é um bom caso, acho que... - Para de falar. - O que foi? - Não vou trabalhar nesse caso. Digo com irritação. Laura sabe onde eu trabalho, ele contratar nosso escritório é como piada, já que eu coloquei ela onde está. - O pai dela é rico, cara. Tem noção de quanta visibilidade a gente vai ganhar se convencermos o júri de que ela é completamente inocente? - Eu não me importo com isso. Não quero trabalhar nesse caso, se você quiser pegar o caso, fique a vontade. - Não estou entendendo toda essa sua irritação, Adrian. - Esquece. Deito na cama e deixo Nathan sozinho na sala, como eu disse, ele é de casa, então não preciso ficar fazendo sala. Acordo as 10h, sem perceber que havia dormido tanto, vou até a sala e Nathan não está mais aqui. Ligo a TV apenas para fazer algum barulho enquanto faço algo para comer, abro o armário e só sei que preciso sair um pouco da caverna para fazer compras, não tem nada aqui. Por um minuto me distraio olhando pela janela da cozinha para a rua, quando ouço vindo da televisão: Atualizações do caso Laura e Mário, pra quem não sabe, Mário foi assassinado em casa, pós discussão com Laura, uma blogueira conhecida e filha de um dos maiores empresários da região, a polícia foi acionada e Laura, presa em flagrante. Segundo informações, a família da blogueira não poupa esforços em provar que ela é inocente, contratando então, o melhor escritório de advocacia para atuar no caso, o atual Advogado da família é Nathan Fernandes, que afirma com plena certeza que sua cliente é inocente, prometendo trazer a tona, as provas que comprovem a inocência da sua cliente. É, conhecendo meu amigo, ele não recusaria um bom desafio, mas é difícil acreditar que ele vai defender a Laura depois de ter tanto trabalho para fazer uma boa vingança, e conhecendo o potencial do meu parceiro, sei que ele vai dar um jeito de inocentar ela. Mas isso não pode acontecer. Saio para fazer compras com o pensamento à milhões, não acredito que o Nathan vai representar a Laura, eu estava sinceramente pensando em voltar para minha rotina normal, voltar a advogar e quem sabe tentar seguir minha vida, aceitando que a Deborah era uma pessoa totalmente diferente do que eu imaginava, ela se jogou no primeiro cara que apareceu, tudo isso que tem acontecido é por culpa dela também, ela mexeu com minha cabeça e me fez agir dessa forma, eu agi com sede de vingança. Não soube mais nada dela, pois eu me decepcionei muito com tudo o que houve, ela me deixou, para ficar com um grande i****a, o Mário. Sigo pensando muito enquanto pego algumas coisas para encher meus armários tão vazios, meus pensamentos não param 1 minuto sequer, sigo pelo corredor do mercado quando por um instante penso ter visto você, Deborah, me distraio e acabo esbarrando em alguém. - Desculpa! Digo. - Tudo be... Olho com surpresa, vejo Márcio, que também se espanta ao me ver. Eu nunca mais o vi ou soube algo desde o ocorrido que ocasionou meu término com a Deborah. - Olá, Adrian, diz Márcio. - Oi. - Gostei do seu blazer, tem bom gosto. - Obrigado... - Você sumiu. - É, não estava muito bem, você deve saber o porquê. - Olha, eu não estou passando por uma fase muito boa, me arrependo do que fiz com você, mas só hoje consigo ver o quão a Laura estava me manipulando, mentindo e me traindo, com meu próprio irmão. - Eu soube, sinto muito. - Eu também, meu irmão não era perfeito, mas, era meu irmão. Ele também foi usado. - ... - Você quer tomar um café? NÃO, penso. - Claro. Respondo. Droga, é tão r**m não saber dizer não. Saímos do mercado com nossas compras e sentamos em um café ao lado do mercado onde estávamos. Márcio parece muito abalado com tudo o que tem acontecido, ele está diferente, com um olhar vazio e triste, é como se ele precisasse mesmo conversar. - Eu soube que seu escritório assumiu a defesa da Laura. Diz Márcio. - Eu não faço parte disso, meu parceiro de trabalho vai representar, sem meu apoio. - Então... Você não está envolvido com isso? - Não. - Sabe, Adrian, eu errei muito com você, o que eu e Laura fizemos não foi certo, ela sabia que a Deborah acreditaria nela, eu sabia que era errado e mesmo assim colaborei com aquela cena ridícula. Eu te devo desculpas. - Já passou, não há muito o que fazer. - Sabe, não sei se você ficou sabendo, mas a Deborah... Ela estava envolvida com meu irmão... Tudo o que fizemos com você, era um plano para que ele pudesse se aproximar dela. Ele estava falido, meus pais não queriam mais carregar ele nas costas, ele nunca gostou de trabalhar, sempre foi sustentado pelos meus pais, que pagavam caro pela luxúria dele. Foi então que um dia, Laura disse a ele que conhecia uma pessoa que era extremamente frágil e uma presa fácil para ele. Que ele deveria se aproximar dela, casar e então dar um golpe nela. Ela é assim, Adrian, a Laura é um monstro, ela consegue mentir olhando nos seus olhos, eu me deixei levar, fiz muitas coisas erradas por ela, por ser manipulável, vivi um casamento de fachada por medo. - Medo de quê? - Olha, eu acho que não cabe falar disso nesse momento... Quem sabe em outro momento. - Tudo bem... Mas por que está me contando tudo isso? - Eu precisava conversar com alguém, eu não tenho amigos verdadeiros, sabe? Eu vivi todos esses anos fingindo ser alguém que eu não sou, eu te vi e senti que poderia confiar, Adrian, a história vai muito além de maldades bobas da Laura, existem muitas coisas além disso, eu tenho medo de que ela mande fazer algo comigo, eu sei demais, a família dela não lida bem com segredos muito expostos, eles costumam se livrar de problemas assim, se é que me entende... - Você acha que eles mandariam matar você? - Talvez... - São coisas tão graves assim? - Sim... - Você pode provar? - Sem dúvidas. - Entendo... - Eu não sei como sair disso, com certeza seu amigo vai tirar a Laura de lá e ela vai vir atrás de mim, pois me recusei a fazer algumas coisas por ela... - Algumas coisas... - Coisas ilegais. - Certo, o que você pode fazer é ser mais esperto e fazer o castelo de areia deles cair, você é um cara rico, você pode sair daqui quando quiser. Eles não te achariam. - Com o pai dela por aí, ele me encontraria facilmente, ele tem muito mais dinheiro que eu, não seria fácil viver fugindo. - Então se seu problema é ele, você tem provas das atividades ilegais, é só você entregar para a polícia. - Você não está entendendo, ter dinheiro envolve ter pessoas aliadas na polícia, que avisariam diretamente a ele e me matariam no primeiro instante. Minha única opção é manter o bico fechado, eu não sei o que fazer, nós sequer vamos lutar por uma acusação contra a Laura, minha família tem medo de provocar a ira deles. - Você está dizendo que vai deixar ela ser inocentada sem lutar pela morte do seu irmão? Você deveria criar coragem e expor tudo isso. - Precisaríamos de um bom advogado para nos representar, Adrian, o problema é que todos ou são envolvidos com a família da Laura, ou não aceitam por medo de ir contra... Já procuramos por muitos... Exceto um... Você... Você aceitaria o caso? Eu poderia te fornecer tudo o que você precisa para manter ela presa e ainda entregar os crimes do pai, então só assim eu poderia ir embora em paz. - Eu não sei... Meu amigo vai representar ela, eu iria totalmente contra ele. - Por favor, Adrian. Ok, vamos concordar que aqui nós dois temos interesse, o meu é manter a Laura presa e condenada, de quebra derrubo o castelo de areia da família rica, mas por que será que ele tem tanto medo? Minha intuição diz para não aceitar, mas minha competência diz: Aceite, você consegue. Penso. - Nós vamos te pagar bem por isso, além do mais eu posso te ajudar a reconquistar a Deborah, eu conto para ela tudo o que aconteceu e o que a Laura pretendia com tudo aquilo. Por favor. Não é pelo dinheiro... Mas é uma boa proposta, eu sinto tanto sua falta, Deborah. Minutos atrás eu deixaria que ele me implorasse e não faria nada por vingança, mas ter você de volta, é uma boa motivação para dizer... - Tudo bem, eu aceito. Vai ser um bom retorno, Deborah.
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